"escreve-se ao contrário dos dias
contra o friso comovedor das gerações
ignorado das cabriolas doutrinais
não se escreve e há também nisso
um aluimento qualquer
corpo afim precipitado para o penhasco
sombrio do mesmo esquecer"
-"Persianas"
- Miguel-Manso
quarta-feira, 29 de março de 2017
Na sensação de estar polindo as minhas unhas
sei que morrerei no dia do aniversário da minha morte
ainda há coisas certas na vida
o dia do aniversário da minha morte apresenta tamanha discrição
que nem dou por ele
portanto não mudarei de roupa
talvez passe o dia deitada
no displicente descanso
de não atender telefones
nem me levantarei para ir ver o correio
e se alguém se lembrar de me acender
as inconsequentes velinhas
deixarei que derretam e estraguem o bolo
no dia do aniversário da minha morte
nem me penteio
Rosalina Marshall
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(...)
«ninguém sabe
a que me sabe
a minha boca»
Rosalina Marshall
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''A realidade está para cada um de nós como o sabor a que sabe a cada um de nós a sua própria boca está para os outros.''
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sobre a realidade
Adília Lopes
(“sinto um desconforto qualquer/ por usar soutien/ mas se não usasse/ era muito ordinária/ e os homens não gostariam de mim/ por ser demasiado fácil verem-me as mamas”)
(“sinto um desconforto qualquer/ por usar soutien/ mas se não usasse/ era muito ordinária/ e os homens não gostariam de mim/ por ser demasiado fácil verem-me as mamas”)
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estás-me a falhar como as notas de mil
expressão antiga, de quando ainda a moeda era o escudo e não o euro, que dizia: estás-me a falhar como as notas de mil, querendo com isso dizer que alguém nos decepcionava.
"Acendo a luz. A luz vive de um
disfarce de uma antiguidade
atómica.
disfarce de uma antiguidade
atómica.
E cada brilho tem um vento atento
o sopro um vento especial a morte:
desmancha-se a luz toda
(o feto dela) de um só corte."
o sopro um vento especial a morte:
desmancha-se a luz toda
(o feto dela) de um só corte."
-"Poesia"
- Luíza Neto Jorge
- Luíza Neto Jorge
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“Na sensação de estar polindo as minhas unhas”
Sá-Carneiro
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verso solto
"Ninguém se conhece, na medida em que cada um é apenas ele próprio e não é também, ao mesmo tempo, um outro.
As pessoas relativamente às pessoas são sempre só cómicas; o trágico origina-se quando o destino do indivíduo, do solitário, se intromete e esconde por detrás dos antagonistas."
As pessoas relativamente às pessoas são sempre só cómicas; o trágico origina-se quando o destino do indivíduo, do solitário, se intromete e esconde por detrás dos antagonistas."
Hugo Von Hofmannsthal. "Livro dos Amigos"
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''sou pelas metáforas porque olhar a luz directamente pode cegar.''
Pedro Jordão
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domingo, 26 de março de 2017
«Contigo uma pessoa nunca sabe...Estás sempre calado...Quem sabe no que pensas...»
Václav Havel. Audiência, Vernissage, e Petição. Relógio D'Água, Lisboa,
Václav Havel. Audiência, Vernissage, e Petição. Relógio D'Água, Lisboa,
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O ÓDIO COMO ARGUMENTO E CRÍTICA LITERÁRIA
Andam por aí uns gazeteiros irrequietos aspirantes a intelectuais libertários que,
mandatários das suas dores primárias e sentimentos gerais— no desenfreamento agudo de caça ao prémio do maior cretino—, prosseguem incansáveis a sua missão de patrulha e delação dos gangs literários da época. Estes queixinhas de risco calculado, respirando todos para dentro do mesmo saco, julgando que no arranco de mais um arroto são os verdadeiros agitadores de consciências não fazem mais que, por correlação objectiva, exaltar e representar a homogenia epocal que criticam refastelados nas suas dietas do ódio. (Agora até memes sancionados pelo risinho e o comentariado boçal se põem a fazer)
Mas! Há esperança:
VOCÊ ESTÁ PASSANDO POR UM NOVO TRÂNSITO ASTROLÓGICO
Substituam a agenda dos esplendores e misérias por um programa ideológico e estético, façam crítica formativa, enunciem e denunciem com a intenção política de um ideário, ajam dentro dos actos, sonhem para fora, sejam estrategas, homens de ciência, concretizem-se, realizem-se, comprometam-se com declarações de princípios e famílias de ideias, entreguem-se ao assunto com a finalidade de isolar, determinar e apresentar o problema que vos arrelia, a doença geracional. Escrevam folhetins críticos, publiquem suplementos, sejam lucidamente românticos no ódio.
OU SEJA
Não sejam propaganda de ares-condicionados, façam estremecer os ciprestes com ventos de saúde.
ENTRETANTO
E desafiando a ordem dos génios livres e solitários constituam-se como autores para se autorizarem a
intervir com a faculdade da emoção e a inteligência do método para que o papel social da crítica não perca a sua função e eficácia. Dêem-se ao escândalo a que têm direito mas com a disposição e qualidade superiores de reformadores da arte. Sejam a princesa e a boca do cavaleiro.
Raquel Nobre Guerra, 2017
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Raquel Nobre Guerra
sábado, 25 de março de 2017
Pastiche
obra literária ou artística em que se imita abertamente o estilo de outros escritores, pintores, músicos, etc.
“ Foi o tempo que dedicaste à tua rosa
que a fez tão importante”
Antoine de Saint-Exupéry
Antoine de Saint-Exupéry
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terça-feira, 21 de março de 2017
«Não faço parte dessa feliz espécie de autores, de pena fecunda, rápida, fácil e feliz, de imaginação nunca cansada, isentos de dúvidas e de escrúpulos, naturalmente abertos ao mundo e que em todos os assuntos vão direitos ao fim. Aflijo-me e algumas vezes irrito-me. Ambicioso, impaciento-me ao ver que me custa escrever por falta de ideias, de confiança em mim, vítima de uma ruminação que, por vezes, me paralisa.»
Václav Havel
Believer
Imagine Dragons
First things first
I'ma say all the words inside my head
I'm fired up and tired of the way that things have been
The way that things have been, oh-ooh
Second thing second
Don't you tell me what you think that I can be
I'm the one at the sail, I'm the master of my sea, oh-ooh
The master of my sea, oh-ooh
I was broken from a young age
Taking my soul into the masses
Write down my poems for the few
That looked at me took to me, shook to me, feeling me
Singing from heart ache from the pain
Take up my message from the veins
Speaking my lesson from the brain
Seeing the beauty through the
Pain!
You made me a, you made me a believer, believer
Pain!
You break me down, you build me up, believer, believer
Pain!
I let the bullets fly, oh let them rain
My luck, my love, my God, they came from
Pain!
You made me a, you made me a believer, believer
Third things third
Send a prayer to the ones up above
All the hate that you've heard
Has turned your spirit to a dove, oh-ooh
Your spirit up above, oh-ooh
I was choking in the crowd
Living my brain up in the cloud
Falling like ashes to the ground
Hoping my feelings, they would drown
But they never did, ever lived, ebbing and flowing
Inhibited, limited
Till it broke up and it rained down
It rained down, like
Pain!
You made me a, you made me a believer, believer
Pain!
You break me down, you built me up, believer, believer
Pain!
I let the bullets fly, oh let them rain
My luck, my love, my God, they came from
Pain!
You made me a, you made me a believer, believer
Last things last
By the grace of the fire and the flames
You're the face of the future, the blood in my veins, oh-ooh
The blood in my veins, oh-ooh
But they never did, ever lived, ebbing and flowing
Inhibited, limited
Till it broke up and it rained down
It rained down, like
Pain!
You made me a, you made me a believer, believer
Pain!
You break me down, you built me up, believer, believer
Pain!
I let the bullets fly, oh let them rain
My luck, my love, my God, they came from
Pain!
You made me a, you made me a believer, believer
quarta-feira, 15 de março de 2017
|| confissões de uma máscara ||
"Respirar
o menos possível
nestas cidades
de uma tristeza
sem idade
abrindo o espaço
com os gestos lentos de um náufrago
a caminho
do fundo
A noite sobe-me
na voz
como um lugar
capaz de imaginar
sozinho
o seu cenário
onde o azul
dorme
numa cave
com os cães"
o menos possível
nestas cidades
de uma tristeza
sem idade
abrindo o espaço
com os gestos lentos de um náufrago
a caminho
do fundo
A noite sobe-me
na voz
como um lugar
capaz de imaginar
sozinho
o seu cenário
onde o azul
dorme
numa cave
com os cães"
Ernesto Sampaio. "Feriados Nacionais"
domingo, 12 de março de 2017
Não fazes favor nenhum em gostar de alguém
Nem eu, nem eu, nem eu
Quem inventou o amor não fui eu
Não fui eu, não fui eu, não fui eu... nem ninguém
Nem eu, nem eu, nem eu
Quem inventou o amor não fui eu
Não fui eu, não fui eu, não fui eu... nem ninguém
O amor acontece na vida
Estavas desprevenida e, por acaso eu também
E como o acaso é importante, querida
De nossas vidas a vida fez um acaso também
Estavas desprevenida e, por acaso eu também
E como o acaso é importante, querida
De nossas vidas a vida fez um acaso também
Não fazes favor nenhum em gostar de alguém
Nem eu, nem eu, nem eu
Quem inventou o amor não fui eu, não fui eu
Não fui eu, não fui eu... nem ninguém
Nem eu, nem eu, nem eu
Quem inventou o amor não fui eu, não fui eu
Não fui eu, não fui eu... nem ninguém
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"Acender suavemente
para fora do corpo.
Só vem com uma instrução,
a alma,
e cumpre-a em cada passo.
deixando a cal para as palavras.
A inocência e a alegria são nomes
de ruas percorríveis, casas telhadas,
searas altas escondendo pássaros
e vento, estilhaços de voz.
Às vezes passa por ela
a luva perdida de um poema;
ou um nome sem âncora
atravessa-a, ainda morno,
obriga-a a embarcar
de um calafrio ao outro.
Mas aqui as almas regressam sempre.
Chamam-se Lázaro, têm margens
de açafrão, mel e mosto, trazem a beleza asfixiada,
inofensiva: prata sobre o convès,
flores dentro de saco plástico.
Antes de continuar a sonhar,
a alma esvazia os bolsos
da respiração sustida entre ondas,
dos silêncios guardados entre frases.
Deixa no cinzeiro
os restos das ideias consumidas,
um espinho mais teimoso.
Certifica-se, por último, da névoa
firme à sua volta,
de modo a não chocar com o mundo."
-"Esta Casa"
- Emanuel Jorge Botelho/ Inês Dias/ Manuel de Freitas/ Renata Correia Botelho
para fora do corpo.
Só vem com uma instrução,
a alma,
e cumpre-a em cada passo.
deixando a cal para as palavras.
A inocência e a alegria são nomes
de ruas percorríveis, casas telhadas,
searas altas escondendo pássaros
e vento, estilhaços de voz.
Às vezes passa por ela
a luva perdida de um poema;
ou um nome sem âncora
atravessa-a, ainda morno,
obriga-a a embarcar
de um calafrio ao outro.
Mas aqui as almas regressam sempre.
Chamam-se Lázaro, têm margens
de açafrão, mel e mosto, trazem a beleza asfixiada,
inofensiva: prata sobre o convès,
flores dentro de saco plástico.
Antes de continuar a sonhar,
a alma esvazia os bolsos
da respiração sustida entre ondas,
dos silêncios guardados entre frases.
Deixa no cinzeiro
os restos das ideias consumidas,
um espinho mais teimoso.
Certifica-se, por último, da névoa
firme à sua volta,
de modo a não chocar com o mundo."
-"Esta Casa"
- Emanuel Jorge Botelho/ Inês Dias/ Manuel de Freitas/ Renata Correia Botelho
segunda-feira, 6 de março de 2017
« TÓ MARIA
(Idem.) Tal o testo, tal a panela...»
Bernardo Santareno. O Lugre. Edições Ática. Lisboa., p. 133
(Idem.) Tal o testo, tal a panela...»
Bernardo Santareno. O Lugre. Edições Ática. Lisboa., p. 133
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MIGUEL
(Alheado, seguindo, sempre a sua voz interior.)
Eu sonho sempre com ...Ela.
ALBINO
(Espreguiçando-se.) Com ela?!...
MIGUEL
(Gelado.) Com a Morte, ti' Albino.
Bernardo Santareno. O Lugre. Edições Ática. Lisboa., p. 127
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«Sonhos são mentiras, »
Bernardo Santareno. O Lugre. Edições Ática. Lisboa., p. 125
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sábado, 4 de março de 2017
“OVO/POVO”
António Aragão na XIV Bienal de
São Paulo, onde representou Portugal com a exposição de poesia espacial
“OVO/POVO” (1977).
“poesia-contra, poesia-recusa-que-acusa,
poesia contra o instituído, o legal, o ordenado e convencional.”
(Aragão, 1981b [1965]: 39)
(Aragão, 1981b [1965]: 39)
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sobre a poesia
(des)gostos mais ou menos audíveis
“repúdio do lirismo e duma semântica
convencionada à escala dos pessoais (des)gostos mais ou menos audíveis” (Aragão,
1981b [1965]: 39
«O artsta, poderoso iconoclasta destrói as formas defnitvas, e
destrói devido ao esgotamento das forças misteriosas que as
animavam e constrói, com outra morfologia, o mistério. E só ele se
apercebe desse esgotamento e da necessidade de destruição –
destruição sem sentenças ou elaborados racionalismos, sem prévios
padrões polítcos, sociais, económicos ou religiosos; destruição
assistemátca, inviolável, fnalizada em si própria, egocêntrica e
espontânea.»
(Aragão, 1956: 24)
(Aragão, 1956: 24)
sexta-feira, 3 de março de 2017
“Começa por fazer o que é necessário, depois o que é possível, e de repente estarás a
fazer o impossível.”
S. Francisco de Assis
fazer o impossível.”
S. Francisco de Assis
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quarta-feira, 1 de março de 2017
«Pela minha dor entendo que imensos outros sofrem,»
Luis Cernuda. Antologia Poética. Edição bilingue. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Edições Cotovia, Lisboa, 1990., p. 77
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«Mas fundamente preso fica o desalento,
Como hóspede sombrio dos meus sonhos.
Poderei esperar? Tudo foi dado ao homem
Como distracção efémera da existência;
A nada pode unir esta sua ânsia que reclama
Uma pausa de amor entre a fuga das coisas.
Seria vão lamentar o trabalho, a casa, os amigos perdidos
Nesse grande negócio demoníaco da guerra.»
Luis Cernuda. Antologia Poética. Edição bilingue. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Edições Cotovia, Lisboa, 1990., p. 75
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«Metade da minha vida está hoje passada,»
Luis Cernuda. Antologia Poética. Edição bilingue. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Edições Cotovia, Lisboa, 1990., p. 73
«Pálido rosto de paixão e tédio.»
Luis Cernuda. Antologia Poética. Edição bilingue. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Edições Cotovia, Lisboa, 1990., p. 69
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«Ainda se queixa vagamente sua alma,
O escuro vazio da sua vida.»
Luis Cernuda. Antologia Poética. Edição bilingue. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Edições Cotovia, Lisboa, 1990., p. 67
O escuro vazio da sua vida.»
Luis Cernuda. Antologia Poética. Edição bilingue. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Edições Cotovia, Lisboa, 1990., p. 67
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«Não sou como os mais: sou fraco. (A bater com as mãos no peito:) Fraco por dentro, mais fraco que a vidraça!...) »
Bernardo Santareno. O Lugre. Edições Ática. Lisboa., p. 117/8
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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017
Não sou eu que vivo, mas a flor
que dando-se às eternidades pretéritas
respira no que desconhece
a beleza inaugural do dia.
Já não sou eu que vivo
mas o tempo estranhado pelo sem-tempo
em madrugadas tão plenas que tecem caminhos.
Um dia, quando voltar da morte e me detiver em frente à janela
que me puxa par adentro do segredo e do mistério
ter-te-ei despido.
Já não sou eu que vivo
e se gritar afogo-me no meu próprio eco
neste campo de escombros
átomos explodindo nas carnes das casas.
Já não sou eu que vivo
mas o grito
o milagre nos corredores da noite
nas mãos dadas a ninguém.
Entranhas de Deus espalhadas sobre a tua ausência.
Joana Emídio Marques. Ritornelos, Abysmo, 2014
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O que se torna tempo
não poderás somá-lo
é abissal e infinito
esperar que nasça o princípio
no interior do que só vês de fora.
Não, não podes somá-lo
entre os dedos idênticos
nem à verdade nem à carne,
o que se torna tempo
é este exacto instante
que se cumpriu
se perdeu.
Joana Emídio Marques. Ritornelos, Abysmo, 2014
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Ritornelos
''Ritornelos é um termo musical (dois pontos seguido de uma barra vertical), que indica a repetição de uma parte da partitura, isto é, a repetição da sua execução musical.''
Ritornelos, Abysmo, 2014, (Livro de Joana Emídio Marques)
Ritornelos, Abysmo, 2014, (Livro de Joana Emídio Marques)
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017
encanto do fogo
"A admiração representa o maior elogio daquele que admira.
Admirar é dar-se.
Admirar é pôr-se fora de si inteiro. É jogar a vida pela vida,
A admiração é a grande lealdade de cada um pelo seu Elemento inicial e é ela o único poder que faz com que o Elemento inicial de cada um não seja afinal o seu cárcere."
Admirar é dar-se.
Admirar é pôr-se fora de si inteiro. É jogar a vida pela vida,
A admiração é a grande lealdade de cada um pelo seu Elemento inicial e é ela o único poder que faz com que o Elemento inicial de cada um não seja afinal o seu cárcere."
Manuel de Lima. "Um Homem de Barbas e Outros Contos"
domingo, 26 de fevereiro de 2017
«As raparigas estão aqui...Só se vêem as faces. Expressões líquidas, inacabadas...As pernas nuas, enfiadas em sapatos grossos, sempre em movimento...Trabalham muito, têm problemas particulares, estados de espírito...Mas, enquanto elas falam, enquanto as escutamos, nada nos pode impedir de pensar, ao olhar para elas, em como será fazer amor com elas, amor físico...»
«Nunca tento explicar as lágrimas.»
Raphaële Billetdoux. Entre e feche a porta. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Cotovia, 1992., p. 113
sábado, 25 de fevereiro de 2017
«Aquela antiga ferida.»
Luis Cernuda. Antologia Poética. Edição bilingue. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Edições Cotovia, Lisboa, 1990., p. 43
«Nem sequer esperar esse pássaro com braços de mulher,
Com voz de homem deliciosamente escurecida,
Porque um pássaro, embora enamorado,
Não merece aguardar, como qualquer monarca
Aguarda que as torres madurem até frutos já podres.»
Luis Cernuda. Antologia Poética. Edição bilingue. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Edições Cotovia, Lisboa, 1990., p. 15
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Luis Cernuda,
poesia
«Sabendo nada mais que viver é estar a sós com a morte.»
Luis Cernuda. Antologia Poética. Edição bilingue. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Edições Cotovia, Lisboa, 1990., p.15
«De carne até morrer como um homem morre.»
Luis Cernuda. Antologia Poética. Edição bilingue. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Edições Cotovia, Lisboa, 1990., p. 13
«Os beijos livremente caem de seus lábios»
Luis Cernuda. Antologia Poética. Edição bilingue. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Edições Cotovia, Lisboa, 1990., p.
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verso solto
''por malquerer''
Bernardo Santareno. O Lugre. Edições Ática. Lisboa., p. 64
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bernardo santareno,
dramaturgo português do século XX
«Tens os olhos do morto dentro dos teus ...(Com o indicador toca, um após outro, os olhos de Albino.)
Bernardo Santareno. O Lugre. Edições Ática. Lisboa., p. 56/7
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bernardo santareno,
dramaturgo português do século XX,
teatro
Mentideiro
nome masculino
1. lugar donde habitualmente se propagam boatos e mentiras
2. conjunto de pessoas que falam da vida alheia; soalheiro
1. lugar donde habitualmente se propagam boatos e mentiras
2. conjunto de pessoas que falam da vida alheia; soalheiro
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significados
''Ah, filho dum cão!...»
Bernardo Santareno. O Lugre. Edições Ática. Lisboa., p. 44
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bernardo santareno,
dramaturgo português do século XX
«Bando de tubarões...corja de assassinos!...»
Bernardo Santareno. O Lugre. Edições Ática. Lisboa., p. 43
Bernardo Santareno. O Lugre. Edições Ática. Lisboa., p. 43
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bernardo santareno,
dramaturgo português do século XX,
teatro
«- Estás apaixonada, neste momento?
- Não, não, tenho muito cuidado.
-Não, falo-te de amor.
-Eu sei, entendi, mas estou curada.
-Estiveste muito apaixonada?
-Se estive!...
-Alguém te fez sofrer?
- Sim. Mas já passou.
-Durou muito tempo?
-Se durou!...
-Mas era alguém decente?
-Pode-se lá saber...»
Raphaële Billetdoux. Entre e feche a porta. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Cotovia, 1992., p. 75
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017
« - Pensavas que era eu que fazia o trabalho todo, não? Tu só trouxeste o teu cu e o teu sofrimento, hem? E eu que me desenrascasse!
-...
-Eu sei, eu sei, tens um cu enorme e o teu sofrimento não é menor.
-...
- Ah, se bastasse sofrer!
Ela desata a chorar. O lenço recolhe as suas lágrimas.
-Água! Isso é água! Não vale nada! Não me dizes nada com isso.»
Raphaële Billetdoux. Entre e feche a porta. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Cotovia, 1992., p. 34
« - Se eu te disser que és bonita, acreditas?
Ela sopra.
-Sim ou não?
-Estou-me nas tintas...
-Como te chamas?
-Edith.
- Que sapatos são esses?
-Dão-me segurança. Estou no meu direito, não?
-Eu é que faço as perguntas. Nunca és simpática com ninguém?
-Nunca confunde as pessoas com animais?»
«Como um canteiro de ervas fustigado pelo vento, o rosto voltava-se de novo.»
Raphaële Billetdoux. Entre e feche a porta. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Cotovia, 1992., p. 12
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Raphaële Billetdoux
terça-feira, 21 de fevereiro de 2017
«Quem amou voltará a amar?»
António Osório. Por Eduardo Lourenço. Colecção Poetas. Editorial Presença., p. 260
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verso solto
« (...) a melancolia
de morrer (...)»
António Osório. Por Eduardo Lourenço. Colecção Poetas. Editorial Presença., p. 258
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AUGÚRIO
Não antecipes a tristeza
de morrer: não queiras muito
as lágrimas: consola-te
bebendo-as. E sê grato ao dia
em que, vivo, as tragaste.
António Osório. Por Eduardo Lourenço. Colecção Poetas. Editorial Presença., p. 216/17
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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017
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