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quarta-feira, 23 de junho de 2010

«(...)Fausto, perante a irreversibilidade (certamente que modalizada) de seu destino, face ao que Lacan chamaria de “segunda morte”, busca na beleza de uma mulher suporte para a sua angústia. E assim surge Helena de Tróia, personagem da Ilíada, comparada ao Paraíso perdido, como aquela que é capaz de devolver a alma de Fausto.


Foi este o rosto que lançou ao mar mil barcos
E às imensas torres de Tróia lançou fogo?
Faz-me imortal com um beijo, doce Helena.
Sugam-me a alma os lábios dela: vede onde voa.
Vem, Helena, vem devolver-me a alma!
Aqui quero viver, que o Céu está nestes lábios,
E tudo é impuro o que não é Helena

MARLOWE, C. (1987), p. 133.


Aristides Alonso. A queda para o alto: o Fausto de Marlowe. Comum - Rio de Janeiro - v.9 - nº 22 - p. 39 a 55 - janeiro / junho 2004.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

“Insatisfeito com as limitações de “mero” homem, Fausto vende sua alma ao diabo para tornar-se deus; mas, como Ícaro voando muito perto do sol, ele queima as asas e cai”
(...)
«Fausto é a versão humanizada, em carne e osso, de Lúcifer e seu desejo (tão condenado pela tradição judaico-cristã) de igualar-se a Deus.»

«Nesta figura sem imaginação universalizante (o Fausto da primeira legenda), Marlowe projectou uma linha de compreensão da natureza humana como excesso e paixão, devir e mudança, exuberância e individualismo revolto, que expressa bem a ousada aspiração do renascimento nos campos científico, político, ético e estético. Mas a desmesura alumbrada do sonho fáustico esbarra com uma mundivisão harmoniosamente ordenada,estante e não deviniente, em que o Homem é apenas,deve ser apenas, mais uma peça na ordem imutável dos seres e das coisas, nexus et natural vinculum.




Aristides Alonso. A queda para o alto: o Fausto de Marlowe. Comum - Rio de Janeiro - v.9 - nº 22 - p. 39 a 55 - janeiro / junho 2004.
Aguça o teu engenho, Fausto, e sê divino.

Marlowe
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