«Não é preferível a um lar, com filhos, a gritar agarrados às tuas saias, uma criada e as suas caçarolas para tomar conta? O amor afoga-se na vida de todos os dias. O nosso amor será todas as manhãs uma coisa nova a conquistar e a defender. Teremos cenas horrorosas, torturar-nos-emos atrozmente um ao outro, despedaçar-nos-emos todos os dias, sem podermos passar um sem o outro; ambos escravos e tiranos. Os homens hão-de desejar-te em todas as festas onde passaremos as noites, e o seu desejo revelar-te-á a ti própria. Tu divertir-te-ás a fazer-me sofrer e eu nunca saberei se tu me amas verdadeiramente, nem o que escondem os teus sorrisos; e se acontecer estares longe uma hora, um dia...um verme roer-me-á para sempre o coração. Porque tu mentir-me-ás sempre e serás para mim um eterno mistério...Viver é isto, Araminthe! É isto, ser mulher e amar!»
Jean Anouilh. «Cecile ou a escola de pais» in Teatro Contemporâneo. I antologia de teatro. Pirandello - Sartre - Anouilh - Arrabal - Brecht - Ionesco. Selecção de textos de Jacinto Ramos e Trad. de Virgínia Mendes. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 198
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