«TREME a terra das almas; range
A humanidade; agacham-se os povos,
Escurece o céu e nas nuvens
Forja-se o raio das noites claras
De tempestade; a génese do mundo
Alumia outra vez o abismo do nada.
As estrelas já não guiam como outrora
O navegante. Quem espera o sol?
E levanta-se do fundo do abismo
O sussurro de Deus quando chamava:
- («Adão, Adão» e o homem se escondia
Por detrás da mulher angustiada,
Envergonhado, nu e temeroso,
Vendo a sua sombra nas eternas águas.
Nuvens escuras sobem desde a terra
Levam ao alto a negra catarata
Que rebenta nos ares e o dilúvio
Varre cidades, lava o pó caído.
Prossegue o lodo subjugando a luz,
A história foge e o milagre passa.»
Miguel de Unamuno. Creio no futuro. Textos, traduzidos
e dispostos ritmicamente por Manuel Simões. Editorial A. O., Braga, p. 37/8
sábado, 12 de novembro de 2011
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