«Agora estava só, sem sequer uma criada em casa; só e devorado por uma ansiedade contínua, que lhe fazia cometer todas aquelas loucuras.
Sabia-o, sim: tinha consciência das suas loucuras; cometia-as de propósito, para irritar as pessoas que, antes, quando era rico, tanto o tinham obsequiado e agora lhe voltavam as costas e riam dele. Todos, todos riam dele e dele fugiam; não havia um único homem que lhe quisesse prestar auxílio, que lhe dissesse: - Compadre, que anda a fazer?, venha cá: sabe trabalhar, sempre trabalhou honestamente; não faça mais loucuras; vamos lançar-nos os dois num bom empreendimento! - Nem um só.
E a angústia, a roedura interior, naquele abandono, naquela solidão amarga e nua, cresciam e exasperavam-no cada vez mais.»
Luigi Pirandello.
Contos Escolhidos. Prefácio do Prof.
Ricardo Averini. Selecção e tradução de Carmen Gonzalez. Editorial Verbo,
Lisboa, 1972.,p. 115