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domingo, 13 de maio de 2018

«Teixeira de Pascoaes que não percebe as coisas como geómetra ou físico, agrimensor ou doutrinário, possui a flama viva que penetra o mistério, o ilumina e aquece, abrandando-lhe a fereza e cativando-lhe a alma esquiva.»


Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 134

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Quantas vezes, vou só, por um caminho adiante,
A meditar nas cousas.
E, meditando, torno-me distante
Das suas aparências mentirosas.
«O desespero da inexpressão, ou a impotência, recorre, algumas vezes, à ironia, essa máscara carnavalesca, máscara oca... Quem não pode, trapaceia, é ditado popular. A força da nossa inteligência ou manha, conforme o antigo significado desta palavra, é feita da fraqueza do nosso espírito»

Pascoaes

domingo, 31 de janeiro de 2016

Teixeira de Pascoaes, poeta bem mais importante, quanto a
nós, do que Fernando Pessoa.

MÁRIO CESARINY, 1973

sábado, 26 de dezembro de 2015

“Nascer é pôr a máscara. A criatura não desce ao mundo, sem vestir primeiro o seu hábito”

 Teixeira de Pascoaes, “Verbo Escuro”.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

"E é na faculdade de mentir, que caracteriza a maior parte dos homens actuais, que se baseia a civilização moderna. Ela firma-se, como tão claramente demonstrou Nordau, na mentira religiosa, na mentira política, na mentira económica, na mentira matrimonial, etc...
A mentira formou este ser, único em todo o Universo: o homem antipático.
Actualmente, a mentira chama-se utilitarismo, ordem social, senso prático; disfarçou-se nestes nomes, julgando assim passar incógnita.
A máscara deu-lhe prestígio, tornando-a misteriosa, e portanto, respeitada. De forma que a mentira, como ordem social, pode praticar impunemente, todos os assassinatos; como utilitarismo, todos os roubos; como senso prático, todas as tolices e loucuras.
A mentira reina sobre o mundo! Quase todos os homens são súbditos desta omnipotente Majestade. Derrubá-la do trono; arrancar-lhe das mãos o ceptro ensaguentado, é a obra bendita que o Povo, virgem de corpo e alma, vai realizando dia a dia, sob a direcção dos grandes mestres de obras, que se chamam Jesus, Buda, Pascal, Spartacus, Voltaire, Rousseau, Hugo, Zola, Tolstoi, Reclus, Bakounine, etc. etc....
E os operários que têm trabalhado na obra da Justiça e do Bem, foram os párias da Índia, os escravos de Roma, os miseráveis do bairro de Santo António, os Gavroches, e os moujiks da Rússia nos tempos de hoje. Porque é que só a gente sincera, inculta e bárbara sabe realizar a obra que o génio anuncia? Que intimidade existirá entre Jesus e os rudes pescadores da Galileia? Entre S. Paulo e os escravos de Roma? Entre Danton e os famintos do bairro de Santo António? Entre os párias e Buda? Entre Tolstoi e os selvagens moujiks? A enxada será irmã da pena? A fome de pão paracer-se-à com a fome de luz?..."

Teixeira de Pascoaes, "Trechos dum livro inédito" (1911), in "A Saudade e o Saudosismo", pp.12-13.

quinta-feira, 19 de março de 2015

"A herdada faculdade de fingir criou a "pessoa", a figura atrás da qual nos escondemos, - a figura que anda, pelo mundo, em nosso nome".

- Teixeira de Pascoaes, Verbo Escuro.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

“Tudo existe dentro da nossa intimidade comovida. O nosso amor é um mar onde mergulham e flutuam todas as coisas… Esta auréola sentimental que nos envolve, exala-se do nosso coração e expande-se no infinito espaço, e a expansão é indefinida…
[… ]
Amar alguém não é, de algum modo, ser esse alguém?”



 Teixeira de Pascoaes,“A Caridade”, in “O Homem Universal e outros escritos, Lisboa, Assírio & Alvim, 1993, pp.146-147

domingo, 31 de agosto de 2014

Não ser amado é não ser!

''Existir é ter um relevo no espaço e uma sombra caída aos pés, quando o sol nasce. Mas viver é ser uma alma em outras almas. Sem comunhão não há vida; há só existência. Nós amamos para ser amados, para ser... A indiferença da pessoa querida congela-nos o coração, como se a Morte o apertasse entre os dedos descarnados. Não ser amado é não ser!”


Teixeira de Pascoaes, Os Poetas Lusíadas, 1919

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Para o Prof. Eduardo Soveral

«Ah, quando, em mim, eu for minha esperança,
Meu próprio ser, divino e redimido.
E minha sombra apenas for lembrança
Bem longe, em outro mundo transcendente,
À luz sem sol jamais anoitecido,
Serei contigo, amor, eternamente.»

Teixeira Pascoaes, Elegias, Renascença Portuguesa, Porto, 1912.

domingo, 25 de julho de 2010

«Eu sei da tua dor, ó Cavaleiro! / A dor da Perfeição que imaginaste!»


Teixeira Pascoaes. Marânus. Lisboa: Assírio & Alvim.

terça-feira, 29 de junho de 2010

«Também há-de chegar o dia em que eu próprio nunca existi; nem eu, nem todos os fantasmas que me calcaram aos pés e me deixaram inanimado... E há-de chegar também o dia em que o mundo nunca existiu: o mundo, o sol e as estrelas...»


Teixeira Pascoaes. O Bailado. Obras Completas, VIII, introdução e aparato crítico por Jacinto do Prado Coelho. Lisboa. Livraria Bertrand, 1973.,p.189
«O pobre triste lê nas pedras a história da sua infância; e lê nos astros e nas nuvens, no voo das aves e nas entranhas do seu coração, porque ele é uma sombra humana que foi árvore, e áugure nos tempos virgilianos, e planeta na sua freguesia...»


Paulo Borges. Heteronímia e Carnaval em Teixeira de Pascoaes Ibid. O Pobre Tolo (elegia satírica), pp.247-248 e 251
«Desapareço na escuridão interior. Um velho espectro me domina; adapta-se ao meu ser. Transfiguro-me, desconheço-me, não sou eu. Sou outra alma que revive; uma lembrança minha acordada com tal força, que se apodera de mim absolutamente. Sou ela e mais ninguém !" - pp.75-76; "Conclui : não existo; os tolos não existem. [...] Paira numa névoa abstracta e incolor em que ele e as outras pessoas se diluem e que forma as dimensões do Indefinido,depois das últimas estrelas" - p.77; "O tolo aparece e desaparece" - p.78; "O tolo é um mar e bóia em pleno mar... [...] Está no centro duma névoa impenetrável ao sol que a deve cercar dum infinito resplendor... »- p.79.


Paulo Borges. Heteronímia e Carnaval em Teixeira de Pascoaes op. cit. Teixeira de Pascoaes, O Pobre Tolo (versão inédita.
«Somos uma turba e ninguém: um ninguém que vive, porque é sangue e carne, e existe porque é esqueleto ou pedra; e uma turba de espectros que nos acompanha desde a Origem, e é a nossa mesma pessoa multiplicada em mil tendências incoerentes, forças contraditórias, em vários sentidos ignotos...»


Paulo Borges. Heteronímia e Carnaval em Teixeira de Pascoaes op. cit. Teixeira de Pascoaes, O Pobre Tolo (versão inédita), p.215.

domingo, 17 de janeiro de 2010

III Marânus, Eleonor e a Pastora

Vinda no brando zéfiro tremente,
Uma nuvem o sol escureceu.
E Eleonor, essa Deusa, novamente,
Diante de Marânus aparece.
Um crepúsculo terno diluía
A nitidez cortante das arestas.
E no cinzento azul que se ouvia
Brumoso som de arrefecidas lágrimas.
Era a sagrada luz, naquele instante
Em que se torna sombra; e, sem deixar
De alumiar os campos, já permite
O nascer das estrelas e o cantar
Dos pássaros sedentos de penumbra.

Era o sol, comovido, e extasiado,
No seio duma nuvem, radiando
Com um fulgor anímico e velado.

E Eleonor, tão alta e inacessível,
No seu divino encanto e formosura,
Emanava outra luz espiritual,
Que as pedras embebia de ternura...

E Marânus olhava para aquela
Aparição! Sonho encarnado! Amor!
Alma tão evidente que era corpo,
Perfume tão intenso que era flor!

E a voz de Eleanor, etérea chama,
As trevas dissolvendo, assim falou:

«Sou aquela que é amada e que não ama,
Porque meu ser é eterno e virginal.
Eu vivo além do amor e da tristeza,
E destes belos montes solitários,
E de amplidão que envolve a Natureza:
O fluido mar, onde as estrelas nadam...

«Serras doiradas, cristalinas fontes,
Ondas, campos, manhãs, tudo o que abrange
A curva, em roxa cor, dos horizontes,
É para mim a Sombra originária;
Sombra de mãe, remota e dolorida,
Que ainda me traz ao peito e acaricia...
Morte de que descende a minha vida,
Como da noite morta a luz dos astros.

«Tu foste para mim o que a semente,
Na escuridão da terra sepultada,
É para a flor gentil da Primavera,
Apenas em perfume idealizada...
Tu és o meu passado, assim as árvores
São talvez teu passado; misterioso
Tempo em que o mundo trágico ensaiava
Seu anímico voo esplendoroso!
E, depois, tu nasceste, ó criatura!
E, sofrendo ideal melancolia,
Outra vida sonhaste, mais perfeita...

«Sonhaste-me...e fui dada à luz do dia...

«Vivo em teu coração; mas, em ti próprio
Há tão grandes distâncias como aquelas
Que inundam de penumbra e silêncio
O espaço que medeia entre as estrelas.

«E que importa a distância que separa
Teus lábios dos meus lábios? E que importa
Que eu seja luz eterna e sempre clara
E tu sombra carnal e transitória?
Que tu vivas, além, num outro mundo,
Se nos prende o olhar à estrela e o mar profundo
À sede que o sol tem das nossas lágrimas?

«Sou aquela que é amada; mas não amo,
Porque o amor odeia o que é eterno;
E as suas labaredas se alimentam
Do que é mudança, tempestade, inferno!»

Logo, a Pastora, inquieta: «És o demónio,
Que vais pisando a sombra caminhante
Deste homem que delira e tem, na fronte,
O Destino que o faz andar errante!
Ah, para que o persegues, sem piedade?
E para que roubá-lo aos meus carinhos?
Não és da nossa pobre humanidade,
Nem pertences à terra e à luz do sol!
Ignoras a alegria de quem ama
E se sente mortal em seu amor.
E nunca ardeu, em ti, aquela chama,
Que nos transforma em cinza e poeira vã!
Tu nunca foste esposa, filha ou mãe
De condenados, de mártires, desgraçados!
Nunca ergueste, nas mãos, saudando alguém
O cálice divino da Amargura!
Essa tua quimérica beleza,
De Deusa e não humana, desconhece
A sagrada volúpia da tristeza
E o antegosto abismático da morte.»

E Eleonor, sorrindo: «Eu te perdoo
Essas loucas palavras que disseste.
Tu viste-me, e não sabes quem eu sou.
Assim tenho vivido incompreendida

A Donzela, mais pálida, escutava
Aquela voz - tão séria! - de Eleonor
Que os ermos ventos frios imitava,
Quando perpassam na ramagem densa:

«Solitária Pastora, que eu avisto,
Encantada nas brumas da Natura,
Tu não vês o lugar onde eu existo
Nem a essência divina do meu rosto!
Nunca a alegria plena tu sentiste,
Nem o prazer infindo! E a doce luz
Dos teus olhos, às vezes, é tão triste
Que dá melancolia às próprias coisas...
És a beleza, sim, que a vária sorte
Em efémero barro quis moldar;
E os teus beijos, mulher, sabem às lágrimas
Que não podes, aflita, derramar!
Ah, sempre te contemplo da distância
Que separa dois reinos, como tu,
Contemplas uma rosa, nessa infância
De Abril que, no teu corpo, se insinua.
Quando olhas para uma árvore, talvez ela
Fique toda a tremer e tenha medo!
E as árvores talvez sejam como espectros
Para o nocturno e trágico rochedo...
E eu o que sou para ti? O mesmo que és
Para as flores do campo; o novo ser
Dum novo Reino; a lama, a esplendidez
Em que a vida, por fim, se converteu.

«Tu és o amor amante; eu sou o amor
Amado. Eu sou a vida e tu somente,
És aquilo que vive. Eu sou a dor
E a dor não sofre, não, mas é sofrida.»

E Marânus, depois: «Eu te prometo
A sublime e final revelação.
Para o grande silêncio vem comigo
E também para a grande solidão.»

E Eleonor, estendendo a mão direita,
Apontou-lhe o horizonte montanhoso,
De onde a florida aurora nos espreita,
Por entre névoas de íntimo fulgor.


Teixeira de Pascoaes in Marânus. Assírio & Alvim, 1990

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O empecido

«A Isabel, fugindo-lhe, com aérea graça extraordinária, penetrou-lhe no íntimo do peito. O amor nasce da ausência. Um ser ausente fala-nos à imaginação, essa amante olímpica de Homero. E imaginar é já divinizar. O amor excede as nossas palavras, e jaz mergulhado, ao longe, no mistério. E eis o que salva os tocadores da orfaica lira.» (pp. 23)


Teixeira Pascoaes
in O empecido
Livraria Bertrand

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

«Escrevendo, cedo apenas a
uma necessidade espiritual de
revelação ou confissão. Cumpro
uma lei da vida.»


Teixeira de Pascoaes

in S. Jerónimo
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