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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

terça-feira, 17 de março de 2015


terça-feira, 3 de fevereiro de 2015


quarta-feira, 2 de julho de 2014

Hamm: There's something dripping in my head. A heart, a heart in my head.

 ― Samuel Beckett, Endgame

quinta-feira, 12 de junho de 2014

«Il parle de soi-même comme d'un autre. Il dit en parlant de soi. Il parle de soi comme d'un autre.»

Beckett

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Quatro Poemas de Samuel Beckett


1. Dieppe
torna derradeira maré vaza
morto seixo
a volta logo os passos
rumo à vila sob a luz

 
2.
o meu curso é na areia fluida
entre seixo e duna
chuva de verão chove-me na vida
em mim vida que me segue me foge
até ao cabo até ao rabo

a minha paz ali está na névoa a recuar
onde eu possa não mais dar estes passos longos em limiares fugidios
e viva o espaço de tempo de uma porta
que se abre e se fecha


3.
que faria eu sem este mundo sem rosto sem curar de nada
onde ser não dura mais que um instante onde cada instante
verte no vazio a ignorância de ter sido
sem esta vaga onde por fim
corpo e sombra juntos se engolfam
que faria eu sem este silêncio onde murmúrios morrem
ofegando fremindo rumo ao auxílio rumo ao amor
sem este céu que se eleva
acima do pó da sua gravilha

que faria eu que fiz ontem e antes
espreitando da minha escotilha buscando outrem
vagando como eu na corrente alheio a toda a vida
num espaço convulso
por entre as vozes afásicas
que se aglomeram no meu covil
 
4.
Queria que o meu amor morresse
e chovesse sobre as campas e
sobre mim cruzando as ruas de
luto pelo primeiro o derradeiro amor


Four Poems by Samuel Beckett
1. Dieppe
again the last ebb
the dead shingle
the turning then the steps
toward the lighted town


2.
my way is in the sand flowing
between the shingle and the dune
the summer rain rains on my life
on me my life harrying fleeing
to its beginning to its end

my peace is there in the receding mist
when I may cease from treading these long shifting thresholds
and live the space of a door
that opens and shuts


3.
what would I do without this world faceless incurious
where to be lasts but an instant where every instant
spills in the void the ignorance of having been
without this wave where in the end
body and shadow together are engulfed
what would I do without this silence where the murmurs die
the pantings the frenzies toward succour towards love
without this sky that soars
above its ballast dust

what would I do what I did yesterday and the day before
peering out of my deadlight looking for another
wandering like me eddying far from all the living
in a convulsive space
among the voices voiceless
that throng my hiddenness


4.
I would like my love to die
and the rain to be falling on the graveyard
and on me walking the streets
mourning the first and last to love me

 
 
Four Poems by Samuel Beckett, translated from the French by the author Hugo Pinto Santos
 

domingo, 28 de agosto de 2011

« É a mim que procuras, ou qualquer outra coisa? (Pausa.) Queres afagar o meu rosto...uma vez mais? (Pausa.) É um beijo que procuras, Willie...ou será outra coisa? (Pausa.) Houve um tempo em que eu ainda poderia dar-te uma ajuda. (Pausa.) E um outro tempo, antes desse em que eu te ajudava mesmo. (Pausa.) Tu precisaste sempre muito de ajuda, Willie. (Willie escorrega e vem cair na base de elevação do terreno, de rosto voltado para o solo.) Brumm! (Pausa. Willie volta à posição de gatas e levanta os olhos para ela.) Tenta outra vez, Willie, vamos: dessa maneira! (Pausa. Veemente.) Não olhes para mim dessa maneira! (Pausa. Baixo.) Perdeste a razão, Willie? (Pausa. Idem.) Os teus pobres restos de razão?»



Samuel Beckett. Dias Felizes. Trad. Jaime Salazar Sampaio. 1ª. Edição. Editorial Estampa, Lisboa, 1973., p. 82/3

Os clássicos


«Como se perdem os clássicos! (Pausa.) Oh, nem todos. (Pausa.) Uma parte. (Pausa.) Outra parte fica. (Pausa.) É isso que eu acho maravilhoso: que uma parte dos clássicos fique para nos ajudar a chegar ao fim de cada dia. (Pausa.)»



Samuel Beckett. Dias Felizes. Trad. Jaime Salazar Sampaio. 1ª. Edição. Editorial Estampa, Lisboa, 1973., p. 78
«A tristeza depois do amor essa, é claro, conhecemo-la nós.»



Samuel Beckett. Dias Felizes. Trad. Jaime Salazar Sampaio. 1ª. Edição. Editorial Estampa, Lisboa, 1973., p. 78
«Eu julgava antigamente...(Pausa.)...digo: eu julgava antigamente que ainda havia de aprender a falar sozinha. (Pausa.) Quero dizer: comigo própria, no deserto. (Sorriso.)»


Samuel Beckett. Dias Felizes. Trad. Jaime Salazar Sampaio. 1ª. Edição. Editorial Estampa, Lisboa, 1973., p. 72

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

«(...) sentir-te simplesmente aí, ao alcance da minha voz, quem sabe se pronto a intervir, é tudo o que eu peço, nem dizer nada que possa contrariar-te ou causar desgosto, nem estar aqui a falar à toa, por assim dizer, às cegas, enquanto esta coisa me consome. (Pausa. Retomando alento.) A dúvida. (Pousa o índex e o dedo maior na região do coração. Procura o sítio, encontra-o). Aqui. (Move ligeiramente os dedos.) Mais ou menos. (Tira a mão.



Samuel Beckett. Dias Felizes. Trad. Jaime Salazar Sampaio. 1ª. Edição. Editorial Estampa, Lisboa, 1973., p. 50
«As palavras abandonam-nos, há alturas em que as palavras nos abandonam. Até elas...(Voltando-se um tanto para Willie.) Não é verdade, Willie? (Pausa. Voltando-se mais. Mais forte.) E o que havemos nós de fazer, então...até que elas voltem?»



Samuel Beckett. Dias Felizes. Trad. Jaime Salazar Sampaio. 1ª. Edição. Editorial Estampa, Lisboa, 1973., p. 47
«Quantas vezes eu não disse: Winnie põe o chapéu, é o que tens a fazer, tira o chapéu, Winnie, porta-te como uma pessoa crescida, vais ver que te faz bem...e não era capaz. (Pausa.) Não podia.



Samuel Beckett. Dias Felizes. Trad. Jaime Salazar Sampaio. 1ª. Edição. Editorial Estampa, Lisboa, 1973., p. 47

terça-feira, 23 de agosto de 2011

«Tinha sido melhor deixar-te dormir. (Volta-se de frente; puxa distraidamente pela relva. Baixando e levantando a cabeça, anima a fala seguinte.) Pois é...assim eu pudesse suportar a solidão, quero dizer, ficar para aqui a pairar sem ser ouvida por ninguém. (Pausa.) Não é que eu tenha ilusões, Deus me livre. Tu não ouves lá grande coisa, Willie. (Pausa.) Há mesmo dias em que não ouves nada. (Pausa.) Mas também há outros em que me respondes (Pausa.) De maneira que eu posso sempre dizer de mim para mim, mesmo quando não respondes e talvez nem oiças: Winnie, posso eu dizer, há alturas em que alguém te escuta, tu não estás a falar só para ti própria, quero dizer, no deserto, coisas que eu nunca pude suportar - por muito tempo (Pausa.)»



Samuel Beckett. Dias Felizes. Trad. Jaime Salazar Sampaio. 1ª. Edição. Editorial Estampa, Lisboa, 1973., p. 44/5

domingo, 21 de agosto de 2011

«Dias Felizes é um maravilhoso poema de amor, o canto de uma mulher que ainda quer ouvir e ver o homem que ama (...). Quando li a peça pela primeira vez, fiquei perturbada e entusiasmada (...). O que eu estava a ler era tudo o que não ousava pensar desde que (...) me tinha aparecido a primeira ruga de velhice», declarava Madeleine Renaud nas Novelles Littéraires de 24 de Fevereiro de 1966.




Samuel Beckett. Dias Felizes. Trad. Jaime Salazar Sampaio. 1ª. Edição. Editorial Estampa, Lisboa, 1973., p. 22
«Nunca estive aqui», diz Hamm, e perante esta confissão nada mais conta, porque é impossível ouvi-la senão sob a sua forma mais geral: «Nunca ninguém esteve aqui.» Diz Robbe-Grillet referindo-se a À Espera de Godot e a Fim da Festa.»
 
Prefácio
 
 
Samuel Beckett. Dias Felizes. Trad. Jaime Salazar Sampaio. 1ª. Edição. Editorial Estampa, Lisboa, 1973., p. 20
«Winnie seria uma «complexa alma humana» de que Dias Felizes, com diálogos feitos à imagem da linguagem daquela que seria a pessoa «retratada», usando o que seria a expressão das suas dúvidas, dos seus íntimos desejos, das suas desilusões, do que se lembra e do que não se lembra, da sua tristeza ou da sua alegria, faria o «retrato»?


 
Samuel Beckett. Dias Felizes. Trad. Jaime Salazar Sampaio. 1ª. Edição. Editorial Estampa, Lisboa, 1973., p. 10

sábado, 14 de maio de 2011

    «É meia-noite. A chuva fustigava as vidraças. Estou calmo. Tudo dorme. Não obstante levanto-me e sento-me à secretária. Não tenho sono. A luz da lâmpada é firme e suave. Regulei-a para dar até de manhã. Ouço o bufo, ave nocturna. Que terrível grito de guerra! Outrora ouvia-o impassível. O meu filho dorme. Que durma. Virá a noite em que também, não podendo dormir, se sentará à mesa de trabalho. Estarei esquecido.»


Samuel Beckett. Molloy. Tradução de Rui Guedes da Silva. Editorial Presença, 1964., p 133
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