domingo, 29 de julho de 2012

Balthus, o cavaleiro polaco


SWITZERLAND. Rossinière. French painter BALTHUS at home. 1999

 
Entre 1930 e 1932 serviu o exército francês em Marrocos, onde cuidava de um cavalo chamado Arbia. Pouco tempo depois de regressar a Paris alguém lhe disse: «desde que te foste embora, o cavalo recusa-se a comer», e por fim «deixou-se morrer à fome...»


O próprio Balthus (diz-se) tentou o suicídio, em 1934, quando pintou "La Leçon de Guitare". Consta que foi salvo pelo louco Artaud



Pouco antes de morrer no fatídico acidente de automóvel em 1960, Albert Camus fez uma curiosa dedicatória a Balthazar Michel Klossowski de Rola, que vivia já com algum fausto no castelo de Chassy, perto de Montreuillon: «a ti que fazes Primaveras, entrego-te o meu Inverno».




Balthus orgulhava-se da nobreza de conduta dos seus  antepassados («não te esqueças que és um cavaleiro polaco» — dizia-lhe o pai) e mantinha-se estoicamente fiel a um estranho estilo figurativo que em Montparnasse fora condenado ao desprezo (Picasso era, para ele, o carrasco da pintura moderna). Celebrava o seu aniversário apenas de quatro em quatro anos (nasceu a 29 de Fevereiro de 1908 e só em 2004 festejaria pela vigésima quarta vez), e pintava gatos — muito gatos, cúmplices autodidactas —, anjos — «jeunes filles en fleur», eternas adolescentes — e espelhos — os anjos iluminados ou, na simbologia esotérica, virgens que recebem a luz de Deus: nem crianças impúberes que arrastam para a cadeia, nem mulheres fatais que levam à perdição (Balthus passou por grande sofrimento quando soube que a sua mãe, a pintora Baladine, era amante do admirável Rainer Maria Rilke).


Teve muitos amigos famosos: Paul Valéry, Man Ray, Miró, Camus, Éluard, Giacometti, Dalí, os quatro Andrés: Gide, Breton, Derain e Malraux... Alguns deles admiravam-no e tinham-no como uma espécie de «peregrino de Deus.» Só o dramático Artaud, nos períodos de maior demência, fazia dele um demónio: considerava-o seu «duplo», enviava-lhe «cartas terríveis» e acusava-o de ser «o causador de todas as suas desgraças.»





Vexilla Regis Prodeunt Inferni




Beware-with the dark I ride as one. When my legacy I reclaim.
As a fallen god, with the lunar legions by my side
On dragon wings I fly. Behold-the etheral shades of night

Pletoric formations of dark dancing past the aeons of the eleusinian vast
Within a dream, my honour to last, to sprout throughout my blood
to strengthen my heart.
The heaven torns apart as twillight shreds and thunder.
With a vampire breath I whirl the frost, to storm within my kingdom to come
Dead winter enthrones.

Vexilla regis produent inferni
As a phantom of night I ride, by thy side

The Archangels revocation of the dead
The apocalyptic revelation
The arrival of plague and death.
The Armageddon revolution-to come

Astral sparks of fire, descending to ablaze
The landscapes drained by sulphur rain
from the canopy licked by flames
Shadows walks the earth, to ravish life and glee
To walk the fields of reverie, sowing dark in dreams to be

Beware-with the dark I ride as one. When my legacy I reclaim.
As a fallen god, with the lunar legions by my side
On dragon wings I fly. Behold-the etheral shades of night

Clamant-the silence-as blood to my ears
The battlescreams echoes has vanished, faded into the past

The black sun is falling into the abyss
with the lakes of dark blood to merge
The sky is aflame, when I ride through the night
as a phantom through fire I fly
Armageddon...The final redemption of wrath

Dies Irae...
Canto Trigésimo terceiro
 
História do conde Ugolino. O recinto de Ptolomeu
                     (Ptolomea)
 
 «Levantou a cabeça do seu horrível alimento este pecador limpando-a aos cabelos da cabeça que estava a roer e começou: «Queres que eu reavive a desesperada dor que me aperta o coração só de pensar antes mesmo de falar. Mas se as minhas palavras pudessem produzir o fruto da infâmia do traidor que eu mastigo, ver-me-ás ao mesmo tempo falar e chorar.» (...)
 
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 113

«se não secar esta língua com que te falo.» ...

Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 112
« Vê por onde passas: e tenta não calcar com os pés a cabeça dos teus míseros e cansados irmãos.»
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 110
 
«A mesma língua que primeiro me repreendeu e me fez corar as faces depois me aplicou o remédio. Assim, ´foi-me dito que acontecia ser a lança de Aquiles e de seu pai, primeiro, de tristezas e, depois, de boa recompensa.»
 
(...)
 
«Mal eu tinha voltado a cabeça quando me pareceu avistar umas muito altas torres; e perguntei:«Mestre, diz-me que terra é esta.» E ele: «Como olhas através da escuridão para demasiado longe, acontece que a imaginação te confunde. Verás melhor, se lá chegares, como os sentidos te enganam com a lonjura; mas convém estugar o passo.»
 
 
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 106/7

riba

« E o hidrópico: «Tu nisto falas verdade mas não foste testemunha tão verdadeira quando a verdade te foi pedida em Tróia.»
 
(...)
 
«Assim se abre tanto a tua boca para falar mal como de costume: porque se eu tenho sede e os humores me dilatam, tu ardes e dói-te a cabeça e para lamber o espelho de Narciso não precisas de dizer muitas palavras.»
 
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 105

malfadados

sábado, 28 de julho de 2012

Rilke with Clara Westhoff (1906)

QUADRA SEM PARDAIS
BOA NOVA OU ESPERANÇA

                                        provérbio irlandês


O meu mundo foi derrubado, e o vento espalha
As cinzas de Alexandre e de todos os que mataram por nós.
Tróia foi-se. E a mágoa rebelde do Ulster,
Também ela, como Tróia, como os Ingleses, também ela passará.



Thomas McCarthy. O jardim da dor e outros poemas. Tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1991) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira. Quetzal Editores, 1993., p.51

déjà-vu

« a tua mais profunda morte »

Thomas McCarthy. O jardim da dor e outros poemas. Tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1991) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira. Quetzal Editores, 1993., p.28

sábado, 21 de julho de 2012

A documentary film investigating sex trafficking by Mimi Chakarova

The Price of Sex is a feature-length documentary about young Eastern European women who’ve been drawn into a netherworld of sex trafficking and abuse. Intimate, harrowing and revealing, it is a story told by the young women who were supposed to be silenced by shame, fear and violence. Photojournalist Mimi Chakarova, who grew up in Bulgaria, takes us on a personal investigative journey, exposing the shadowy world of sex trafficking from Eastern Europe to the Middle East and Western Europe. Filming undercover and gaining extraordinary access, Chakarova illuminates how even though some women escape to tell their stories, sex trafficking thrives

Rilke with Baladine Klossowska (Muzot 1923)

«As ondas são generosas, ritmadas, maternais,
como molde feito especialmente para seios nus.»


Thomas McCarthy. O jardim da dor e outros poemas. Tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1991) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira. Quetzal Editores, 1993., p.25

«Como uma armadilha, a melancolia apoderou-se do seu belo coração.»

Thomas McCarthy. O jardim da dor e outros poemas. Tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1991) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira. Quetzal Editores, 1993., p.22

«Como se a água pudesse explicar o meu pranto,»

Thomas McCarthy. O jardim da dor e outros poemas. Tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1991) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira. Quetzal Editores, 1993., p.17

II


PEQUENAS AVES, VOZES


Estes são os sons bem entrelaçados da morte,
Aquelas pequenas aves castanhas a cantar, pequenas aves
De inverno pousadas num ramo pendente.
Nunca em vida lhe conhecera esse olhar fixo
Tão ferido de silêncio por um breve instante.

Estas aves lembram as vozes dessa vida:
Uma nota grave e fria é a voz atormentada
da pobreza da infância e as notas breves
E suaves são os sons de Amor e Casamento.

''É o princípio dos problemas da tua vida'',
Disse um vizinho junto à campa. Arranjei
A coroa de flores já murchas no seu sono fingido.
Alguma coisa me disse, a sua voz talvez, mesmo naquele instante
Quanto de Amor, de Dor, de Amor há numa vida.



Thomas McCarthy. O jardim da dor e outros poemas. Tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1991) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira. Quetzal Editores, 1993., p.15

sexta-feira, 20 de julho de 2012

At Cháteau de Muzot. Rilke with the young violin virtuoso, Alma Moodie and the conductor Werner Reinhardt. Rilke in a letter to Nanny Wunderly-Volkart: [about Moodie]"What a sound, what richness, what determination. That and the Sonnets to Orpheus, those were two strings of the same voice. And she plays mostly Bach! Muzot has received its musical christening...."

Mens sana in corpore sano

quarta-feira, 18 de julho de 2012

agiota

nome de 2 géneros
1. pessoa que empresta dinheiro com juros excessivos; usurário

2. especulador de fundos

penitência

Bdelicleon - (...)  Ajuda-o a modificar a sua natureza severa e amarga, comove o seu coração e remove o seu azedume. Mistura à sua cólera uma pequena gota de mel para o adoçar. Oh, possa ele perder o seu rancor e olhar para os homens com simpatia, de modo que as suas lágrimas caiam pelo acusado e não pelo acusador!»


Aristófanes. As Vespas. Edição da Ediclube., p. 166

''Onde está a minha alma? Tem de estar aqui algures. «Trevas, dêem-me passagem.»''



Aristófanes. As Vespas. Edição da Ediclube., p. 161
«Corações de carvalho somos nós todos, e lutaremos até cair»


Aristófanes. As Vespas. Edição da Ediclube., p. 146
de fio a pavio do princípio ao fim;
gastar pavio perder tempo

«(...) espargir incenso num sacrifício à Lua.»

Aristófanes. As Vespas. Edição da Ediclube., p. 136

arenga

nome feminino
1. alocução pública
2. discurso longo e fastidioso; palavrório
3. altercação, discussão

(Do gótico hring, «círculo», pelo latim medieval harenga-, «discurso»)
« Creonte - Tu que és escravo de uma mulher, não me venhas com palavriado.
   Hemão - Queres então falar e não ter que ouvir ninguém?»


Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 112

Não mantenhas como única opinião a tua, nem julgues que só o que tu dizes é razoável.


«Não mantenhas como única opinião a tua, nem julgues que só o que tu dizes é razoável. Os que acreditam ser únicos a usar da sensatez, a pensar e a falar melhor do que ninguém, revelam, uma vez postos a nu, um grande vazio. Não é vergonha para um homem, ainda que seja sábio, aprender com os erros e não se mostrar demasiado obstinado. Nas margens dos rios engrossados pelas torrentes invernais, vemos que as árvores que cedem à corrente conservam os seus ramos, enquanto que as que oferecem resistência são arrancadas pelas raízes.»




Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 110

«Não há pior mal que a anarquia.»


«Não há pior mal que a anarquia. Ela faz perder os Estados, destrói as casas, rompe as filas e põe em fuga as lanças aliadas. A disciplina, pelo contrário, salva a vida dos que a seguem. Assim, deve-se respeitar as ordens, e de modo algum deixar-nos vencer por mulher. Melhor seria, se preciso fosse, cair pela mão de um homem do que sermos considerados mais fracos que as mulheres.


Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 109

«Não amo aqueles que só amam em palavras.»

Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 106
«Creonte - O inimigo jamais será um amigo, mesmo quando morto.»


Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 105
«Corifeu - Ela mostra a natureza inflexível de um pai inflexível. Não aprendeu a ceder perante a desgraça.

Creonte - Sim, mas fica sabendo que o coração que não sabe ceder é, entre todos, o mais frágil, e o mais duro ferro, temperado e endurecido pelo fogo, é o que mais frequentemente se quebra e se faz em bocados.»



Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 103

Antígona

«(...). E se morrer antes do tempo, tanto melhor para mim, porque quem, como eu, vive no meio de desgraças sem conta, como não hei-de considerar a morte um bem desejado? Por isso o destino que me reservas não me causa dor alguma.»



Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 103
«No interior das chamas estão os espíritos, cada um envolvido no próprio fogo que o queima.»
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 91

domingo, 15 de julho de 2012


«Mas não tinham as suas visões algo de comparável às falaciosas alucinações que provocam o haxixe, o ópio ou o vinho, e que embrutecem o espírito deformando a alma?»


Fëdor Mixajlovič Dostoevskij. O Idiota. Tradução de Jorge Sampaio. Círculo de Leitores, Lisboa, 1978., p. 226

sábado, 14 de julho de 2012

Father photographer – Henry Frank, [edited by] Robert Frank and Franðcois-Marie Banier.


«É que a memória das crianças é como um relâmpago de Verão: incendeia-se de repente, ilumina tudo por instantes e apaga-se. Era o que acontecia com a sua memória; como um relâmpago, brilhava de vez em quando.»



Mikhaíl Chólokhov. O Destino de um Homem. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 400.
«Vivi assim dez anos, sem me dar conta de como passaram. Foram-se como um sonho. Que são dez anos? Pergunta a qualquer homem de idade se reparou em como foi a sua vida e dir-te-á que não se apercebeu de nada. O passado é como essa estepe longínqua, envolta em nevoeiro.»





Mikhaíl Chólokhov. O Destino de um Homem. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 360

Desde menina que sabia o que era sofrer e, aliás, isso reflectia-se no seu carácter.

« Desde menina sabia o que era sofrer e, aliás, isso reflectia-se no seu carácter. Olhando-a de fora, sob determinado aspecto, digamos que não era muito vistosa, mas eu não a olhava sob um determinado aspecto, mas de frente. E não havia para mim no mundo mulher mais bonita e desejada que ela, nem haverá!
    Vinha um homem do trabalho, cansado, e às vezes com um humor de mil diabos. Mas ela nunca respondia com rudeza às minhas rudes palavras. Carinhosa, serena, não sabia que fazer comigo e só pensava, mesmo quando eu levava pouco dinheiro para casa, em preparar-me um prato saboroso. Um homem olhava para ela e abrandava-se-lhe o coração, e, pouco depois, abraçava-a e dizia-lhe: ''Perdoa, querida Irina, fui muito grosseiro contigo. Mas, compreendes, hoje as coisas não me correram bem no trabalho. E de novo reinava entre nós a paz e a tranquilidade voltava à minha alma.»






Mikhaíl Chólokhov. O Destino de um Homem. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 358

« Da água vinha um hálito de humidade, juntamente com o azedo sopro dos amieiros putrefactos, e das longínquas estepes de Prikhopérskie, mergulhadas no fumo liláceo da névoa, a suave brisa trazia o aroma, eternamente jovem, da terra recém-libertada da neve.»



Mikhaíl Chólokhov. O Destino de um Homem. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 353

« - Sabe, parece-me que lhe quero muito.
 O capitão voltou-se de costas. As orelhas tornaram-se-lhe pálidas.
  -Bem, deixe-se de disparates.
  - Não é que o ame, mas, simplesmente, aprecio-o - disse Mikháilova com orgulho.
   O capitão ergueu os olhos e, fitando-a de soslaio, disse com timidez:
   -Pois a mim falta-me a miúdo a coragem para dizer o que penso, e isso é muito mau.»


Vadim Kojévnikov. Março e Abril.Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 347
«E, como é costume dizer-se, os gritos da barriga afogam em si a voz da razão.»



Vadim Kojévnikov. Março e Abril.Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 320
«Como se fosse um filho meu, receava deixá-lo só, indefeso contra a acção das inesperadas forças hostis do nosso mundo formoso e pérfido.»


Andréi Platónov. No Mundo Formoso e Pérfido.Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 305
«(...); via-se que eu o fatigava como um homem estúpido.
 - Você sabe tudo, menos o essencial - proferiu lentamente, pensativo. - Pode retirar-se.»



Andréi Platónov. No Mundo Formoso e Pérfido.Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 253

O que eu te digo talvez te pareça velho.

« Oceano (...) - O que eu te digo talvez te pareça velho. E todavia, Prometeu, é evidente que o teu castigo provém das tuas palavras arrogantes. Contudo, não és nada humilde nem te rendes ao sofrimento, e aos teus males presentes queres acrescentar outros.»


Ésquilo.Prometeu Agrilhoado. Edição da Ediclube., p. 19
«Prometeu - Se me é doloroso falar, calar-me não o é menos; sofro quer o faça quer não.»


Ésquilo.Prometeu Agrilhoado. Edição da Ediclube., p. 16

sexta-feira, 13 de julho de 2012

E eu, ao Mestre:

«As tuas palavras têm para mim tal certeza e merecem tanta fé, que outras para mim seriam como cinzas apagadas.»
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 73

''virgem bravia''

«Todas as tuas perguntas me dão prazer»

Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 55
«Assim como fui em vida, assim sou na morte.»
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 54

não meter prego nem estopa

 não tomar parte num acto ou numa discussão, não emitir opinião, não ter nada a ver com o assunto

quinta-feira, 12 de julho de 2012

«quem traiu eternamente é consumido»

Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 45

a minha cabeça é povoada de tontarias

e, pensando bem o meu desejo é simples: viver num monte, ter gatos, livros, fotografar, andar a cavalo, viver o ócio das horas que passam e não regressam, despir-me da minha utilidade, aumentar o meu dicionário de analfabeta, viajar, sentir excessivamente as sensações, ser a carne e a alma que se dão em ascese, ser contrariada pela vida, perder o orgulho que habita este cárcere, deixar fluir a doçura que existe por detrás de cada palavra amarga, libertar este corpo das suas próprias prisões e cavidades seladas, exprimir aquilo que sou sem recear os julgamentos, não ter cegamente resposta para tudo, ser domada pela simplicidade que é saber pouco, isolar-me das ninharias e tiranias desta espelunca - que alguns, diga-se, conhecem por democracia -, esperar com o trabalho quotidiano pelas bem-querenças do futuro, açoitar a minha própria desconfiança de tudo e todos, dar alento aos meus fantasmas, receber a tempestade de peito aberto, e lentamente descer ao abismo das noites frias e caminhar pelas águas: o solitário chegar ao cume da montanha.



É isto.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

'' uma côdea de pão escuro''

«Às vezes uma onda desliza pela areia e desaparece entre murmúrios.»


Vera Inber. Maia Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 253

emaciado


adjectivo
que mostra emaciação; emagrecido ao extremo
(Do latim emaciatus, «fazer magro»)

« - Não fales assim, Antón, que se passa?»

« - Sim, tenho que to dizer! Na verdade, tornei-me insuportável com os meus caprichos, as minhas tolices... Mas se soubesses como é duro para mim, como desejo viver, como estou cansado de pensar na morte, de dizer a mim mesmo que em breve, muito em breve, deixarei de existir, que não ficará nada de mim, que não tive tempo para fazer nada, absolutamente nada que valha a pena...»




Iúri Guérman. Passeios pelo Pátio. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 236

''Um homem tem sempre medo de uma mulher que o ame muito.'

«Muitas pessoas têm medo do olhar penetrante dos outros. Têm medo de perscrutar as coisas a fundo. Gostam de passar por cima de tudo, de olhos fechados e pensamento vazio.»


Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 262

tuta-e-meia

«As paixões humanas não têm conta, são tantas como as areias do mar, e todas, as mais vis como as mais nobres, começam por ser escravas do homem para depois o tiranizarem. Bem-aventurado aquele que, entre todas as paixões, escolhe a mais nobre: a sua felicidade aumenta de hora a hora, de minuto a minuto, e cada vez penetra mais no ilimitado paraíso da sua alma. Mas existem paixões cuja escolha não depende do homem: nascem com ele e não há força bastante para as repelir. Uma vontade superior as dirige, têm em si um poder de sedução que dura toda a vida. Desempenham neste mundo um importante papel: quer tragam consigo as trevas, quer as envolva uma auréola luminosa, são destinadas, umas e outras, a contribuir misteriosamente para o bem do homem.»




Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 258/9
«Porque havemos de ser tão severos com os outros? Hoje em dia já não se vêem por aí miseráveis, há só pessoas bem intencionadas e simpáticas. E se alguns se expõem à vergonha de serem esbofeteados em público, são só uns dois ou três, o máximo, e mesmo esses agora falam de virtude.»




Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 258

''Não cuspas no poço; pode servir para beber água''

Provérbio russo

« - Um dia sentirás por ela profunda aversão, precisamente por causa do amor que hoje te inspira e dos sofrimentos que padeces.»



Fëdor Mixajlovič Dostoevskij. O Idiota. Tradução de Jorge Sampaio. Círculo de Leitores, Lisboa, 1978., p. 213

jeremíades

''senti o coração apertar-se-me como entre tenazes''

Fëdor Mixajlovič Dostoevskij. O Idiota. Tradução de Jorge Sampaio. Círculo de Leitores, Lisboa, 1978., p. 198

quinta-feira, 28 de junho de 2012

« - Devo dizer-lhe, Gavrila Ardalionovitch - disse bruscamente o príncipe -, que é verdade que a doença que me afligiu noutros tempos, a ponto de me tornar quase idiota. Mas agora estou curado e já há muito tempo. Por isso, acho bastante desagradável que me trate abertamente de idiota. Se bem que os seus infortúnios lhe possam servir de desculpa, está transtornado a pontp de ser a segunda vez que me insulta. Isso desagrada-me, sobretudo tratando-se, como é o caso, do primeiro encontro. Estamos numa encruzilhada, o melhor será que nos separemos. (....)»



Fëdor Mixajlovič Dostoevskij. O Idiota. Tradução de Jorge Sampaio. Círculo de Leitores, Lisboa, 1978., p. 93/4

Talvez diga, por vezes, coisas estranhas...»

« Sei melhor do que ninguém que vivi menos tempo do que qualquer outro e compreendo a vida menos do que quem quer que seja. Talvez diga, por vezes, coisas estranhas...»


Fëdor Mixajlovič Dostoevskij. O Idiota. Tradução de Jorge Sampaio. Círculo de Leitores, Lisboa, 1978., p. 68

terça-feira, 26 de junho de 2012

Acaso não era possível viver fria, como a água de uma nascente, ignorando a febre amorosa?

«Acaso não era possível viver fria, como a água de uma nascente, ignorando a febre amorosa? Mas dava-se conta e estremecia: a vida tinha-a destroçado e pisado no seu almofariz sem curá-la dessa loucura e ''isso'', naturalmente, ia começar agora...Não escaparia ao inevitável.»



Alexéi Tolstói. A Víbora. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 191

Não esquecia o passado. Vivia solitária, duramente.

«Não esquecia o passado. Vivia solitária, duramente. Mas a rudeza da vida de campanha ia-a deixando pouco a pouco. Olga voltava a ser mulher...




Alexéi Tolstói. A Víbora. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 183

«Qual pássaro que voa com ímpeto num céu ventoso, enlouquecido, e de repente, partidas as asas, se abate sobre o chão como uma bola de penas, toda a vida de Olga, o seu amor inocente e apaixonado, se rompeu, se truncou; e começou para ela uma existência sem sentido, dura e incolor.»




Alexéi Tolstói. A Víbora. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 181

«A sua alma cobria-se de cicatrizes como uma ferida curada.»


Alexéi Tolstói. A Víbora. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 147

segunda-feira, 25 de junho de 2012

«Considerava a vida como uma tarefa séria, via e pensava demasiado, e vivia num alarme perpétuo. Tudo um coro discordante de perguntas estranhas ao espírito desta mulher, gritavam na minha alma.»
 
 
 
 
Máximo Górki. O Primeiro Amor. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 136

''O amor e a fome governam o mundo''

«Não direi que amava o seu próximo, não; ela sentia prazer em observá-lo. Às vezes acelerava ou complicava a evolução dos pequenos dramas da existência entre os esposos e os amantes, fomentando habilmente os ciúmes de uns e a aproximação de outros, e esse jogo perigoso apaixonava-a muito.
     ''O amor e a fome governam o mundo'', e a filosofia é a sua desgraça - dizia -. Vive-se para amar; isso é o mais importante da vida.»
 
 
Máximo Górki. O Primeiro Amor. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 133

Lauren Bacall smoking

«Mas há sentimentos, pensamentos e conjecturas das que não se falam senão à mulher amada. Há um momento no comportamento para com a mulher em que se deixa de ser um só e se abre só a ela como o crente para com o seu deus.»
 
 
 
Máximo Górki. O Primeiro Amor. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 131
«(...) eu não possuía a arte de castigar o próximo sem ferir o seu amor próprio.»
 
 
Máximo Górki. O Primeiro Amor. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 126
«Não há mulher que se respeite que não goste de ser lisonjeada.»
 
 
 
Máximo Górki. O Primeiro Amor. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 123

''(...) parecia que tudo em volta se fundia num abismo húmido e sem fundo.''

Máximo Górki. O Primeiro Amor. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 112

''endureci-me e tornei-me mais azedo''

«(...) tive um sem fim de impressões e de aventuras, endureci-me e tornei-me mais azedo, mas, no entanto conservei na minha alma a doce imagem imperecível daquela mulher, embora tivesse encontrado outras melhores e mais inteligentes do que ela.»


Máximo Górki. O Primeiro Amor. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 111
«Amava aquela mulher até à loucura e a minha piedade por ela esta cheia de angústia e de raiva.»


Máximo Górki. O Primeiro Amor. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 104

« (...) sorria com um sorriso que é absolutamente indispensável ao coração de um jovem de vinte anos, a um coração ferido pela rudeza da sua vida.»



Máximo Górki. O Primeiro Amor. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 96

Máximo Górki

''...A coisa mais inteligente que o homem pode ter, é saber amar a mulher, inclinando-se perante a sua beleza: do amor pela mulher nasceu toda a beleza que há no mundo.''

Converter num deserto este país de canalhas

« - Oh, monsieur! Eu tenho a minha teoria: tudo, até aos alicerces. Compreende-me? Converter num deserto este país de canalhas. Temos cento e quarenta milhões de habitantes, mas só dois ou três milhões têm direito a viver. A flor da raça: a literatura, as artes, a ciência. Sou materialista. Os outros cento e trinta e sete milhões, serão convertidos em adubo! Compreende? Nada de superfosfatos, sais de nitrato, salitre! Adubar os campos com milhões de indivíduos! Os mujiks, os rufiões, a canalha rebelde: Todos para a máquina! Uma espécie de grão de café moído. Para reduzi-los a papa! Essa papa, uma vez prensada e seca, será derramada pelos campos, por todos os lugares em que a terra é má. Sobre esses campos assim adubados levantaremos a nova civilização dos eleitos.»



Boris Lavreniov. Uma Coisa Bem Simples. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 50

conluio


1. combinação entre duas ou mais pessoas para prejudicar outrem
2. maquinação; trama
(Do latim colludĭu-, «jogo entre muitos; conluio»)

''Às mil maravilhas!''

bonomia

nome feminino
1. bondade natural aliada à simplicidade de maneiras
2. paciência

(Do francês bonhomie, «idem»)

''papalvo entusiasta''

«Au revoir, bravo jeune homme!»


Boris Lavreniov. Uma Coisa Bem Simples. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980

«Vê-se que é um descrente. E o seu nome é mais de cão do que de pessoa! Cout...Cout...! Oh, quantos porcos tem este mundo!»


Boris Lavreniov. Uma Coisa Bem Simples. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980

''indomável força de carácter''

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Eu tinha meus pés naquela parte da vida
Onde não se pode ir com intenção de regressar.


Dante Alighieri, Vita Nuova

Marilyn Monroe smoking a cigarette


eu sou a inércia criminosa e o exílio dos cães
tenho a amizade dos gatos e dos pobres
todas as minhas esposas me foram infiéis
soçobraram numa insensível loucura
das imagens e não das das almas
eles dizem que estou doido
mas o que estou é sozinho
um pouco triste
escutai-me
vou contar-vos tudo...
eu tinha-lhe dado uma cabra...
não
não estou doido
se me deres um cigarro eu continuo a história...





Tahar Ben Jelloun. Arzila. Estação de espuma.Texto Bilingue. Tradução de Al Berto Ilustrações de Luís Miguel Gaspar. Hiena Editora. Lisboa, 1987
Fui profeta da sabedoria e da verdade. Possuía as chaves da cidade. Senhor dos mares e dos pecadores. Sou hoje um cemitério de terracota. O mais belo cemitério onde vem desenvolver-se a loucura, onde dormem homens loucos de bondade, doentes por amor, doentes de razão.



Tahar Ben Jelloun. Arzila. Estação de espuma.Texto Bilingue. Tradução de Al Berto Ilustrações de Luís Miguel Gaspar. Hiena Editora. Lisboa, 1987
Ele abandonou a família
deixou crescer a barba
e encheu a sua solidão com pedras e sombra

Chegou ao deserto
a cabeça enrolada num sudário
o sangue derramado
em terra ocupada

E não era
nem herói nem mártir
era
cidadão do sofrimento



Tahar Ben Jelloun. Arzila. Estação de espuma.Texto Bilingue. Tradução de Al Berto Ilustrações de Luís Miguel Gaspar. Hiena Editora. Lisboa, 1987

«O silêncio de uma estrela
em troca de um pouco de água.»


Tahar Ben Jelloun. Arzila. Estação de espuma.Texto Bilingue. Tradução de Al Berto Ilustrações de Luís Miguel Gaspar. Hiena Editora. Lisboa, 1987
As raparigas
de ruiva cabeleira
esperam
a alma velada
lêem no horizonte do mar
por trás do véu branco da ilusão
o limite e os perfumes das areias
recostadas sobre os meandros
azuis do vento norte
pardais
perdem-se em suas cabeleiras
entrançadas de paciência


Tahar Ben Jelloun. Arzila. Estação de espuma.Texto Bilingue. Tradução de Al Berto Ilustrações de Luís Miguel Gaspar. Hiena Editora. Lisboa, 1987
A madrugada roça a vaga
lambe as botas dos pescadores adormecidos
desune as mãos calosas do servente de pedreiro
desperta os seios nus das raparigas que amassam o pão
e afasta-se para o céu
onde crianças magoadas
andam à procura de lume





Tahar Ben Jelloun. Arzila. Estação de espuma.Texto Bilingue. Tradução de Al Berto Ilustrações de Luís Miguel Gaspar. Hiena Editora. Lisboa, 1987

domingo, 17 de junho de 2012

O Pai

Na minha casa tenho as opiniões que me apetece. Não deixarei impor o silêncio na minha própria casa...




Bertold Brecht. «O Espião» in Teatro Contemporâneo. I antologia de teatro. Pirandello - Sartre - Anouilh - Arrabal - Brecht - Ionesco. Selecção de textos de Jacinto Ramos e Trad. de Virgínia Mendes. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 260

«Eu, Bertold Brecht, vim das florestas
negras.
  A minha mãe também de lá veio
quando eu habitava no seu corpo.
   Nas cidades, o frio das florestas negras.
   Estará comigo até ao dia da minha
morte.

  As coisas pertencem a quem as tornar
melhores.»




Bertold Brecht. «O Espião» in Teatro Contemporâneo. I antologia de teatro. Pirandello - Sartre - Anouilh - Arrabal - Brecht - Ionesco. Selecção de textos de Jacinto Ramos e Trad. de Virgínia Mendes. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 255

Vicente Aleixandre, ''el conocimiento que aporta Arrabal está teñido de una luz moral que está en la materia misma de su arte"

declaração de Samuel Beckett ao tribunal pedindo a absolvição de Fernando Arrabal «Se existe culpa, que ela seja analisada à luz do grande mérito de ontem e da grande promessa de amanhã e, portanto, perdoada. Que Fernando Arrabal seja entregue à sua própria pena.»

Tasla

Coragem! Não há motivo para corares de vergonha.



Viloro, entusiasmado

Acontece-me sem eu querer.

Tasla

De repente?

Viloro

Enfim, não é bem, mas quase.




Arrabal. «A Bicicleta do Condenado» in Teatro Contemporâneo. I antologia de teatro. Pirandello - Sartre - Anouilh - Arrabal - Brecht - Ionesco. Selecção de textos de Jacinto Ramos e Trad. de Virgínia Mendes. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 214

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Senhor Orlas

«Não é preferível a um lar, com filhos, a gritar agarrados às tuas saias, uma criada e as suas caçarolas para tomar conta? O amor afoga-se na vida de todos os dias. O nosso amor será todas as manhãs uma coisa nova a conquistar e a defender. Teremos cenas horrorosas, torturar-nos-emos atrozmente um ao outro, despedaçar-nos-emos todos os dias, sem podermos passar um sem o outro; ambos escravos e tiranos. Os homens hão-de desejar-te em todas as festas onde passaremos as noites, e o seu desejo revelar-te-á a ti própria. Tu divertir-te-ás a fazer-me sofrer e eu nunca saberei se tu me amas verdadeiramente, nem o que escondem os teus sorrisos; e se acontecer estares longe uma hora, um dia...um verme roer-me-á para sempre o coração. Porque tu mentir-me-ás sempre e serás para mim um eterno mistério...Viver é isto, Araminthe! É isto, ser mulher e amar!»



Jean Anouilh. «Cecile ou a escola de pais» in Teatro Contemporâneo. I antologia de teatro. Pirandello - Sartre - Anouilh - Arrabal - Brecht - Ionesco. Selecção de textos de Jacinto Ramos e Trad. de Virgínia Mendes. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 198
Senhor Orlas

«(...) Quando me fecho no meu gabinete, todos pensam que estou a trabalhar, não é assim? ( Em quê, meu Deus?Nunca fiz nada na minha vida!) A casa inteira caminha nas pontas dos pés para não me incomodar. E sabe o que eu faço nesse santuário? Fico sentado horas e horas a olhar a mesa em frente de mim.»




Jean Anouilh«Cecile ou a escola de pais» in Teatro Contemporâneo. I antologia de teatro. Pirandello - Sartre - Anouilh - Arrabal - Brecht - Ionesco. Selecção de textos de Jacinto Ramos e Trad. de Virgínia Mendes. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 180
Garcin
Morri cedo demais. Não me deram tempo para realizar os meus actos.

Inês
Morre-se sempre demasiado cedo - ou demasiado tarde...E no entanto a vida lá está, terminada, o traço marcado, é preciso fazer a soma. Tu não és nada além da tua vida.

Garcin
Víbora! Tens resposta para tudo.





Jean Paul-Sartre. A Porta Fechada in Teatro Contemporâneo. I antologia de teatro. Pirandello - Sartre - Anouilh - Arrabal - Brecht - Ionesco. Selecção de textos de Jacinto Ramos e Trad. de Virgínia Mendes. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 140/1

It's A Storm When I Sleep....It's A Storm When I Sleep...It's A Storm When I Sleep...It's A Storm When I Sleep....

Garcin

«Dar-te-ei o que puder. Não é muito. Não te amarei; conheço-te demasiadamente bem.»



Jean Paul-Sartre. A Porta Fechada in Teatro Contemporâneo. I antologia de teatro. Pirandello - Sartre - Anouilh - Arrabal - Brecht - Ionesco. Selecção de textos de Jacinto Ramos e Trad. de Virgínia Mendes. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 123
Inês

«Vem! Serás o que tu quiseres, água pura, água suja; encontrar-te-ás no fundo dos meus olhos tal como te desejas.»


Jean Paul-Sartre. A Porta Fechada in Teatro Contemporâneo. I antologia de teatro. Pirandello - Sartre - Anouilh - Arrabal - Brecht - Ionesco. Selecção de textos de Jacinto Ramos e Trad. de Virgínia Mendes. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 122
Inês

«Sinto-me vazia. Agora estou realmente morta.»


Jean Paul-Sartre. A Porta Fechada in Teatro Contemporâneo. I antologia de teatro. Pirandello - Sartre - Anouilh - Arrabal - Brecht - Ionesco. Selecção de textos de Jacinto Ramos e Trad. de Virgínia Mendes. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 113
Inês
(...) Eu sou perversa.


Garcin
Sim. Eu também sou.


Inês
 Não, você não é perverso, você é outra coisa.



Jean Paul-Sartre. A Porta Fechada in Teatro Contemporâneo. I antologia de teatro. Pirandello - Sartre - Anouilh - Arrabal - Brecht - Ionesco. Selecção de textos de Jacinto Ramos e Trad. de Virgínia Mendes. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 92

ESTELA

«Ah! sim, por dentro...Tudo o que se passa na cabeça é tão vago que me dá sono. (Um tempo). Tenho no meu quarto de dormir seis enormes espelhos. Estou a vê-los. Mas eles não me vêem. Reflectem a «Causeuse», o tapete, a janela...Como é vazio um espelho que não reflectia minha imagem. Enquanto falava procurava sempre a maneira de ter um espelho onde me pudesse ver. Falava e via-me falar. Via-me como os outros me viam e isso mantinha-me viva. (Com desespero). O meu bâton? Tenho a certeza que o pus mal. Não posso ficar sem espelho para a toda a eternidade.»



Jean Paul-Sartre. A Porta Fechada in Teatro Contemporâneo. I antologia de teatro. Pirandello - Sartre - Anouilh - Arrabal - Brecht - Ionesco. Selecção de textos de Jacinto Ramos e Trad. de Virgínia Mendes. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 92
ESTELA

«Não posso suportar que esperem qualquer coisa de mim. Apetece-me imediatamente fazer o contrário.»



Jean Paul-Sartre. A Porta Fechada in Teatro Contemporâneo. I antologia de teatro. Pirandello - Sartre - Anouilh - Arrabal - Brecht - Ionesco. Selecção de textos de Jacinto Ramos e Trad. de Virgínia Mendes. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 85
Garcin

(...)

«Não chora; ela nunca chorava. Está um belo dia de sol e ela está toda de negro na rua deserta, com os seus grandes olhos de vítima. Ah! Ela irrita-me.»




Jean Paul-Sartre. A Porta Fechada in Teatro Contemporâneo. I antologia de teatro. Pirandello - Sartre - Anouilh - Arrabal - Brecht - Ionesco. Selecção de textos de Jacinto Ramos e Trad. de Virgínia Mendes. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 79
Garcin

«Compreendo muito bem que a minha presença a incomode. Pessoalmente, também preferia estar só. Necessito de pôr a minha vida em ordem e tenho absoluta necessidade de me concentrar. Mas estou certo que nos poderemos habituar um ao outro; não falo, não me mexo e faço pouco barulho. Simplesmente, se me permite dar-lhe um conselho, precisamos de conservar entre nós uma grande delicadeza. Essa será a nossa melhor defesa.»





Jean Paul-SartreA Porta Fechada in Teatro Contemporâneo. I antologia de teatro. Pirandello - Sartre - Anouilh - Arrabal - Brecht - Ionesco. Selecção de textos de Jacinto Ramos e Trad. de Virgínia Mendes. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 72

domingo, 3 de junho de 2012

«Oh, Capaneu, já que o teu orgulho não se modera, mais ainda serás castigado; a dor que a tua raiva trará será o teu pior martírio.»
 
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 54

não meter prego nem estopa

não tomar parte num acto ou numa discussão, não emitir opinião, não ter nada a ver com o assunto

''não se voltou demasiado contra si próprio''


«Todos temos mais ou menos essa fraqueza; connosco, somos indulgentes, e descarregamos toda a nossa ira para cima do próximo: um criado, um subordinado, a própria esposa, às vezes até uma cadeira que voa pelos ares e vai espedaçar-se contra a porta.»



Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 187

facúndia

nome feminino
1. elocução fácil
2. eloquência
3. verbosidade

(Do latim facundĭa- «eloquência»)

''sensação opressiva de vazio''

Evangel reflected

« - Permite a estes humildes mortais a ousadia de lhe perguntarem qual o objecto dos seus pensamentos?»


Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 179
«Duas rolas te mostrarão
O meu cadáver gelado,
E os seus arrulhos te dirão
Que morri de tanto chorar.»


Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 172
«''O que é a vida? Um vale de amarguras. O que é o mundo? Um amálgama de seres insensíveis.''»


Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 172

Boris Lavreniov (1891 - 1959)

''Na literatura, tal como na vida, detesto atitudes de orgulho, a afectação, a enfatuação, os trejeitos. Não gosto de escritores que se apresentam a si mesmos como cálices de eleição, que não falam uma linguagem humana e preferem os oráculos sentenciosos. Amo a língua viva e popular; cuido da sua pureza e luto por ela'', escreveu Boris Lavreniov na sua autobiografia, terminada pouco antes da sua morte.



«Giulia

Então, ao menos, mata-me.


André, encolhendo os ombros com indeferença

Podes matar-te a ti mesma.»




Luigi Pirandello. O Torno in Teatro Contemporâneo. I antologia de teatro. Pirandello - Sartre - Anouilh - Arrabal - Brecht - Ionesco. Selecção de textos de Jacinto Ramos e Trad. de Virgínia Mendes. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 52

                                                               Giulia

   «Fica a meio da sala com os olhos terrivelmente fixos num pensamento cruel.»




Luigi Pirandello. O Torno in Teatro Contemporâneo. I antologia de teatro. Pirandello - Sartre - Anouilh - Arrabal - Brecht - Ionesco. Selecção de textos de Jacinto Ramos e Trad. de Virgínia Mendes. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 32

«o inferno são os outros»

(«Vim das florestas negras...»)

hodierno


do dia de hoje; de agora; atual; moderno
(Do latim hodiernu-, «idem»)

imorredouro


1. que não é morredouro
2. que não acaba; imperecível
3. imortal; eterno
4. perdurável
(De in-+morredouro)

puro «divertissement»

segunda-feira, 28 de maio de 2012

«quando estiveres perante o doce olhar daquela cujos belos olhos tudo vêem, por ela conhecerás o caminho da tua vida.»
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 43
«(...) a vida sórdida que os deformou fá-los irreconhecíveis.»
 
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 33

domingo, 27 de maio de 2012

atavismo


nome masculino
 
condição que exprime o reaparecimento, num indivíduo, de caracteres que pertenciam a gerações antepassadas e que tinham deixado de se manifestar
(Do latim atăvu-, «antepassado; pai do trisavô» +-ismo)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

« - Tu és ingénuo e pedante...patrão, salvo o devido respeito - disse finalmente. - Tudo o que digo é como se estivesse a cantar.
   - Como assim? - protestei eu. - Compreendo-te muito bem, Zorba!
   - Sim, compreendes com a cabeça. Tu dizes: «Isso é justo, é assim, ou não é assim; tens razão ou não tens. Mas a que nos leva isso? Eu, enquanto tu falas, observo os teus braços, o teu peito. Pois bem, que fazem eles? Ficam mudos. Nada dizem. Como se não tivessem uma gota de sangue. Então como queres tu compreender? Com a cabeça? Pff!»



Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 239
«As maravilhosas catedrais que encontramos nas grandes cidades ruidosas e ateias são conchas vazias», pensava eu. Monstros pré-históricos, de que resta só o esqueleto roído pelas chuvas e pelo sol.»


Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 222

«O Verbo fez-se carne...»

«Tal como o grão de trigo, também tu, meu coração, deves mergulhar na terra e morrer. Não tenhas receio. Senão, como te poderás tornar espiga? Como poderás tu alimentar os homens que morrem de fome?»


Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 218

''demolir as velhas respostas''

«Cala-te!Cala-te! - gritou. - Porque me dizes isso patrão? Porque me envenenas o coração? Eu estava bem aqui; porque me transtornas? Tinha fome, e o bom Deus ou o Diabo ( que eu seja enforcado se vejo alguma diferença) dava-me um osso que eu lambia. E mexia a cauda dizendo: «Obrigado! Obrigado!» Agora...


Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 199

''Só eu era impotente e racional, o sangue não me fervia, não amava nem odiava com paixão.''

«Só eu era impotente e racional, o sangue não me fervia, não amava nem odiava com paixão. Ainda agora tentara compor as coisas, deixando tudo, a cargo do destino.»


Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 177

«Pela minha carta, compreenderás como sou um homem infeliz. É só quando falo contigo que tenho a esperança de aliviar um bocado a minha neurastenia. Pois tu tens, como eu, um diabo dentro de ti, mas não sabes ainda como ele se chama, e, como não sabes, abafas. Baptiza-o, patrão, e alivias-te!»



Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 160
Powered By Blogger