segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

algoz


nome masculino
1. executor da pena de morte; carrasco; verdugo
2. figurado pessoa cruel

(Do turco gozz, pelo árabe al-gozz, nome de uma tribo onde se iam geralmente buscar os carrascos)

«Ai dor! era-me preciso enterrar magnificamente os meus amores.»

«Eles lá iam, mar em fora, no espaço e no tempo, e eu ficava-me ali numa ponta da mesa, com os meus quarenta e tantos anos, tão vadios e tão vazios; ficava-me para os não ver nunca mais, porque ela poderia tornar e tornou, mas o eflúvio da manhã quem é que o pediu ao crepúsculo da tarde?»



Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 203

O PAI

1

Um pai morto talvez tivesse
Sido um pai melhor. Melhor ainda
É um pai nado-morto.
Volta sempre a crescer erva sobre a fronteira.
Tem de ser arrancada a erva
Sempre sempre a erva que cresce sobre a fronteira.

2

Gostava que o meu pai tivesse sido um tubarão
E despedaçado quarenta pescadores de baleias
(E eu aprendido a nadar no seu sangue)
A minha mãe uma baleia azul o meu nome Lautréamont
Falecido em Paris
Incógnito em 1871




Heiner Müller. O Anjo do Desespero (Poemas). Tradução e Posfácio de João Barrento. Relógio D' Água, Lisboa, 1997, p. 23

Laundry, New York City,c.1934


«As lágrimas que me traíram e as humilhações que sofri
são-me agora brisas e aves eternas:  »


Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 91

«Nas noites em que choram *  os tormentos do homem.»


Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 89

«E a primeira palavra que o último dos homens há-de dizer será para que as ervas se ergam e a mulher a seu lado saia como raio do sol. E de novo adorará a mulher e a deitará na erva como está determinado.»


Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 88

XVI

    «CEDO acordei as volúpias
cedo acendi o meu choupo-branco
    de mão na frente dirigi-me ao mar
e aí o erigi sozinho:
    Sopraste e cercaram-me as procelas
uma a uma tiraste-me as aves -
    Meu Deus chamaste-me e como fugir-te?
Fitei no futuro os meses e os anos
    que hão-de regressar sem mim
e mordi-me tão fundo
    que senti o meu sangue devagar a pulsar para o alto
e a gotejar do meu futuro.
   Escavei a terra no momento em que era o culpado
e a tremer ergui a vítima na minha mão
   e falei-lhe tão suavemente
que devagar os seus olhos se abriram e verteram orvalho
   sobre o chão onde eu era culpado.
Derramei o negrume no leito do amor
    com as coisas do mundo nuas no meu espírito
e o meu esperma lancei tão longe
    que devagar as mulheres regressaram ao sol e sofreram
e voltaram a parir as coisas visíveis.
    Meu Deus chamaste-me e como fugir-te?
 Cedo  acordei as volúpias
     cedo acendi o meu choupo-branco
de mão na frente dirigi-me ao mar
    e aí o erigi sozinho:
Sopraste e as minhas entranhas estremeceram
    uma a uma voltaram-me as aves!»





Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 82/3

procela


nome feminino
1. tempestade no mar; tormenta; temporal
2. figurado grande agitação; exaltação de espírito

(Do latim procĕlla-, «idem»)

imarcescível

1. que não murcha; sempre viçoso
2. que não se extingue
3. figurado imperecível; incorruptível
(Do latim immarcescibĭle-, «idem»)

patíbulo


nome masculino
lugar onde os condenados sofrem a pena capital (por guilhotina, forca, garrote, etc.)

(Do latim patibŭlu-, «idem»)

''meiga como uma pomba''

domingo, 15 de janeiro de 2012

«Mas Zalmóxis, dizia ele, nosso mestre, que é um deus, afirma que, tal como não se pode tentar curar os olhos separadamente da cabeça, também se não pode curar a cabeça separadamente do corpo, nem, do mesmo modo, o corpo separadamente da alma.» Seria essa a razão pela qual, entre os Gregos, a maioria das doenças escapava aos médicos: é que eles negligenciavam o todo, a cujo tratamento seria preciso proceder, pois, não estando ele bom, impossível seria que a parte ficasse boa»

«Dizia ainda, meu caro amigo, que a alma se trata com estas encantações, encantações essas que consistem em belas conversas.»




Platão. Cármides. Textos clássicos - 12. Introdução, versão do grego e notas de Francisco de Oliveira. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, 1981., p.48
«De igual modo, julgar, enfim, que a cabeça se cura em si mesma, separadamente de todo o corpo, é uma grande insensatez. Partindo deste princípio, debruçando-se sobre todo o corpo, as suas prescrições procuram, através do todo, tratar e curar a parte.»



Platão. Cármides. Textos clássicos - 12. Introdução, versão do grego e notas de Francisco de Oliveira. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, 1981., p. 47

desnudamento

«Mas aí se verifica também a diferença essencial entre ambos. Enquanto Sócrates confessa abertamente a sua incapacidade, Crítias,

    ...como pessoa habituada a ficar bem vista em todas as ocasiões,
   tinha vergonha dos presentes e não queria concordar comigo
   que era incapaz de defender o argumento para o qual eu o
    desafiara. Assim, nada dizia com clareza, para disfarçar
    as suas dificuldades (169c).»




Platão. Cármides. Textos clássicos - 12. Introdução, versão do grego e notas de Francisco de Oliveira. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, 1981., p.28

prudência


«(...), na opinião do médico trácio autor do remédio, também não é possível tratar o corpo sem primeiro tratar o corpo sem primeiro tratar. com belas conversas, a alma.»



Platão. Cármides. Textos clássicos - 12. Introdução, versão do grego e notas de Francisco de Oliveira. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, 1981., p.15

a pele do objecto

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

«E caem! - Folhas misérrimas do meu cipestre, heis-de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar...Heis-de cair.»




Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 144

«Tu tens pressa em envelhecer, e o livro anda devagar;»

Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 143

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012


   «Calou-se, profundamente abatido, com os olhos no ar, parecendo não ouvir coisa nenhuma, a não ser o eco de seus próprios pensamentos.»


Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 121

Rome, Dancing Girl by Jack Barnosky

porque a dor que se dissimula dói mais

«Lá dentro, ela padecia, e não pouco - ou fosse a mágoa pura, ou só despeito; e porque a dor que se dissimula dói mais, é muito provável que Virgília padecesse em dobro do que realmente devia padecer. Creio que isto é metafísica.»




Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 98

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

fulvo


adjectivo
de cor amarelo-torrada; alourado; dourado

(Do latim fulvu-, «idem»)

IV

            «ADICIONEI os meus dias e não te encontrei
nunca, em sítio nenhum, para me tomares a mão
            no clamor dos abismos e na minha barafunda de estrelas!
Tomaram uns o Saber e outros o Poder
            a escuridão rasgando as duras penas
e pequenas máscaras, de alegria e tristeza,
            ajustando à face arruinada.
Eu é que não, não ajustei máscaras,
             deitei para trás de mim alegria e tristeza
pródigo deitei para trás de mim
             o Poder e o Saber.
Adicionei os meus dias e fiquei sozinho.
       Disseram uns: porquê? Este também há-de viver
na casa com vasos e a branca noiva.
       Cavalos de pêlo fulvo e negro acenderam-me
a obstinação por outras mais brancas Helenas!
         Almejei outra mais secreta bravura
e aí me impediam, invisível, fui a galope
          restituir as chuvas aos campos
e recuperar o sangue dos meus mortos insepultos!
        Disseram outros: porquê? Este também há-de conhecer,
até ele, a vida nos olhos do outro.
       Não vi olhos de outrem, não encontrei nada
senão lágrimas no vazio que abraçava
        senão borrasca na serenidade que suportava.
Adicionei os meus dias e não te encontrei
        e enverguei as armas e saí sozinho
para o clamor dos abismos e a minha barafunda de estrelas!»
           






Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 39/40
«E à medida que o tempo come a matéria, vai saindo mais puro o oráculo da minha face:

                                      TEMEI A IRA DOS MORTOS»


Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 38
« da gota de água na barba por cortar, nada senti,
            mas depus a face dura no mais duro da pedra
por séculos e séculos.»



Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 37

''olhares ávidos de cigarros''

(...)

«Porque chuviscava amiúde nos caminhos lá fora, como nas nossas almas. E as raras vezes em que parávamos para descansar, nem sequer trocávamos palavra, tão só, sérios e mudos, à luz duma pequena tocha, repartíamos as passas uma a uma. Outras vezes, se nos era possível, soltávamos rapidamente as roupas e coçávamo-nos com raiva durante horas, até formarmos sangue. Estávamos cheios de piolhos até ao pescoço, e isso era mais insuportável do que o cansaço. »


Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 33

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012


«procurei o branco até à tensão extrema
do negro A esperança até às lágrimas
a alegria até aos confins do desespero»


Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 20

Paula in Berlin. 1889.

«As sílabas ocultas com que lutei para soletrar a minha identidade»


Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 17

«Cada palavra com sua andorinha
para te trazer a Primavera no Verão» disse


Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 15
(...)


«Ali sozinho enfrentei
 o mundo
 chorando amargamente»


Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004

domingo, 1 de janeiro de 2012

Time's a wastin

Virgília


«(...) Virgília deixou-se estar de pé; durante algum tempo ficámos a olhar um para o outro, sem articular palavra. Quem diria? De dois grandes namorados, de duas paixões sem freio, nada mais havia ali, vinte anos depois; havia apenas dois corações murchos, devastados pela vida e saciados dela, não sei se em igual dose, mas enfim saciados. Virgília tinha agora a beleza da velhice, um ar austero e maternal; estava menos magra do que  quando a vi, pela última vez, numa festa de S. João, na Tijuca; e porque era das que resistem muito, só agora começavam os cabelos escuros a intercalar-se de alguns fios de prata.»
    



Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 20

sábado, 31 de dezembro de 2011

consumação

couraçado


adjectivo
1. revestido de couraça
2.figurado protegido
3. figurado endurecido
4. figurado que não se deixa comover; endurecido

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

«Perante o seu olhar, de onde a minha própria alma parecia contemplar-me, toda a verdade se desmoronou, mesmo a verdade do desejo carnal que tinha por ela. Enfeitiçados, olhavamo-nos; a minha alma pobre e pequena olhava-me.»


Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 179

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Razão tem-la tu toda, Lobo das Estepes

«Razão tem-la tu toda, Lobo das Estepes, mil vezes razão, mas mesmo assim tens de desaparecer. És demasiado exigente e esfomeado para um mundo como o de hoje, simples, cómodo e contente com tão pouco, é esse mundo que te vomita para fora, tens para ele uma dimensão a mais.»

Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 156/7

«Tenho sede de um sofrimento que me dê disposição e vontade de morrer»

Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 155

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

«De um momento para o outro ressurgiam coisas que me tocavam de perto, em que eu podia pensar com alegria, preocupação, excitação! De um momento para o outro abria-se uma porta através da qual a vida irrompia e vinha até mim! Talvez eu pudesse voltar a viver, talvez pudesse voltar a ser um homem...A minha alma, entorpecida pelo frio, quase gelada, voltava a respirar, batia sonolenta, as suas asas miúdas e débeis.»


Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 107

''lençóis de sangue''

«Pães deitados nos vales de cinza!»


Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 233
«Não há nada que me cause ilusões;»


Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 219

aldeãs

«A estrela choveu rosa no coração da tua escuta,
O infinito rolou alvo no teu corpo, da nuca aos rins,
O mar orvalhou ruivo os teus seios de rubro cobre
E o homem sangrou negro no teu flanco sem fim.»




Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 207

domingo, 11 de dezembro de 2011

pedra de sangue

ORAÇÃO DA NOITE

«Vivo sentado, como um anjo nas mãos de um barbeiro,
Empunhando uma caneca de estrias profundas,
Com o hipogastro e o colarinho arqueados, um gambier
Entre dentes, numa atmosfera prenhe de impalpáveis veleiros.

Como se fossem excrementos quentes de um velho pombal,
Mil Sonhos cavam em mim doces queimaduras:
Logo depois o meu coração triste fica como um alburno
Que o ouro jovem e sombrio das cores ensanguenta.

Em seguida, quando já engoli meus sonhos cuidadosamente,
Volto-me, com trinta ou quarenta cervejas no papo,
E concentro-me para fazer as minhas necessidades ásperas:

Doce como o Senhor do cedro e do hissopo,
mijo para os céus castanhos, muito alto e muito longe,
com a concordância dos grandes heliotrópios.»





Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 183

Yeshiva boys in 1930s Poland

«As minhas estrelas tinham um doce sussurrar de seda.»


Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 181

O QUE DORMIA NO VALE

É uma cova de verdura onde canta uma ribeira
Prendendo loucamente às ervas farrapos
De prata; nele brilha o sol, do alto da montanha
Orgulhosa: é um pequeno valado que espuma farpas.

Um soldado jovem, de boca aberta, cabeça nua,
E a nuca mergulhando nos frescos agriões azuis,
Dorme; está estendido na relva, a céu aberto,
Pálido no seu leito verde onde chove a luz.

Com os pés nos gladíolos, dorme. Sorrindo como
Sorriria uma criança doente, dorme um sono:
Natura, embala-o junto ao peito: ele está com frio.

Não há perfume que faça estremecer suas narinas;
Dorme ao sol, a mão sobre o peito
Tranquilo. No seu lado direito, tem dois buracos vermelhos.

Outubro de 1870.




Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 173

«Que coisas não veremos nós, minha querida,
            Nesses casebres,
Quando a luz lhes alumia, clara,
          As vidraças cinzentas!...»



Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 159

Girl of Poor Family

«Falaria contigo na tua própria boca»

«Falaria contigo na tua própria boca:
               Caminharia, apertando-te
O corpo como uma criança que se deita,
               Louco com o sangue

Que corre, azul, sob a tua pele branca
          Rosácea:
E falando-te com a língua livre....
    Ora!...tu sabes como é...»





Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 155-157

«Ó carne-flor!»

« - Eu olhava, cor de cera,
Para um raio de luz bravio
A borboletear no seu sorrir
E sobre o seu seio - mosca na roseira. »



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«O riso fingia que punia!»




Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 149
(...)

«Quanto a mim, desleixado como um estudante à sombra
Dos castanheiros, não tiro os olhos das miúdas de olho vivo:
Sabem-no elas tão bem; e voltam para mim, rindo,
Aqueles olhos transbordantes de coisas indiscretas.

Deixo-me estar calado; não paro de olhar continuamente
Aqueles pescoços brancos bordados de madeixas loucas:
Sigo, sob o corpete e os frágeis atavios, a divina
Colina que desponta a seguir à curva dos ombros redondos.

Não tarda nada, já descobri onde se esconde a botina, a meia...
-Reconstruo-lhes o corpo, ateado por uma febre das antigas.
Elas acham-me graça, e entrefalam-se baixinho...
E meus desejos brutais agarram-se aos lábios delas...»



Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p. 145


«Doença do espírito - do eu - o desespero pode, enquanto tal,
   tomar três formas: o desespero inconsciente de ter um eu
         - o que é um verdadeiro desespero - ;
         o desesperado que não quer, e o
         desesperado que quer ser ele próprio.»


Kierkegaard. Desespero A Doença Mortal. Tradução de Ana keil. RÉS-Editora, Porto, p. 11
«Porque será que os espíritos que já não admitem quaisquer valores persistem em levantar, pelo seu lado, exigências? Alimentam-se do facto de um dia terem existido deuses, pais, poetas. A existência das palavras dilui-se em títulos ocos.
    Há no reino animal parasitas que pela calada desenterram uma lagarta. Por fim, apenas se esgueira para fora do ovo uma vespa, no lugar da borboleta. Assim manuseiam eles a herança, e sobretudo a língua, falsários de moedas como são; é por isso que prefiro casbah, mesmo atrás do balcão do bar.»



Ernst Jünger. Eumeswil. Tradução de Sara Seruka com a colaboração de João Barrento para a Tradução dos Poemas. Editora Ulisseia., p. 60/1

«Alguns anos depois, tinham desaparecido todos os vestígios da ferida.»


Ernst Jünger. Eumeswil. Tradução de Sara Seruka com a colaboração de João Barrento para a Tradução dos Poemas. Editora Ulisseia., p. 59

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Nina Alisova dans ” La Fille Sans dot ”, 1936

o sentimentalismo vergava-o, contra a sua vontade

« (...), mas saboreei, como um cão esfaimado, a migalha de calor, o gole de afeição, o naco de apreço. Enternecido, o Lobo das Estepes, Harry, mostrava os dentes num sorriso, escorrendo-lhe a baba pela goela ressequida; o sentimentalismo vergava-o, contra a sua vontade.»




Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 81
«Como se tinha apoderado de mim, assim tão lenta e sorrateiramente, aquela paralisia, aquele ódio contra mim e contra todos, aquele bloqueamento de todos os sentimentos, aquele humor agreste profundo e despeitoso, aquele antro de imundície do coração esvaziado e do desespero?»


Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 80

QUADROS

   «A antiga Comédia continua as suas afinações, e reparte os seis Idílios.
     Avenidas de palcos.
     Um longo dique em madeira, de uma ponta a outra de um campo pedregoso, onde a multidão incivilizada se passeia sob as árvores nuas.
     Em corredores de gaze negra, seguindo o ritmo dos passeantes, ornados de lanternas e de folhas.
      Aves dos mistérios descem a pique sobre um pontão de alvenaria movido pelo arquipélago atulhado pelas embarcações dos espectadores.
     Cenas líricas acompanhadas a flauta e tambor debruçam-se em recantos arranjados sob os tectos, em redor dos salões de clubes modernos, ou das salas do antigo Oriente.
     O maravilhoso manobra no topo de um anfiteatro coroado de sebes - ou se agita e sintoniza com os Beócios, à sombra do arvoredo que se mexe à esquina das culturas.
    A ópera-cómica refracta-se sobre um palco no ponto de intersecção de dez separadores montados entre a geral e a rampa.»






Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 117

fantasmagorias

domingo, 4 de dezembro de 2011

An Elder of the Village


« - Uma rajada de vento dispersa os limites da lareira.»


Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p. 93
(...)

«Ri-me para a queda da água que, por entre os pinheiros, desgrenhava a sua cabeleira loura: pela crina prateada, reconheci a deusa.

  Então, um a um, levantei os véus. Na alameda, agitando os braços. Pela planície, onde a denunciei ao galo. Na grande cidade, a deusa fugia através de cúpulas e campanários e, correndo no cais de mármore como um mendigo, fui atrás dela.

  Ao cimo da estrada, perto da mata de loureiros, cobria com os seus véus arrebanhados a esmo, e senti, ao de leve, o seu corpo imenso. A madrugada e a criança caíram aos pés do bosque.
   Ao despertar, era meio-dia.»




Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p. 89

''lareira escura''

pusilânime


adj. 2 g
1. Excessivamente tímido.
2. Que não tem coragem para reagir.
3. Que dá indícios de pusilanimidade.
 
s. 2 g.
4. Aquele que tem fraqueza de ânimo ou cobardia.

''amado por ninguém''

Esse Lobo das Estepes tinha de morrer...

«Esse Lobo das Estepes tinha de morrer, tinha de pôr termo, pela sua própria mão, à sua odiosa existência - ou então, fundido no fogo mortal de uma renovada inspecção a si próprio, transformar-se, arrancar a máscara e recriar um novo eu. Ah! Este processo não era novo nem desconhecido, conhecia-o bem, já várias vezes o experimentara nos estádios de supremo desespero.»



Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 73

«De neve sacio a minha goela ardente,
E a minha pobre alma ao diabo entrego.»

Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 72

ulular

               
      (latim ululo, -are, uivar)   

v. intr.

1. Soltar voz triste e lamentosa.
2. Uivar; ganir.
3. [Figurado] [Figurado] Gritar aflitivamente; queixar-se, gritando.
v. tr.
4. Exprimir, gritando lamentosamente. = VOCIFERAR
s. m.
5. Ululação, uivo.

Jardim de Getsémani

Grandfather and granddaughter, Lublin, 1937

presciência

 
s. f.
1. Qualidade de quem é presciente.
2. Pressentimento, previsão.

«Supões, como Fausto, que duas almas já são demais para um só peito, e a acabam por despedaçá-lo.»


Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 66

desnudação

«No entanto, no cúmulo da felicidade alcançada, Harry apercebeu-se subitamente de que a sua liberdade era uma morte, que estava sozinho, que o mundo o deixava sinistramente em paz, que ele próprio já não ligava nada às pessoas, aliás nem tão pouco a si próprio, que lentamente ia asfixiando numa atmosfera cada vez mais rarefeita de vedação e isolamento.»



Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 53

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Uma das características do Lobo das Estepes era ser um homem nocturno.

«Uma das características do Lobo das Estepes era ser um homem nocturno. Para ele a manhã era a pior hora do dia. receava-a e dela nunca lhe adviera nada de bom. Jamais, em manhã alguma da sua vida, estivera propriamente bem disposto, jamais, em hora alguma antes do meio dia, fizera qualquer coisa de bom ou tivera algum bom pensamento, jamais conseguira propiciar alegria a si próprio e a outros. Só com o decorrer da tarde ia lentamente aquecendo e animando, e fecundo, vivo, ocasionalmente ardente e jovial.»



Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 51/2
«Era infeliz a maior parte do tempo, isso não vamos negar, e sabia também fazer infelizes os outros, sobretudo quando gostava deles e eles de si.»


Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 49

Vieram-me então à memória os anos esquecidos da juventude...

«Vieram-me então à memória os anos esquecidos da juventude - como amava então essas noites sombrias e pesadas de outono e inverno tardio, e com que sofreguidão e embriaguês absorvia as impressões de solidão e melancolia!»


Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 35

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Este manuscrito

«Representa textualmente uma viagem através do inferno, viagem ora amedrontada, ora destemida, através do caos de um mundo espiritual obscurecido, empreendida com a firme determinação de cruzar o inferno de lés-a-lés, de oferecer o flanco ao caos, de suportar o mal até ao fim.»

Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 27

lucubração


nome feminino
1. trabalho intelectual nas horas destinadas ao repouso; serão; vigília
2. meditação profunda

(Do latim lucubratiōne-, «idem»)
«Não, estou convencido que não se suicidou. Ainda está vivo, arrastando algures as pernas cansadas para subir ou descer as escadas de casas em nada suas, fixando algures, deliciado, soalhos de parqué com lustro puxado e araucácias impecavelmente cuidadas, passando os dias nas bibliotecas e as noites nas cervejarias ou preguiçando nalgum divã alugado, sentindo pulsar para lá dos vidros o mundo e as pessoas, sabendo-se excluído - mas não se mata, porque um rasto de fé lhe diz que tem de beber até à última gota aquele cálice, aquela amaldiçoada dor que tem no coração, e que é esse sofrimento que tem de lhe dar a morte.»



Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 26

''Man purchasing herring, wrapped in newspaper, for a Shabbat meal,'' 1935–38

«Em vez de lhe aniquilarem a personalidade, apenas tinham conseguido ensiná-lo a odiar-se a si próprio.»

«Desde então e para toda a vida, era contra si próprio, contra esse objecto inocente e nobre que dirigia toda a genialidade da sua imaginação, toda a força da sua faculdade de pensamento, Pois ao desencadear antes de tudo e acima de tudo contra si próprio toda a acerbidade, todas as críticas, violências e repudiações de que se servia, era Cristo de pessoa inteira, era mártir de pessoa inteira. No que respeitava aos outros, ao mundo circundante, continuamente se esforçava, em luta das mais heróicas e sérias, por amá-los, fazer-lhes justiça, não lhes fazer mal, pois o ''amor ao próximo'' estava tão profundamente cravado nele como o ódio a si próprio; e assim toda a sua vida era um exemplo de que sem amor a si próprio também o amor ao próximo é impossível, que o ódio a si próprio é exactamente a mesma coisa que o egoísmo nu e cru, e acaba por gerar o mesmo sinistro isolamento, o mesmo desespero.»



Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 17

«Apercebi-me de que Haller era um génio do sofrimento e que, no sentido de várias afirmações de Nietzsche, acumulara em si uma capacidade de sofrimento genial, ilimitada e terrível. Ao mesmo tempo reconheci que a base do seu pessimismo não era o desprezo pelo mundo mas sim o desprezo por si próprio pois, por impiedosa e destrutiva que fosse a crítica de pessoas ou instituições, nunca se excluía a si próprio de tal tratamento, e era contra si próprio que em primeiro lugar apontava a sua flecha, era a si próprio que antes de tudo odiava e reprovava.»


Hermann Hesse. O Lobo das Estepes. Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 16

Harry Haller

«(...), e nas coisas do espírito mostrava a objectividade quase gelada, o sólido pensamento e o firme saber só próprio dos que são verdadeiramente intelectuais, despidos de toda a ambição, e jamais apostados em brilhar, persuadir ou ter a última palavra.»



Hermann Hesse. O Lobo das Estepes.  Tradução de Sara Seruya. Edições Afrontamento. 3.ª edição., p. 14
«Nasci em finais de época moderna, pouco antes de iniciar-se o retorno à Idade Média, sob o signo de Sagitário e a benévola influência de Mercúrio. O meu nascimento teve lugar num quente dia de Julho, à primeira hora do crepúsculo, e toda a vida gostei, e desejei inconscientemente, a temperatura daquela hora. Chorei-a dolorosamente quando me faltou. Nunca pude viver em países frios, e todas as viagens que fiz da minha livre vontade foram em direcção ao Sul.»



Hermann Hesse em 1972, época em que foi publicado O LOBO DAS ESTEPES

'Boys and Books' ca. 1935-1938

CIDADES (II)

     «Isto são cidades! Uma gente para quem foi produzido o espectáculo desses Apalaches e Líbanos de sonho. Chalés de cristal e de madeira que se deslocavam sobre linhas férreas e roldanas invisíveis. As velhas crateras, cingidas de colossos e palmeiras de cobre, rugem melodiosamente nas fornalhas. Festins de amor ressoam sobre canais suspensos nas traseiras dos chalés. Um mecanismo de carrilhões brada nas gargantas. Corporações de cantores gigantes acorrem em tranjos e auriflamas tão deslumbrantes como a luz dos cimos. Sobre plataformas, no meio dos abismos, Rolandos proclamam a sua bravura. Nas pontes suspensas sobre o precipício e nos telhados de retiros erótico-gastronómicos, a ardência do céu embandeira em arco. O desabar das apoteoses regressa às regiões celestes onde seráficas fêmeas de centauros dançam entre as avalanchas. Para lá das mais altas cristas, um mar revolto, carregado de frotas orfeónicas e do rumor das pérolas e dos búzios preciosos, perturba-se com o eterno nascimento de Vénus -, por vezes, o mar atravessa momentos sombrios com um mortal estrépido. Pelas encostas, bramem colheitas de flores, grandes como as nossas armas e as nossas taças. Das ravonas, emergem cortejos de Mabs vestidas de ruivo, de opalino. Lá no alto, com as patas metidas entre cascatas e silvas, os veados mamam em Diana. As Bacantes da periferia soluçam, enquando a lua incendiada uiva. Vénus penetra nas caveras dos ferreiros e dos eremitas. Campanários em bandos cantam os ideários dos povos. De castelos feitos d'ossos, exala-se a melodia desconhecida. Entram em evolução todas as lendas e ímpetos do entusiasmo saem desalmados às ruas da cidade. Soçobra o paraíso das tempestades. Os selvagens, ininterruptos, dançam a festa da noite. E, por uma hora, misturei-me ao bulício de um bulevar de Bagdad onde vários bandos cantaram a alegria do trabalho do novo, debaixo de uma brisa densa, circulando sem conseguir fingir que não viam os fantasmas fabulosos dos montes onde nós devíamos encontrar.
    Que braços aprazíveis, que feliz hora me voltarão a dar esse mundo de onde me vêm os sonos e todos os movimentos, mesmo os imperceptíveis?»






Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p. 73/5

pálio rico

vestimenta nova e luxuosa, fato novo

euménide

nome feminino
 
1. MITOLOGIA cada uma das três Fúrias que, segundo a mitologia, atormentavam as almas dos condenados no Inferno
2. figurado remorso; pungir da consciência

(Do grego Eumenídes, «Euménides», pelo latim Eumenĭdes, «idem»)

''frágeis parapeitos''

(...) «Temos fé no veneno. Sabemos dar todos os dias a nossa vida por inteiro.
      Eis chegado o tempo dos fumadores de haschisch.*»


*Traduzido literalmente, dos assassinos. (N.T.)



Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p. 59

Roman Vishniac, Ghetto St., Cracow, ca. 1935-38

inarmonia

VIDAS

I

  Oh!, as extensas áleas da terra sagrada, as esplanadas do templo! Que destino deram ao brâmane que me explicou os Provérbios? De então, e desse país, revejo ainda tudo, as velhas, inclusive! Recordo-me das horas de prata e de sol a declinar para os rios, a mão dos campos pousando-se-me sobre os ombros, e das nossas carícias, de pé, nas planícies salgadas. - Uma revoada de pombas escarlates brada em volta do meu pensamento. - Exilado aqui, dispus de um palco onde representar as obras-primas dramáticas de todas as literaturas. Sublinharia, só para vós, essas riquezas inesquecíveis. Atento na história dos tesouros que haveis encontrado. Prevejo já a sequência e a consequência! A minha sabedoria é tão desprezada como o caos. O que é o meu nada comparado com a estupefacção que vos espera?

 II

   Sou o inventor em que nada desmereço, antes pelo contrário, de quantos me precederam; inclusivamente de um músico que tivesse encontrado a clave do amor. Agora, que sou morgado de terras ácidas sobre um céu parco, tento emocionar-me com a lembrança de uma infância de mendigo, dos anos de aprendizagem ou da chegada em tamancos, das discussões, das cinco ou seis vezes que enviuvei, e de algumas pândegas onde a minha cabeça de mula me impediu de vibrar em uníssono com os camaradas. Não me arrependo do quinhão que, em tempos, tive da alegria divina: a atmosfera frugal destas terras ácidas nutre intensamente o meu cepticismo atroz. Mas, como esse cepticismo não pode mais ser posto em prática, e dado ter-me entregue a uma nova inquietação - estou à espera de me tornar um louco particularmente maligno.

III

   Num sótão onde fui trancado, tinha eu doze anos, fiquei a conhecer o mundo, ilustrei a comédia humana. Num celeiro aprendi a história. Numa qualquer festa nocturna, numa cidade do Norte, encontrei todas as mulheres dos pintores passados. Numa velha galeria de Paris, fui introduzido nas ciências clássicas. Numa mansão magnífica rodeado pelo Oriente inteiro, realizei uma imensa obra e passei uma reforma ilustre. Revolvi o meu sangue, de lés a lés. Foi-me reconhecida a missão que me cabia. É ponto assente, e do passado. Pertenço realmente ao mundo trespassado, chega de mandatos.



Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p. 49/51

OSTENTAÇÃO

      Cabeças ocas espadaúdas. Muitos deles exploram os vossos mundos. Frugais, e nada apressados em pôr a funcionar as suas brilhantes faculdades e a experiência que têm das vossas consciências. Que homens experientes que eles são! Olhos atónitos como noites de verão, vermelhos e negros, tricolores, olhos de aço picotados de estrelas d'oiro; rostos disformes, plúmbeos, pálidos, incendiados; rouquidões zombeteiras! O modo cruel de andar dos ouropéis! - Alguns são novos - , como encarariam eles Querubim? - dotados de vozes aterradoras e de alguns truques perigosos. São mandados pavonear-se pela cidade, com trapos de um luxo repugnante.
      Oh, o mais violento Paraído do esgar colérico. Nada que se compare com os vossos faquires, e outras truanices cénicas. Em fatiotas improvisadas ao gosto do sonha mau, representam lamúrias, tragédias de malandrins e de etéreos semideuses, como a história ou as religiões jamais foram. Chineses, hotentotes, ciganos, néscios, hienas, Molochs, demências de antanho, demónios sinistros, misturam as rábulas populares, maternais, com as poses e as ternurices de besta. Interpretam novos trechos e canções inofensivas de raparigas. Mestres em prestigitação, transformam as pessoas e os sítios, sem esquecer a comédia hipnótica. Os olhos cospem chamas, o sangue canta, os ossos expandem-se, escorrem lágrimas e fios vermelhos. A chacota que fazem ou o terror que causam dura um minuto, ou meses inteiros.
      Só eu tenho a cifra desse pavonear selvagem.




Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p. 43
   «Pode-se aceder ao êxtase pela destruição, rejuvenescer com a crueldade! O povo não rosnou. Ninguém se prestou a dar opinião.»


Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p. 41
«Caía sem sobreaviso sobre as pessoas deixando-as dispersas, aos pedaços.»


Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p. 41

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

         «Um homem que sabe do seu ofício é apreciado sempre e em toda a parte.»


Ernst Jünger. Eumeswil. Tradução de Sara Seruka com a colaboração de João Barrento para a Tradução dos Poemas. Editora Ulisseia., p. 31

''Poesia sem perdão ou esquecimento.''




Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 130

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Velho ditado

«Se não queres ser roubado sem clemência,
Esconde o teu ouro, a tua fé, a tua ausência.»


Ernst Jünger. Eumeswil. Tradução de Sara Seruka com a colaboração de João Barrento para a Tradução dos Poemas. Editora Ulisseia., p. 24
«As nuvens cinzentas acumulavam-se sobre o alto mar, todo ele feito de uma eternidade de lágrimas amargas.»



Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 35

calvário

(...) « Águas e tristezas, cresçam, e alteai os Dilúvios.»


Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p.

céus de brasas

meandros

«Eu olho, e a mulher é a palavra.»


Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 109

«A mulher senta-se no tempo e a minha melancolia
pensa-a, »

Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 108

                  «Amanhã vou morrer. Tenho
vinte e nove bocas urdindo
a falsa doçura da confusão.»


Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 97

''A colher de súbito cai no silêncio da língua.''

Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 86

subtil

«Porque as ervas têm pálpebras abertas
sobre estas imagens tremendamente puras.»


Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 85

segunda-feira, 28 de novembro de 2011


«Mãe, pouco resta de ti na exaltação deste mundo. Às
            vezes
misturas-te um pouco nos terrores da noite ou olhas-me,
vertiginosa e triste,
através das palavras impuras da minha vida
de poeta.»



Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 74
« - Trazem liras nas mãos, trazem nas mãos brutais
pequenos cravos de ouro ou peixes delicados
de música fria.»




Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 59

''pessoas invasoras e quentes''


«o peixe que vai nadando até se consumar em lento
lírio.»


Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 50

«FEDIA - Não temo ninguém porque sou um cadáver.»


Leão Tolstoi. O Cadáver vivo. Círculo de Leitores, Lisboa, 1980., p. 233
LIZA (Sorrindo.) - (...)  Mas não me impeça...não me impeças de dizer o que sinto. O que mais me atormentava era sentir que gostava de dois homens. Porque isto significava que sou uma mulher sem moral.»



Leão Tolstoi. O Cadáver vivo. Círculo de Leitores, Lisboa, 1980., p. 205

«Suicidar-te-ás para que eles, esses dois entes, tenham piedade de ti. E eu ... matar-me-ei para que o mundo compreenda o que perdeu.»



Leão Tolstoi. O poder das trevas seguido de O Cadáver vivo. Círculo de Leitores, Lisboa, 1980., p. 200
«Mas para nós, cujos cabelos já vão embranquecendo, é-nos difícil compreender a juventude.»


Leão Tolstoi. O poder das trevas seguido de O Cadáver vivo. Círculo de Leitores, Lisboa, 1980., p. 183

domingo, 27 de novembro de 2011

«É para mim demasiado doloroso olhá-la nos olhos. E para ela também...Acredita no que te digo.»


Leão Tolstoi. O poder das trevas seguido de O Cadáver vivo. Círculo de Leitores, Lisboa, 1980., p. 174
« - E o poema faz-se contra o tempo e a carne.»


Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 41

          (...)                      « e eu caminho pelas ruas frias com
o místico desejo do teu corpo.»

Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 39

flor de giesta

''traz da montanha um pássaro de resina''

                             «O meu desejo traz
o perfume da tua noite.»


Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 37

salina castidade


« e a tua boca penetra a minha voz como a espada
se perde no arco.»



Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 31
«Beberei sua boca, para depois cantar a morte
e a alegria da morte.»




Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 30

O AMOR EM VISITA


Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lúbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.

Cantar? Longamente cantar.
Uma mulher com quem beber e morrer.
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave
o atravessar trespassada por um grito marítimo
e o pão for invadido pelas ondas,
seu corpo arderá mansamente sob os meus olhos palpi-
                tantes,
ele - imagem inacessível e casta de um certo pensa-
               mento
de alegria e de impudor.
Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido por flores com água.

(...)


Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 29
«Se a busco? Esfaimadamente a busco,
tacteando com a memória a forma com que era
nas noites de amor.»



Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 24

«Humildemente teço minhas palavras gratas
sobre a bela ferocidade
da vossa carne, ergo minha taça,
oiço o rumorejar oculto da fonte.
Humildemente dissipo a solidão, aceito o vosso apelo de
          esperma,
mereço a poesia.

Humildemente repudio a morte.»



Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 19

«Transforma-se o amador na coisa amada»

«Transforma-se o amador na coisa amada» com seu
feroz sorriso, os dentes,
as mãos que relampejam no escuro. Traz ruído
e silêncio. Traz o barulho das ondas frias
e das ardentes pedras que tem dentro de si.
E cobre esse ruído rudimentar com o assombrado
silêncio da sua última vida.
O amador transforma-se de instante para instante,
e sente-se o espírito imortal do amor
criando a carne em extremas atmosferas, acima
de todas as coisas mortas.

Transforma-se o amador. Corre pelas formas dentro.
E a coisa amada é uma baía estanque.
É o espaço de um castiçal,
a coluna vertebral e o espírito
das mulheres sentadas.
Transforma-se em noite extintora.
Porque o amador é tudo, e a coisa amada
é uma cortina
onde o vento do amador bate no alto da janela
aberta. O amador entra
por todas as janelas abertas. Ele bate, bate, bate.
O amador é um martela que esmaga.
Que transforma a coisa amada.

Ele entra pelos ouvidos, e depois a mulher
que escuta
fica com aquele grito para sempre na cabeça
a arder com o primeiro dia do verão. Ela ouve
e vai-se transformando, enquanto dorme, naquele grito
do amador.
Depois acorda, e vai, e dá-se ao amador,
dá-lhe o grito dele.
E amador e a coisa amada são um único grito
anterior do amor.

E gritam e batem. Ele bate-lhe com o seu espírito
de amador. E ela é batida, e bate-lhe
com o seu espírito de amada.
Então o mundo transforma-se neste ruído áspero
do amor. Enquanto em cima
o silêncio do amador e da amada alimentam
o imprevisto silêncio do mundo
                                                 e do amor.




Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 16/7
«Falemos de casas como quem fala da sua alma,
entre o incêndio,
junto ao modelo das searas,
na aprendizagem da paciência de vê-las erguer
e morrer com um pouco, um pouco
                                                         de beleza.



Herberto Helder. A colher na boca. Edições Ática., p. 15

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O ouro encarnava o sol

Cortejar as boas graças

«Cortejar as boas graças»: também isto é uma arte. A expressão deve ter sido inventada por alguém que teve a mesma sorte da raposa com as uvas. É verdade que, uma vez o cortejador com assento no gabinete, as coisas modificam-se. A massa é como a amante, que se entrega de bom grado ao senhor, mal se lhe abre a porta da sua alcova.»




Ernst Jünger. Eumeswil. Tradução de Sara Seruka com a colaboração de João Barrento para a Tradução dos Poemas. Editora Ulisseia., p. 14
«Os caçadores têm especial prazer em matar o belo.»


Ernst Jünger. Eumeswil. Tradução de Sara Seruka com a colaboração de João Barrento para a Tradução dos Poemas. Editora Ulisseia., p. 13
«Se ficas a saber tudo, em pouco tempo pões-te velha.»



Leão Tolstoi. O poder das trevas seguido de O Cadáver vivo. Círculo de Leitores, Lisboa, 1980., p. 108

20 de Janeiro ou 30 anos

A tua idade enche-me de medo
defende-te e acusa-me.
ignoras o vento da tormenta
com o seu fardo, mas paira sobre ti
o favor de uma musa que volto a encontrar
no rosto. Ao acaso iremos traduzir
amanhã alguns versos de Emily
em conjunto. E virás
com o teu casacão azul-cobalto.
Alma viva, sabes dar-me vida
a mim que ignoro e ando às cegas
num tempo que voa
com os teus trinta anos.





Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 325

Count Lev Nikolaevich / LeoTolstoy and Sofia Andreevna Tolstaya in Tolstoy's study in 1907 at Yasnaya Polyana, 200 kilometres south of Moscow

Ser em cada culpa a inocência de tudo

terça-feira, 22 de novembro de 2011

lábios devotos

Cedo ou Tarde

Desde criança acreditei que não é o homem
que se move mas o cenário, a paisagem.
Foi quando, imóvel, vi desenrolar-se
o lago de Lugano, no vaudeville
de um tal Dall ' Argine que provavelmente
em homenagem a si mesmo, nomen omen,
não deixou nunca a margem. Depois dei-me conta
do meu pueril engano e agora sei
que volante ou pedestre, estase ou movimento
em nada diferem. Há quem goste de
beber a vida gota a gota ou a jorros;
mas a garrafa é a mesma, não se pode
enchê-la quando se esvazia.



Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 291

A forma do mundo

Se o mundo tem a estrutura da linguagem
e a linguagem tem a forma da mente
a mente com os seus cheios e os seus vazios
é nada ou quase nada e não nos tranquiliza.

Assim falou Papirio. Estava já escuro
e chovia. Vamos para um sítio seguro
disse e apressou o passo sem se aperceber
que falava a linguagem do delírio.





Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 281

sobre a felicidade


«Tem um preço demasiado alto, não é para nós e quem a tem
não sabe o que fazer com ela.»


Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 255
«Chove
de um céu que não tem
nuvens.»




Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 247

domingo, 20 de novembro de 2011

«ANISIA - É bem verdade o que dizem do pudor das raparigas: não passa da soleira da porta. Uma vez atravessada a porta, tudo se esquece! Que grande descarada!»




Leão Tolstoi. O poder das trevas seguido de O Cadáver vivo. Círculo de Leitores, Lisboa, 1980., p. 64
8

«E o paraíso? Existe um paraíso?».
«Creio que sim, minha senhora, mas os vinhos doces
já ninguém os quer».





Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 233
5

«Desci, dando-te o braço, pelo menos um milhão de escadas
e agora que já cá não estás é o vazio em cada degrau.
Mesmo assim a nossa longa viagem foi breve.
A minha ainda dura, mas já não me acontecem
as coincidências, as reservas,
as ciladas, os dissabores de quem crê
que a realidade é aquilo que se vê.

Desci milhões de escadas dando-te o braço
e não porque com quatro olhos talvez se veja mais.
Contigo desci-as porque sabia que nós os dois
as únicas verdadeiras pupilas, ainda que ofuscadas,
eram as tuas.»



Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 233

«Dizem que a poesia no seu cume
glorifica o Todo em fuga,»


Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 229

ustório


adjectivo
1. que queima
2. que inflama

(Do latim ustu-, «queimado» +-ório)
«Não sei como extenuada tu resistes
neste lago
de indiferença que é o teu coração; talvez
te salve um amuleto que guardas
junto ao bâton dos lábios,
à borla do pó-de-arroz, à lima das unhas: um ratinho branco,
de marfins; e é assim que existes!»



Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 161

extenuar

verbo transitivo
causar grande cansaço a; enfraquecer
verbo pronominal
1. debilitar-se
2. gastar-se
(Do latim extenuāre, «enfraquecer; tornar ténue»)
«A tua agitação faz-me pensar
nas aves de arribação que vão contra os faróis
nas noites de tempestade:
também a tua doçura é uma tempestade,
rodopia e não aparece,
e as suas pausas são também mais raras.»




Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 159
«regressa ao caminho onde contigo me entristeço,
àquele que apontou um chumbo seco
às minhas, às tuas noites:
volta às primaveras que não florescem.»




Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 155

                                        «Hoje volto
até junto de vós mais forte, ou estarei enganado, se bem que o coração
pareça abrir-se em recordações ledas e atrozes.»



Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 139

''duas camélias pálidas''

pélago


nome masculino
1. mar alto
2. profundidade do mar
3. figurado abismo; voragem
4. figurado imensidade
(Do grego pélagos, «idem», pelo latim pelăgu-, «idem»)

sábado, 19 de novembro de 2011

samovar

nome masculino
utensílio de cobre ou de latão, de origem russa, com que se aquece a água para preparar o chá e que é munido de uma pequena fornalha de carvão vegetal

(Do russo samowar, «que ferve por si próprio», pelo francês samovar, «idem»)
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