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segunda-feira, 8 de abril de 2013

 
 
«Tudo tem um fim. Nem sempre é a morte, muitas vezes é qualquer coisa diferente e bastante pior, sobretudo quando se trata de crianças.»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 252

domingo, 24 de março de 2013

Louis Destouches et Edith Follet lors de leur mariage à Quintin le 19 août 1919

 

«Digo-vos, simplórios, vencidos da vida, escorraçados, espoliados, transpirados de sempre, previno-vos: quando os grandes deste mundo resolverem amar-vos é porque vão transformar-vos em carne para canhão.»
 
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 75/6


quarta-feira, 20 de março de 2013



«Morremos por ser homens sem lenda, sem grandeza, sem mistério», dirá por sua vez o próprio Céline. E talvez seja esta a fonte das desgraças do homem moderno.



Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 13

bípedes em busca de uma côdea

 
«Céline fala pelos não-judeus e faz-se vítima: « Nada tenho de especial contra os Judeus enquanto judeus, ou seja, galfarros como os outros bípedes em busca de uma côdea...Não me incomodam nada. Um judeu vale tanto como um bretão, assim em bloco, em igualdade de circunstâncias, como um tipo de Auvergne, um franco-monhé, um 'filho de Maria''...É possível...Contra o racismo judaico é que me revolto, é que sou mau e fervo até às profundezas das cuecas!...Vocifero! Faço estrondo! parêntesis  Para o Judeu, lembrem-se disto...quem não for judeu é animal!»  



Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 10

Louis-Ferdinand Céline


«Mas em Céline, homem de obcecações e ódios irreprimíveis, nunca existiu meio termo. Céline não hesitou em mostrar-se desabrido e fanático.»

Aníbal Fernandes


Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 10

sexta-feira, 8 de junho de 2012

domingo, 22 de abril de 2012

tartufo


nome masculino
indivíduo hipócrita; velhaco; devoto fingido
(Do italiano Tartufo, antropónimo, personagem da comédia italiana, aproveitada por Molière, pelo francês Tartufe, «idem»)
A nossa vida é a viagem
Pelo Inverno e na Noite.
E procuramos passagem
No Céu onde nada luz.

Canção dos Sentinelas Suíças, 1793





Louis-Ferdinand Céline.Viagem ao fim da noite. Trad., apresentação e notas de Aníbal Fernandes. Ulisseia, 2010.

domingo, 6 de junho de 2010

Louis-Ferdinand Céline

“Eu dizia-lhe que queria ser escritor, que tinha 15 anos e ele respondeu-me com uma carta de uma imensa ternura: 'Não tenho fotografia porque não sou actor de cinema. Mas se queres ser escritor vê lá porque depois não podes ir ao cinema, não podes ter namoradas, não podes não sei lá o quê... Porque escrever é uma coisa muito difícil e exige muito tempo, tens de passar a vida agarrado ao livro...'”


António Lobo Antunes, lembrança de uma carta que escreveu a Céline onde lhe pedia uma fotografia, in Ípsilon, Público

segunda-feira, 10 de maio de 2010

«Se ao menos eu tivesse tido tempo! Mas já não tinha. E agora já nada havia para roubar! Que bom seria estar numa prisão aconchegada, dizia para comigo, onde as balas não passam! Onde nunca passam! Eu conhecia uma pronta a servir, ao sol, ao calor! Como num sonho, a de Saint-Germain precisamente, tão perto da floresta, eu conhecia-a bem, antigamente passava muitas vezes por lá. Como nós mudamos! Nessa altura eu era uma criança e fazia-me medo, a prisão. É que ainda não conhecia os homens. Nunca mais vou acreditar no que eles dizem, no que eles pensam. Dos homens e só dos homens devemos ter sempre medo. »


Louis-Ferdinand Céline.Viagem ao fim da noite. Trad., apresentação e notas de Aníbal Fernandes. Ulisseia, 2010., p.28
«Há bastantes maneiras de sermos condenados à morte.»




Louis-Ferdinand Céline.Viagem ao fim da noite. Trad., apresentação e notas de Aníbal Fernandes. Ulisseia, 2010., p.28

quinta-feira, 6 de maio de 2010

«Numa história destas não há nada a fazer, só pormo-nos a cavar», dizia a mim próprio, apesar disso...
Por cima das nossas cabeças, a dois milímetros, talvez a um milímetro das têmporas, um após outro vinham vibrar esses longos fios de aço traçados pelas balas que nos queriam matar no ar quente do Verão. Nunca eu me sentira tão inútil por entre essas balas todas e as luzes daquele sol. Uma imensa, uma universal zombaria.




Louis-Ferdinand Céline.Viagem ao fim da noite. Trad., apresentação e notas de Aníbal Fernandes. Ulisseia, 2010., p.25

domingo, 11 de abril de 2010

«-Explique-me só, nosso cabo, o que quer isto dizer! O que é que o homem bebeu?
Ninguém respondia.
-Quem costuma dormir na caserna dele?
-Eu, messargento!Eu, Blemaque François do Terceiro! Nunca o vi assim...Há dois anos que está na minha esquadra...Para mais e não para menos. Nunca o vi assim...
-Muito bem! Belíssima resposta, ó Blemaque.
Vai daí levanta-se toda tesa, a sentinela, ainda a franzir os olhos, olha para nós e dá um grito de verdadeiro susto, um rasgar de todo o corpo que nunca mais acaba...E volta a cair, desaba no tabique e recomeça com mais gemidos, aos solavancos.
Todo o posto se junta à volta, por cima dela, a discutir.
O Rancotte impõe silêncio.
- Olhem-me só estas caretas! Mas este urso imundo o que é que me bebeu? É lá possível que seja do bagaço! Só vinagre, só uma mistela! Só um veneno! Ainda se me fina, a alimária!
Realmente não era nada agradável ver a sentinela, não tranquilizava nada a maneira de ela se crispar, de sufocar na palha. Era medonho.
Já ninguém se atrevia a tocar-lhe.
Mas o Rancotte, esse chateou-se.
-É só comédia! Merda! Quero lá saber! A minha garrafa, ó porco! Que fizeste dela? Estás-me a ouvir, vadio?
Fazia-lhe a pergunta mas o outro continuava em convulsões e a estertorar, cada vez mais bravio.
-Costuma dar-lhe a epiléptica, o «mal-sagrado»? - pergunta assim o Lambelluch. E depois mete-se em pormenores, em raciocínios.
-O Bastien, que era alfaiate no Três...Aquele Arthur que esteve no P.H.R., depois...dava-lhe a coisa dentro da língua...era aqui dois anos mais velho que eu...e quando aquilo lhe dava...Mordia-a toda, à dentada...até lhe vi bocados soltos...Tenho que a pôr de fora, dizia-me ele...Quando me dá, tenho de -la cá fora!...E eu punha-la, com ajuda de um garfo...O Arthur Bastien...Desatava a andar à volta, todo zonzo...Chupava-me, aquela língua...Enfiava-a toda até ao fundo.»



Louis-Ferdinand Céline in De Três Em Pipa. Trad. de Aníbal Fernandes. Colecção Gato Maltês. Assírio&Alvim, 1985., pp. 86/7

terça-feira, 6 de abril de 2010

«O eco subia às árvores...por cima dos edifícios...até às sombras, aos cenários enormes que tinham levantado a toda a volta...contra o céu...ali pretíssimos, ruidosos, inchados que sei cá, monstros de murmúrio imenso...era os medos que saem das folhas...da noite quando ela se mexe...
-Sim, messargento...
Que húmido eu estava no capote, coisa realmente horrível para a minha estreia militar. Uma deambulação muito ingrata entre pedras espalhadas numa grande bandalheira no escuro, debaixo das torrentes daquela bátega. Voltámos a contornar muros e os meus butes eram fraquitolas, na verdade, para lutar com valadas, terríveis...Eu passava-lhes no meio e tropeçava, caí duas vezes...Mas lá me esforçava por continuar assim mesmo de passo certo: Aumm! Dois!Aum! Dois!...
O Meheu estimulava-nos, escoltava-nos de lanterna a dar a dar ao longo da fileira...e tudo isto cheio, ainda por cima, de comentários e facécias impagáveis.
-Diz-me lá tu, magala, se esta volta de gato preto não é mesmo boa? De gato molhado? De gato morto! E não estás a gramar estas bombas de água? Não gostas, diz lá, deste quartel? Não te enche as medidas? O quê, nem um dente à mostra? Tudo isso é neura? Não reparas em nada, nesta categoria? Não estarás feito num oito, por acaso? Não me-lo digas! Ainda te não apetece fugir? Olha que ainda me partes essa cabeça! Espera! Espera! O passo certo! Direita volver! Direita volver! Amanhã vais só ver! Tens esse cu em frangalhos! Oh!Oh!Oh!
E tudo gozava, minha gente.
-É carne para canhão! Garante o Governo. Quando dás por ela já não existes! Já vinhas tísico...


Louis-Ferdinand Céline in De Três Em Pipa. Trad. de Aníbal Fernandes. Colecção Gato Maltês. Assírio&Alvim, 1985., pp. 30/1

domingo, 21 de março de 2010

Viajar é muito útil, faz trabalhar a
imaginação. O resto não passa de
decepções e fadigas. A nossa viagem é
inteiramente imaginária. Daí a sua
força.

Vai da vida até à morte. Homens,
animais, cidades e coisas, é tudo
imaginado. Um romance, apenas uma
história fictícia. Di-lo Littré, que nunca
se engana.

Aliás, à primeira vista todos podem
fazer o mesmo. Basta fechar os olhos.

É do outro lado da vida.


Louis-Ferdinand Céline in Viagem ao fim da noite. Trad., apresentação e notas de Aníbal Fernandes. Ulisseia, 2010.
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