O ÓDIO COMO ARGUMENTO E CRÍTICA LITERÁRIA
Andam por aí uns gazeteiros irrequietos aspirantes a intelectuais libertários que,
mandatários das suas dores primárias e sentimentos gerais— no desenfreamento agudo de caça ao prémio do maior cretino—, prosseguem incansáveis a sua missão de patrulha e delação dos gangs literários da época. Estes queixinhas de risco calculado, respirando todos para dentro do mesmo saco, julgando que no arranco de mais um arroto são os verdadeiros agitadores de consciências não fazem mais que, por correlação objectiva, exaltar e representar a homogenia epocal que criticam refastelados nas suas dietas do ódio. (Agora até memes sancionados pelo risinho e o comentariado boçal se põem a fazer)
Mas! Há esperança:
VOCÊ ESTÁ PASSANDO POR UM NOVO TRÂNSITO ASTROLÓGICO
Substituam a agenda dos esplendores e misérias por um programa ideológico e estético, façam crítica formativa, enunciem e denunciem com a intenção política de um ideário, ajam dentro dos actos, sonhem para fora, sejam estrategas, homens de ciência, concretizem-se, realizem-se, comprometam-se com declarações de princípios e famílias de ideias, entreguem-se ao assunto com a finalidade de isolar, determinar e apresentar o problema que vos arrelia, a doença geracional. Escrevam folhetins críticos, publiquem suplementos, sejam lucidamente românticos no ódio.
OU SEJA
Não sejam propaganda de ares-condicionados, façam estremecer os ciprestes com ventos de saúde.
ENTRETANTO
E desafiando a ordem dos génios livres e solitários constituam-se como autores para se autorizarem a
intervir com a faculdade da emoção e a inteligência do método para que o papel social da crítica não perca a sua função e eficácia. Dêem-se ao escândalo a que têm direito mas com a disposição e qualidade superiores de reformadores da arte. Sejam a princesa e a boca do cavaleiro.
Raquel Nobre Guerra, 2017