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domingo, 24 de março de 2024

 ''o seu estilo preciso e lacónico prescinde das cansadas flores da retórica''

Jorge Luis Borges. História Universal da Infâmia. Tradução José Bento. Quetzal Editores. 1ª Edição, 2015. P. 36

«Percorriam - com um momentâneo luxo de anéis, para inspirar respeito - as vastas plantações do Sul. Escolhiam um negro desgraçado e propunham-lhe a liberdade. Diziam-lhe que fugisse ao patrão, para ser vendido uma segunda vez, numa plantação distante. Dar-lhe-iam então uma percentagem do preço da sua venda e ajudá-lo-iam para outra evasão. »

Jorge Luis Borges. História Universal da Infâmia. Tradução José Bento. Quetzal Editores. 1ª Edição, 2015. P. 18

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

«Eu sentia o desprezo das pessoas e despreza-me.»


Jorge Luis Borges. O Relatório de Brodie. Tradução António Alçada Baptista Quetzal Editores, 2013, Lisboa ., p. 22

sábado, 11 de novembro de 2017

«O que um homem não pode fazer,
          fazem-no as gerações.»

JORGE LUIS BORGES

terça-feira, 31 de outubro de 2017

“Suponho que já escrevi meus melhores livros. Isso me dá uma espécie de tranquila satisfação e serenidade. No entanto, não acho que tenha escrito tudo. De algum modo, sinto a juventude mais próxima de mim hoje do que quando era um homem jovem. Não considero mais a felicidade inatingível, como eu acreditava tempos atrás. Agora sei que pode acontecer a qualquer momento, mas nunca se deve procurá-la. Quanto ao fracasso e à fama, parecem-me totalmente irrelevantes e não me preocupam. Agora o que procuro é a paz, o prazer do pensamento e da amizade. E, ainda que pareça demasiado ambicioso, a sensação de amar e ser amado”. 
(Jorge Luis Borges- Ensaio Autobiográfico).

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

"Carregando as persianas vem a noite.
Na sala tão severa, como cegos,
procuram-se uma à outra as nossas solidões.
Sobreviveu à tarde
a brancura gloriosa da tua carne.
No nosso amor há uma pena
parecida com a alma.
Tu
aque ainda ontem eras só toda a beleza
é agora também todo o amor."

-"Obras Completas Vol 1"
- Jorge Luis Borges

domingo, 29 de novembro de 2015

"A tarde que minou o nosso adeus.
Tarde acerada e deleitosa e mosntruosa como um anjo escuro.
Tarde em que viveram os nossos lábios na intimidade nua dos beijos.
O tempo inevitável transbordava
sobre o abraço inútil.
Na paixão fomos pródigos., não para nós, mas para a solidão mais próxima.
Rejeitou-nos a luz; a noite chegara com urgência.
Fugimos prá cancela com a gravidade da sombra que uma estrela alivia.
Como quem volta de um perdido prado voltei do teu abraço.
Como quem volta de um páis de espadas voltei das tuas lágrimas.
Tarde que dura, vívvida como um sonho
no meio das outras tardes.
Mais tarde fui atingindo e transpondo
noites e singruras."

-"Obras Completas Vol 1"
- Jorge Luis Borges
"Há vezes em que nos deixa pensativos a sensação «de já termos vivido esse momento». Os partidários do eterno retorno juram-nos que assim é e procuram uma comprovação da sua fé nesses perplexos estados. Esquecem que a recordação implicaria uma novidade que é a negação da tese e que o tempo a iria aperfeiçoando - até ao ciclo distante em que o indivíduo já prevê o seu destino e prefere operar de outro modo..."


-"Obras Completas Vol 1"
- Jorge Luis Borges

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O BORAMETZ



   «O cordeiro vegetal da Tartária, também chamado «Borametz» e «polipódio Borametz», e «polipódio chinês», é uma planta cuja forma é a de um cordeiro, coberta de penugem dourada. Ergue-se sobre quatro ou cinco raízes; as plantas morrem, à volta e ela mantém-se louçã; quando a cortam sai um suco sangrento. Os lobos deleitam-se a devorá-la. Sir Thomas Browne descreve-a no terceiro livro da sua Pseudodoxia Epidemica (Londres, 1646). Noutros monstros combinam-se espécies ou géneros animais; no Borametz, o reino vegetal e o reino animal.

    Recordemos a este propósito a mandrágora, que grita como um homem quando a arrancam, e a triste floresta dos suicidas, num dos séculos d'O Inferno, de cujos troncos magoados brotam ao mesmo tempo sangue e palavras, e aquela árvore sonhada por Chesterton, que devorou os pássaros que tinham feito ninho nos seus ramos e que, na Primavera, deu penas em vez de folhas.»



Jorge Luis Borges; Margarita Guerrero. O livro dos seres imaginários. Trad. Serafim Ferreira, Editorial Teorema, Lisboa, 2ª ed, 2009., p. 39

O Basilisco


   «O Basilisco reside no deserto: ou melhor, cria o deserto. Aos seus pés caem mortos os pássaros e apodrecem os frutos; a água dos rios em que bebe fica envenenada durante séculos. Plínio declarou que o seu olhar parte as pedras e queima o pasto. O cheiro da doninha mata-o e na Idade Média dizia-se que era o canto do galo. Os mais experimentados viajantes levavam galos consigo para atravessar regiões desconhecidas. Uma outra arma era um espelho, porque o Basilisco cai fulminado com a sua própria imagem.»



Jorge Luis Borges; Margarita Guerrero. O livro dos seres imaginários. Trad. Serafim Ferreira, Editorial Teorema, Lisboa, 2ª ed, 2009p. 34

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

«Os pobres de espírito e os ascetas estão excluídos dos prazeres do Paraíso porque os não compreenderiam.»


Jorge Luis Borges; Margarita Guerrero. O livro dos seres imaginários. Trad. Serafim Ferreira, Editorial Teorema, Lisboa, 2ª ed, 2009p. 24

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Fundación mítica de Buenos Aires

¿Y fue por este río de sueñera y de barro
que las proas vinieron a fundarme la patria?
Irían a los tumbos los barquitos pintados
entre los camalotes de la corriente zaina.
Pensando bien la cosa, supondremos que el río
era azulejo entonces como oriundo del cielo
con su estrellita roja para marcar el sitio
en que ayunó Juan Díaz y los indios comieron.
Lo cierto es que mil hombres y otros mil arribaron
por un mar que tenía cinco lunas de anchura
y aún estaba poblado de sirenas y endriagos
y de piedras imanes que enloquecen la brújula.
Prendieron unos ranchos trémulos en la costa,
durmieron extrañados. Dicen que en el Riachuelo,
pero son embelecos fraguados en la Boca.
Fue una manzana entera y en mi barrio: en Palermo.
Una manzana entera pero en mitá del campo
expuesta a las auroras y lluvias y suestadas.
La manzana pareja que persiste en mi barrio:
Guatemala, Serrano, Paraguay y Gurruchaga.
Un almacén rosado como revés de naipe
brilló y en la trastienda conversaron un truco;
el almacén rosado floreció en un compadre,
ya patrón de la esquina, ya resentido y duro.
El primer organito salvaba el horizonte
con su achacoso porte, su habanera y su gringo.
El corralón seguro ya opinaba YRIGOYEN,
algún piano mandaba tangos de Saborido.
Una cigarrería sahumó como una rosa
el desierto. La tarde se había ahondado en ayeres,
los hombres compartieron un pasado ilusorio.
Sólo faltó una cosa: la vereda de enfrente.
A mí se me hace cuento que empezó Buenos Aires:
La juzgo tan eterna como el agua y como el aire


Jorge Luis Borges

Susana Bombal

Alta en la tarde, altiva y alabada,
cruza el casto jardín y está en la exacta
luz del instante irreversible y puro
que nos da este jardín y la alta imagen
silenciosa. La veo aquí y ahora,
pero también la veo en un antiguo
crepúsculo de Ur de los Caldeos
o descendiendo por las lentas gradas
de un templo, que es innumerable polvo
del planeta y que fue piedra y soberbia,
o descifrando el mágico alfabeto
de las estrellas de otras latitudes
o aspirando una rosa en Inglaterra.
Está donde haya música, en el leve
azul, en el hexámetro del griego,
en nuestras soledades que la buscan,
en el espejo de agua de la fuente,
en el mármol de tiempo, en una espada,
en la serenidad de una terraza
que divisa ponientes y jardines.

Y detrás de los mitos y las máscaras,
el alma, que está sola.


Jorge Luis Borges

El Puñal

En un cajón hay un puñal.

Fue forjado en Toledo, a fines del siglo pasado; Luis Melián Lafinur se
lo dio a mi padre, que lo trajo del Uruguay; Evaristo Carriego lo tuvo
alguna vez en la mano.

Quienes lo ven tienen que jugar un rato con él; se advierte que hace
mucho que lo buscaban; la mano se apresura a apretar la empuñadura
que la espera; la hoja obediente y poderosa juega con precisión en la
vaina.

Otra cosa quiere el puñal.

Es más que una estructura hecha de metales; los hombres lo pensaron y
lo formaron para un fin muy preciso; es, de algún modo eterno, el puñal
que anoche mató un hombre en Tacuarembó y los puñales que mataron
a César. Quiere matar, quiere derramar brusca sangre.

En un cajón del escritorio, entre borradores y cartas, interminablemente
sueña el puñal con su sencillo sueño de tigre, y la mano se anima cuando
lo rige porque el metal se anima, el metal que presiente en cada
contacto al homicida para quien lo crearon los hombres.

A veces me da lástima. Tanta dureza, tanta fe, tan apacible o inocente
soberbia, y los años pasan, inútiles.


Jorge Luis Borges

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

“uma função da arte é legar um ilusório ontem à memória dos homens”

Borges

«Fundação mítica de Buenos Aires»

«(...) A tarde tinha-se afundado em ontens,
os homens partilharam um passado ilusório.»


Borges

Tango em Evaristo Carriego

«Borges afirma então que o tango tem por objecto a fabulação de uma certa memória
combativa
:


''Talvez a missão do tango seja essa: dar aos argentinos a certeza de terem
sido valentes, de terem cumprido já com as exigências da coragem e da
honra.''»



Eduardo Pellejero. Borges e a política da expressão a transvaloração do passado nacional, p.3

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

''Indagação'' socrática

(Sobre a impossibilidade da sobreposição da cópia)
“Não haveria dois objectos, tais como Crátilo e a imagem de Crátilo, se um deus, não satisfeito em reproduzir apenas tua cor e tua forma, como os pintores, representasse além disso, tal como ele é,todo o interior de tua pessoa, dando exactamente seus caracteres de flacidez e calor, e colocasse nele o movimento, a alma e o pensamento, tais como eles são em ti, em resumo, se todos os traços de tua pessoa, ele dispusesse junto a ti numa cópia fiel? Haveria então Crátilo e uma imagem de Crátilo,ou então dois Crátilos?”. Crátilo: “Dois Crátilos, Sócrates, me parece”.





Guimarães, R (2008). Jorge Luis Borges e Maurice Blanchot: Os pharmakós da escritura. ACTA LITERARIA Nº 37, II Sem., p.4

« (...) no conto “Vinte e cinco de agosto, 1983”, Borges encontra Borges num quarto de hotel. Esse outro (ele mesmo) é bem mais velho. Assustado, o narrador (o jovem Borges) pergunta: “Então, tudo isto é um sonho?” A resposta, nada esclarecedora: “É, tenho certeza, meu último sonho”. Quem sonha com quem? Esta é a pergunta aristotélica feita pelo jovem Borges. Porém, a resposta é borgeana: “Você não se dá conta de que o fundamental é averiguar se há um único homem sonhando ou dois que sonham um com o outro” (Borges, 2000c: 427).»


Guimarães, R (2008). Jorge Luis Borges e Maurice Blanchot: Os pharmakós da escritura. ACTA LITERARIA Nº 37, II Sem., P.4
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