Se os indivíduos da orla (orla ou extremidade: termos a verificar no dicionário) ocultam bastante bem o interior dos olhares do exterior, ocultam muito mal o exterior dos olhares do interior. Funcionam como vitrais, ou melhor (porque não são translúcidos) como um vitral de tecido, ou de pedra, ou de madeira esculpida. Quando o bosque é suficientemente vasto ou espesso, do seu interior não se apercebe a faixa lateral de céu, é preciso avançar em direcção à orla, até ao ponto em que a absoluta espessura do bosque se desvanece. Seria sublime consegui-lo dentro de uma catedral: uma floresta de colunas de tal maneira que se chegaria progressivamente à obscuridade total (cripta).
E no entanto é mesmo mais ou menos isso que acontece no bosque, apesar de não haver afinal nenhum muro, de tal forma que o monumento respira por todos os poros em plena natureza, melhor que um pulmão, como brônquios.
Poderia dizer-se mesmo que esse deveria ser o critério de qualquer acabamento, a condição desse tipo de arquitectura: o ponto onde a obscuridade total se realizaria, tendo em conta por exemplo que entre cada coluna deve ser deixado um espaço de tanto, que permita facilmente um passeio a pé, etc., etc.
Francis Ponge. O Caderno do Pinhal. Trad. Leonor Nazaré. Hiena Editora. Lisboa, 1986., pp.46/7
E no entanto é mesmo mais ou menos isso que acontece no bosque, apesar de não haver afinal nenhum muro, de tal forma que o monumento respira por todos os poros em plena natureza, melhor que um pulmão, como brônquios.
Poderia dizer-se mesmo que esse deveria ser o critério de qualquer acabamento, a condição desse tipo de arquitectura: o ponto onde a obscuridade total se realizaria, tendo em conta por exemplo que entre cada coluna deve ser deixado um espaço de tanto, que permita facilmente um passeio a pé, etc., etc.
Francis Ponge. O Caderno do Pinhal. Trad. Leonor Nazaré. Hiena Editora. Lisboa, 1986., pp.46/7