«Entretanto, presa de inquietação e de medo, Thaïs fugia de Lollius, mas sem cessar o via dentro de si mesma. Sofria e não sabia de quê. Perguntava-se porque havia mudado tanto, e de onde vinha a sua melancolia. Repeliu todos os amantes; causavam-lhe terror. Não queria mais ver a luz e deixava-se ficar o dia inteiro no leito, soluçando, cabeça escondida nos coxins. Lollius, tendo aprendido a penetrar no quarto, ia suplicar e maldizer aquela menina cruel. Thaïs resistia como se fosse uma virgem, e repetia:
- Não quero! Não quero!
Depois, quinze dias passados, entregou-se a ele e conheceu que o amava. Acompanhou-o à sua casa e não o deixou mais. Foi uma vida deliciosa. Levavam o dia inteiro isolados, olhos nos olhos, dizendo-se mutuamente cousas que só se dizem às crianças. À tarde, passeavam nas margens desertas do Oronte e perdiam-se nos braços de loureiros. Às vezes erguiam-se pela madrugada para colher jacintos nas encostas do Silpicus. Bebiam na mesma taça e, quando ela levava à boca um bago de uva, ele, com os dentes, tirava-o de entre os seus lábios.»
Anatole France. Thaïs. Tradução de Sodre Viana. Irmãos Pongetti Editores, Rio de Janeiro, 2ª ed., p. 72/3
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