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domingo, 17 de novembro de 2024

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

"Esta é a ditosa pátria minha amada? Não. Nem pátria minha porque o não merece.
Nem eu mereço a pouca sorte
de nascido nela."

Jorge de Sena

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

(...)

« - Minha'alma!... Aqui não há lugar solene
p'ra padecer por quem nos envenene! -»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 156

CHICOTADAS

Também as minhas mãos e os meus lábios
te desejam.
E se imaginam criando em ti
um alongar dos teus nervos,
um cristalizar dos teus olhos,
um espumejar de saliva nos cantos da tua boca entreaberta,
um sibilar de língua firme contra os dentes,
um latejar de garganta e voz sem fala...

Solta a tua vida nas minhas mãos
e nos meus lábios
e vê, reflectidas no meu rosto,
as chicotadas que o teu corpo raivará.


9/7/39
Obras - Vol. 9.º. pág.63.


Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 154

''cardumes sem boca''


«Nada tinha sido verde quanto o verde
para cortar em dois os cardumes sem boca.»


Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 152
(...)

«Lembro-me de mais
para que já possa lembrar-me.

Sim.
E amanhã lembrar-me-ei de menos
para que possa acreditar
no quanto lembro.»


Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 148

(...)

«Beijo negro...duro...
Desfazer-te....Desfazer-te...»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 145

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

«(...)

Mão inútil dedilhando angústia...

Dedos...Dedos...
Dedos, para quê?...»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 138

«folhas desprendendo-se comidas dos bichos! »

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 135

''corvos de asas verdes''

ECO

Se eu visse a cor do eco luminoso
levado nas palavras ditas
para que a sombra fosse menos negra,
Eu...
Nós, que nos sentamos loucos
deslizando espuma dessalgada
sobre papéis culpados de brancura,
Nós, olhar igual a móvel doutro século
abandonado hoje numa casa para amanhã,
Nós - somos o último argumento
de ilusão, de liberdade própria,
no fundo a renúncia isenta de saudade,
a dor voltada bater de asas muito alto,
e a renúncia, iguais afirmações dos outros!

Porém se eu visse a cor do eco
imaginaria outras palavras nem novas nem velhas,
possivelmente de silêncio,
que seriam o primeiro lado do polígono -
- dentro dele o mundo giraria,
o último lado no infinito, sim,
mas nem por isso menos eu, nosso,
não há olhos aqui vendo comigo!...
Então cerrem-se as portas e acendamo-nos.
Olhemo-nos agora.
 - É este o nosso corpo ... - Serve.
- É esta a nossa alma... - Basta.
- Basta e sobra! Imaginas que lá fora. - Não, não imagino
                                                                                                        nada.

O eco... o luminoso!  ia dentro da palavra.


29/5/39
Obras - Vol. 9.º, págs. 33-34.


Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 133

PALAVRAS

Palavras soltas
que ficaram sem ar sem força de viver...
sem força de cair...  -

Mundos de mim sem força de morrer...
Vidas de mim sem força de nascer...

- Palavras soltas...soltas...
tremendo de estar sós...e de partir...

25/4/39
2
Obras - Vol.9.º, pág.22.


Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 123
«(...)

Como é ridículo mudar
as coisas e as cores e as distâncias
para vozes de embalar sozinho,
para sons de angustiar sozinho...»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 112
« - não queirais ser o Deus das conveniências
nem o Deus das minhas consolações.»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 108
«(...)

Se não quis tornar a ver-te 
foi com medo de mudar -
que os olhos que são sofrer-te
podem não querer conhecer-te
e ver em ti mais que mar...»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 105
«(...)

A ferida curada de si mesma...
Triste e funda e dolorosa
por ser lúcida.»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 93
«(...)

E um amor não morre nunca,
nunca,
nem mesmo sufocado em ódio e em razões,
nem mesmo com o haver um outro amor.»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 87
«(...)

É uma doença
pelo poder com que absorve o pensamento,»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 86

''Os pés inúteis...''

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 79
«(...)

e sê-lo-á
porque, não sendo nada,
será o que quisermos.»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 78
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