segunda-feira, 27 de outubro de 2014
''acelerados em direcção à morte.''
Henry Miller. Um diabo no paraíso. Tradução de Estevão Sasportes. Livros do Brasil, livros Unibolso,
sábado, 18 de outubro de 2014
terça-feira, 14 de outubro de 2014
«Recebi o insulto e dei-me conta de que, provocadas pelo violento golpe, as lágrimas tinham inundado os meus olhos. E assim ficámos, durante algum tempo, sentados e olhando-nos mutuamente. Em seguida levantei-me lentamente. Na minha imaginação perguntava-me se ela alguma vez chegaria a aceitar-me; mas não foi a isto que me referi quando, finalmente falei. Disse-lhe, enquanto alisava o feltro do meu chapéu: «Agora já sei o que pensar. Nada!»
Henry James. O Desenho no Tapete. Tradução de Luzia Maria Martins. Relógio D'Água, Lisboa, p. 57
«Ferida e solitária, altamente talentosa e, agora, no seu luto pesado, com a maturidade do seu encanto, com o seu desgosto sem queixas, e incontestavelmente bela - apresentava-se como uma pessoa vivendo uma vida de singular dignidade e beleza.»
Henry James. O Desenho no Tapete. Tradução de Luzia Maria Martins. Relógio D'Água, Lisboa, p. 55
«Ouviu, nos vossos poucos dias de felicidade cedo interrompida», escrevi, «alguma coisa do que nós desejávamos ouvir?» Escrevi «nós» para que ela subentendesse a minha insinuação; e ela demonstrou-me que entendera a minha pequena «insinuação» «Ouvi tudo», respondeu-me ela, «e decidi guardar comigo o segredo do mistério!»
Henry James. O Desenho no Tapete. Tradução de Luzia Maria Martins. Relógio D'Água, Lisboa, p. 53
Henry James. O Desenho no Tapete. Tradução de Luzia Maria Martins. Relógio D'Água, Lisboa, p. 53
''(...) a escola do diabo, o abismo.»
Henry James. O Desenho no Tapete. Tradução de Luzia Maria Martins. Relógio D'Água, Lisboa, p. 50
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
«(...) a cara escondida pela ponta em brasa do cigarro.»
Cesare Pavese. A guitarra quebrada. Traduzida pelo italiano por José da Fonseca Costa. Editorial Minerva, Lisboa, p. 105
SE
Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso.
Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesma forma a esses dois impostores.
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.
Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida.
De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.
Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!
Rudyard Kipling
Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso.
Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesma forma a esses dois impostores.
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.
Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida.
De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.
Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!
Rudyard Kipling
terça-feira, 30 de setembro de 2014
«Do ponto de vista psiquiátrico, todos os extremismos políticos derivam de uma única categoria definida por um sistema banal: o desejo de violência e de poder. E também desejo de submissão» (Le fou, p. 93). «O gosto pelo vermelho, cor de sangue, comum ao nazismo e ao bolchevismo, remete sempre, inconscientemente, para a pulsão de morte da máquina. A própria palavra comunismo contém excepcional carga afectiva» (Le fou. p. 244)
Le fou et le prolétaire, Robert Laffont, 1979. L'invention de la France, em colaboração com Hervé Le Bras, Le Livre de Poche, 1981.
«Tentem suicidar-se e tenham o azar de falhar, logo essas bestas dos vivos hão-de desunhar-se para vos forçar a viver, obrigando-vos a partilhar a merda deles.
Sei que em certos momentos na vida parecem de felicidade; questão de humores, como o desespero, e nem um nem outro assentam sobre algo sólido. Tudo isso é asquerosamente provisório. O instinto de conservação é uma nojeira.»
«Vive la Mort», Chaval (reproduzido in Carton, Les Cahiers du dessin d'humour, nº2, 1975)
Sei que em certos momentos na vida parecem de felicidade; questão de humores, como o desespero, e nem um nem outro assentam sobre algo sólido. Tudo isso é asquerosamente provisório. O instinto de conservação é uma nojeira.»
«Vive la Mort», Chaval (reproduzido in Carton, Les Cahiers du dessin d'humour, nº2, 1975)
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
«paranóia deambulatória »
Henry Miller. Um diabo no paraíso. Tradução de Estevão Sasportes. Livros do Brasil, livros Unibolso,11/12
«Interiormente, era um ser perturbado, um homem nervoso, caprichoso e obstinado. Habituado a uma determinada rotina, levava a vida disciplinada de um eremita ou de um asceta. Era difícil dizer-se se tinha adoptado livremente este modo de vida ou o tinha aceite pela força das circunstâncias. Nunca se referiu à vida que gostava de ter. Comportava-se como uma pessoa que, escorraçada e humilhada, se conforma com a sua sorte. Como uma pessoa que assimila melhor o castigo que a felicidade. Havia nele qualquer coisa de feminino, que não deixava de ter os seus encantos, mas que explorava contra si mesmo. Era um dandy incurável, que vivia como um mendigo. E vivia completamente no passado.
Talvez que a mais precisa definição que eu possa dar da sua pessoa no começo das nossas relações, seja a de um estóico que arrasta atrás de si o seu caixão.
Contudo, era um homem com múltiplas feições, conforme vim a descobrir gradualmente. Era muito permeável, extremamente susceptível, em particular às emanações perniciosas, e podia mostrar-se tão volúvel e emotivo como uma rapariguinha de dezasseis anos. Embora não fosse um espírito estruturalmente bem formado, fazia o possível por ser correcto, imparcial e justo. E tentava ser leal, embora sentisse que, por natureza, era essencialmente falso. Aliás, foi essa indefinível perfídia a primeira coisa que percebi a seu respeito, embora não tivesse qualquer motivo para justificar este juízo. Lembro-me de ter deliberadamente afastado este pensamento, substituindo-o pela vaga noção que estava em presença de uma inteligência suspeita.»
Henry Miller. Um diabo no paraíso. Tradução de Estevão Sasportes. Livros do Brasil, livros Unibolso,11/12
Etiquetas:
Henry Miller,
saúde mental,
um diabo no paraíso
domingo, 28 de setembro de 2014
«(...), atentos a um prato de fotografias.»
Cesare Pavese. A guitarra quebrada. Traduzida pelo italiano por José da Fonseca Costa. Editorial Minerva, Lisboa, p. 76
VISIONS & OMENS
"Comecemos então pelos habitantes humanos, ou talvez melhor, sobre-humanos, dessas regiões distantes. Blake chamava-lhes querubins. E, de facto, não há dúvida de que é isso mesmo que eles são: a matriz psicológica daqueles seres que nas teologias das mais variadas religiões servem de intermediários entre o homem e a Luz Clara. As personagens sobrehumanas da experiência visionária nunca estão a fazer isto ou aquilo (do mesmo modo que os bem aventurados, no Céu, também não estão em actividade). Contentam-se com o facto de existir. Estas figuras heróicas da experiência visionária dos homens,sob vários nomes e com uma infinidade de diferentes roupagens, surgiram na arte religiosa de todas as culturas. Por vezes são apresentados em repouso, outras vezes em cenas de acção mitológica. Mas a acção, como já dissemos, não é um atributo natural dos habitantes dos antípodas da mente. Estar ocupado é a lei da nossa existência. A lei da existência deles é não fazer nada."
Aldous Huxley. "O Céu e o Inferno"
Aldous Huxley. "O Céu e o Inferno"
sábado, 27 de setembro de 2014
«(...) gritei para dentro de mim como se falasse.»
Cesare Pavese. A guitarra quebrada. Traduzida pelo italiano por José da Fonseca Costa. Editorial Minerva, Lisboa, p. 53
Fazia frio no meio das árvores.
Cesare Pavese. A guitarra quebrada. Traduzida pelo italiano por José da Fonseca Costa. Editorial Minerva, Lisboa, p. 34
E fui-me embora.
«-Não queres que eu fique aqui mais tempo? - perguntou-me Linda, de cenho carregado.
- Não quero coisa nenhuma - disse eu, brusco. - Tenho que me ir embora.
-Isso é comigo? - perguntou Linda.
Encolhi os ombros e pus a guitarra no saco. Tê-la-ia partido em dois pedaços.
-Dá-me ao menos um cigarro - disse Linda.
-Estão em cima da cama. - E fui-me embora.»
Cesare Pavese. A guitarra quebrada. Traduzida pelo italiano por José da Fonseca Costa. Editorial Minerva, Lisboa, p. 30/1
« Quando falava assim é que eu compreendia quem ela era. Contávamos um ror de coisas um ao outro nessa noite, gracejando volta e meia, mas bastava um momento para me encher de medo.»
Cesare Pavese. A guitarra quebrada. Traduzida pelo italiano por José da Fonseca Costa. Editorial Minerva, Lisboa, p. 25
Cesare Pavese. A guitarra quebrada. Traduzida pelo italiano por José da Fonseca Costa. Editorial Minerva, Lisboa, p. 25
LUTA PELO FULGOR QUOTIDIANO
"Sem observar, possuí o plano do teu corpo...
e assim se extinguiu uma cidade
se estrangularam as pombas a distância.
Nunca mais direi a cor das veias
como era tecida a teia de membros que propus
- apenas esta rota sem final mas certa,
casualmente um ramo de flores sem sorriso
um fluir de cravos na penumbra
através da tua face triste, sortílega e cigana
a isto se chama saudade
a isto está morto o tacto
sem que a órbita da terra se transtorne
antes que seja tarde muito tarde
Ocorrem-me palavras: lua flutuar sereno.
Deixaram porém a sua direcção exacta
nas folhas que o Outono carboniza
como estar só é a força flexível
de tudo que se toque, e abandone.
As torres destinaram-se ruínas
-tudo se consumou sem assistência.
Onde a vida me vá eu a prossiga
com um indício irracional perfeito,
pois com o tempo os remos submergem
sempre ao mesmo nível fatigado
transeunte e rítmico
musical, nem triste, e concludente."
Manuel de Castro. Bonsoir, Madame
e assim se extinguiu uma cidade
se estrangularam as pombas a distância.
Nunca mais direi a cor das veias
como era tecida a teia de membros que propus
- apenas esta rota sem final mas certa,
casualmente um ramo de flores sem sorriso
um fluir de cravos na penumbra
através da tua face triste, sortílega e cigana
a isto se chama saudade
a isto está morto o tacto
sem que a órbita da terra se transtorne
antes que seja tarde muito tarde
Ocorrem-me palavras: lua flutuar sereno.
Deixaram porém a sua direcção exacta
nas folhas que o Outono carboniza
como estar só é a força flexível
de tudo que se toque, e abandone.
As torres destinaram-se ruínas
-tudo se consumou sem assistência.
Onde a vida me vá eu a prossiga
com um indício irracional perfeito,
pois com o tempo os remos submergem
sempre ao mesmo nível fatigado
transeunte e rítmico
musical, nem triste, e concludente."
Manuel de Castro. Bonsoir, Madame
domingo, 21 de setembro de 2014
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
«Em dias de alma como hoje, eu sinto bem, em toda a consciência do meu corpo, que sou a criança triste em quem a vida bateu. Puseram-me a um canto de onde se ouve brincar. Sinto nas mãos o brinquedo partido que me deram por uma ironia lata. Hoje, dia catorze de Março, às nove horas e dez da noite, a minha vida sabe valer isto.»
Obra em prosa de Fernando Pessoa. Livro do Desassossego por Bernardo Soares 1ª parte. Introdução e nova organização de textos de António Quadros. Publicações Europa-América p. 20
Etiquetas:
Bernardo Soares,
Fernando Pessoa / heterónimos
«Deixo ao cego e ao surdo
A alma com fronteiras,
Que eu quero sentir tudo
De todas as maneiras.»
...
«E como são estilhaços
Do ser, as coisas dispersas
Quebro a alma em pedaços
E em pessoas diversas.»
....
«Se as coisas são estilhaços
Do saber do universo,
Seja eu os meus pedaços,
Impreciso e diverso.»
Obra em prosa de Fernando Pessoa. Livro do Desassossego por Bernardo Soares 1ª parte. Introdução e nova organização de textos de António Quadros. Publicações Europa-América P. 17
A alma com fronteiras,
Que eu quero sentir tudo
De todas as maneiras.»
...
«E como são estilhaços
Do ser, as coisas dispersas
Quebro a alma em pedaços
E em pessoas diversas.»
....
«Se as coisas são estilhaços
Do saber do universo,
Seja eu os meus pedaços,
Impreciso e diverso.»
Obra em prosa de Fernando Pessoa. Livro do Desassossego por Bernardo Soares 1ª parte. Introdução e nova organização de textos de António Quadros. Publicações Europa-América P. 17
Etiquetas:
Fernando Pessoa / heterónimos,
Livro do desassossego
«A despersonalização imaginativa, onírica e intelectual, é nele permanente: Depois, ao passar diante de casa, chalés, vou vivendo em mim todas as vidas ao mesmo tempo. Sou o pai, a mãe, as filhas, as primas, a criada e o primo da criada...»
Obra em prosa de Fernando Pessoa. Livro do Desassossego por Bernardo Soares 1ª parte. Introdução e nova organização de textos de António Quadros. Publicações Europa-América., p. 17
« Uma tal proliferação de máscaras, de disfarces, de duplos, de outros eus, que são simultaneamente o mesmo e o outro, numa prodigiosa demiurgia, não pode deixar de sugerir que estamos muito para lá de uma simples mistificação literária, que todo este mundo fictício de pseudónimos, sub-heterónimos, semiheterónimos não releva de uma contingência, mas de uma necessidade.»
Obra em prosa de Fernando Pessoa. Livro do Desassossego por Bernardo Soares 1ª parte. Introdução e nova organização de textos de António Quadros. Publicações Europa-América
Etiquetas:
Fernando Pessoa,
Fernando Pessoa / heterónimos
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
AQUILO
"Aquilo de que gosto no teu corpo é o sexo.
Aquilo de que eu gosto no teu sexo é a boca.
Aquilo de que eu gosto na tua boca é a língua.
Aquilo de que eu gosto na tua língua é a palavra."...
Julio Cortázar. "Papéis Inesperados"
sábado, 6 de setembro de 2014
«(...) com a tristeza mais estudada que eu já vira em rosto humano.»
Diderot. A religiosa. Tradução de João Gaspar Simões. Círculo de Leitores, p. 8
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
«Que poderia colher de tais excessos o homem que perseguia o prazer com tamanha violência? O desgosto pela vida, o profundo desprezo por si próprio. Arquejante, esgotado, nada tendo diante de si, Nero evocou as recordações e voltou-se para o alvo das suas primeiras afeições: Acteia voltou-lhe, sem dúvida, à memória, assim como o entusiasmo ingénuo e o enlevo sincero desse primeiro amor.»
«Depois de ter experimentado tudo e de tudo abusado, sentia a sede dos prazeres aumentar com a importância dos sentidos e do coração. Assim, fatigado pelos excessos de toda a espécie, que embotam as faculdades sem acalmar os apetites, Nero agitava-se numa saciedade voraz, que só podia alimentar-se de sombras e arrastava-se da falta de apetite incurável à insaciável avidez. Até mesmo onde a tudo podia atrever-se como um deus, tinha tudo a temer como um homem.»
Latour Saint-Ybars. Nero. Edição Amigos do Livro, Lisboa., p. 230
«(...) despojada dos floreados da eloquência, e dos artifícios da linguagem»
Latour Saint-Ybars. Nero. Edição Amigos do Livro, Lisboa., p. 221
domingo, 31 de agosto de 2014
Não ser amado é não ser!
''Existir é ter um relevo no espaço e uma sombra caída aos pés, quando o sol nasce. Mas viver é ser uma alma em outras almas. Sem comunhão não há vida; há só existência. Nós amamos para ser amados, para ser... A indiferença da pessoa querida congela-nos o coração, como se a Morte o apertasse entre os dedos descarnados. Não ser amado é não ser!”
Teixeira de Pascoaes, Os Poetas Lusíadas, 1919
Teixeira de Pascoaes, Os Poetas Lusíadas, 1919
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
Tu disseste
Tu disseste "quero saborear o infinito"
Eu disse "a frescura das maçãs matinais revela-nos
segredos insondáveis"
Tu disseste "sentir a aragem que balança os
dependurados"
Eu disse "é o medo o que nos vem acariciar"
Tu disseste "eu também já tive medo. muito medo.
recusava-me a abrir a janela, a transpôr o limiar da
porta"
Eu disse "acabamos a gostar do medo, do arrepio que
nos suspende a fala"
Tu disseste "um dia fiquei sem nada. um mundo inteiro
por descobrir"
Eu disse "..."
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
Tu disseste "agora procuro o desígnio da vida. às
vezes penso encontrá-lo num bater de asas, num
murmúrio trazido pelo vento, no piscar de um néon.
escrevo páginas e páginas a tentar formalizá-lo.
depois queimo tudo e prossigo a minha busca"
Eu disse "eu não faço nada. fico horas a olhar para
uma mancha na parede"
Tu disseste "e nunca sentiste a mancha a alastrar, as
suas formas num palpitar quase imperceptível?"
Eu disse "não. a mancha continua no mesmo sítio, eu
continuo a olhar para ela e não se passa nada"
Tu disseste "e no entanto a mancha alastra e toma
conta de ti. liberta-te do corpo. tu é que não vês"
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
Eu disse "a frescura das maçãs matinais revela-nos
segredos insondáveis"
Tu disseste "sentir a aragem que balança os
dependurados"
Eu disse "é o medo o que nos vem acariciar"
Tu disseste "eu também já tive medo. muito medo.
recusava-me a abrir a janela, a transpôr o limiar da
porta"
Eu disse "acabamos a gostar do medo, do arrepio que
nos suspende a fala"
Tu disseste "um dia fiquei sem nada. um mundo inteiro
por descobrir"
Eu disse "..."
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
Tu disseste "agora procuro o desígnio da vida. às
vezes penso encontrá-lo num bater de asas, num
murmúrio trazido pelo vento, no piscar de um néon.
escrevo páginas e páginas a tentar formalizá-lo.
depois queimo tudo e prossigo a minha busca"
Eu disse "eu não faço nada. fico horas a olhar para
uma mancha na parede"
Tu disseste "e nunca sentiste a mancha a alastrar, as
suas formas num palpitar quase imperceptível?"
Eu disse "não. a mancha continua no mesmo sítio, eu
continuo a olhar para ela e não se passa nada"
Tu disseste "e no entanto a mancha alastra e toma
conta de ti. liberta-te do corpo. tu é que não vês"
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
Penso que penso
Caminho em silêncio
Distraído por um pensar
Que me turba o andar
Penso que penso
E fico a ouvir-me a pensar
Que penso que penso
Este pensamento
Torna-se um tormento
Penso que penso
Que penso que penso
Sempre o mesmo a dobrar
Como vozes a segredar
Penso que penso
Que penso que penso
Que ainda vou flipar
Flipar
ESTOU FARTO DE MIM ESTOU FARTO DE MIM
ESTOU FARTO DE MIM ESTOU FARTO DE MIM
Já não posso mais andar
Com tanta voz a murmurar
Levado pelo vento
Penso que penso
Que penso que penso
Que penso que penso
E se penso em parar
É mais um pensamento
Que me fica a ecoar
Outra voz a segredar
Outra voz a murmurar
Murmurar...
Murmurar murmurar murmurar murmurar murmurar murmurar
murmurar
Murmurar murmurar murmurar murmurar murmurar murmurar
murmurar
ESTOU FARTO DE MIM ESTOU FARTO DE MIM
ESTOU FARTO DE MIM ESTOU FARTO DE MIM
Distraído por um pensar
Que me turba o andar
Penso que penso
E fico a ouvir-me a pensar
Que penso que penso
Este pensamento
Torna-se um tormento
Penso que penso
Que penso que penso
Sempre o mesmo a dobrar
Como vozes a segredar
Penso que penso
Que penso que penso
Que ainda vou flipar
Flipar
ESTOU FARTO DE MIM ESTOU FARTO DE MIM
ESTOU FARTO DE MIM ESTOU FARTO DE MIM
Já não posso mais andar
Com tanta voz a murmurar
Levado pelo vento
Penso que penso
Que penso que penso
Que penso que penso
E se penso em parar
É mais um pensamento
Que me fica a ecoar
Outra voz a segredar
Outra voz a murmurar
Murmurar...
Murmurar murmurar murmurar murmurar murmurar murmurar
murmurar
Murmurar murmurar murmurar murmurar murmurar murmurar
murmurar
ESTOU FARTO DE MIM ESTOU FARTO DE MIM
ESTOU FARTO DE MIM ESTOU FARTO DE MIM
«Nero pode fazer-me morrer, mas não saberia fazer-me mal.»
Latour Saint-Ybars. Nero. Edição Amigos do Livro, Lisboa., p. 162
«Nero deu a imortalidade à frágil criatura, à qual não tinha podido sequer assegurar a vida. Estes arrebatamentos, os únicos que se podem desculpar e compreender, servem pelo menos para fazer-vos ver Nero em toda a extensão do seu carácter, excessivo de desordenado em todas as suas paixões.»
Latour Saint-Ybars. Nero. Edição Amigos do Livro, Lisboa., p. 160
segunda-feira, 21 de julho de 2014
domingo, 20 de julho de 2014
MANUEL DA SILVA
Tinha-se-te metido na cabeça que, se fechasses os olhos, nunca mais os poderia abrir e, durante dezassete dias e dezassete noites, ninguém teve um momento de sossego nesta casa.
LEONOR
E afinal, graças a Deus, tens adormecido e acordado centenas de vezes desde então ... (Um pequeno silêncio.)
Fernanda de Castro. Obras Completas. Teatro. A Pedra no Lago. Peça em Quatro Actos, 1943. Círculo de Leitores, Lisboa, 2006., p. 39
MANUEL SILVA
A tua mãe adorava-te, estava sempre a temer que um sopro te levasse...Quando eras pequeno, tinhas um feitio infeliz... Não sabias brincar como as outras crianças e choravas em silêncio, como um homem. Foi tudo isto, com certeza, que a inquietou e lhe deu ideias absurdas...No fundo, creio que tinha pena de ti por ver que sofrias, como ela, dum excesso de sensibilidade. Como vês, nada disto tem a mínima importância.
Fernanda de Castro. Obras Completas. Teatro. A Pedra no Lago. Peça em Quatro Actos, 1943. Círculo de Leitores, Lisboa, 2006., p. 38/9
«A tua única doença é a imaginação. Essa é que precisa de regime e de médico assistente...»
Fernanda de Castro. Obras Completas. Teatro. A Pedra no Lago. Peça em Quatro Actos, 1943. Círculo de Leitores, Lisboa, 2006., p. 37
«Sou caprichosa, exigente, inadaptável;»
Fernanda de Castro. Obras Completas. Teatro. A Pedra no Lago. Peça em Quatro Actos, 1943. Círculo de Leitores, Lisboa, 2006., p. 25
ISABEL
Fernanda de Castro. Obras Completas. Teatro. A Pedra no Lago. Peça em Quatro Actos, 1943. Círculo de Leitores, Lisboa, 2006., p. 15
Enganas-te: ficou também um certo cansaço, um certo mal-estar, que, apesar de tudo, nos separa. Estou farta de combater eternamente os seus demónios, aquele gosto do sofrimento que é para ele uma espécie de segunda natureza. Tu bem sabes que detesto complicações, que só tenho uma ambição na vida: ser feliz, viver simplesmente, sem histórias, sem dramas. Ele, pelo contrário, adora a tragédia, as discussões inúteis, as reconciliações momentâneas que não remedeiam nada. Ah, Clara, estou farta, farta!
Fernanda de Castro. Obras Completas. Teatro. A Pedra no Lago. Peça em Quatro Actos, 1943. Círculo de Leitores, Lisboa, 2006., p. 15
ISABEL
Pois bem, seja! Aliás, o que tenho a dizer-te é muito simples: o teu irmão está doido, completamente doido!
CLARA
Isso já nós sabemos há muito. E depois?
ISABEL
Depois?! Achas que é pouco?!
CLARA
A loucura dele é mansa...No fundo, não é capaz de fazer mal a uma mosca
Fernanda de Castro. Obras Completas. Teatro. A Pedra no Lago. Peça em Quatro Actos, 1943. Círculo de Leitores, Lisboa, 2006., p. 13
Pois bem, seja! Aliás, o que tenho a dizer-te é muito simples: o teu irmão está doido, completamente doido!
CLARA
Isso já nós sabemos há muito. E depois?
ISABEL
Depois?! Achas que é pouco?!
CLARA
A loucura dele é mansa...No fundo, não é capaz de fazer mal a uma mosca
Fernanda de Castro. Obras Completas. Teatro. A Pedra no Lago. Peça em Quatro Actos, 1943. Círculo de Leitores, Lisboa, 2006., p. 13
sobre Eugénio de Andrade
«(...), viveu sempre extremamente distanciado do que se chama vida social, literária ou mundana, avesso à comunicação social, arredado de encontros, colóquios, congressos, etc., e as suas raras aparições em público devem-se a ''essa debilidade do coração, que é a amizade''.»
«O teatro de Handke sempre teve mais ligações com os modelos estruturais e as obsessões temáticas da sua prosa do que com a tradição (ou as tradições) do teatro.»
João Barrento. O arco da palavra. Peter Handke, dramaturgo. in A Palavra Transversal. Literatura e Ideias no Século XX. Lisboa, Livros Cotovia, 1996
João Barrento. O arco da palavra. Peter Handke, dramaturgo. in A Palavra Transversal. Literatura e Ideias no Século XX. Lisboa, Livros Cotovia, 1996
quinta-feira, 17 de julho de 2014
Solidão
Solidão de quem tremeu
A tentação do céu
E dos encantos, o que o céu me deu
Serei bem eu
Sob este véu de pranto
Sem saber se choro algum pecado
A tremer, imploro o céu fechado
Triste amor, o amor de alguém
Quando outro amor se tem
Abandonado, e não me abandonei
Por mim, ninguém
Já se detém na estrada
A tentação do céu
E dos encantos, o que o céu me deu
Serei bem eu
Sob este véu de pranto
Sem saber se choro algum pecado
A tremer, imploro o céu fechado
Triste amor, o amor de alguém
Quando outro amor se tem
Abandonado, e não me abandonei
Por mim, ninguém
Já se detém na estrada
Grito
Silêncio!
Do silêncio faço um grito
O corpo todo me dói
Deixai-me chorar um pouco.
De sombra a sombra
Há um Céu...tão recolhido...
De sombra a sombra
Já lhe perdi o sentido.
Ao céu!
Aqui me falta a luz
Aqui me falta uma estrela
Chora-se mais
Quando se vive atrás dela.
E eu,
A quem o céu esqueceu
Sou a que o mundo perdeu
Só choro agora
Que quem morre já não chora.
Solidão!
Que nem mesmo essa é inteira...
Há sempre uma companheira
Uma profunda amargura.
Ai, solidão
Quem fora escorpião
Ai! solidão
E se mordera a cabeça!
Adeus
Já fui para além da vida
Do que já fui tenho sede
Sou sombra triste
Encostada a uma parede.
Adeus,
Vida que tanto duras
Vem morte que tanto tardas
Ai, como dói
A solidão quase loucura.
segunda-feira, 14 de julho de 2014
PAROLLES
«Contra isso pouco se pode dizer; em todo o caso, é contrário às leis da natureza. Defender a virgindade é acusar as vossas mães - o que é desobediência declarada. Aquele que se enforca a si mesmo, é virgem: a virgindade assassina-o; devia ser enterrado nas entranhas públicas, fora de todo o recinto sacrificado, como terrível criminoso contra a natureza. A virgindade gera bichos, muito semelhante ao queijo; consome-se até à côdea, e morre devorando as próprias entranhas. Além disso, a virgindade é impertinente, orgulhosa, preguiçosa, toda ela amor-próprio, que é o pecado mais proibido pela doutrina. Não a conserveis; se lhe dais a preferência, é uma perda certa: fora com ela! dentro de dez anos ter-vos-á produzido dez outras virgindades, o que já é um bonito rendimento; e o próprio capital não estará por isso pior; fora pois com ela!»
William Shakespeare. Bem está o que bem acaba. Tradução directa da edição de Collins por Henrique Braga. Lello&Irmão, Porto., p. 17
''vãs especulações e as discussões estéreis não eram alimento suficiente para esses homens de acção''
Latour Saint-Ybars. Nero. Edição Amigos do Livro, Lisboa., p. 108
«Um traço característico desta singular fisionomia é que Nero não via bem a não ser ao perto e piscando os olhos. Quando ia ao circo presidir aos jogos, servia-se de uma esmeralda para ver os combates dos gladiadores. Todas as vezes que Nero presidia aos jogos do circo, servia-se de uma destas pedras preciosas como de um espelho, para poupar a vista do sangue que lhe causava horror e para poupar os seus olhos.»
Latour Saint-Ybars. Nero. Edição Amigos do Livro, Lisboa., p. 105
«Foi depois de ter empregado inutilmente os meios aconselhados pelos curiões que Nero desceu aos mistérios da magia para se subtrair às obsessões que perturbavam as suas noites. Esforços inúteis: os terrores e os remorsos incessantes foram o suplício de toda a sua vida.»
Latour Saint-Ybars. Nero. Edição Amigos do Livro, Lisboa., p. 88
Latour Saint-Ybars. Nero. Edição Amigos do Livro, Lisboa., p. 88
«A avareza, a ambição, o amor da guerra que não tinham contrariado esses bons impulsos, não opuseram obstáculo ao lado mau; e o ódio veio, por sua vez, reinar na sua alma tão absolutamente quanto outrora a bondade tinha dominado. Vencido pelo mal como o tinha sido pelo bem, Nero foi o pior dos homens depois de ter nascido o melhor e as suas paixões levaram-no longe, tão facilmente se deixava arrastar, que tudo se tornou uma fatalidade, até mesmo o assassínio da mãe.»
Latour Saint-Ybars. Nero. Edição Amigos do Livro, Lisboa., p. 87
«Nero, que não queria ser um tirano, tomou precauções para chegar até Popeia, recorreu a atenções, quase organizou uma conspiração. A Sálvio Otão, seu amigo, foi pedida a intervenção neste assunto delicado, sem escândalo e sem barulho. Logo que Popeia se viu requestada pelo príncipe, serviu-se de todos os seus artifícios para desenvolver essa paixão nascente. Primeiramente, fingiu uma emoção misturada com surpresa, era a perturbação e o espanto de uma mulher surpreendida por um amor involuntário; não quer voltar a encontrar-se diante Nero; se o volta a ver está perdida. Desde esse momento, afectou evitar a sua presença, mesmo em público. Depois de muitas hesitações, muitas recusas e muitas premeditadas imprudências, voltaram a encontrar-se por fim e, desta vez, a palidez e as lágrimas de Popeia provaram a Nero o amor violento de que era alvo.»
Latour Saint-Ybars. Nero. Edição Amigos do Livro, Lisboa., p. 71
«Perguntamos a nós próprios a razão porque Nero, que tinha amado Acteia tão apaixonadamente ao ponto de querer colocá-la no trono, foi tão violentamente arrastado para Popeia, que ocupou então o primeiro lugar no seu coração. Por muito generosa que fosse a paixão de Nero por Acteia, por mais sólida que fosse a teia de ideias e de sentimento desse amor, depois de ter arrastado as discórdias de Agripina e de seu filho, o envenenamento de Britânico e as desordens para as quais os amigos arrastavam o Jovem César, o retalho de púrpura não era mais do que um farrapo. Junto de Popeia, Nero vai sofrer a servidão dos sentidos e conhecer a fatalidade das paixões.»
Latour Saint-Ybars. Nero. Edição Amigos do Livro, Lisboa., p. 70/71
What Can I Do For You? by Bob Dylan
I know all about poison, I know all about fiery darts
I don’t care how rough the road is, show me where it starts
Whatever pleases You, tell it to my heart
Well, I don’t deserve it but I sure did make it through
What can I do for You?
(...)
I don’t care how rough the road is, show me where it starts
Whatever pleases You, tell it to my heart
Well, I don’t deserve it but I sure did make it through
What can I do for You?
(...)
omnia mutantur, nihil interit: errat et illinc / huc venit, hinc illuc, et quoslibet occupat artus / spiritus eque feris humana in corpora transit / inque feras noster, nec tempore deperit ullo, / utque novis facilis signatur cera figuris / nec manet ut fuerat nec formam servat eandem, / sed tamen ipsa eadem est, animam sic semper eandem / esse, sed in varias doceo migrare figuras. / ergo, ne pietas sit victa cupidine ventris, / parcite, vaticinor, cognatas caede nefanda / exturbare animas, nec sanguine sanguis alatur!
Tudo se transforma, nada morre. O espírito vagueia e anda / daqui para ali, dali para aqui, e invade um corpo, qualquer / que ele seja, e dos animais, e em instante algum perece. / Tal como a dúctil cera se molda sempre em novas figuras, / E não permanece como era, nem conserva as mesmas formas, / E, no entanto, é sempre a mesma, assim a alma é a mesma, / (...) mas transmigra para uma variedade de formas.
Ovídio, Metamorfoses, XV, vv. 165-173 (trad. P. F. Alberto, Lisboa, Cotovia, 2010, p. 369).
Tudo se transforma, nada morre. O espírito vagueia e anda / daqui para ali, dali para aqui, e invade um corpo, qualquer / que ele seja, e dos animais, e em instante algum perece. / Tal como a dúctil cera se molda sempre em novas figuras, / E não permanece como era, nem conserva as mesmas formas, / E, no entanto, é sempre a mesma, assim a alma é a mesma, / (...) mas transmigra para uma variedade de formas.
Ovídio, Metamorfoses, XV, vv. 165-173 (trad. P. F. Alberto, Lisboa, Cotovia, 2010, p. 369).
1. Il y a des images, les choses mêmes sont des images, parce que les images ne sont pas dans la tête, dans le cerveau. C'est au contraire le cerveau qui est une image parmi d'autres. Les images ne cessent pas d'agir et de réagir les unes sur les autres, de produire et de consommer. (...)
2. Mais les images ont aussi un dedans ou certaines images ont un dedans et s'éprouvent du dedans. Ce sont des sujets. Il y a en effet un écart entre l'action subie par ces images et la réaction exécutée. C'est cet écart qui leur donne le pouvoir de stocker d'autres images, c'est-à-dire de percevoir. Mais ce qu'elles stockent, c'est seulement ce qui les intéressedans les autres images: percevoir c'est soustraire de l'image ce qui ne nous intéresse pas, il y a un toujours moins dans notre perception. (...)
Gilles Deleuze, «Trois questions sur Six fois deux (Godard)», in Pourparlers, Minuit, Paris, 1990, p. 62.
1. Há imagens, as próprias coisas são imagens, porque as imagens não existem na cabeça, no cérebro. Bem pelo contrário, é o cérebro que constitui uma imagem, entre as demais. As imagens não cessam de agir e de reagir umas sobre as outras, de produzir e de consumir.
(...)
2. Mas as imagens têm ainda um interior, ou algumas imagens têm um interior que e experimentam-se a partir deste. São sujeitos. Com efeito, há um hiato entre a acção infligida e a reacção. É este hiato que lhes confere o poder de armazenar outras imagens, ou seja, de percepcionar-receber. Mas o que elas armazenam, é apenas o que nas outras imagens lhes interessa: percepcionar-receber, é substrair à imagem o que não nos interessa, há sempre menos na nossa percepção. (...)
2. Mais les images ont aussi un dedans ou certaines images ont un dedans et s'éprouvent du dedans. Ce sont des sujets. Il y a en effet un écart entre l'action subie par ces images et la réaction exécutée. C'est cet écart qui leur donne le pouvoir de stocker d'autres images, c'est-à-dire de percevoir. Mais ce qu'elles stockent, c'est seulement ce qui les intéressedans les autres images: percevoir c'est soustraire de l'image ce qui ne nous intéresse pas, il y a un toujours moins dans notre perception. (...)
Gilles Deleuze, «Trois questions sur Six fois deux (Godard)», in Pourparlers, Minuit, Paris, 1990, p. 62.
1. Há imagens, as próprias coisas são imagens, porque as imagens não existem na cabeça, no cérebro. Bem pelo contrário, é o cérebro que constitui uma imagem, entre as demais. As imagens não cessam de agir e de reagir umas sobre as outras, de produzir e de consumir.
(...)
2. Mas as imagens têm ainda um interior, ou algumas imagens têm um interior que e experimentam-se a partir deste. São sujeitos. Com efeito, há um hiato entre a acção infligida e a reacção. É este hiato que lhes confere o poder de armazenar outras imagens, ou seja, de percepcionar-receber. Mas o que elas armazenam, é apenas o que nas outras imagens lhes interessa: percepcionar-receber, é substrair à imagem o que não nos interessa, há sempre menos na nossa percepção. (...)
«Mas, num ímpeto, ela puxou-lhe a espingarda das mãos. E, antes que ele pudesse tomar consciência do que se passava, um estampido vermelho reboou na serenidade da manhã e a burra oscilou sobre o piso orvalhado. A burra fez ainda um esforço para erguer as patas traseiras, mas, gemebunda, logo voltou a cair sobre os joelhos. Um dos seus olhos estava estilhaçado e dele corria uma nódoa quente no chão da courela. A nódoa foi alastrando, abrindo nervuras na terra negra. Já não era sangue da besta. Era a courela que gemia um suor de agonia, um suor de sangue. E nem um vento áspero, esse vento emigrado das montanhas do Norte, faltou ali para lhe enrugar a superfície viscosa e coagulada.»
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 246
«Vieirinha já não o escutava: fechara-se em melancolia. A sua face era a de um velho. Estava exausto e ausente como um velho. Mas as suas palavras reboavam ainda nos ouvidos do Loas, atiravam-no para um abismo de problemas. Lutar consigo. As palavras do Vieirinha avolumavam-se, inchavam, começando a afogueá-lo. Mas, por obscuras que parecessem, essas palavras representavam uma lúcida revelação.»
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 231
mastigando as lágrimas
«Bem o sabia. E, mastigando as lágrimas, para que elas não fossem explodir, pôs-se a pensar na terra como se nada mais lhe restasse, como se a sua terra fosse apenas cor, folhas, árvores, e a nostalgia do passado apenas a saudade de um bosque, a nostalgia de uma cor.»
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 224
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 224
É p'ra amanha
É p'ra amanha
Bem podias fazer hoje
Porque amanhã sei que voltas a adiar
E tu bem sabes como o tempo foge
Mas nada fazes para o agarrar
Foi mais um dia e tu nada fizeste
Um dia a mais tu pensas que não faz mal
Vem outro dia e tudo se repete
E vais deixando ficar tudo igual
É p'ra amanha
Bem podias viver hoje
Porque amanhã quem sabe se vais cá estar
Ai tu bem sabes como a vida foge
Mesmo que penses que esta p'ra durar
Foi mais um dia e tu nada viveste
Deixas passar os dias sempre iguais
Quando pensares no tempo que perdeste
Entao tu queres mas é tarde demais
É p'ra amanha
Deixa lá não facas hoje
Porque amanhã tudo se há-de arranjar
Ai tu bem sabes que o trabalho foge
Mesmo de quem diz que quer trabalhar
Eu sei que tu andas a procurar
Esse lugar que acerte bem contigo
Do que aparece nao consegues gostar
E do que gostas já está preenchido
Bem podias fazer hoje
Porque amanhã sei que voltas a adiar
E tu bem sabes como o tempo foge
Mas nada fazes para o agarrar
Foi mais um dia e tu nada fizeste
Um dia a mais tu pensas que não faz mal
Vem outro dia e tudo se repete
E vais deixando ficar tudo igual
É p'ra amanha
Bem podias viver hoje
Porque amanhã quem sabe se vais cá estar
Ai tu bem sabes como a vida foge
Mesmo que penses que esta p'ra durar
Foi mais um dia e tu nada viveste
Deixas passar os dias sempre iguais
Quando pensares no tempo que perdeste
Entao tu queres mas é tarde demais
É p'ra amanha
Deixa lá não facas hoje
Porque amanhã tudo se há-de arranjar
Ai tu bem sabes que o trabalho foge
Mesmo de quem diz que quer trabalhar
Eu sei que tu andas a procurar
Esse lugar que acerte bem contigo
Do que aparece nao consegues gostar
E do que gostas já está preenchido
Canção do engate
Tu estás livre e eu estou livre
E há uma noite para passar
Porque não vamos unidos
Porque não vamos ficar
Na aventura dos sentidos
Tu estás só e eu mais só estou
Que tu tens o meu olhar
Tens a minha mão aberta
À espera de se fechar
Nessa tua mão deserta
Vem que o amor
Não é o tempo
Nem é o tempo
Que o faz
Vem que o amor
É o momento
Em que eu me dou
Em que te dás
Tu que buscas companhia
E eu que busco quem quiser
Ser o fim desta energia
Ser um corpo de prazer
Ser o fim de mais um dia
Tu continuas à espera
Do melhor que já não vem
E a esperança fio encontrada
Antes de ti por alguém
E eu sou melhor que nada
Refrão (3x)
E há uma noite para passar
Porque não vamos unidos
Porque não vamos ficar
Na aventura dos sentidos
Tu estás só e eu mais só estou
Que tu tens o meu olhar
Tens a minha mão aberta
À espera de se fechar
Nessa tua mão deserta
Vem que o amor
Não é o tempo
Nem é o tempo
Que o faz
Vem que o amor
É o momento
Em que eu me dou
Em que te dás
Tu que buscas companhia
E eu que busco quem quiser
Ser o fim desta energia
Ser um corpo de prazer
Ser o fim de mais um dia
Tu continuas à espera
Do melhor que já não vem
E a esperança fio encontrada
Antes de ti por alguém
E eu sou melhor que nada
Refrão (3x)
Adeus que me vou embora
Adeus que me vou embora
Adeus que me vou embora
Adeus que me embora vou
Adeus que me embora vou
Vou daqui para a minha terra
Vou daqui para a minha terra
que eu desta terra não sou
que eu desta terra não sou
Tenho minha mãe à espera
Tenho minha mãe à espera
Cansada de me esperar
Cansada de me esperar
Naquela encosta da serra
Naquela encosta da serra
Adeus que me vou embora
Adeus que me embora vou
Adeus que me embora vou
Vou daqui para a minha terra
Vou daqui para a minha terra
que eu desta terra não sou
que eu desta terra não sou
Tenho minha mãe à espera
Tenho minha mãe à espera
Cansada de me esperar
Cansada de me esperar
Naquela encosta da serra
Naquela encosta da serra
A teia
Tenho maneira de te convencer
Tenho modo e jeito para te prender
Tenho maneira de te convencer
Tenho modo e jeito para te prender
Vais perder a confiança
Vais perder a segurança
Que tu tens em ti
Olha bem p'ra mim
Não podes fugir
Não podes fugir
Não vais conseguir
Não vais resistir
Começa a sorrir
Tu estás dentro da minha teia
De onde não podes fugir, não
De onde não podes fugir, não
Tenho modo e jeito para te prender
Tenho maneira de te convencer
Tenho modo e jeito para te prender
Vais perder a confiança
Vais perder a segurança
Que tu tens em ti
Olha bem p'ra mim
Não podes fugir
Não podes fugir
Não vais conseguir
Não vais resistir
Começa a sorrir
Tu estás dentro da minha teia
De onde não podes fugir, não
De onde não podes fugir, não
«Poeira, secura, solidão. E por toda a parte o odor quente do trigo, espesso e lascivo, fundindo-se com o mofo daquelas terras onde os restolhos apodreciam até que o arado, na próxima sementeira, os sepultasse no subsolo. E também os pensamentos mergulhavam nesse charco, sem que um vendaval, chuva, serras, árvores, vento, os revolvesse e tornasse límpidos. Joana, fugindo da charneca, fugindo do trigo, fugia dos seus pensamentos estagnados.»
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 221
Oh, where have you been, my blue-eyed son?
Oh, where have you been, my darling young one?
I’ve stumbled on the side of twelve misty mountains
I’ve walked and I’ve crawled on six crooked highways
I’ve stepped in the middle of seven sad forests
I’ve been out in front of a dozen dead oceans
I’ve been ten thousand miles in the mouth of a graveyard
And it’s a hard, and it’s a hard, it’s a hard, and it’s a hard
And it’s a hard rain’s a-gonna fall
Oh, what did you see, my blue-eyed son?
Oh, what did you see, my darling young one?
I saw a newborn baby with wild wolves all around it
I saw a highway of diamonds with nobody on it
I saw a black branch with blood that kept drippin’
I saw a room full of men with their hammers a-bleedin’
I saw a white ladder all covered with water
I saw ten thousand talkers whose tongues were all broken
I saw guns and sharp swords in the hands of young children
And it’s a hard, and it’s a hard, it’s a hard, it’s a hard
And it’s a hard rain’s a-gonna fall
And what did you hear, my blue-eyed son?
And what did you hear, my darling young one?
I heard the sound of a thunder, it roared out a warnin’
Heard the roar of a wave that could drown the whole world
Heard one hundred drummers whose hands were a-blazin’
Heard ten thousand whisperin’ and nobody listenin’
Heard one person starve, I heard many people laughin’
Heard the song of a poet who died in the gutter
Heard the sound of a clown who cried in the alley
And it’s a hard, and it’s a hard, it’s a hard, it’s a hard
And it’s a hard rain’s a-gonna fall
Oh, who did you meet, my blue-eyed son?
Who did you meet, my darling young one?
I met a young child beside a dead pony
I met a white man who walked a black dog
I met a young woman whose body was burning
I met a young girl, she gave me a rainbow
I met one man who was wounded in love
I met another man who was wounded with hatred
And it’s a hard, it’s a hard, it’s a hard, it’s a hard
It’s a hard rain’s a-gonna fall
Oh, what’ll you do now, my blue-eyed son?
Oh, what’ll you do now, my darling young one?
I’m a-goin’ back out ’fore the rain starts a-fallin’
I’ll walk to the depths of the deepest black forest
Where the people are many and their hands are all empty
Where the pellets of poison are flooding their waters
Where the home in the valley meets the damp dirty prison
Where the executioner’s face is always well hidden
Where hunger is ugly, where souls are forgotten
Where black is the color, where none is the number
And I’ll tell it and think it and speak it and breathe it
And reflect it from the mountain so all souls can see it
Then I’ll stand on the ocean until I start sinkin’
But I’ll know my song well before I start singin’
And it’s a hard, it’s a hard, it’s a hard, it’s a hard
It’s a hard rain’s a-gonna fall
Oh, where have you been, my darling young one?
I’ve stumbled on the side of twelve misty mountains
I’ve walked and I’ve crawled on six crooked highways
I’ve stepped in the middle of seven sad forests
I’ve been out in front of a dozen dead oceans
I’ve been ten thousand miles in the mouth of a graveyard
And it’s a hard, and it’s a hard, it’s a hard, and it’s a hard
And it’s a hard rain’s a-gonna fall
Oh, what did you see, my blue-eyed son?
Oh, what did you see, my darling young one?
I saw a newborn baby with wild wolves all around it
I saw a highway of diamonds with nobody on it
I saw a black branch with blood that kept drippin’
I saw a room full of men with their hammers a-bleedin’
I saw a white ladder all covered with water
I saw ten thousand talkers whose tongues were all broken
I saw guns and sharp swords in the hands of young children
And it’s a hard, and it’s a hard, it’s a hard, it’s a hard
And it’s a hard rain’s a-gonna fall
And what did you hear, my blue-eyed son?
And what did you hear, my darling young one?
I heard the sound of a thunder, it roared out a warnin’
Heard the roar of a wave that could drown the whole world
Heard one hundred drummers whose hands were a-blazin’
Heard ten thousand whisperin’ and nobody listenin’
Heard one person starve, I heard many people laughin’
Heard the song of a poet who died in the gutter
Heard the sound of a clown who cried in the alley
And it’s a hard, and it’s a hard, it’s a hard, it’s a hard
And it’s a hard rain’s a-gonna fall
Oh, who did you meet, my blue-eyed son?
Who did you meet, my darling young one?
I met a young child beside a dead pony
I met a white man who walked a black dog
I met a young woman whose body was burning
I met a young girl, she gave me a rainbow
I met one man who was wounded in love
I met another man who was wounded with hatred
And it’s a hard, it’s a hard, it’s a hard, it’s a hard
It’s a hard rain’s a-gonna fall
Oh, what’ll you do now, my blue-eyed son?
Oh, what’ll you do now, my darling young one?
I’m a-goin’ back out ’fore the rain starts a-fallin’
I’ll walk to the depths of the deepest black forest
Where the people are many and their hands are all empty
Where the pellets of poison are flooding their waters
Where the home in the valley meets the damp dirty prison
Where the executioner’s face is always well hidden
Where hunger is ugly, where souls are forgotten
Where black is the color, where none is the number
And I’ll tell it and think it and speak it and breathe it
And reflect it from the mountain so all souls can see it
Then I’ll stand on the ocean until I start sinkin’
But I’ll know my song well before I start singin’
And it’s a hard, it’s a hard, it’s a hard, it’s a hard
It’s a hard rain’s a-gonna fall
«Levantou-se subitamente, com os olhos orvalhados, e escondeu-se em casa para chorar à vontade.»
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 204
«E apetecia-lhe estoirar o cérebro e ao carne de encontro às pedras, às árvores, aos astros, de encontro a alguma coisa, ainda não identificada, onde se devia acoitar o responsável da sua desgraça. Loas semicerrou os olhos a esse pensamento capcioso, lento, terrível. Todo ele se encolheu, de pêlos eriçados, como um bicho à espreita do assalto de outro bicho. Que sentia no seu cérebro? Sonho, génio, loucura - apenas tragédia? Havia nele uma zona obscura e esquiva, que afinal temia explorar, um inacessível inferno donde brotavam lavas, clarões fugazes, iluminando-lhe o pensamento para o logo escurecer. Donde partira a sua desgraça?»
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 198
«Depois dos dias incertos de Outono, nuvens esparsas correram de todos os lados do horizonte, fechando o céu num cinzento pesado e definitivo - e, então, a chuva persistiu durante semanas. Às vezes diminuía para ser apenas nevoeiro, uma poalha húmida, outras vezes corria torrencialmente, arrasando as belgas. Nas madrugadas, a geada encaramelava os alqueives e Barbaças era dos que iam apanhar as lebres na cama, atordoadas da invernia.»
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 187
«Manhã cedo, Loas encaminhou-se para o interior da charneca, lá onde os montados areentos, às vezes com a giesta da altura de um homem, isolavam os casais do resto do mundo. Quem sabe se o albardeiro se teria ali refugiado? Os camponeses ficavam a meia porta, ou no escuro dos postigos, assim que o Loas, no seu passo irritadiço, desafiando os ladros dos cães, lhes surgia por entre os silvados. Um albardeiro? Sim, andara por aí um homem com uma albarda às costas, mostrando-a a toda a gente, mas não tinha cara de ladrão.»
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 183
«As árvores já húmidas do Outono friorento balouçavam docemente no entardecer, pelas folhas corria um frémito que os ouvidos percebiam como um arrepio. Loas abria as narinas e esse aroma de erva molhada, de seiva que brotava da terra. A terra exalava a plenitude de um ventre fecundado.»
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 182
niquento
1. Que se ocupa de ninharias.
2. Que não se contenta facilmente.
3. Que se ofende facilmente. = MELINDROSO
2. Que não se contenta facilmente.
3. Que se ofende facilmente. = MELINDROSO
«Loas parecia satisfeito, mas logo os seus olhos claros procuraram a inspiração das distâncias. As pessoas da courela tinham razões para temer esse olhar que se estendia pela charneca, que ultrapassava a charneca, que fugia das coisas próximas e concretas, perdendo-se num mundo interdito.»
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 181
«Por essa altura vieram as primeiras chuvas. Inopinadamente, no céu liso, formavam-se nuvens espessas, acastelando-se umas sobre as outras, e logo a trovoada se desfazia com a rapidez que começara. Na terra ardente, as grossas gotas de chuva deixavam cicatrizes, com o cheiro de carne queimada. »
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 173
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 173
A luz começava a envelhecer
«A luz começava a envelhecer. Casas, árvores, nuvens, desagregavam-se numa melancólica paisagem de Outono, que trazia a doçura e serenidade, mas que também se carregava do sombrio presságio de quando os dias estão prestes a morrer.»
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 169/170
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 169/170
domingo, 13 de julho de 2014
«Bakhtine intervém na questão em que se debate a delimitação entre as ciências naturais e as ciências humanas com várias teses fundamentais: para ele, o que é essencial no homem enquanto «objecto» das ciências humanas é o facto de o homem ser um ser-que-fala («parlêtre» dirá Lacan). Porque as ciências humanas não estudam tudo o que diz respeito ao homem, mas apenas aquilo que no homem existe de especificamente humano.»
Eduardo Prado Coelho. A Mecânica dos Fluidos. Literatura, cinema, teoria. Imprensa Nacional - Casa da Moeda. p. 243
«Chaque personne qui nous fait soffrir peut être rattachée par nous à une divinité dont elle n'est qu'un reflet fragmentaure et le dernier degré, divinité dont la cintemplation en tant qu'idée nous donne aussitôt de la joie au lieu de la peine que nous avions. Tout l'art de vivre, c'est de nous servir des personnes qui nous font souffrir comme d'un degré permettant d'accéder à sa forme divine et de pleurer ainsi journellement notre vie de divinités».
Rohmer
Subscrever:
Mensagens (Atom)