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Democracia! próxima de ti uma garganta enche-se agora de ar e
canta alegremente.
Ma femme! para os filhos que vêm de nós e depois de nós,
Para aqueles que são daqui e aqueles que hão-de vir,
Eu, exultante por estar pronto para eles lanço cá fora canções
mais vigorosas e altivas do que qualquer outras alguma
vez ouvidas na terra.
Hei-de escrever canções de paixão para lhes mostrar o seu caminho,
E as vossas canções, transgressores proscritos, porque vos observo
com olhos de pai e vos levo comigo como a qualquer outro.
Hei-de escrever o verdadeiro poema da riqueza,
Alcançar para o corpo e para o espírito tudo o que se lhe prenda e
progrida e não seja abandonado pela morte;
Hei-de derramar o egotismo e revelá-lo subjacente a tudo e ser o
bardo da personalidade,
E hei-de mostrar do macho e da fêmea que um é apenas igual ao
outro,
E os órgão e actos sexuais! Concentrai-vos em mim pois estou
decidido a dizer-vos com uma voz límpida e corajosa para
mostrar que sois gloriosos,
E hei-de mostar que não existe qualquer imperfeição no presente
e nenhuma pode existir no futuro,
E hei-de mostrar que, seja o que for que aconteça a alguém, pode
transformar-se em belos resultados,
E hei-de mostrar que nada existe de mais belo que a morte,
E hei-de passar um fio através dos meus poemas para que o tempo
e os acontecimentos fiquem unidos,
E todas as coisas do universo sejam milagres perfeitos, cada um tão
profundo como os outros.
Não irei escrever poemas que se refiram a partes,
Mas hei-de escrever poemas, canções, pensamentos que se refiram
ao todo,
E não hei-de cantar referindo-me a um dia, mas sim referindo-me
a todos os dias,
E não hei-de fazer um poema ou a mínima parte de um poema
que não se refira à alma.
Porque, após ter olhado para os objectos do Universo, vi que não
existe um, nem uma partícula de um que não se refira à
alma.
Walt Whitman. Folhas de Erva. Tradução de Maria de Lourdes Guimarães. Círculo de Leitores., p. 23/4
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