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domingo, 19 de fevereiro de 2017

Walt Whitman

 “Gosto de animais porque não discutem a existência de Deus.”

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

«Não deixes que termine o dia sem teres crescido um pouco, sem teres sido feliz, sem teres aumentado os teus sonhos. Não te deixes vencer pelo desalento. Não permitas que alguém retire o direito de te expressares, que é quase um dever. Não abandones as ânsias de fazer da tua vida algo extraordinário. Não deixes de acreditar que as palavras e a poesia podem mudar o mundo. Aconteça o que acontecer a nossa essência ficará intacta. Somos seres cheios de paixão. A vida é deserto e oásis. Derruba-nos, ensina-nos, converte-nos em protagonistas de nossa própria história. Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua: tu podes tocar uma estrofe. Não deixes nunca de sonhar, porque os sonhos tornam o homem livre.»

Walt Whitman

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

CANTO DA ESTRADA LARGA

"Nenhum marido,nenhuma mulher, nenhum amigo confidentes para a confissão,
Outro eu, o duplo de cada um, lá vai mal-humorado e escondendo-se,
Informe e sem palavras através das ruas da cidade, polido e amável nos salões,
Nas carruagens dos comboios, nos navios, na assembleia pública,
Dentro das casas dos homens e mulheres, à mesa, no quarto, em todo o lado,
Ataviado a primor, rosto sorridente, figura aprumada, a morte sob os ossos do peito, o inferno sob os ossos do crânio,
Sob a camisa fina e a luvas, sob as fitas e flores artificiais,
Cordato com os costumes, não proferindo uma sílaba sobre si próprio,
Falando de tudo mas nunca de si próprio."


"Cântico da Estrada Larga"/ "Ode a Walt Whitman"/ Saudação a Walt Whitman"

sábado, 9 de novembro de 2013

segunda-feira, 25 de abril de 2011

9

As grandes portas do celeiro estão todas abertas,
A erva seca da ceifa amontoa-se na carroça lentamente puxada,
A luz límpida brinca com os matizes do cinzento e do verde,
As braçadas empilham-se na meda de feno que se inclina.

Estou lá, ajudo, vim deitado em cima da carga,
Senti os seus solavancos suaves, uma perna sobre a outra,
Salto das traves e apodero-me do trevo e da erva dos prados,
E dou cambalhotas e o meu cabelo fica todo emaranhado com
             pedaços de palha.




Walt Whitman. Folhas de Erva. Tradução de Maria de Lourdes Guimarães. Círculo de Leitores., p. 36
5

Acredito em ti, minha alma, o outro que sou não se deve rebaixar
              perante ti,
E tu não te deves rebaixar ao outro.

Entrega-te comigo ao ócio sobre a erva, liberta o nó que tens na
            garganta,
Não quero palavras, música ou rimas, nem regras ou prelecções,
           nem mesmo as melhores.
Apenas gosto da quietude, do sussurro da tua voz velada.


Recordo como numa manhã límpida de Verão em que estávamos
         deitados,
Tu pousaste a tua cabeça nas minhas ancas e te voltaste sobre mim
         com toda a suavidade,
E afastaste a camisa do meu peito e mergulhaste a língua no
         meu coração desnudado,
E te estendes até sentir a minha barba e te estendeste até agarrares
         os meus pés.


De repente surgiram e rodearam-me a paz e o conhecimento que
        ultrapassam todas as polémicas da terra,
E sei que a mão de Deus é a minha promessa,
E sei que o espírito de Deus é meu irmão,
E que todos os homens alguma vez nascidos são também meus
         irmãos e as mulheres minhas irmãs e amantes,
E que o amor é o suporte da criação,
E que são inúmeras as folhas firmes ou a cair nos campos,
E por baixo delas as formigas escuras nos seus pequenos poços,
E crostas musgosas da cerca em ziguezague, pedras amontoadas, o
                sabugueiro, o verbasco e a erva-tintureira.





Walt Whitman. Folhas de Erva. Tradução de Maria de Lourdes Guimarães. Círculo de Leitores., p. 32/3
(...)

Exercitaste-te tanto tempo para aprender a ler?
Sentiste-te muito orgulhoso ao compreender o significado dos
        poemas?

Fica comigo este dia e esta noite e possuirás a origem de todos os
        poemas,
Quero que possuas o que há de bom na Terra e no sol (há milhões
        de outros sóis),
Não quero que recebas mais coisas em segunda mão ou em terceira
        mão, nem que olhes através dos olhos dos mortos, nem
        que te alimentes dos espectros dos livros,
Também não quero que olhes através dos meus olhos, nem que
        recebas de mim coisas,
Quero que tudo escutes e as filtres a partir de ti mesmo.



Walt Whitman. Folhas de Erva. Tradução de Maria de Lourdes Guimarães. Círculo de Leitores., p. 30
«Hei-de ir para o talude junto do bosque e tirar todos os disfarces e
               ficar nu,
Estou louco por lhe sentir o contacto.»



Walt Whitman. Folhas de Erva. Tradução de Maria de Lourdes Guimarães. Círculo de Leitores., p. 29
«Vós, oceanos que tendes permanecido calmos dentro de mim!
           como vos sinto, insondáveis, agitados, preparando vagas e
           tempestades sem precedentes.»



Walt Whitman. Folhas de Erva. Tradução de Maria de Lourdes Guimarães. Círculo de Leitores., p. 27
12

Democracia! próxima de ti uma garganta enche-se agora de ar e
           canta alegremente.

Ma femme! para os filhos que vêm de nós e depois de nós,
Para aqueles que são daqui e aqueles que hão-de vir,
Eu, exultante por estar pronto para eles lanço cá fora canções
             mais vigorosas e altivas do que qualquer outras alguma
             vez ouvidas na terra.

Hei-de escrever canções de paixão para lhes mostrar o seu caminho,
E as vossas canções, transgressores proscritos, porque vos observo
             com olhos de pai e vos levo comigo como a qualquer outro.

Hei-de escrever o verdadeiro poema da riqueza,
Alcançar para o corpo e para o espírito tudo o que se lhe prenda e
             progrida e não seja abandonado pela morte;
Hei-de derramar o egotismo e revelá-lo subjacente a tudo e ser o
             bardo da personalidade,
E hei-de mostrar do macho e da fêmea que um é apenas igual ao
            outro,
E os órgão e actos sexuais! Concentrai-vos em mim pois estou
           decidido a dizer-vos com uma voz límpida e corajosa para
           mostrar que sois gloriosos,
E hei-de mostar que não existe qualquer imperfeição no presente
           e nenhuma pode existir no futuro,
E hei-de mostrar que, seja o que for que aconteça a alguém, pode
           transformar-se em belos resultados,
E hei-de mostrar que nada existe de mais belo que a morte,
E hei-de passar um fio através dos meus poemas para que o tempo
           e os acontecimentos fiquem unidos,
E todas as coisas do universo sejam milagres perfeitos, cada um tão
           profundo como os outros.

Não irei escrever poemas que se refiram a partes,
Mas hei-de escrever poemas, canções, pensamentos que se refiram
           ao todo,
E não hei-de cantar referindo-me a um dia, mas sim referindo-me
          a todos os dias,
E não hei-de fazer um poema ou a mínima parte de um poema
          que não se refira à alma.

Porque, após ter olhado para os objectos do Universo, vi que não
           existe um, nem uma partícula de um que não se refira à
          alma.




Walt Whitman. Folhas de Erva. Tradução de Maria de Lourdes Guimarães. Círculo de Leitores., p. 23/4

Ao partir de Paumanok

1


Ao partir de Paumanok, a ilha em forma de peixe, onde nasci,
Bem gerado e educado por uma mãe perfeita,
Após ter percorrido muitas terras, enamorado pelos passeios
            cheios de gente,
E ter habitado em Mannahatta, a minha cidade, ou nas savanas do
             Sul,
Ou ter acampado como soldado e carregado com a minha mochila
             e a espingarda, ou sido um mineiro na Califórnia,
Ou, rústico, ter vivido na minha terra, nas florestas de Dacota,
             alimentando-me de carne e bebendo nas fontes,
Ou ter-me retirado para devanear e meditar num profundo recanto
Longe do mundo das multidões, momentos cheios de enlevo e
             felicidade,
Conhecendo o fresco e o generoso curso do Missuri, conhecendo o
            importante Niágara,
As manadas de búfalos que pastam nas planícies, o hirsuto e o
           corpulento touro,
Com a experiência da terra, das rochas, das flores de Maio,
           maravilhado com as estrelas, a chuva, a neve,
Atento aos vários cantos do mimo e ao voo do falcão da montanha
E ouvindo de madrugada o incomparável tordo eremita a cantar
           nos cedros do pântano,
Eu, solitário no Oeste, entoo o meu canto para um Novo Mundo.


Walt Whitman. Folhas de Erva. Tradução de Maria de Lourdes Guimarães. Círculo de Leitores., p. 16

sábado, 23 de abril de 2011

«Sou um homem que deambula sem parar totalmente, por acaso
                olha para ti e de seguida desvia o rosto,
Deixando que sejas tu quem venha prová-lo e defini-lo,
E espera de ti as coisas principais.»


Walt Whitman. Folhas de Erva. Tradução de Maria de Lourdes Guimarães. Círculo de Leitores., p. 15

quinta-feira, 21 de abril de 2011

segunda-feira, 18 de abril de 2011

QUANDO LI ESTE LIVRO

«Quando li este livro, a famosa biografia,
E então é isto (disse eu) aquilo a que o autor chama a vida de um
                  homem?
E é assim que, depois de eu ter morrido e desaparecido, alguém
                  irá escrever a minha vida?
(Como se alguém soubesse na verdade qualquer coisa da minha vida,
Na realidade eu próprio muitas vezes penso pouco da minha vida,
                  da minha vida real,
Apenas algumas suspeitas, alguns indícios difusos e vagos ou
                  sugestões dissimuladas
Que procuro para meu próprio uso descobrir aqui.)



Walt Whitman. Folhas de Erva. Tradução de Maria de Lourdes Guimarães. Círculo de Leitores., p.11

domingo, 17 de abril de 2011

(...)

«Eis aqui os nossos pensamentos, pensamentos de viajantes,
Eis que aparece não só a terra, a terra firme (poderão eles então dizer),
Aqui o céu forma um arco, sentimos sob os pés o balançar do convés,
Sentimos a longa pulsação, o fluxo e o refluxo do movimento sem fim,
Os sons do mistério invisível, as vagas e vastas sugestões do mundo marítimo,
                as sílabas líquidas e fluentes,
O perfume, o ligeiro ranger do cordame, o ritmo melancólico,
A vista ilimitada e o longínquo e indistinto horizonte estão todos aqui,
E é este o poema do oceano.»



Walt Whitman. Folhas de Erva. Tradução de Maria de Lourdes Guimarães. Círculo de Leitores., p.6

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Perfumados prados do meu peito

Perfumados prados do meu peito,
Colho as vossas folhas, escrevo, para melhor as estudar depois,
Folhas dos túmulos, folhas do corpo crescendo sobre mim, so-
bre a morte,
Raízes vivas, altas folhas, oh o inverno não vos enregelará, delicadas
folhas.
De novo floresceis todos os anos, de novo saindo do vosso
retiro;
Eu não sei se muitos ao passar vos hão-de descobrir ou aspirar
tão suave aroma, mas sei que alguns o farão;
Oh delicadas folhas! Flores do meu sangue! Falai à vossa maneira
do coração que por baixo tendes,
Eu não sei qual o vosso subterrâneo sentido, não sois felicidade,
Sois muitas vezes tão cruéis que não vos posso suportar, queimais-
me e feris-me,
E, todavia, que bela sois aos meus olhos, raízes levemente colo-
ridas, fazendo-me pensar na morte,
A julgar por vós a morte é bela, (enfim, que haverá de mais belo
senão a morte e o amor?),
Oh creio que não é em louvor da vida que aqui canto o meu
canto de amantes, creio que é em louvor da morte,
Pois, como é sereno, como floresce solenemente ao elevar-se à
atmosfera dos amantes!
Vida ou morte, tanto me faz, a minha alma recusa-se a escolher,
(Talvez a alma sublime dos amantes prefira a morte,)
Na verdade, ó morte, penso que estas folhas significam o mesmo
que tu,
Crescei, doces folhas, para que vos possa ver! Crescei sobre o
meu peito!
Abandonai o coração que aí se oculta!
Não vos enredeis, tímidas folhas, em vossas rosadas raízes!
Não vos quedeis aí, envergonhadas, ervas do meu peito!
Vinde, estou decidido a desnudar este amplo peito, tanto tempo
o reprimi e sufoquei;
Emblemáticas e caprichosas folhas, deixo-vos, pois já não me
sois úteis,
Sem rodeios direi o que tenho a dizer,
Só a mim e aos companheiros hei-de cantar, jamais atenderei
outra voz que não a sua,
Despertarei ecos imortais em todos os estados do meu país,
Aos amantes darei um exemplo que seja para sempre forma e
vontade em todos os estados do meu país,
Pronunciarei as palavras que exaltem a morte,
Dá-me então a tua música, ó morte, para estarmos em harmonia,
Dá-te a mim porque agora sei que acima de tudo me pertences e
que tu e o amor estão inseparavelmente unidos,
Não permitirei que me enganes mais com isso a que chamava
vida,
Porque enfim compreendo que és os conteúdos essenciais,
Que, por qualquer razão, te escondes nestas mutáveis formas de
vida, e que elas existem sobretudo para ti,
Que, para além delas, surges e permaneces, tu, realidade real,
Que, sob a máscara das coisas materiais, aguardas pacientemente,
não importa quanto tempo,
Que, talvez um dia, tudo dominarás,
Que talvez dissipes todo este imenso desfile de aparências,
Que talvez seja para ti que tudo existe mas não perdura,
Mas tu perdurarás.


Walt Whitman.
Cálamo. Edição bilingue. Versão de José Agostinho Baptista. Lisboa, Assíro&Alvim, 1999., pp. 19-23.
A propósito de um início de leitura (viagem), pelo livro Cálamo de Walt Whitman, encontra-se às tantas, uma opinião crítica (algumas, que se diziam na altura) que me deixou estupefacta, a olhar e a reler a 'bosta', com alguma incredulidade:

«O autor devia ser corrido a pontapés de qualquer sociedade decente, por pertencer a um nível inferior ao das bestas. Não há inteligência nem método nesta tagarelice desarticulada e cremos que deve tratar-se de um pobre louco fugido do manicómio em pleno delírio» (Intelligencer, Boston, 1855)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

XX

Quem vem lá, ansioso, rude, místico, nu?
Como retiro forças da carne que me alimenta?

Em todo o caso, o que é um homem? Quem sou eu? Quem és tu?

Tudo o que assinalo meu chamarás teu,
Ou então perderias tempo a escutar-me.

Não lamento o que o mundo lamenta,
Que os meses são vazios e a terra apenas lodoçal e imundície.

O queixume e a humilhação juntam-se aos remédios para os inválidos, o
conformismo vai até à quarta geração,
Eu uso o chapéu como me apetece, dentro ou fora de casa.

Porque é que devia rezar? E venerar e ser cerimonioso?

Tendo examinado os estratos, analisando-os ao pormenor, consultando os
mestres, calculando com rigor,
Não encontro gordura mais agradável do que a que tenho agarrada aos meus
próprios ossos.

Em toda a gente vejo-me a mim mesmo, ninguém é mais do que eu, nem um
grão de cereal menos,
E o bem e o mal que digo de mim digo deles.

Sei que sou sólido e são,
Os objectos do universo convergem eternamente para mim,
Tudo foi escrito para mim e devo decifrar o seu sentido.
Sei que sou imortal,
Sei que esta minha órbita não pode ser traçada pelo compasso de um
carpinteiro,
Sei que não me apagarei como o fogo do archote que uma criança leva pela noite.

Sei que sou majestoso,
Não atormento o espírito para quem se defenda ou explique,
Sei que as leis elementares nunca se desculpam,
(No fim de contas, reconheço que o meu orgulho não é mais alto que o nível
onde edifico a minha casa).

Existo como sou, e isso basta,
Se mais ninguém no mundo o sabe fico satisfeito,
E se todos e cada um o sabem fico satisfeito.

Há um mundo que o sabe e é sem dúvida o mais vasto para mim, e esse sou
eu próprio,
E se o reconheço hoje ou dentro de dez mil ou dez milhões de anos,
Alegremente o posso aceitar agora, ou alegremente posso esperar.

O apoio do meu pé é entalhado em granito,
Rio-me daquilo que chamas dissolução,
E conheço a amplitude do tempo.

Walt Whitman
in Canto de Mim Mesmo
Assírio & Alvim, 1999

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

XXVI



Agora só me resta ouvir,
Para juntar o que oiço a este canto, para deixar que os sons contribuam para
ele.

Oiço bravuras de pássaros, o rumor do trigo que cresce, o crepitar das
chamas, o crepitar da lenha com que cozinho,
Oiço o som que amo, o som da voz humana,
Oiço todos os sons, juntos, combinados, fundidos ou seguindo-se,
Sons da cidade e sons fora da cidade, sons do dia e da noite,
Jovens conversando com quem gostam, o alto risco dos trabalhadores quando
almoçam,
Os irados sons da amizade quebrada, a voz débil dos doentes,
O juiz com as mãos agarradas à secretária, com os lábios pálidos ditando uma
sentença de morte,
As elevadas vozes dos estivadores descarregando os navios junto ao molhe,
o refrão dos que levantam a âncora,
As sirenes de alarme que tocam, o grito de fogo, o zumbido imediato dos
motores de dos carros dos bombeiros com as sirenes e as luzes de
cores,
O silvo do vapor, o sólido rodar da caravana de carroças que se aproximam,
A marcha lenta tocada à cabeça do grupo que avança aos pares,
(Vão a algum funeral, as bandeiras estão cobertas de musselina negra).

Oiço o violoncelo, (é o lamento de um coração jovem),
Oiço a corneta de chaves penetrando velozmente nos meus ouvidos,
Fazendo estremecer o meu ventre e o meu peito num doce espasmo.

Oiço o coro da ópera,
Ah, isto sim, é música - isto está em harmonia comigo.

Grandiosa e fresca como a criação enche-me a voz do tenor,
A órbita flexível da sua boca derrama-se e sacia-me.

Oiço a perfeita soprano (que vale o meu canto comparado com o seu?)
A orquestra conduz-me em círculos mais largos que os de Urano,
Desperta-me ardores de que nunca suspeitara,
Faz-me navegar, tocar águas com os pés nus, as ondas que os lambem
indolentemente,
O granizo bate-me com toda a fúria, perco o ânimo,
Mergulho na doce morfina, estrangulam-me os falsos sinais da morte,
Por fim, de novo me ergo para sentir o enigma dos enigmas,
Isso a que chamamos Ser.


Walt Whitman
in Canto de Mim Mesmo
Assírio & Alvim, 1999
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