Se eu visse a cor do eco luminoso
levado nas palavras ditas
para que a sombra fosse menos negra,
Eu...
Nós, que nos sentamos loucos
deslizando espuma dessalgada
sobre papéis culpados de brancura,
Nós, olhar igual a móvel doutro século
abandonado hoje numa casa para amanhã,
Nós - somos o último argumento
de ilusão, de liberdade própria,
no fundo a renúncia isenta de saudade,
a dor voltada bater de asas muito alto,
e a renúncia, iguais afirmações dos outros!
Porém se eu visse a cor do eco
imaginaria outras palavras nem novas nem velhas,
possivelmente de silêncio,
que seriam o primeiro lado do polígono -
- dentro dele o mundo giraria,
o último lado no infinito, sim,
mas nem por isso menos eu, nosso,
não há olhos aqui vendo comigo!...
Então cerrem-se as portas e acendamo-nos.
Olhemo-nos agora.
- É este o nosso corpo ... - Serve.
- É esta a nossa alma... - Basta.
- Basta e sobra! Imaginas que lá fora. - Não, não imagino
nada.
O eco... o luminoso! ia dentro da palavra.
29/5/39
Obras - Vol. 9.º, págs. 33-34.
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 133
sexta-feira, 23 de agosto de 2019
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