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segunda-feira, 21 de maio de 2012

«As maravilhosas catedrais que encontramos nas grandes cidades ruidosas e ateias são conchas vazias», pensava eu. Monstros pré-históricos, de que resta só o esqueleto roído pelas chuvas e pelo sol.»


Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 222

«Pela minha carta, compreenderás como sou um homem infeliz. É só quando falo contigo que tenho a esperança de aliviar um bocado a minha neurastenia. Pois tu tens, como eu, um diabo dentro de ti, mas não sabes ainda como ele se chama, e, como não sabes, abafas. Baptiza-o, patrão, e alivias-te!»



Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 160
«Numa outra vida», murmurei, sorrindo amargamente, «numa outra vida conduzir-me-ei melhor!»
 
 
Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 135

Mulher

«Quem criou portanto esse dédalo da incerteza, esse templo de presunção, esse cântaro de pecados, esse campo semeado de mil ardis, essa porta do Inferno, esse cesto transbordante de astúcias, esse veneno que lembra o mel, essa cadeia que prende os mortais à terra: a mulher?»
 
 
 
 
 
 
Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 124

segunda-feira, 7 de maio de 2012

«Tinha caído tanto, que se tivesse de escolher entre ficar apaixonado por uma mulher e ler um bom livro sobre o amor, teria escolhido o livro.»
 
 
Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 112

permandonas

(Deformação de prima donna)
«Grécia, pátria, dever, na verdade nada querem dizer, mas é por esse nada que vamos morrer voluntariamente.»
   Mas porque te escrevo isto? Para te dizer que nada esqueci do que vivemos juntos. Para ter também uma ocasião de exprimir aquilo que nunca, por causa do hábito bom ou mau que adoptámos de nos contermos, me é possível revelar quando estamos juntos.
     Agora que não estás na minha frente, que não vês a minha cara e que não corro o risco de parecer ridículo, digo-te que te amo muito.»
 
 
Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 103
«Bem sabes como estas meditações cruéis, longe de me fazerem recuar, são, pelo contrário atiçadoras indispensáveis da minha chama interior.»
 
 
 
Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 101
«Ao espírito voltam todas as recordações amargas enterradas no coração - separações de amigos, sorrisos de mulheres que se apagaram, esperanças que perderam as asas como borboletas de que só resta o verme. E o verme está pousado nas folhas do meu coração e rói-as.»
 
 
 
Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 99

A mulher é a história eterna.

« Amaste-a assim tanto, a essa Nussa? - perguntei uns instantes mais tarde.
  Zorba abriu os olhos.
   - Tu és novo, patrão, és novo, não podes compreender. Quando também tiveres cabelos brancos, voltaremos a falar dessa eterna história.
     -Que história eterna?
     - A mulher, claro! Quantas vezes é preciso repetir-te? A mulher é uma história eterna. Para já, és como os galos novos que cobrem as galinhas em dois tempos e em três movimentos e depois incham o papo, sobrem ao monte de estrume e põem-se a cantar e a pavonear-se. Não é para a galinha que olham, é para a crista deles. Sendo assim, podem perceber do amor? Nada de nada.»
 
 
 
Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 97-8
« - É que já tenho cabelos brancos, patrão, e os dentes começam a tremer; já não tenho tempo a perder. Tu és novo, podes ter paciência ainda. Eu não posso. Palavra de honra, quanto mais velho me faço, mais selvagem fico! Não me venham cá contar que a velhice abranda o homem e lhe acalma o ardor! Nem que ao ver a morte ele estica o pescoço, dizendo: «Corta-me a cabeça, se fazes o favor, para que eu vá para o Céu!» Eu, quanto mais velho  mais rebelde. Não cedo, quero conquistar o mundo!»
 
 
Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 65

domingo, 6 de maio de 2012

«A casa parece vazia e contudo encerra o indispensável, tão ecrto é que o homem verdadeiro precisa de poucas coisas.»
Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 65
« - Aborreci-te, patrão? - disse, deixando de sorrir.
  Tínhamos chegado à nossa choupana. Zorba olhou-me com ternura e inquietação.
   Não respondi. Senti que o meu espírito estava de acordo com Zorba, mas o coração resistia, queria arremessar-se, romper a animalidade, abrir um caminho.
    -Não tenho sono esta noite, Zorba - disse eu. - Vai deitar-te tu.
   As estrelas cintilavam, o mar suspirava e beijava as conchas, um pirilampo acendeu sobre o ventre o seu pequeno farol erótico. Os cabelos da noite escorriam de orvalho.»
Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 64

sábado, 5 de maio de 2012

''Quando eu morrer, tudo morrerá.''

Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 63

«Quando o patrão é duro, os operários, temem-no, respeitam-no e trabalham. Quando o patrão é fraco, tiram-lhe as rédeas e andam devagar. »



Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 61

domingo, 29 de abril de 2012


«Eu não reflectia, nada procurava, não tinha qualquer dúvida. Vivia na certeza.»



Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 53
« Jovem ou decrépita, bela ou feia, isso eram os pormenores sem importância, variantes. Por detrás de cada mulher levanta-se, austera, cheia de mistério, a face de Afrodite.
     Ora, este rosto que Zorba via era a ele que falava e desejava; dona Hortênsia não passava de uma máscara efémera e transparente que Zorba rasgava para beijar a boca eterna.
     - Levanta o teu pescoço de neve, meu tesouro - continuou em tom de súplica anelante -, levanta o teu pescoço de neve, e deita cá para fora a tua canção!»


Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 50
«Parei um instante no areal e olhei. A santa solidão estendia-se na minha frente, triste e fascinante como o deserto. O poema búdico elevou-se do solo e insinuou-se até ao fundo do meu ser. « Quando é que, enfim, me hei-de retirar na solidão, só, sem companheiros, sem alegria e sem tristeza, só com a certeza de que tudo não passa de um sonho? Quando é que, com os meus farrapos - e sem desejos - me hei-de retirar cheio de alegria para a montanha? Quando é que, vendo que o meu corpo não passa de doença e crime, velhice e morte - livre, sem medo, cheio de alegria - me hei-de retirar na floresta? Quando? Quando? Quando?»



Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 31
« - Que podes tu dizer? - disse, medindo-me com o olhar ... - Se bem percebo, a tua senhoria nunca teve fome, nunca matou, nunca roubou, nunca se deitou com a mulher do próximo. Que podes tu saber, pois, do mundo? Espírito puro, carne que não conhece o sol... - murmurou com evidente desprezo.»



Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 28

O homem é um animal feroz quando novo; sim, patrão, um homem feroz que come homens!

«Mas, naquela época, estás a ver que me fervia o sangue, Não me ficava a esmiuçar a questão. Para pensar bem e honestamente é preciso ter calma, idade e falta de dentes. Quando já não se tem dentes é fácil de dizer: «É uma vergonha, rapazes, não mordam mais!» Mas quando temos os trinta e dois dentes...O homem é um animal feroz quando novo; sim, patrão, um homem feroz que come homens!»


Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 27
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