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sexta-feira, 27 de junho de 2014

ANTÍGONA
 
  Meteis-me nojo, todos, com a vossa felicidade! Com a vossa vida que vos esforçais por amar, a todo o custo. Pareceis cães, lambendo o que encontram. A mesquinhez do dia a dia, para quem não for muito exigente. Eu! eu quero tudo, imediatamente e por inteiro, ou, caso contrário, não aceito nada! Não quero ser modesta, e contentar-me com um pedacito, se tiver juízo. Hoje quero ter a certeza de tudo - e que tudo seja tão belo, como quando era pequena - ou então morrer.
 
CREONTE
 
Vamos, vamos: começas como o teu pai!
 
ANTÍGONA
 
  Sim, como o meu pai! nós somos daqueles que levam as perguntas até às últimas consequências. Até que não exista a mais pequena probabilidade de esperança; a mais pequena probabilidade de esperança a sufocar. Nós somos daqueles que, quando encontram a esperança - a vossa esperança, a vossa querida esperança! - lhe saltam em cima e a espezinham.
 
CREONTE
 
  Cala-te! Se visses como ficas feia ao pronunciar essas palavras.
 
ANTÍGONA
 
   Sim, sou feia! São ignóbeis estes gritos, estes movimentos bruscos, estes esgares. Meu pai só foi belo, mais tarde, quando teve a certeza de que tinha matado o próprio pai, de que tinha dormido com a própria mãe, e de que nada, nada, poderia salvá-lo! Nesse momento acalmou-se, de repente; como que sorriu, e tornou-se belo. Era o fim. Só teve que fechar os olhos para não ver mais nada! Ah! As vossas caras, as vossas tristes caras de candidatos à felicidade! Sóis vós os feios! Vós! Mesmo os mais belos! Tendes todos algo de feio a um canto do olho, ou da boca. Tu bem o disseste há pouco, Creonte! Tu bem falaste na maneira como as coisas eram cozinhadas! Vós tendes todos caras de cozinheiros!
 
 
Jean Anouilh. Antígona. Tradução e Prefácio de Manuel Breda Simões. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 114/5

quinta-feira, 26 de junho de 2014

«Sou o único juiz dos meus próprios actos.»

 
Jean Anouilh. Antígona. Tradução e Prefácio de Manuel Breda Simões. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 95/6

«Mas, apesar do teu mau génio, eu gosto muito de ti.»

Jean Anouilh. Antígona. Tradução e Prefácio de Manuel Breda Simões. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 86
«Na tragédia estamos tranquilos. Estamos, desde início, em família! Numa palavra: estão todos inocentes! Não importa que haja um que mata e outro que morre. É apenas uma questão de distribuição. E, além disso, a tragédia é, sobretudo, repousante porque sabemos que não há lugar para a esperança, essa horrível esperança; quando se é apanhado, quando se é apanhado como um rato, com o peso do céu sobre as nossas costas, e só nos resta gritar - não gemer ou queixar-se - gritar a plenos pulmões o que se tem para dizer, o que nunca se disse e que, talvez, há momentos ainda não sabíamos que iríamos dizer. E para nada: para o dizermos a nós próprios. No drama debatemo-nos porque esperamos sair dele. É ignóbil, é utilitário. Na tragédia, tudo é gratuito. É para os reis. Enfim, não há nada a tentar!»
 
 
 
Jean Anouilh. Antígona. Tradução e Prefácio de Manuel Breda Simões. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 68

quarta-feira, 18 de julho de 2012

« Creonte - Tu que és escravo de uma mulher, não me venhas com palavriado.
   Hemão - Queres então falar e não ter que ouvir ninguém?»


Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 112

Não mantenhas como única opinião a tua, nem julgues que só o que tu dizes é razoável.


«Não mantenhas como única opinião a tua, nem julgues que só o que tu dizes é razoável. Os que acreditam ser únicos a usar da sensatez, a pensar e a falar melhor do que ninguém, revelam, uma vez postos a nu, um grande vazio. Não é vergonha para um homem, ainda que seja sábio, aprender com os erros e não se mostrar demasiado obstinado. Nas margens dos rios engrossados pelas torrentes invernais, vemos que as árvores que cedem à corrente conservam os seus ramos, enquanto que as que oferecem resistência são arrancadas pelas raízes.»




Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 110

«Não há pior mal que a anarquia.»


«Não há pior mal que a anarquia. Ela faz perder os Estados, destrói as casas, rompe as filas e põe em fuga as lanças aliadas. A disciplina, pelo contrário, salva a vida dos que a seguem. Assim, deve-se respeitar as ordens, e de modo algum deixar-nos vencer por mulher. Melhor seria, se preciso fosse, cair pela mão de um homem do que sermos considerados mais fracos que as mulheres.


Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 109

«Não amo aqueles que só amam em palavras.»

Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 106
«Creonte - O inimigo jamais será um amigo, mesmo quando morto.»


Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 105
«Corifeu - Ela mostra a natureza inflexível de um pai inflexível. Não aprendeu a ceder perante a desgraça.

Creonte - Sim, mas fica sabendo que o coração que não sabe ceder é, entre todos, o mais frágil, e o mais duro ferro, temperado e endurecido pelo fogo, é o que mais frequentemente se quebra e se faz em bocados.»



Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 103

Antígona

«(...). E se morrer antes do tempo, tanto melhor para mim, porque quem, como eu, vive no meio de desgraças sem conta, como não hei-de considerar a morte um bem desejado? Por isso o destino que me reservas não me causa dor alguma.»



Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 103
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