domingo, 13 de novembro de 2011

tição

nome masculino
1. pedaço de lenha aceso ou meio queimado
2. brasa
3. carvão
4. figurado, popular pessoa muito suja ou enfarruscada
5. figurado, popular pessoa muito morena ou muito escura
(Do latim titiōne-, «idem»)
«Não tenho sentidos; nem sentimento. Não tenho limite.»


Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 111

«ANTIGO, fico embriagado pela voz
que sai das tuas bocas quando se abrem
como verdes sinos e voltam
para trás desaparecendo.
A casa dos meus longínquos estios
ficava a teu lado, como sabes,
naquela terra onde o sol abrasa
e os mosquitos soltam nuvens pelos ares.
Agora como então emudeço na tua presença,
mar, e não me acho digno já
do solene ensinamento
da tua respiração. Foste o primeiro a dizer-me
que o ínfimo fermento
do meu coração era apenas um momento
do teu; que eu tinha bem fundo
a tua audaciosa lei: ser vasto e diferente
e ao mesmo tempo constante:
e esvaziar-me assim de toda a sujidade
como tu fazes quando lanças nas areias
entre cortiças algas e estrelas do mar
os inúteis despojos do teu abismo.»



Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 101

«Na idade de ouro florida nas margens felizes
também um nome, uma veste, eram um vício.»



Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 91

efígie


nome feminino
1. representação ou imagem de uma pessoa
  2. figura de personagem importante representada em moeda ou medalha
3. retrato


  (Do latim effigĭe-, «idem»)

fulmíneo


adjectivo
1. relativo a raio
2. figurado brilhante ou destruidor como o raio

(Do latim fulminĕu-, «idem»)

«ébria sede»

      (...)

«                                     Ardes
também tu entre as lages do estio,
coração que desfaleces! E de maneira incauta
ensaias novas notas na tua flauta.»




Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p. 57

sábado, 12 de novembro de 2011

vergastadas

enraíza

«A morte é outra espera.»



Miguel de Unamuno. Creio no futuro. Textos, traduzidos e dispostos ritmicamente por Manuel Simões. Editorial A. O., Braga, p. 106

«É muita a água deste mar,
Tenho fogo no coração.»


Miguel de Unamuno. Creio no futuro. Textos, traduzidos e dispostos ritmicamente por Manuel Simões. Editorial A. O., Braga, p. 97

TUDO PASSA

«LEMBRO-ME que te lembrava
E já teu nome me tortura.

Assim o que amamos decorre,
Assim passa assim acaba
E surge a nova ventura.

Assim se esquece,
Assim se morre.»




Miguel de Unamuno. Creio no futuro. Textos, traduzidos e dispostos ritmicamente por Manuel Simões. Editorial A. O., Braga, p. 83
«Não adoeça o coração
De esperar.»

Miguel de Unamuno. Creio no futuro. Textos, traduzidos e dispostos ritmicamente por Manuel Simões. Editorial A. O., Braga, p. 70
«Nascer é outra morte,
Morrer um nascimento,»


Miguel de Unamuno. Creio no futuro. Textos, traduzidos e dispostos ritmicamente por Manuel Simões. Editorial A. O., Braga, p. 64
«No silêncio dos céus arde
           O Verbo criador,»




Miguel de Unamuno. Creio no futuro. Textos, traduzidos e dispostos ritmicamente por Manuel Simões. Editorial A. O., Braga, p. 53
« - Não busques sonhos perdidos.»



Miguel de Unamuno. Creio no futuro. Textos, traduzidos e dispostos ritmicamente por Manuel Simões. Editorial A. O., Braga, p. 44

assalariamento

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ADÃO ONDE ESTÁS?

«TREME a terra das almas; range
A humanidade; agacham-se os povos,
Escurece o céu e nas nuvens
Forja-se o raio das noites claras
De tempestade; a génese do mundo
Alumia outra vez o abismo do nada.

As estrelas já não guiam como outrora
O navegante. Quem espera o sol?

E levanta-se do fundo do abismo
O sussurro de Deus quando chamava:
- («Adão, Adão» e o homem se escondia
Por detrás da mulher angustiada,
Envergonhado, nu e temeroso,
Vendo a sua sombra nas eternas águas.

Nuvens escuras sobem desde a terra
Levam ao alto a negra catarata
Que rebenta nos ares e o dilúvio
Varre cidades, lava o pó caído.

Prossegue o lodo subjugando a luz,
A história foge e o milagre passa.»




Miguel de Unamuno. Creio no futuro. Textos, traduzidos e dispostos ritmicamente por Manuel Simões. Editorial A. O., Braga, p. 37/8

esfinge

nome feminino
 
1. MITOLOGIA monstro fabuloso com rosto de mulher, corpo de leão e asas de ave de rapina, que propunha enigmas, devorando todos aqueles que não os decifrassem
2. representação desse monstro
3. na arte egípcia, estátua de leão deitado com cabeça humana que representa uma divindade
4. figurado pessoa calada ou impenetrável
5. figurado mistério; enigma

(Do grego sphígx, monstro que estrangulava, pelo latim sphinge-, «esfinge»)

APELO

«MAIS perto...mais...
Arranca-me de mim
Que me afundo
No meu nada.

Dá-me a minha alma,
Que sem alma
Para que quero eu o mundo?»



Miguel de Unamuno. Creio no futuro. Textos, traduzidos e dispostos ritmicamente por Manuel Simões. Editorial A. O., Braga, p. 22

REPOUSO CORDIAL

«Já trespassado de golpes,
Coração, a tua polpa
Macerada no martírio
Em doçura amadurece.

Depois te farás terriço
Que adubará no sepulcro
A semente que criaste
Para eterna carnadura.

Benditos golpes; são beijos
Dessa pura e santa boca
De Deus nosso Pai terrível;

Beijos que matam de angústia
De amor que adivinha a morte
E chupa o sangue da alma.

Furioso acometias,
Coração, e a tua fúria
Valeu-te o seres batido.

Repassado de doçura
Descansarás feito terra
Na terra que foi teu berço.

A terra será teu céu
E o céu será teu berço.»



Miguel de Unamuno. Creio no futuro. Textos, traduzidos e dispostos ritmicamente por Manuel Simões. Editorial A. O., Braga, p. 20

A FÉ E A NOITE

«SONHEI  que acabava o sonho
E acordei. Fazia escuro;
Não via estrelas nem lua
Estava sozinho no mundo.

Voltei para trás o olhar
Perdi a fé por não ver;
Ganhei-a ao olhar em frente
Pois só se crê no futuro.



Miguel de Unamuno. Creio no futuro. Textos, traduzidos e dispostos ritmicamente por Manuel Simões. Editorial A. O., Braga, p. 16

COMBATE SEM FIM

OLHA, Josué, não te enganes,
Não pares  sol, a luta;
Mas deixa correr as horas
Pois cada hora é a última.

Também se luta de noite,
E dormindo se duvida;
Também morrendo se vive,
Não há resposta sem pergunta.

«Não podeis ir aonde eu vou» (1)
Dizia Jesus à turba.
E disseram os Judeus:
- Irá ele suicidar-se?

Nem Quem Faz se suicida
Nem se apaga o sol; sepulta
O lume debaixo da terra
E alumia-lhe as entranhas.

Josué deixa que a noite
A paz do berço nos traga;
Amanhã é outro dia,
São o mesmo sempre e nunca.


Miguel de Unamuno. Creio no futuro. Textos, traduzidos e dispostos ritmicamente por Manuel Simões. Editorial A. O., Braga, p. 11

«na fronteira do Céu»

«fome de ser mais, fome de Deus, fome de amor eterno»



Miguel de Unamuno. Creio no futuro. Textos, traduzidos e dispostos ritmicamente por Manuel Simões. Editorial A. O. - Braga

almas de fogo

«É o coração que sente a Deus e não a razão» (Pens. 278) disse arriscadamente Pascal, já que o coração tem razões que a razão não conhece » (Pens, 277).»

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

reabrir a ferida

« Se muitos foram os benefícios que recebemos de uma pessoa, é justo suportar os desprazeres que dela nos vêm.

Terêncio. A Sogra. Textos Clássicos - 26. Introdução, versão do latim e notas de Walter de Medeiros. Instituto Nacional de Investigação Científica., p.129

Refugees gathering their belongings to take aboard the British ship, May 1948.

''saborear o gosto amargo do sacrifício''


«Báquis olha angustiada à sua volta: sente-se desesperadamente sozinha naquele passo doloroso que se obrigou a dar.»

Terêncio. A Sogra. Textos Clássicos - 26. Introdução, versão do latim e notas de Walter de Medeiros. Instituto Nacional de Investigação Científica., p.123

Báquis

«Nos olhos passa uma memória de saudade, reprimida: quanto basta para mitigar a dor de uma afirmação.»



Terêncio. A Sogra. Textos Clássicos - 26. Introdução, versão do latim e notas de Walter de Medeiros. Instituto Nacional de Investigação Científica., p.118
«Cuidas que podes encontrar alguma mulher que esteja isenta de erros?...     Também não fazem asneiras, se calhar, os homens?!... »



Terêncio. A Sogra. Textos Clássicos - 26. Introdução, versão do latim e notas de Walter de Medeiros. Instituto Nacional de Investigação Científica., p.107
«Agora só tenho uma preocupação - e é a maior de todas: que a minha velhice, à medida que avança, não seja um tropeço para ninguém...nem se ponham a esperar a minha morte.»



Terêncio. A Sogra. Textos Clássicos - 26. Introdução, versão do latim e notas de Walter de Medeiros. Instituto Nacional de Investigação Científica., p.99

vagido

nome masculino
1. choro de criança recém-nascida
2. figurado gemido, lamento
(Do latim vagītu-, «idem»)

pirrónico

adjectivo
 
1. relativo a Pírron, filósofo grego (365-275 a. C.), ou à sua escola
2. que duvida ou finge duvidar de tudo
3. figurado teimoso; obstinado

(Do grego Pyrron, antropónimo +-ico)
«Mas eu vos digo que todo aquele que olha uma mulher e a deseja já cometeu adultério com ela no seu coração. Por isso, se o teu olho direito for a causa do teu pecado, arranca-o e lança-o fora, porque é melhor para ti a perda de um membro do que deixares todo o teu corpo ser precipitado no inferno.»

(S. Mateus, cap. V. 28  e 29)

terça-feira, 8 de novembro de 2011

« (...) e o eterno trabalho do tempo que faz desaparecer a própria memória e até a memória da
memória, num contínuo vórtice que vai da solidão ao vazio, ao nada;»


no Prefácio

Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p.26

(«Sobre el vulcán la flor»)

Sóstrata

«Sóstrata é uma pobre alma desolada e só. Uma alma que nunca saberá sequer o porquê da sua solidão e do seu sofrimento.»


na introdução



Terêncio. A Sogra. Textos Clássicos - 26. Introdução, versão do latim e notas de Walter de Medeiros. Instituto Nacional de Investigação Científica., p.17
«As pessoas caminham, parece que se encontram, parece que se falam, mas não se ouvem, não se entendem.»


na introdução



Terêncio. A Sogra. Textos Clássicos - 26. Introdução, versão do latim e notas de Walter de Medeiros. Instituto Nacional de Investigação Científica., p.16

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

«(...), não compreenderam nada, já compreenderam tudo.»


José Saramago. A Noite. Editorial Caminho. Colecção ''O Campo da Palavra''. Lisboa, 1979., p. 113
JOSEFINA
(Insinuante)


«(...) O Torres, imagine-se, com a cara que tem, de quarta-feira de Cinzas, a rir-se.»



José Saramago. A Noite. Editorial Caminho. Colecção ''O Campo da Palavra''. Lisboa, 1979., p. 64

VOZ DO LOCUTOR

Grândola, vila morena / Terra da fraternidade /
O povo é quem mais ordena / Dentro de ti, ó cidade

(Ranger forte das botas na terra. A voz de José Afonso começa a cantar.)


VALADARES

(Que primeiro pareceu aturdido, vem à boca de cena,
         desvairado, tapando os ouvidos)

Desliga-me isso!

(É um grito de quem não sabe, seria o grito de quem soubesse.)

(Corte súbito de som. Escuridão.)



FIM DO PRIMEIRO ACTO



José Saramago. A Noite. Editorial Caminho. Colecção ''O Campo da Palavra''. Lisboa, 1979., p. 58
TORRES
(Interrompendo)

  A primeira coisa que vai já registar ma sua memória, e definitavmente, é que já não preciso da sua pena para nada. E é só porque eu hoje me sinto benevolente, que não lhe faço engolir doutra maneira a palavrinha. Ande lá, e não repita. (Pausa.) A segunda coisa é que não me deu nenhuma novidade quando me disse que sou um homem. Devo dizer-lhe, muito em confidência, que tenho reparado. Sou-o desde que nasci, mas, felizmente, creio que não me contentei com os sinais exteriores: dei um jeito para ser um bocadito mais homem quando comecei a pensar.

VALADARES

O assunto é outro, com menos literatura. Não se ponha a divagar.

TORRES

Tem toda a razão, o assunto é outro. Se sou redactor da província, se escolhi ser redactor da província, se Vocês todos ficaram felicíssimos porque eu decidi ser redactor da província, a razão é não querer eu escrever uma linha só que seja que, directamente ou indirectamente, faça o joguinho do regime, pois é para isso que existe este jornal...

VALADARES
(Ironia fácil)

Que lhe paga...

TORRES

Mais uma vez tem razão. Parabéns. Mas acontece que o único dinheiro que recebo é o que no fim do mês vou buscar lá abaixo, à tesouraria. Nem mais um tostão. Nem tenho cheques de embaixada, nem gratificações especiais e secretas de ministérios, nem sobrescritos misteriosos, nem outras ajudas de custo que não sejam as fixadas no regulamento do jornal, etc., etc., etc. E não desejo outra vida.

VALADARES

Você está a fazer insinuações?

TORRES

Vejo que não me compreendeu. Estou a fazer afirmações.

VALADARES

Se é a mim que pretende atingir...

TORRES

Sentiu-se atingido? Se se sentiu atingido, teme a afirmação como tendo que ver consigo. De qualquer maneira, não faltará  por aí quem enfie esta carapuça e outras que eu não disse. (Mudando de tom.) Ouça, Valadares, esta conversa é estúpida, e eu embirro com conversas estúpidas. Nem eu lhe estou a dar novidades, nem Você a mim. Diga aonde quer chegar, e acabemos com o paleio...




José Saramago. A Noite. Editorial Caminho. Colecção ''O Campo da Palavra''. Lisboa, 1979., p. 48/9

John Glubb and his wife feeding pigeons. Israel. April 1948.

« 22 - Persuade-te que tudo é opinião e a opinião de ti depende. Elimina, quando quiseres, a tua opinião e, tal um navio que dobrou o cabo, encontrarás logo bom tempo, todos os elementos acalmados e uma enseada ao abrigo das vagas.»



Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 153

« 17 - Se não é conveniente, não o faças; se não é verdade, não o digas: pertençam-te todas as iniciativas!»


Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 152

«E a razão é que andamos sempre cheios das apreensões sobre o que os outros pensam de nós; e não do que nós mesmos pensamos.»

Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 150
33 - «Procurar um figo na árvore, no Inverno, é loucura: o mesmo é reclamar o filho que a morte levou.»

Epicteto, Conversações, III, 24, 86-87



34 - «Ao abraçares o teu filho, é bom dizer para contigo: talvez amanhã já não existas. - Que presságio sinistro nestas palavras! - Nada de sinistro há aí, a simples indicação dum facto natural. Será um presságio sinistro dizer que as searas são para se ceifarem?»

Epicteto, Conversações, III, 22, 105.



Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 147
30 - «Nasceste escravo, não tens direito à palavra».


Fragmento dum poeta trágico



Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 146

' (...) começa a ser um homem enquanto tens tempo'

Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 143
« (...); mas o homem é ele que se separa do seu próximo quando lhe vota ódio ou aversão, sem ver a triste consequência de se amputar ao mesmo tempo de todo o corpo social.»


« Em suma, não podemos comparar o raminho que continuou a crescer e a respirar na espessura da árvore com o ramo enxertado após ter sido arrancado, por mais que digam os jardineiros. Crescer sobre o mesmo tronco, mas não professar os mesmos princípios.»


Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 138/9
« 1 - Características da alma racional: ver-se a si mesma, analisar-se, moldar-se conforme à ideia de que de si concebe. »

Livro XI

Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 136

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Iníquo

adjectivo
1. contrário à equidade; injusto
2. perverso; mau

(Do latim iniqŭu-, «idem»)

''o beijo de Judas''

Porque as mulheres na solidão emurchecem

«Porque as mulheres na solidão emurchecem; os seios começam a pender-lhes, sobre o lábio cresce-lhes o buço e, de noite, ao adormecerem, sentem frio.»



Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 10

Os seus corpos

«Os seus corpos, as suas almas tinham tomado a cor e a dureza das pedras, que parecia terem-se tornado uma parte deles mesmos; juntos suportavam a chuva, a canícula, a neve, como se tudo fossem homens, como se tudo fossem pedras. Quando um homem e uma mulher se isolavam dos outros, o padre vinha e os casava, não tinham palavras ternas para dizer, nem as conheciam; mudos, uniam os seus corpos sob a manta de rude lã e só pensavam numa coisa: gerar filhos, para lhes transmitirem essas pedras, essas montanhas, e a fome.»



Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 10
Fala Deus

Quem me procura, encontra-me.
Quem me encontra, conhece-me.
Quem me conhece, ama-me.
Amo a quem me ama.
Destruo quem amo.



SIDNA ALI
(Místico muçulmano do séc. IX)



Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor,  Lisboa
«Politicamente, é um erro queimar pontes que não temos a certeza de não precisar a vir a passar.»



José Saramago. A Noite. Editorial Caminho. Colecção ''O Campo da Palavra''. Lisboa, 1979., p. 37
TORRES
(Tranquilamente, para Cláudia)


    Se há coisas que eu aprecie, é o espírito, a ironia subtil, o humor intelectual.


CLÁUDIA

(Compreendendo)



Eu também, mas não tenho muitas oportunidades. Talvez o defeito seja meu, não alcanço...



José Saramago. A Noite. Editorial Caminho. Colecção ''O Campo da Palavra''. Lisboa, 1979., p.28/9
TORRES


«É, o homem escreve mal, mas, também, em troca do nada que lhe pagam, não tem obrigação de escrever melhor. A mim, o que me espanta não é o que os correspondentes da província escrevam quase todos mal, é a santíssima e inesgotável paciência que têm. Mandam vinte notícias, publica-se uma. Escrevem cem linhas, reduzimos a dez. Ou são masoquistas, ou têm vocação de mártires. Mas olhe que, quanto a escrever mal, não falta por aí quem escreva tão mal ou pior do que eles, e com muito maiores responsabilidades.»


José Saramago. A Noite. Editorial Caminho. Colecção ''O Campo da Palavra''. Lisboa, 1979., p.19

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Amor estéril


« 36 - Ao fim e ao cabo, a podridão é que se encontra em último termo de tudo o que é material: da água, do pó, das ossadas, no remate duma infecção; ou por outra: o mármore que é? - uma crosta mais dura da terra; e o oiro?, e o dinheiro? - sedimentos vis; os vestidos - pelame de cabras; a púrpura - um pouco de sangue, e o resto pelo teor. O ar que respiras é coisa pelo estilo e cabe bem nessas categorias.»


Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 118

perpétuos males

Iris Murdoch - John Bayley

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

contaminação

« 59 - Como os homens são feitos uns para os outros, educa-os ou suporta-os.»



Livro VIII


Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 108

domingo, 23 de outubro de 2011

«(...) Não te queixes de pessoa alguma. Se és capaz, corrige-a; se és incapaz de o fazer, corrige ao menos o que ela fez; se até disto fores incapaz, de que serve lamentares-te? Não faças nada ao acaso.»

Livro VIII

Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 97/98
« 16 - Lembra-te que mudar de opinião, seguir quem te ponha no bom caminho, é por igual fazer acto de liberdade, que é actividade própria tua, pois se desenvolve até ao fim a partir de um primeiro movimento e de um juízo que são teus, por aí em conformidade com a inteligência que tens.»





Livro VIII


Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 97

Iris Murdoch and John Bayley

DOR

« 64 - Toda a vez que a dor te bater à porta, lembra-te disto: não é vergonha nenhuma, a dor não lesa a inteligência que me governa; a dor não a corrompe na sua dimensão racional, nem na sua dimensão social.
          Além disso, nas maiores dores, auxilie-te esta máxima de Epicuro: «A dor não é intolerável nem eterna se te lembrares dos seus limites e vires que para lá dos limites nada existe.» Lembra-te ainda que muitas coisas que nos enojam são, sem o parecer, verdadeiras dores, por exemplo a sonolência, o excesso de calor, a falta de apetite. Portanto, se algum destes achaques te apoquenta, diz para contigo: é a dor que me vence.»

Livro VII


Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 91
« 61 - A arte de viver assemelha-se à luta mais do que à dança pelo facto de termos de estar sempre em guarda e firmes contra os golpes que, sem aviso, caem sobre nós.»

Livro VII


Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 90

«Escava o teu íntimo.»


«57 - Estima só o que te acontece, o que forma a trama da tua vida.»


Livro VII


Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 89

An injured Jew in Jerusalem. June 1948.

HERMODORO

    «Para quê esse optimismo? O império agonizante oferece aos bárbaros uma presa fácil. As cidades que o génio helénico e a paciência latina edificaram serão em breve tumultuadas por selvagens bêbedos. Na terra não haverá mais filosofia nem arte. As imagens dos deuses serão destruídas nos templos e nas almas. Será a noite do espírito e a morte do mundo.»
 
 
 
Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 113


hipogeu

adjetivo
[feminino: hipogeia]
situado abaixo da superfície da terra

nome masculino
1. HISTÓRIA escavação subterrânea onde os Egípcios depositavam os seus mortos, cripta
2.

(Do grego hypógeion, «subterrâneo», pelo latim hypogaeu-, «hipogeu; sepultura»)
«(...), não nos resta mais do que a alegria cruel de nos vermos morrer.»
Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 112



«(...) a longa experiência ensinou-me que o povo é oprimido quando o governo é fraco.»
 
 

Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 112

''Quero ignorar e sofrer contigo''

Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 108

Happyness is ... a white cat

«Adão e Eva, sentindo a sua sombra pairar sobre eles, apertavam-se um contra o outro - e o seu amor recrudescia no medo.»


Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 105
«Não é verdade que ali está o teu rosto, e que aquela lágrima que desliza na tua face é uma lágrima verdadeira?»

Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 93

por mim mesmo não sou senão fraqueza e perturbação

« - Escuta - pediu-lhe - não entrei só na tua casa. Um outro me acompanhava, um Outro que aqui está de pé ao meu lado. A este não o podes ver, porque a tua vista é ainda indigna de o contemplar. Mas bem cedo o verás no seu maravilhoso esplendor e dirás: ''Só ele merece o amor!'' Ainda agora, se não houvesse pousado a sua doce mão sobre os meus olhos, ó Thaïs, eu teria talvez caído contigo no pecado, porque por mim mesmo não sou senão fraqueza e perturbação.»





Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 92

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

«E estou infinitamente cansada.»


«Alma ansiosa, vem possuir, enfim, o que desejavas! Coração ávido de alegria, vem provar as alegrias verdadeiras.»


Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 91
«Desde que te vi, sem saber quem fosses, senti que não eras um homem vulgar.»




Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 90

Sarça ardente

Eça de Queiroz com sua mulher Emília

opróbrio

nome masculino
 
1. afronta vergonhosa, injúria
2. vexame, vergonha
3. desonra
4. abjeção, ignomínia
5. desprezo

 
(Do latim opprobrĭu-, «idem»)

«Não me faças morrer! Tenho tanto medo da morte!...»



Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 89

Prometo-te mais do que uma embriaguez florida


«Palavras fingidas. Mas o monge, animado de piedoso zelo, as proferia com um ardor sincero. Entretanto, Thaïs já olhava sem constrangimento aquele estranho ser que lhe causara medo. Paphnucio maravilhava-a, pelo aspecto rude e selvagem, pelo fulgor melancólico que inundava os seus olhos. Sentia-se curiosa da condição e da existência de um homem tão diferente de todos os que conhecia. Respondeu zombando docemente:
    -Pareces muito precipitado na admiração, estrangeiro. Acautela-te, para que os meus olhares não te devorem até aos ossos. Livra-te de me amar!
   Ele disse:
   - Amo-te, ó Thaïs! Amo-te mais do que à minha vida e mais do que a mim mesmo. Deixei por ti o meu pobre deserto. Por ti, os meus lábios, votados ao silêncio, proferiram palavras profanas. Por ti, vi o que não devia ver e ouvi o que me era proibido ouvir. Por ti, a minha alma se perturbou, o meu coração se abriu, e dele jorraram ideias como as cascatas onde bebem as pombas. Por ti, caminhei dia e noite através de areias fervilhantes de insectos e de vampiros. Por ti, com os pés nus, pisei as víboras e os escorpiões. Sim, eu te amo! Mas não com o amor desses homens incendidos do desejo da carne, que te procuram como lobos esfomeados ou touros em fúria. Eles te querem como o leão quer a gazela. Carniceiros do amor, devoram-te até à alma, ó mulher! Eu porém te amo em espírito e em verdade: amo-te em Deus e pelos séculos dos séculos. O que tenho por ti no peito chama-se desvelo justo e caridade divina. Prometo-te mais do que uma embriaguez florida e mais do que ilusões de uma noite fugaz: prometo-te os santos banquetes e as núpcias do céu. A felicidade que te ofereço não acabará jamais: é inaudita. Inefável. E tal que, se os venturosos deste mundo pudessem entrever apenas uma sombra sua, logo morreriam deslumbrados. »




Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 84

La Jolla Birds, California, 1958.

«''Nada te deve desviar do cultivo da tua alma.''»


Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 80

'' os pavores da morte''


«A soleira da sua casa vivia enfeitada de flores e regada de sangue.»

(...)

«E, de tão amada, amava-se a si própria.»




Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 75
«Thaïs amava Lollius, com todos os furores da imaginação e todas as surpresas da inocência. Dizia-lhe, em plena verdade do seu coração:
    - Nunca fui senão tua.
  Lollius respondia:
     - Tu não pareces nenhuma outra mulher.
  O idílio durou seis meses, e se desfez um dia.
De repente, Thaïs sentiu-se vazia e só. Não reconhecia mais Lollius. Pensava:
 ''Que me teria transformado assim, num instante? Porque será que ele agora se parece com todos os outros homens, e não se parece consigo mesmo?''
    Abandonou-o, não sem um secreto desejo de procurá-lo em algum outro, desde que não o encontrava mais nele próprio. Pensou também que viver com um homem a quem jamais houvesse amado seria bem menos triste do que viver com um homem a quem já não amava.»



Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 73

Thaïs fugia de Lollius

«Entretanto, presa de inquietação e de medo, Thaïs fugia de Lollius, mas sem cessar o via dentro de si mesma. Sofria e não sabia de quê. Perguntava-se porque havia mudado tanto, e de onde vinha a sua melancolia. Repeliu todos  os amantes; causavam-lhe terror. Não queria mais ver a luz e deixava-se ficar o dia inteiro no leito, soluçando, cabeça escondida nos coxins. Lollius, tendo aprendido a penetrar no quarto, ia suplicar e maldizer aquela menina cruel. Thaïs resistia como se fosse uma virgem, e repetia:
    - Não quero! Não quero!
   Depois, quinze dias passados, entregou-se a ele e conheceu que o amava. Acompanhou-o à sua casa e não o deixou mais. Foi uma vida deliciosa. Levavam o dia inteiro isolados, olhos nos olhos, dizendo-se mutuamente cousas que só se dizem às crianças. À tarde, passeavam nas margens desertas do Oronte e perdiam-se nos braços de loureiros. Às vezes erguiam-se pela madrugada para colher jacintos nas encostas do Silpicus. Bebiam na mesma taça e, quando ela levava à boca um bago de uva, ele, com os dentes, tirava-o de entre os seus lábios.»





Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 72/3

« - Que eu não seja, Thaïs, a coroa que engrinalda a tua cabeleira, o manto que cinge o teu corpo encantador, a sandália do teu pé gentil! Mas desejo que me pises aos pés como uma sandália, e que as minhas carícias sejam o teu manto e a tua coroa. Vem, linda menina, vem à minha casa, e esqueçamos o universo.»


Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 71

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

«Jungido à cruz, as mãos pregadas, não gemeu uma queixa. Apenas repetia num suspiro: ''Tenho sede''»



Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 67
«O corpo e a face, vestidos de negro, perdiam-se na escuridão.»



Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 61

Thaïs perguntava:


« - Pai, porque cantas os anjos pousados no túmulo?»



Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 57



«E, por um hábil artifício, o sangue golfou em borbotões do peito deslumbrante da virgem.»


Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 53

cantos fúnebres

« - Mãe, não te exponhas às humilhações do vencedor. Não consintas que, arrancando-te de mim, ele te arraste indignamente. Antes, mãe querida, estende-me essa mão enrugada e chega aos meus lábios as tuas faces exaustas.»



Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 52

 

mirto

«Depois de desgraçar o inocente que perseguia com um amor incestuoso, Phedra, tu o sabes, morreu miseravelmente: recolheu-se ao quarto nupcial e, com o seu cinto de oiro, enforcou-se numa cavilha de marfim. Os deuses quiseram que o mirto, testemunha de tão cruel miséria, continuasse a trazer, nas suas folhas renovadas, picadas de agulhas.»



Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 47
 
«Os desertos estão povoados de fantasmas.»


Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 44

 

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

«Ceifar a vida como uma espiga bem grada, e continuar a ser quem se é, e não outro.»



Fragmento de Eurípedes

lamentá-lo-ás

« 21 - Dentro de pouco te esquecerás de tudo; dentro de pouco todos te esquecerão.»


Livro VII


Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 83

domingo, 16 de outubro de 2011

Jeff Koons

« 8 - Não te aflijas com o futuro. Lá chegarás, se tiver de ser, levando em ti a mesma razão de que te serves agora nas questões presentes.»


Livro VII



Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 80

« 6 - Quantos homens que andaram num mar de aplausos caíram hoje no esquecimento! E quantos que aplaudiam, há que séculos desapareceram!»


Livro VII



Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 80

« 54 - O que não é útil à colmeia também o não é à abelha.»


Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 77
« 53 - Habitua-te a prestar a maior atenção ao que se te diz e, quanto possível penetra na alma daquele que te fala.»



Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 77
« ama os homens que a sorte te deu por companheiros, mas ama-os do fundo do coração!»



Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 73

«A própria vida de cada um de nós é alguma coisa de parecido à evaporação do sangue e à aspiração do ar.»


Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 67

imperturbável

''Que homem é este, que não teme o sofrimento?'

« - Fora daqui, mendigo vil! - bramou o porteiro furioso.
     E ergueu o bastão sobre o santo homem que, cruzando os braços, recebeu impassível o golpe em pleno rosto, e repetiu docemente:
   - Faz o que te pedi, meu filho, eu te suplico.
    Então o criado, todo trémulo, murmurou:
    ''Que homem é este, que não teme o sofrimento?''»




Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 33






 
«'' É em vão que o metal glorifica esses falsos sábios. As suas mentiras estão desmascaradas, as suas almas mergulhadas no inferno. (...)''»


Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 33

Desviei do teu amor o meu coração, Alexandria.




«Eis aí, pois, - monologou - a estância deliciosa em que nasci no pecado, o ar brilhante em que respirei venenosos perfumes, o voluptuoso mar onde escutei o canto das Sereias! Eis o meu berço carnal, minha pátria mundana! Berço florido, pátria ilustre, segundo o julgamento dos homens! É natural que os que nascem de ti Alexandria, te amem filialmente, eu fui gerado no teu seio magnificamente ornamentado. Mas o asceta despreza a natureza, o místico desdenha das exterioridades, o cristão olha a pátria humana como um lugar de exílio, o monge transcende da terra. Desviei do teu amor o meu coração, Alexandria. Odeio-te! Odeio-te pela tua riqueza, pela tua ciência, pela tua doçura e pela tua beleza. Sê maldito, templo de demónios! Leito impudico de gentios, púlpito empestado de arianos, sê maldito! E tu, alado filho do céu, guia do santo eremita António, nosso pai, quando, vindo do deserto, penetrou nesta cidadela de idolatria dos mártires, belo anjo do Senhor, criança invisível, sopro inicial de Deus, voa diante de mim, e embalsama com a palpitação das tuas asas o corrompido ar que vou respirar entre os tenebrosos príncipes do século!»




Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 30
«O homem é um destroço, um ser para sempre perdido nos abismos e nas ressonâncias de várias tempestades, interiores ou não, habitando numa invisível calma que nos embala, suspeita: o hábito, esse acampamento de ilusões. »

no Prefácio


Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p.13

incompletude

«(...), e o poema é sempre um instrumento de aproximação aos mistérios do homem, à espessura das coisas do mundo,»


no Prefácio


Eugenio Montale. Poesia. Selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos. Assírio&Alvim, Lisboa, 2004., p.12/3

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

«(...) Agasalhas-te na tua ignorância como um cão fatigado que dorme na lama.
    -Estrangeiro, é igualmente vão injuriar os cães e os filósofos. Desconhecemos o que são os cães e o que somos nós. Nada sabemos.»
   - Ó velho! pertences então à seita ridícula dos céticos? És, pois um desses miseráveis loucos que negam o movimento e os repouso, e de nenhum modo sabem distinguir entre a luz do sol e as sombras da noite?»



Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 23/4

Thaïs

«Não é ela, Senhor, o sopro da tua boca?»

(...)

«Todavia. quanto mais culpada, mais devo lamentá-la. Choro ao pensar que os demónios a atormentarão na eternidade.»


Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 13
«''Meu Deus, tomo-te por testemunha de que avalio o negrume do meu pecado''.»


Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 12

''não se cansava de verter lágrimas''

Baudelaire, 1855

jejum

«Assim se cumpria a palavra dos profetas, que haviam dito: ''O deserto se cobrirá de flores''.»



Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 6

''dormiam no chão bruto depois de ásperas vigílias''

anacoreta


nome masculino
homem que vivia retirado nos desertos ou montes por desejo de perfeição

(Do grego anakhoretés, «que vive retirado», pelo latim tardio anachorēta-, «anacoreta; solitário»)

terça-feira, 11 de outubro de 2011


«Há mulheres que inspiram o desejo de vencer ou de as gozar, mas esta provoca o desejo de se morrer lentamente sob o seu olhar.»



Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p. 111
«Compará-la-ia a um sol negro, se pudéssemos conceber um astro negro derramando luz e felicidade.»



Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p. 110

XXXIII EMBRIAGA-TE


      «Devemos andar sempre bêbedos. Tudo se resume nisto: é a única solução. Para não sentires o tremendo fardo do Tempo que te despedaça os ombros e te verga para a terra, deves embriagar-te sem cessar.
        Mas com quê? Com vinho, com poesia ou com a virtude, a teu gosto. Mas embriaga-te.
        E se alguma vez, nos degraus dum palácio, sobre as verdes ervas duma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez já atenuada ou desaparecida. pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo, o que se passou, a tudo o que gemeu, a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunta-lhe que horas são: « São horas de te embriagares! Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem cessar! Com vinho, com poesia, ou com a virtude, a teu gosto.»



Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p. 105
''As dores mais terríveis são silenciosas.''



Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p. 96

As ilusões


«As ilusões - dizia o meu amigo - são talvez tão inumeráveis como as relações dos homens entre si, ou dos homens com as coisas. E quando a ilusão desparece, quer dizer, quando nós vemos o ser ou o facto tal como ele existe fora de nós, experimentamos um sentimento bizarro, complicado em metade pelas saudades do fantasma desaparecido, em metade pela surpresa agradável ante o novo, ante o facto real.»



Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p. 92
«Sim, tem razão; não há prazer mais doce do que o de surpreender um homem dando-lhe mais do que ele espera.»


Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p. 86

domingo, 9 de outubro de 2011

«Voltei os olhos para os teus, minha bem-amada, para neles ler o meu pensamento; e mergulhei nos teus olhos tão belos e tão estranhamente doces, nos teus olhos verdes, habitados pelo capricho e inspirados pela Lua, quando tu disseste: «Essa gente é-me insuportável com os seus olhos abertos como portas de cocheiras! Não podias pedir ao chefe dos criados para os afastar daqui?»
   Como é difícil o entendimento mútuo, meu querido anjo, e como o pensamento é incomunicável, mesmo entre pessoas que se amam!»


Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p. 78

«Os cançonetistas dizem que o prazer torna a alma boa e abranda o coração.»



Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p. 77

''no luto profundo da Noite''

«O crepúsculo excita os loucos. - Lembro-me que tive dois amigos a quem o crepúsculo punha muito doentes.»



Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p. 66

Carrying a woman

XXI AS TENTAÇÕES OU EROS, PLUTO E A GLÓRIA

   «Dois soberbos Satãs e uma Diabinha, não menos extraordinária, subiram a noite passada a escada misteriosa por onde o Inferno dá assalto à fraqueza do homem que dorme, e comunica em segredo com ele. E vieram-se colocar gloriosamente diante de mim, de pé como sobre um estrado. Um esplendor sulfuroso emanava dessas três personagens, que assim tomavam relevo no fundo opaco da noite. Tinham um ar tão arrogante e tão cheio de importância, que eu a princípio tomei-os a todos por verdadeiros Deuses.
    O rosto do primeiro Satã era dum sexo ambíguo, e tinha também, nas linhas do seu corpo, a moleza dos antigos Bacos. Os olhos lânguidos, duma cor tenebrosa e indecisa, faziam lembrar violetas ainda cobertas de pesadas lágrimas da tempestade, e os lábios entreabertos, turíbulos acesos donde se exalava o bom odor duma perfumaria; e cada vez que ele suspirava, insectos almiscarados iluminavam-se, volitando, no ardor do seu bafo.
    Em volta da sua túnica de púrpura estava enrolada, à maneira de cinto, uma serpente cintilante que de cabeça erguida, languidamente voltava para ele os olhos em brasa. Duma tal cintura viva pendiam, alternando com garrafinhas cheias de sinistros licores, facas reluzentes e instrumentos de cirurgia. Na mão direita segurava outra garrafinnha cujo conteúdo era dum vermelho luminoso, e que tinha como etiqueta estas palavras bizarras: «Bebei, isto é o meu sangue, um perfeito cordial»; na esquerda, um violino que lhe servia sem dúvida para cantar os seus prazeres e as suas amarguras, e para espalhar o contágio da sua loucura nas noites de sabbat.
    Nos chifres delicados estavam alguns anéis de uma cadeia de ouro partida, e quando o incómodo que daí lhe vinha o obrigava a baixar os olhos para o chão, contemplava com vaidade as unhas dos pés brilhantes e polidas como pedras bem trabalhadas.
    Ele olhou-me com os seus olhos inconsolavelmente magoados, donde escorria uma insidiosa embriaguez, e disse-me com voz cantante: «Se tu quiseres, se tu quiseres, tonar-te-ei o senhor das almas, e serás dominador da matéria viva, mais ainda que o escultor o pode ser de argila; e conhecerás o prazer, sem cessar renovado de sair de ti próprio para esqueceres em outrem, e de atrair as outras almas até as confundires com a tua.»
    E eu respondi-lhe: «Muito Obrigado! eu nada tenho que fazer dessa pacotilha de seres que, sem dúvida, não valem mais que o meu pobre eu. Ainda que eu tenha alguma vergonha de me lembrar, nada quero esquecer; e mesmo que eu não te conhecesse, meu velho monstro, a tua misteriosa cutelaria, as tuas garrafinhas equívocas, as cadeias em que os teus pés estão enredados, são símbolos que explicam assaz claramente os inconvenientes da tua amizade. Guarda os teus presentes.»
     O segundo Satã não tinha nem aquele ar ao mesmo tempo trágico e sorridente, nem aquelas lindas maneiras insinuantes, nem aquela beleza delicada e perfumada. Era um homem vasto, com uma grande cara sem olhos, cujo pesado bandulho sobrepujava as coxas e cuja pele inteira estava dourada e ilustrada, como uma tatuagem, como uma multidão de figurinhas móveis representando as numerosas formas da miséria universal. Havia homenzinhos esguios que voluntariamente se suspendiam a um prego; havia gnomozinhos disformes, magros, cujos olhos suplicantes mais ainda pediam esmola do que as suas trémulas mãos; e depois, velhas mães trazendo abortos presos aos seios esgotados. E ainda muitas outras.
     O enorme Satã golpeava com o punho o seu imenso ventre, donde saía um ruído prolongado e metálico, terminando num vago gemido feito de numerosas vozes humanas. E ele ria, mostrando sem pudor os dentes estragados, com um enorme riso imbecil, como certos homens de todas as nações quando jantaram bem de mais.
      E este disse-me: « Eu posso dar-lhe aquilo que tudo obtém, que tudo vale, que tudo substitui!» E ele bebeu no ventre monstruoso, cujo eco sonoro fez o comentário da sua grosseira palavra.
      Voltei-me com asco, e respondi: «Eu não tenho necessidade, para o meu gozo, da miséria de ninguém; eu não quero uma riqueza contristada, como um papel de forrar, por todas as desditas representadas na tua pele.»
      Quanto à Diabinha, mentiria se não dissesse que, à primeira vista, lhe encontrei um estranho encanto. Para definir este encanto, a coisa alguma poderia compará-lo melhor do que ao encanto das mulheres muito belas já maduras, que no entanto não envelhecem mais, e cuja beleza conserva a magia penetrante das ruínas. Tinha um ar ao mesmo tempo imperioso e desengraçado, e os seus olhos, embora cansados, eram de energia fascinante. O que me impressionou mais foi o mistério da sua voz, em que encontrei a lembrança dos contralti mais deliciosos, e, também, um pouco o enrouquecimento das gargantas incessantemente lavadas pela aguardente.
       «Queres conhecer o meu poder?» - disse a falsa deusa com a sua voz encantadora e paradoxal. «Escuta.»
       E ela então emboca uma gigantesca trombeta, enfeitada, coma uma flauta de cana, com os títulos de todos os jornais do universo, e através dessa trombeta gritou o meu nome, que rolou assim através do espaço com o estrondo de cem mil trovões, e que voltou até mim repercutido pelo eco do mais longínquo planeta.
       «Diabo!», disse eu, quase subjugado, «eis o que é preciso!» Mas examinando com mais atenção a sedutora virago, pareceu-me que a reconhecia vagamente por a ter visto beber com alguns mariolas do meu conhecimento; e o som rouco de cobre trouxe aos meus ouvidos não sei que recordação duma trombeta prostituída.
      E assim respondi, com todo o meu desdém: «Vai-te embora! Eu não fui feito para despojar a amante de certa gente que não quero nomear.»
      Sem dúvida que, sendo portador de tão corajosa abnegação, eu tinha o direito de sentir-me orgulhoso. Mas desgraçadamente eu acordei, e toda a minha energia me abandonou. « Na verdade - disse comigo - foi preciso que eu estivesse a dormir bem pesadamente para mostrar tais escrúpulos. Ah! se eles pudesssem voltar enquanto estou acordado, não me faria tão esquisito!»
         E invoquei-os em voz alta, suplicando-lhes que me perdoassem, e oferecendo-me para ser desonrado tantas vezes quantas fossem precisas para lhes merecer os seus favores; mas eu tinha-os certamente ofendido muito, pois nunca mais voltaram.»




Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p. 60-64

XVII UM HEMISFÉRIO NUMA CABELEIRA

    «Deixa-me respirar por muito, muito tempo, o odor dos teus cabelos, mergulhar neles todo o meu rosto, como um homem sequioso na água duma nascente, e agitá-los com a mão como um lenço perfumado, para sacudir as recordações no ar.
     Se tu pudesses saber tudo o que eu vejo! tudo o que eu sinto! tudo o que eu ouço nos teus cabelos! Minha alma viaja sobre o perfume como a alma dos outros homens viaja sobre a música.
     Os teus cabelos contêm um sonho inteiro, cheio de velas e de mastros; contêm grandes mares cujas monções me levam para climas adoráveis, onde o espaço é mais azul e mais profundo, onde a atmosfera tem o perfume dos frutos, das folhas e da pele humana.
     No oceano da tua cabeleira, entrevejo um porto a formigar de canções dolentes, de homens vigorosos de todas as nações e navios de todas as formas recortando as arquitecturas finas e complicadas sob um céu imenso onde se pavoneia um calor eterno.
      Nas carícias da tua cabeleira, encontro os langores das longas horas passadas sobre um divã no camarote dum belo navio, embaladas pelo arfar imperceptível do porto, por entre os vasos de flores e as bilhas que refrescam a água.
      No lume ardente da tua cabeleira, respiro o odor do tabaco misturado com ópio e açúcar; na noite da tua cabeleira, vejo resplandecer o infinito do azul tropical; nas praias acetinadas da tua cabeleira, embebedo-me com os odores combinados de alcatrão, de musgo e de óleo de coco.
    Deixa-me morder longamente as tuas tranças pesadas e negras.
     Quando mordisco os teus cabelos elásticos e rebeldes, parece-me que devoro recordações.»




Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p.49/50

sábado, 8 de outubro de 2011

Ballet production of Don Quixote at New York State Theater.

Não lhe parece, minha senhora?

«Não lhe parece, minha senhora, que lhe deixo aqui um madrigal inteiramente digno de apreço, e tão pomposo como vós mesmas? E, em boa verdade, tive tanto prazer em abordar esta pretenciosa galantaria, que nada vos peço em troca.»



Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p.48
«Estava a partir sossegadamente o meu pão, quando um ruído muito leve me fez levantar os olhos. Diante de mim estava um pequeno ente andrajoso, negro, esgadelhado, cujos olhos cavos, bravios e como suplicantes, devoravam o meu pedaço de pão. E ouvi-o suspirar, numa voz baixa e rouca, a palavra: bolo! Não pude deixar de rir  ouvindo a designação com que ele queria honrar o meu pão quase branco, e parti para ele um bom pedaço que lhe estendi. Lentamente, foi-se aproximando, sem tirar os olhos do objecto da sua cobiça: depois, agarrando o pedaço de pão, recuou bruscamente, como se temesse que a minha oferta não fosse sincera ou que dela já me tivesse arrependido.»





Charles Baudelaire. O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa. Tradução de António Pinheiro Guimarães. Relógio D'Água, Lisboa, 1991.,p.45

oblívio

nome masculino
 
olvido, esquecimento

(Do latim oblivĭu-, «esquecimento»)

« 11 - Não alinhes pelas opiniões que o insolente julga verdadeiras ou pretende que julgues verdadeiras, mas examina-as em si mesmas, pelo que elas são realmente.»



Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 38

«Põe os olhos na rapidez do esquecimento em que tudo cai e no abismo do tempo infinito, para diante e para trás; vê quanto é vão todo o ruído que se faz, a versatilidade e a irreflexão dos que têm ar de aplaudir, os limites estreitos em que tudo se circunscreve;»



Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 36

''máximas concisas e essenciais''

«Em parte alguma se encontra lugar mais tranquilo, mais isento de arruídos, que na alma, sobretudo quando se tem dentro dela aqueles bens sobre que basta inclinar-se para que logo se recobre toda a liberdade de espírito, e, por liberdade de espírito, outra coisa não quero dizer que o estado de uma alma bem ordenada.»



Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 35

«Pertencem  ao corpo as sensações; à alma os instintos; à inteligência os princípios.»


Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 34
« 8  - Na inteligência do homem  que se mortificou e purificou a fundo não se encontrará nenhuma infecção ou mancha, nenhuma ferida mal curada sob a cicatriz. A vida deste homem quando o destino a ceifa não nos surge inacabada como o papel do actor teatral que se afastasse das tábuas a meio da peça sem chegar ao desfecho.»



Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 31

sangue impuro

''beleza amadurecida''

«(...) as azeitonas maduras esquecidas na oliveira quando estão justamente a uma linha de podridão é que se aureolam de uma beleza particularíssima. O mesma se diga das espigas inclinadas para a terra, das rugas que sulcam a testaruda fronte do leão, da escuma que escorre das presas do javali e de coisas pelo teor; se as considerarmos em si estão longe de ser belas.»


Marco Aurélio. Pensamentos. Versão Portuguesa de João Maia. Editorial Verbo, Lisboa, 1971., p. 27

DESEJO DE MORRER

«Hermes veio...

Eu disse-lhe: «Senhor...
não, pela Deusa Feliz,
nunca prezei grandezas:

  o meu desejo
  é morrer. Ver
no orvalho as flores
de luto no lodo longo do Aqueronte!»



Safo. Líricas em Fragmentos. Tradução e apresentação de Pedro Alvim. Edição Bilingue. Vega, 1ª edição, 1991., p. 103

OLVIDO

«Morte, inércia de sono
    para ti, silêncio
de qualquer memória
para sempre: não mais, não,
alcançarás as rosas de Piéria.
   Escura e desatinada,
vaguearás pelo Hades
não mais vista de ninguém,
   sempre às cegas, sempre
     por entre sombras
 de corpos, obscuras
     aparências só.»


Safo. Líricas em Fragmentos. Tradução e apresentação de Pedro Alvim. Edição Bilingue. Vega, 1ª edição, 1991., p. 101

MAÇÃ MENINA

«No alto do ramo,
alta no ramo mais alto,
  uma tão rosa maçã:
esqueceram-na os apanhadores
de fruta. Esqueceram-na?
  Não! Mãos não tiveram
     para a colher.»



Safo. Líricas em Fragmentos. Tradução e apresentação de Pedro Alvim. Edição Bilingue. Vega, 1ª edição, 1991., p. 99
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