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terça-feira, 6 de novembro de 2018

''méis vegetais e rosados''

Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita., Relógio D'Água, Lisboa, 2018., P. 217

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

«Não quero nada com o teu cérebro tórpido.»


Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita., Relógio D'Água, Lisboa, 2018., P. 185

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

''lençóis de sangue''

«Pães deitados nos vales de cinza!»


Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 233
«Não há nada que me cause ilusões;»


Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 219
«A estrela choveu rosa no coração da tua escuta,
O infinito rolou alvo no teu corpo, da nuca aos rins,
O mar orvalhou ruivo os teus seios de rubro cobre
E o homem sangrou negro no teu flanco sem fim.»




Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 207

domingo, 11 de dezembro de 2011

ORAÇÃO DA NOITE

«Vivo sentado, como um anjo nas mãos de um barbeiro,
Empunhando uma caneca de estrias profundas,
Com o hipogastro e o colarinho arqueados, um gambier
Entre dentes, numa atmosfera prenhe de impalpáveis veleiros.

Como se fossem excrementos quentes de um velho pombal,
Mil Sonhos cavam em mim doces queimaduras:
Logo depois o meu coração triste fica como um alburno
Que o ouro jovem e sombrio das cores ensanguenta.

Em seguida, quando já engoli meus sonhos cuidadosamente,
Volto-me, com trinta ou quarenta cervejas no papo,
E concentro-me para fazer as minhas necessidades ásperas:

Doce como o Senhor do cedro e do hissopo,
mijo para os céus castanhos, muito alto e muito longe,
com a concordância dos grandes heliotrópios.»





Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 183
«As minhas estrelas tinham um doce sussurrar de seda.»


Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 181

O QUE DORMIA NO VALE

É uma cova de verdura onde canta uma ribeira
Prendendo loucamente às ervas farrapos
De prata; nele brilha o sol, do alto da montanha
Orgulhosa: é um pequeno valado que espuma farpas.

Um soldado jovem, de boca aberta, cabeça nua,
E a nuca mergulhando nos frescos agriões azuis,
Dorme; está estendido na relva, a céu aberto,
Pálido no seu leito verde onde chove a luz.

Com os pés nos gladíolos, dorme. Sorrindo como
Sorriria uma criança doente, dorme um sono:
Natura, embala-o junto ao peito: ele está com frio.

Não há perfume que faça estremecer suas narinas;
Dorme ao sol, a mão sobre o peito
Tranquilo. No seu lado direito, tem dois buracos vermelhos.

Outubro de 1870.




Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 173

«Que coisas não veremos nós, minha querida,
            Nesses casebres,
Quando a luz lhes alumia, clara,
          As vidraças cinzentas!...»



Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 159

«Falaria contigo na tua própria boca»

«Falaria contigo na tua própria boca:
               Caminharia, apertando-te
O corpo como uma criança que se deita,
               Louco com o sangue

Que corre, azul, sob a tua pele branca
          Rosácea:
E falando-te com a língua livre....
    Ora!...tu sabes como é...»





Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 155-157

«Ó carne-flor!»

« - Eu olhava, cor de cera,
Para um raio de luz bravio
A borboletear no seu sorrir
E sobre o seu seio - mosca na roseira. »



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«O riso fingia que punia!»




Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 149
(...)

«Quanto a mim, desleixado como um estudante à sombra
Dos castanheiros, não tiro os olhos das miúdas de olho vivo:
Sabem-no elas tão bem; e voltam para mim, rindo,
Aqueles olhos transbordantes de coisas indiscretas.

Deixo-me estar calado; não paro de olhar continuamente
Aqueles pescoços brancos bordados de madeixas loucas:
Sigo, sob o corpete e os frágeis atavios, a divina
Colina que desponta a seguir à curva dos ombros redondos.

Não tarda nada, já descobri onde se esconde a botina, a meia...
-Reconstruo-lhes o corpo, ateado por uma febre das antigas.
Elas acham-me graça, e entrefalam-se baixinho...
E meus desejos brutais agarram-se aos lábios delas...»



Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p. 145

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

QUADROS

   «A antiga Comédia continua as suas afinações, e reparte os seis Idílios.
     Avenidas de palcos.
     Um longo dique em madeira, de uma ponta a outra de um campo pedregoso, onde a multidão incivilizada se passeia sob as árvores nuas.
     Em corredores de gaze negra, seguindo o ritmo dos passeantes, ornados de lanternas e de folhas.
      Aves dos mistérios descem a pique sobre um pontão de alvenaria movido pelo arquipélago atulhado pelas embarcações dos espectadores.
     Cenas líricas acompanhadas a flauta e tambor debruçam-se em recantos arranjados sob os tectos, em redor dos salões de clubes modernos, ou das salas do antigo Oriente.
     O maravilhoso manobra no topo de um anfiteatro coroado de sebes - ou se agita e sintoniza com os Beócios, à sombra do arvoredo que se mexe à esquina das culturas.
    A ópera-cómica refracta-se sobre um palco no ponto de intersecção de dez separadores montados entre a geral e a rampa.»






Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 117

fantasmagorias

domingo, 4 de dezembro de 2011


« - Uma rajada de vento dispersa os limites da lareira.»


Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p. 93
(...)

«Ri-me para a queda da água que, por entre os pinheiros, desgrenhava a sua cabeleira loura: pela crina prateada, reconheci a deusa.

  Então, um a um, levantei os véus. Na alameda, agitando os braços. Pela planície, onde a denunciei ao galo. Na grande cidade, a deusa fugia através de cúpulas e campanários e, correndo no cais de mármore como um mendigo, fui atrás dela.

  Ao cimo da estrada, perto da mata de loureiros, cobria com os seus véus arrebanhados a esmo, e senti, ao de leve, o seu corpo imenso. A madrugada e a criança caíram aos pés do bosque.
   Ao despertar, era meio-dia.»




Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p. 89

''lareira escura''

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

CIDADES (II)

     «Isto são cidades! Uma gente para quem foi produzido o espectáculo desses Apalaches e Líbanos de sonho. Chalés de cristal e de madeira que se deslocavam sobre linhas férreas e roldanas invisíveis. As velhas crateras, cingidas de colossos e palmeiras de cobre, rugem melodiosamente nas fornalhas. Festins de amor ressoam sobre canais suspensos nas traseiras dos chalés. Um mecanismo de carrilhões brada nas gargantas. Corporações de cantores gigantes acorrem em tranjos e auriflamas tão deslumbrantes como a luz dos cimos. Sobre plataformas, no meio dos abismos, Rolandos proclamam a sua bravura. Nas pontes suspensas sobre o precipício e nos telhados de retiros erótico-gastronómicos, a ardência do céu embandeira em arco. O desabar das apoteoses regressa às regiões celestes onde seráficas fêmeas de centauros dançam entre as avalanchas. Para lá das mais altas cristas, um mar revolto, carregado de frotas orfeónicas e do rumor das pérolas e dos búzios preciosos, perturba-se com o eterno nascimento de Vénus -, por vezes, o mar atravessa momentos sombrios com um mortal estrépido. Pelas encostas, bramem colheitas de flores, grandes como as nossas armas e as nossas taças. Das ravonas, emergem cortejos de Mabs vestidas de ruivo, de opalino. Lá no alto, com as patas metidas entre cascatas e silvas, os veados mamam em Diana. As Bacantes da periferia soluçam, enquando a lua incendiada uiva. Vénus penetra nas caveras dos ferreiros e dos eremitas. Campanários em bandos cantam os ideários dos povos. De castelos feitos d'ossos, exala-se a melodia desconhecida. Entram em evolução todas as lendas e ímpetos do entusiasmo saem desalmados às ruas da cidade. Soçobra o paraíso das tempestades. Os selvagens, ininterruptos, dançam a festa da noite. E, por uma hora, misturei-me ao bulício de um bulevar de Bagdad onde vários bandos cantaram a alegria do trabalho do novo, debaixo de uma brisa densa, circulando sem conseguir fingir que não viam os fantasmas fabulosos dos montes onde nós devíamos encontrar.
    Que braços aprazíveis, que feliz hora me voltarão a dar esse mundo de onde me vêm os sonos e todos os movimentos, mesmo os imperceptíveis?»






Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p. 73/5
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