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sábado, 30 de dezembro de 2017

«Eu não nasci nem hei-de morrer. Nem antes
Nem depois eu era nada, nem seria

nada senão em ti.»


Juan Ramón Jiménez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 95

Iam morrendo as estrelas,

Juan Ramón Jiménez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 89
«O Campo débil e triste
Acendia-se. Ficava
O canto gasto de um grilo,

a queixa escura de uma água.»



Juan Ramón Jiménez. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 89

terça-feira, 21 de julho de 2015



MORTE BELA

"Que me vais magoar, morte?
Não me faz doer a vida?
Porque hei-de ser mais ousado
para o viver exterior
que para o fundo morrer?
A terra, que é mais que o ar?
Porque nos há-de asfixiar,
porque nos há-de cegar,
Porque nos há-de esmagar,
Porque nos há-de calar?
Porque morrer há-de ser,
o que chamamos morrer,
e viver só o viver,
o que calamos viver?
Porque o morrer verdadeiro
(o que calamos morrer)
não há-de ser doce e suave
como o viver verdadeiro
(o que chamamos viver?)"

 Juan Ramón Jimenez. Antologia Poética.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

«Sim. Eu sei que ao cair da tarde, quando, entre verdilhões e flores de laranjeira, chego, lento e pensativo, pelo laranjal solitário, ao pinheiro que embala a tua morte, tu, Platero, feliz no teu prado de rosas eternas, me vês deter-me junto aos lírios amarelos que o teu coração decomposto fez brotar.»


Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.177
«Cala-te, Platero...Olha para ela. Que delícia vê-la voar assim, pura e sem artifícios!»



Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.172
«-Esta rapariga tem qualquer coisa que a faz sofrer e, gostaria de poder ajudá-la, mas ela é tão fechada.» 



 «Por fim, Platero, decidido como um homem, rompe o cerco, vem ter comigo a trotar e a chorar, com os luxuosos arreios caídos. Como eu, não quer nada com carnavais. Não servimos para estas coisas.»


Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.167

Daria toda a minha vida, e gostava que quisesses dar a tua

«Platero! Platero! Daria toda a minha vida, e gostava que quisesses dar a tua, pela pureza desta alta noite de Janeiro, deserta, clara e dura!»


Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.158

Chove. Hoje não vamos para o campo.

«Chove. Hoje não vamos para o campo. É dia de contemplações. Olha como se lavam as acácias, negras já, mas ainda um pouco douradas; como volta a navegar pela valeta o barquinho dos meninos, ontem parado no meio da erva. Olha agora, sob este sol instantâneo e débil que belo o arco-íris que sai da igreja e morre, num vago fulgor, ao nosso lado.»


Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.156

Platero zurra de novo.

   «Platero zurra de novo. Saberá que penso nele? Que me importa? Na ternura do amanhecer, é-me grata a sua lembrança como a sua própria madrugada. E, graças a Deus, tem um estábulo morno e macio como um berço, amável como o meu pensamento.»


Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.152

A chama


     Aproxima-se, Platero. Anda cá...aqui não há cerimónias. O caseiro sente-se feliz a teu lado porque és dos dele. Alí, o seu cão, sabes bem que simpatiza contigo. E eu, nem te digo nada, Platero!...Que frio fará no laranjal! Já estás a ouvir o Raposo: Quera Deus que num se quemem muntas laranjas!
     Não gostas do lume, Platero? Não acredito que alguma mulher nua pudesse comparar o seu corpo às labaredas. Que cabeleira solta, que braços, que pernas resistiriam a uma comparação com esta ígnea nudez? Talvez a natureza não tenha melhor modelo que o fogo. A casa está fechada e a noite fora e só; e, no entanto, como estamos perto da natureza, Platero, nesta janela aberta para o antro plutónico! O fogo é o universo dentro de casa. Colorido e interminável, como o sangue de uma ferida do corpo, aquece-nos e marca-nos , como todas as memórias do sangue.
    Platero, que bonito é o fogo! Olha como Alá, quase a queimar-se nele, o contempla com os seus vivos olhos abertos. Que alegria! Estamos envoltos em danças de ouro e danças de sombras. Toda a casa dança, e se encolhe e se agiganta, em jogo fácil, como os russos. Todas as formas surgem dele, num encanto infinito: ramos e pássaros, o leão e a água, o monte e a rosa. Olha: mesmo nós, sem querer, dançamos na parede, no chão, no tecto.
    Que loucura, que embriaguez, que glória! O próprio amor parece morte, aqui, Platero.



Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.149

Caminho

    Quantas folhas caíram esta noite, Platero! Parece que as árvores deram uma volta e têm a copa no chão e as raízes no céu, num desejo de nele se plantarem. Olha para aquele choupo: parece a Lucía,a acrobata do circo, quando, derramada a cabeleira de fogo no tapete, levanta, unidas, as suas belas pernas finas, esticando a malha cinzenta.
     Agora, Platero, da nudez dos ramos, os pássaros hão-de ver-nos entre as folhas de ouro, como nós os víamos a eles no meio das folhas verdes, na Primavera. A canção suave que antes cantavam lá em cima as folhas, em que seca oração arrastada se tornou aqui em baixo!
      Estás a ver o campo, Platero, todo cheio de folhas secas? Quando voltarmos a passar por aqui, no domingo que vem, não verás nenhuma. Não sei onde morrem. Os pássaros, no seu amor pela Primavera, devem ter-lhes dito o segredo desse morrer, belo e oculto, que não teremos, nem tu nem eu, Platero.


Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.141

quarta-feira, 6 de julho de 2011

«Aparece-me na memória e some-se outra vez. Mal posso recordá-lo.»



Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.127

domingo, 3 de julho de 2011

O CACHO ESQUECIDO

    Depois das longas chuvas de Outubro, no ouro celeste do dia aberto, fomos todos até às vinhas. Platero levava a merenda e os chapéus das meninas numa das bolsas do alforge e, na outra, como contra-peso, terna, branca e rosada, como uma flor de alperce, levava Branca.
    Que encanto o do campo renovado! Iam os ribeiros a transbordar, estavam as terras brandamente aradas, e nos choupos marginais, ainda engalanados de amarelo, viam-se já os pássaros negros.
     De repente, as meninas, uma atrás da outra, corriam, gritando:
   - Uma uva! Uma uva!
     Numa cepa velha, cujos longos sarmentos enredados mostravam ainda algumas enegrecidas e carminadas folhas secas, o sol forte iluminava um claro e saudável cacho de âmbar, brilhante como a mulher no seu Outono. Todas o queriam! Victoria, que o colheu, defendia-o atrás das costas. Então eu pedi-lho, e ela, com aquela obediência voluntária que proporciona ao homem a menina que caminha para mulher, cedeu-mo de bom grado.
      O cacho tinha cinco grandes uvas. Dei uma a Victoria, uma a Branca, uma a Lola e uma a Pepa - as meninas - e a última, entre risos e palmas unânimes, a Platero, que a apanhou, brusco, com os seus dentes enormes.



Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.123
«Cheirava a lírio, a água, a amor. Como uma coroa de rosas com espinhos, o verso que Shakespeare fez dizer a Cleópatra, cingia-me, redondo, o pensamento:

          O happy horse, to bear the weight of Antony!

-Platero! - gritei-lhe por fim, zangado, violento e desentoado.



Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.122

A colina

«Nela li tudo quanto li e pensei todos os meus pensamentos.»



Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.115

O CANÁRIO MORRE

(...)


     «Ouve; esta noite, os meninos, tu e eu levaremos o pássaro morto para o jardim. A lua está agora cheia, e sob a sua cálida prata, o pobre cantor, na mão de Branca, parecerá a pétala murcha de um lírio amarelento. E enterramo-lo na terra do roseiral grande.
       Na Primavera, Platero, veremos o pássaro sair do coração de uma rosa branca. O ar fragante ficará canoro, e haverá pelo sol de Abril um errar encantado de asas invisíveis e um regato secreto de trinos claros de ouro puro.»


Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.114

sexta-feira, 1 de julho de 2011

«Voltei rente aos muros, pesaroso e só, entrei em casa pela porta do curral, fugindo dos homens, fui ao estábulo e sentei-me a pensar, com Platero.»



Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.112
   «Platero, de vez em quando, deixa de beber e levanta a cabeça como eu, como as mulheres de Millet, para as estrelas, com uma branda nostalgia infinita...»


Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.111

Para os meninos, Platero é um brinquedo.

«Para os meninos, Plarero é um brinquedo. Com que paciência suporta as loucuras deles! Como vai devagar, detendo-se, fazendo-se de pateta, para que eles não caiam! Como os assusta, começando, subitamente, um trote falso!»


Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.110
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