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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Tango em Evaristo Carriego

«Borges afirma então que o tango tem por objecto a fabulação de uma certa memória
combativa
:


''Talvez a missão do tango seja essa: dar aos argentinos a certeza de terem
sido valentes, de terem cumprido já com as exigências da coragem e da
honra.''»



Eduardo Pellejero. Borges e a política da expressão a transvaloração do passado nacional, p.3

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

''Indagação'' socrática

(Sobre a impossibilidade da sobreposição da cópia)
“Não haveria dois objectos, tais como Crátilo e a imagem de Crátilo, se um deus, não satisfeito em reproduzir apenas tua cor e tua forma, como os pintores, representasse além disso, tal como ele é,todo o interior de tua pessoa, dando exactamente seus caracteres de flacidez e calor, e colocasse nele o movimento, a alma e o pensamento, tais como eles são em ti, em resumo, se todos os traços de tua pessoa, ele dispusesse junto a ti numa cópia fiel? Haveria então Crátilo e uma imagem de Crátilo,ou então dois Crátilos?”. Crátilo: “Dois Crátilos, Sócrates, me parece”.





Guimarães, R (2008). Jorge Luis Borges e Maurice Blanchot: Os pharmakós da escritura. ACTA LITERARIA Nº 37, II Sem., p.4

« (...) no conto “Vinte e cinco de agosto, 1983”, Borges encontra Borges num quarto de hotel. Esse outro (ele mesmo) é bem mais velho. Assustado, o narrador (o jovem Borges) pergunta: “Então, tudo isto é um sonho?” A resposta, nada esclarecedora: “É, tenho certeza, meu último sonho”. Quem sonha com quem? Esta é a pergunta aristotélica feita pelo jovem Borges. Porém, a resposta é borgeana: “Você não se dá conta de que o fundamental é averiguar se há um único homem sonhando ou dois que sonham um com o outro” (Borges, 2000c: 427).»


Guimarães, R (2008). Jorge Luis Borges e Maurice Blanchot: Os pharmakós da escritura. ACTA LITERARIA Nº 37, II Sem., P.4

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

«(...) Nietzsche identifica a verdade de Deus como sendo uma herança dos gregos. Ele sugere a existência de uma escada com três degraus importantes: o primeiro deles evidencia que em determinada época a humanidade foi sacrificada por um Deus. O segundo degrau revela que em seguida a humanidade sacrificou seus mais fortes instintos e sua natureza em nome da moral. Finalmente, no terceiro degrau, a humanidade sacrificou deus em favor do nada e da liberdade. Mas, diante da leitura de tais apontamentos nietzschianos, surge uma pergunta para o leitor: liberdade para quê? Agora o homem é livre, porém não sabe o que fazer com sua liberdade e se encontra sem direcção, navegando num mar desconhecido.»


ARAÚJO, R. B (2009). Niilismo heróico em Samuel Beckett e Hilda Hilst: Fim e recomeço da narrativa. Tese de Doutoramento em Literatura Comparada, pela Universidade Federal da Paraíba, p. 39
«Em Gaia Ciência (1882), no parágrafo 125, Nietzsche ressalta a morte de Deus(ou o assassinato de Deus). Vê-se que a crise na qual se encontra o mundo moderno/contemporâneo aponta para nenhuma direcção. Deus não representa mais um papel fundamental na vida do homem e na sua relação com a realidade. Nessa obra, o filósofo sugere que o homem sempre viveu no erro ao criar um mundo para si próprio, de acordo com sua razão. A história da filosofia tem mostrado que somos frequentemente enganados pelo nosso pensamento e pela razão. Ao buscar alcançar a verdade, a humanidade se afasta cada vez mais dela, como um incansável Sísifo.»




ARAÚJO, R. B (2009). Niilismo heróico em Samuel Beckett e Hilda Hilst: Fim e recomeço da narrativa. Tese de Doutoramento em Literatura Comparada, pela Universidade Federal da Paraíba, p. 33

Niilismo

«Etimologicamente, “niilismo” vem do latim nihil e significa a persistência do pensamento pelo nada. De acordo com Franco Volpi, o termo “niilismo” surge entre o final do século XVIII e início do século XIX, mas há registos de que o termo já havia sido empregado em 1733 no título do tratado de F. L. Goetzius, “De neonismo et nihilismo in theologia”. (...)
No entanto, apesar desses registos anteriores, o termo “niilismo” tornou-se conhecido somente a partir do romance russo, Pais e filhos, de Ivan Turguêniev, escrito entre 1860 e 1862. De facto, é tarefa difícil remontar a história do niilismo, pois suas raízes tendem a se aprofundar cada vez mais à medida que se busca a sua origem. Mas, para além da origem do termo, o niilismo, enquanto sentimento, existiu desde sempre. Trata-se do sentimento de estranhamento e da falta de sentido diante do mundo.»


ARAÚJO, R. B (2009). Niilismo heróico em Samuel Beckett e Hilda Hilst: Fim e recomeço da narrativa. Tese de Doutoramento em Literatura Comparada, pela Universidade Federal da Paraíba, p. 30

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

«Uma das heranças joycianas de Beckett e Hilst é a utilização do fluxo de consciência em suas narrativas. Os autores conseguem radicalizar esse recurso estilístico levando-o ao extremo, fazendo com que a narrativa se apresente entrecortada, como se o leitor passasse de uma cena a outra, sem uma sequência, uma continuidade. Seus personagens, além de conviverem com pessoas reais da história, criam personagens imaginários, cujas falas se misturam com a do próprio protagonista, provocando uma confusão no leitor que está acostumado a uma leitura linear, sem atropelos, e sem ambiguidades que comprometam a compreensão do todo. »



ARAÚJO, R. B (2009). Niilismo heróico em Samuel Beckett e Hilda Hilst: Fim e recomeço da narrativa. Tese de Doutoramento em Literatura Comparada, pela Universidade Federal da Paraíba, p. 27

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

I write about myself with the same pencil and in
the same exercise book as about him. It is no
longer I, but another whose life is just beginning.

Samuel Beckett

«O contexto histórico-filosófico de Beckett (1906-1989) é a passagem do existencialismo para o pessimismo. Eis a situação do sujeito do século XX, após vivenciar os anos de guerra. As paisagens inóspitas e os diálogos de seus personagens que denunciam a impossibilidade de comunicar algo são evidências da realidade do pós-guerra. Sua linguagem sem ornamentos tem como função ressaltar o silêncio dos personagens. Seu teatro exprime a angústia de personagens que se encontram condenados à incapacidade de a linguagem comunicar o que sentem.»





ARAÚJO, R. B (2009). Niilismo heróico em Samuel Beckett e Hilda Hilst: Fim e recomeço da narrativa. Doutorado em Literatura Comparada, pela Universidade Federal da Paraíba, p.22


Atraco-me comigo, disparo uma luta. Eu e meus alguéns, esses
dos quais dizem que nada têm a ver com a realidade e é
somente isto que tenho: eu e mais eu
H.Hilst

«Desejo de eternizar-se. Desejo de abdicar da vida social para se dedicar totalmente à literatura. Desejo de alcançar a verdade, o conhecimento, a compreensão da vida e da morte. Desejo de ser santa aos oito anos de idade, quando era interna no colégio de freiras. Desejo de escrever um livro a cada novo amor que surgia em sua vida. Desejo de traçar um roteiro para a sua obra, mesmo que o final deste roteiro fosse dar no silêncio: “eu fui atingida na minha possibilidade de falar”. Eram tantos os desejos dessa autora, leitora de Joyce, Beckett, Kafka, Nietzsche, Kierkegaard, Kazantzákis, só para citar alguns de seus autores preferidos.»



ARAÚJO, R. B (2009). Niilismo heróico em Samuel Beckett e Hilda Hilst: Fim e recomeço da narrativa. Doutorado em Literatura Comparada, pela Universidade Federal da Paraíba, p.16

domingo, 19 de setembro de 2010

«(...) a obra literária deve ''educar o gosto''. Gosto que o público, por definição,não possui e que é, portanto, dever do romancista formar.»


Fedeli, M. A mão que balança o berço. Funções do feminino em Júlio Dinis. São Paulo, 2007 Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas,.p.34

terça-feira, 29 de junho de 2010

«O pobre triste lê nas pedras a história da sua infância; e lê nos astros e nas nuvens, no voo das aves e nas entranhas do seu coração, porque ele é uma sombra humana que foi árvore, e áugure nos tempos virgilianos, e planeta na sua freguesia...»


Paulo Borges. Heteronímia e Carnaval em Teixeira de Pascoaes Ibid. O Pobre Tolo (elegia satírica), pp.247-248 e 251
«Desapareço na escuridão interior. Um velho espectro me domina; adapta-se ao meu ser. Transfiguro-me, desconheço-me, não sou eu. Sou outra alma que revive; uma lembrança minha acordada com tal força, que se apodera de mim absolutamente. Sou ela e mais ninguém !" - pp.75-76; "Conclui : não existo; os tolos não existem. [...] Paira numa névoa abstracta e incolor em que ele e as outras pessoas se diluem e que forma as dimensões do Indefinido,depois das últimas estrelas" - p.77; "O tolo aparece e desaparece" - p.78; "O tolo é um mar e bóia em pleno mar... [...] Está no centro duma névoa impenetrável ao sol que a deve cercar dum infinito resplendor... »- p.79.


Paulo Borges. Heteronímia e Carnaval em Teixeira de Pascoaes op. cit. Teixeira de Pascoaes, O Pobre Tolo (versão inédita.
«Somos uma turba e ninguém: um ninguém que vive, porque é sangue e carne, e existe porque é esqueleto ou pedra; e uma turba de espectros que nos acompanha desde a Origem, e é a nossa mesma pessoa multiplicada em mil tendências incoerentes, forças contraditórias, em vários sentidos ignotos...»


Paulo Borges. Heteronímia e Carnaval em Teixeira de Pascoaes op. cit. Teixeira de Pascoaes, O Pobre Tolo (versão inédita), p.215.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

«(...)Fausto, perante a irreversibilidade (certamente que modalizada) de seu destino, face ao que Lacan chamaria de “segunda morte”, busca na beleza de uma mulher suporte para a sua angústia. E assim surge Helena de Tróia, personagem da Ilíada, comparada ao Paraíso perdido, como aquela que é capaz de devolver a alma de Fausto.


Foi este o rosto que lançou ao mar mil barcos
E às imensas torres de Tróia lançou fogo?
Faz-me imortal com um beijo, doce Helena.
Sugam-me a alma os lábios dela: vede onde voa.
Vem, Helena, vem devolver-me a alma!
Aqui quero viver, que o Céu está nestes lábios,
E tudo é impuro o que não é Helena

MARLOWE, C. (1987), p. 133.


Aristides Alonso. A queda para o alto: o Fausto de Marlowe. Comum - Rio de Janeiro - v.9 - nº 22 - p. 39 a 55 - janeiro / junho 2004.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

“Insatisfeito com as limitações de “mero” homem, Fausto vende sua alma ao diabo para tornar-se deus; mas, como Ícaro voando muito perto do sol, ele queima as asas e cai”
(...)
«Fausto é a versão humanizada, em carne e osso, de Lúcifer e seu desejo (tão condenado pela tradição judaico-cristã) de igualar-se a Deus.»

«Nesta figura sem imaginação universalizante (o Fausto da primeira legenda), Marlowe projectou uma linha de compreensão da natureza humana como excesso e paixão, devir e mudança, exuberância e individualismo revolto, que expressa bem a ousada aspiração do renascimento nos campos científico, político, ético e estético. Mas a desmesura alumbrada do sonho fáustico esbarra com uma mundivisão harmoniosamente ordenada,estante e não deviniente, em que o Homem é apenas,deve ser apenas, mais uma peça na ordem imutável dos seres e das coisas, nexus et natural vinculum.




Aristides Alonso. A queda para o alto: o Fausto de Marlowe. Comum - Rio de Janeiro - v.9 - nº 22 - p. 39 a 55 - janeiro / junho 2004.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Custa-me crer que eu morra. Pois estou borbulhante numa frescura
frígida. Minha vida vai ser longuíssima porque cada instante é. A
impressão é que estou por nascer e não consigo.
Sou um coração batendo no mundo.
Você que me lê que me ajude a nascer.
Espere: está ficando escuro. Mais.
Mais escuro.
O instante é de um escuro total.
Continua.
Espere: começo a vislumbrar uma coisa. Uma forma luminescente.
Barriga leitosa com umbigo? Espere – pois sairei desta escuridão onde
tenho medo, escuridão e êxtase. Sou o coração da treva.
O problema é que na janela do meu quarto há um defeito na cortina. Ela
não corre e não se fecha portanto. Então a lua cheia entra toda e vem
fosforescer de silêncios o quarto: é horrível.
Agora as trevas vão se dissipando.
Nasci.
Pausa.
Maravilhoso escândalo: nasço.


Clarice Lispector. Água Viva. (Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1993)., PP.99


(citação de artigo literário)

domingo, 23 de maio de 2010

«(...) Ricoeur (1983) denomina "metáfora morta", ou seja, uma metáfora que, pelo uso, se tornou trivial deixando de ser sentida como figura e cujo significado se encontra já dicionarizado.»



John Morris Parker & Rosa Lídia Coimbra. A metáfora e a linguística textual
Universidade de Aveiro.,p.6.
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