1
Surdos a versos, só do tururum
da banza pinicada vos sentis
molhados entre as pernas. Ou fingis
que imagens e metáforas zunzuns
sem pés e sem cabeça ou piço algum
vos dão na verborreia o que o nariz
de música não saber ser juiz.
E delicados logo uivais se algum
verso mais limpo do que as vossas cuecas,
mais nu de inventos do que de existência,
mais nobre que cantiga de pilecas,
se encrava abrupto na flatulência
de vossas tão francesas bibliotecas.
Ou vos descobre o horror de haver consciência.
2
De cu pró ar contando os sons concretos,
ou co'a mão esquerda em realistas pívias,
ou de tutu e em pontas académicas,
ou boca aberta língua e lábios prontos
a provocar na goela surrealista
toda a tesão dos deuses palavrosos,
os lusos da poesia se preparam
sob as visitas simpáticas da PIDE
que já PIDE não é no nome apenas.
E porque os prelos como putas abrem
a quem lhes paga mesmo mal, as pernas,
às vezes parem livros que os Gaspões
e os outros muitos à semana lambem,
buscando com ardor a esporra seca neles.
Dezembro de 1970
Jorge de Sena in Dedicácias. Guerra e Paz, Editores, 2010; pp. 71/2
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário