O Marinheiro
«Segunda - Eu vivi entre rochedos e espreitava o mar...A orla da minha saia era fresca e salgada batendo nas minhas pernas nuas...Eu era pequena e bárbara...Hoje tenho medo de ter sido...O presente parece-me que durmo...Falai-me das fadas. Nunca ouvi falar delas a ninguém...O mar era grande de mais para fazer pensar nelas...Na vida aquece ser pequeno...Éreis feliz, minha irmã?»
(...)
Terceira - Tenho horror a de aqui a pouco já o dito o que vos vou dizer. As minhas palavras presentes, mal eu as digo, pertencerão logo ao passado, ficarão fora de mim, não sei onde, rígidas e fatais...Falo, e penso nisto na minha garganta, e as minhas palavras parecem-me gente...Tenho um medo maior do que eu. Sinto na minha mão, não sei como, a chave de uma porta desconhecida. E toda eu sou um amuleto ou um sacrário que estivesse com consciência de si próprio. É por isto que me apavora ir, como por uma floresta escura através do mistério de falar...E, afinal, quem sabe se eu sou assim e se é isto sem dúvida que sinto?...»
Fernando Pessoa, Poemas Dramáticos 1º Volume. Edições Ática pp 42/43
«Segunda - Eu vivi entre rochedos e espreitava o mar...A orla da minha saia era fresca e salgada batendo nas minhas pernas nuas...Eu era pequena e bárbara...Hoje tenho medo de ter sido...O presente parece-me que durmo...Falai-me das fadas. Nunca ouvi falar delas a ninguém...O mar era grande de mais para fazer pensar nelas...Na vida aquece ser pequeno...Éreis feliz, minha irmã?»
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Terceira - Tenho horror a de aqui a pouco já o dito o que vos vou dizer. As minhas palavras presentes, mal eu as digo, pertencerão logo ao passado, ficarão fora de mim, não sei onde, rígidas e fatais...Falo, e penso nisto na minha garganta, e as minhas palavras parecem-me gente...Tenho um medo maior do que eu. Sinto na minha mão, não sei como, a chave de uma porta desconhecida. E toda eu sou um amuleto ou um sacrário que estivesse com consciência de si próprio. É por isto que me apavora ir, como por uma floresta escura através do mistério de falar...E, afinal, quem sabe se eu sou assim e se é isto sem dúvida que sinto?...»
Fernando Pessoa, Poemas Dramáticos 1º Volume. Edições Ática pp 42/43
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