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domingo, 17 de abril de 2016



Extingue-me os olhos, e eu consigo ver-te.
Fecha-me os ouvidos, e eu consigo escutar-te,
E sem pés eu vou até à tua beira,
E sem boca eu posso ainda esconjurar-te.
Quebra-me os braços, e eu consigo agarrar-te
Com o meu coração como se fosse uma mão.
Pára-me o coração e o meu cérebro há-de pulsar,
E se deitares fogo ao meu cérebro,
Vou levar-te no meu sangue.


Rilke

domingo, 7 de fevereiro de 2016

“Quão rápido se muda também o mundo
Como formas de nuvens,
Todo o perfeito cai
De regresso ao arcaico.

Por sobre o mudar e o andar,
Mais largo e mais livre
Dura ainda o teu pré-cantar,
Ó deus da lira.

Não se conhecem as dores,
Não se aprendeu o amor,
E o que na morte nos afasta

não está desvelado.
Só a canção sobre a terra
consagra e celebra.”

Rilke, Sonetten an Orpheus (I. Parte, XIX

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

“Quão rápido se muda também o mundo
Como formas de nuvens,
Todo o perfeito cai

De regresso ao arcaico.
Por sobre o mudar e o andar,
Mais largo e mais livre
Dura ainda o teu pré-cantar,
Ó deus da lira.

Não se conhecem as dores,
Não se aprendeu o amor,
E o que na morte nos afasta

não está desvelado.
Só a canção sobre a terra
consagra e celebra.”

Rilke, Sonetten an Orpheus (I. Parte, XIX)

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

sábado, 28 de julho de 2012

sexta-feira, 20 de julho de 2012

At Cháteau de Muzot. Rilke with the young violin virtuoso, Alma Moodie and the conductor Werner Reinhardt. Rilke in a letter to Nanny Wunderly-Volkart: [about Moodie]"What a sound, what richness, what determination. That and the Sonnets to Orpheus, those were two strings of the same voice. And she plays mostly Bach! Muzot has received its musical christening...."

sábado, 13 de agosto de 2011

Beatrice: altiva como um raio de sol que atravessa os diamantes

«Um pouco afastado, numa loggia, estava Palla degli Albizzi com o seu amigo Tomaso, o pintor. Pareciam estar a discurtir qualquer coisa com uma animação crescente, até que Tomaso exclamou de súbito: 'Isso não fazes tu! Aposto que não o fazes!' Nesta altura os outros ficaram atentos. 'Que tens?', perguntou Gaetano Strozzi, que se aproximou com amigos. Tomaso explicou: 'Palla quer ajoelhar-se na festa diante Beatrice Altichieri, essa arrogante, e perdir-lhe que o deixe beijar-lhe a bainha empoeirada do vestido.' Todos riram, e Leonardo, da estirpe dos Riccardi, disse: 'Palla cairá em si, sabe bem que as mulheres mais belas têm um sorriso para ele que noutras ocasiões jamais se lhes vê.' E outro acrescentou: 'E Beatrice é tão jovem ainda! Os seus lábios têm ainda bastante rigidez infantil para sorrirem. Por isso parece tão altiva.' 'Não!', respondeu Palla degli Albizzi com impetuosidade. 'Ela é tão altiva, mas não por causa da sua juventude. É altiva como uma pedra nas mãos de Miguel Ângelo; altiva como uma flor na imagem de Madona; altiva como um raio de sol que atravessa os diamantes.'



Rainer Maria Rilke. Histórias do Bom Deus. Trad. Sandra Filipe. Edições Quasi, 1ª edição, 2008., p. 88
'Que mania rude de criar um efeito...'



Rainer Maria Rilke. Histórias do Bom Deus. Trad. Sandra Filipe. Edições Quasi, 1ª edição, 2008., p. 78

Mas agora que estou a envelhecer

«Mas agora que estou a envelhecer, tenho por vezes ideias, ideias estranhas como aquela sobre o Céu, e outras mais. A Morte.»


Rainer Maria Rilke. Histórias do Bom Deus. Trad. Sandra Filipe. Edições Quasi, 1ª edição, 2008., p. 61

nuvens do crepúsculo

'Quero concluir-te, tu és a minha obra.'



Rainer Maria Rilke. Histórias do Bom Deus. Trad. Sandra Filipe. Edições Quasi, 1ª edição, 2008., p. 61

«Com esta nova sensação no seu jovem corpo, ficava de pé dias inteiros no telhado, procurando o mar.»
 
 

Rainer Maria Rilke. Histórias do Bom Deus. Trad. Sandra Filipe. Edições Quasi, 1ª edição, 2008., p. 56

«(...), esse vogar suave e silencioso à beira de passados.»

Rainer Maria Rilke. Histórias do Bom Deus. Trad. Sandra Filipe. Edições Quasi, 1ª edição, 2008., p. 52
«A maior parte da sua vida passou-a em completa solidão, nunca se intrometendo na agitação resultante da sua mulher Akulina lhe dar filhos ou de estes morrerem ou se casarem. »



Rainer Maria Rilke. Histórias do Bom Deus. Trad. Sandra Filipe. Edições Quasi, 1ª edição, 2008., p. 46
(...)

«E a luz de uma lamparina corre pela moldura, como uma criança perdida numa noite estrelada.»


Rainer Maria Rilke. Histórias do Bom Deus. Trad. Sandra Filipe. Edições Quasi, 1ª edição, 2008., p. 45

«Aqueles Kurgans são sarcófagos de gerações passadas, que atravessam a estepe inteira com um marulhar entorpecido e dormente. E, nessa terra, em que os jazigos são as montanhas, os homens são os abismos. Grave, sombria, taciturna é a população, e as suas palavras servem apenas de pontes frágeis e vacilantes sobre o seu verdadeiro ser. Por vezes, avez negras levantam voo dos kurgans. Por vezes, canções ferozes lançam-se contra esses homens sonhadores e perdem-se neles profundamente, enquanto as aves vão desaparecendo no céu.»




Rainer Maria Rilke. Histórias do Bom Deus. Trad. Sandra Filipe. Edições Quasi, 1ª edição, 2008., p. 45

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Isto faz-me pensar numa certa rapariga jovem.

«Isto faz-me pensar numa certa rapariga jovem. Pode dizer-se que nos primeiros dezassete anos da sua severa vida apenas olhou. Os seus olhos eram tão grandes e tão autónomos, que eles próprios consumiam o que percepcionavam, e a vida prosseguia por todo o corpo do jovem ser, independente deles, sustida por simples ruídos interiores. Porém, passado esse tempo, um acontecimento demasiado violento transformou aquelas duas vidas que mal se tocavam; os olhos como que irromperam pelo interior dentro, e, através deles, todo o peso do exterior caiu no coração obscurecido; e, a cada dia, esse peso se despenhava com tal ímpeto naqueles  olhos abruptos e profundos, que no peito estreito o coração se quebrava como um vidro. Então a jovem rapariga empalideceu, começou a adoecer, a isolar-se para reflectir e por fim, por si própria, procurou aquela tranquilidade em que provavelmente os pensamentos já não são perturbados.
    «Como é que ela morreu?», perguntou baixinho o meu amigo, com voz algo rouca. «Afogou-se. Num lago profundo e silencioso e à superfície do mesmo, formaram-se muitos círculos que lentamente cresceram e se alargaram sob os brancos nenúfares, de forma que todas estas flores aquáticas se agitaram.
   «Isto também é uma história?» disse Ewald, não deixando o silêncio prevalecer depois das palavras.
   «Não» respondi eu, « isto é um sentimento».




Rainer Maria Rilke. Histórias do Bom Deus. Trad. Sandra Filipe. Edições Quasi, 1ª edição, 2008., p. 43/4

A Morte

«Nem sequer posso ir ao encontro da Morte. Muitos tropeçam nela a caminhar. A Morte tem medo de lhes entrar em casa e chama-os para fora, para outras terras, para a guerra, para o cimo de uma torre altaneira, para cima duma ponte vacilante, para o deserto, para a loucura. A maioria vai buscá-la à rua, e sem dar por isso leva-a para casa, às costas. Porque a Morte é preguiçosa; se os homens não a importunassem a toda a hora, quem sabe? Talvez se deixasse cair no sono.»



Rainer Maria Rilke. Histórias do Bom Deus. Trad. Sandra Filipe. Edições Quasi, 1ª edição, 2008., p. 42
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