domingo, 23 de setembro de 2012

Que teria sucedido para sentir tanta a sua solidão?


«Donde vinham esses soluços que lhe subiam à garganta? Porque recordava ela as tristezas da sua jovem existência? Na véspera tinha-se esquecido que era órfã, de que não tinha mais ninguém no mundo senão o seu esposo. Que teria sucedido para sentir tanta a sua solidão?»



Rabindranath Tagore. O Naufrágio. Tradução de Telo de Mascarenhas. Editorial Inquérito, Lisboa., p. 99/100

sábado, 22 de setembro de 2012

A tableau of Tennyson's poem, The Passing of Arthur, photographed by Julia Margaret Cameron in 1875


''sem meios-termos''

UM RIO SECO É COMO A ALMA

Um rio seco é como a alma
De um poeta que não pode escrever, embora conheça
Quase perfeitamente o tema e as mágoas
Da morte ressequida como o estio. Mas o que queria,
E foi outrora um mar puro do mais puro cristal
Recua, torna-se sombrio como arbustos amoniacais, como
                         se as folhas antigas do amor,
E abandona o pensamento. Não imagina
Nada que o possa substituir: só no pólo
Da memória oscila uma absurda bússola.
Por isso o rio, entre as lamentáveis árvores sombrias,
É uma agonia de pedras, de horrores submersos
Agora revelados descoloridos. Por isso existem estas,
Estas pedras, estas ninharias
Quando o rio é uma estrada e a mente um vazio.
 
 
 
 
 
Malcolm Lowry. As cantinas e outros poemas do álcool e do mar. Selecção e Tradução José Agostinho Baptista. Assírio &Alvim, Lisboa, 2008., p.33

''horas mortas''

«E a música abriga o sonho do amante»

Malcolm Lowry. As cantinas e outros poemas do álcool e do mar. Selecção e Tradução José Agostinho Baptista. Assírio &Alvim, Lisboa, 2008., p.17

oração


«A rapariga volta a enchê-lo, enche um copo de verdadeira morte.
E se há morte nela também há em mim.»



Malcolm Lowry. As cantinas e outros poemas do álcool e do mar. Selecção e Tradução José Agostinho Baptista. Assírio &Alvim, Lisboa, 2008., p. 11
«Mas por que tens de ouvir, ouvir e não reconhecer esta tempestade,»



Malcolm Lowry. As cantinas e outros poemas do álcool e do mar. Selecção e Tradução José Agostinho Baptista. Assírio &Alvim, Lisboa, 2008., p.9

synekdokhé

«compreensão de várias coisas ao mesmo tempo»

tiquetaque

domingo, 9 de setembro de 2012

Um grande azul sem fim e sem distância.
Um doce vento simples sem motivo.
Uma terra fecunda de mistério.
O Universo flutuante, e sem limites.

Só há em mim perguntas sem resposta,
Instinto para amar, para durar.
A grande porta abrir-se-á um dia,
E tudo será noite, ou vida, ou luz.

Quero apenas durar e perguntar,
Nada mais tem resposta, nada mais.
Eis a curta canção da minha vida
Eis a curta canção de todos nós.


António Quadros. Além da Noite. Poemas. Parceria António Maria Pereira, Lisboa, 1949., p. 31


Muda é a noite, cega a madrugada.
Meu silêncio, perdão! A minha voz
Violando a lei apenas pressentida,
É tímida a voz do viajante,
Suplicando guarida na jornada...




António Quadros. Além da Noite. Poemas. Parceria António Maria Pereira, Lisboa, 1949., p. 23

NÃO ENTRES DOCILMENTE NESSA NOITE SERENA

Não entres docilmente nessa noite serena,
porque a velhice deveria arder e delirar no termo do dia;
odeia, odeia a luz que começa a morrer.

No fim, ainda que os sábios aceitem as trevas,
porque se esgotou o raio nas suas palavras, eles
não entram docilmente nessa noite serena.

Homens bons que clamaram, ao passar a última onda, como podia
o brilho das suas frágeis acções ter dançado na baía verde,
odiai, odiai a luz que começa a morrer.

E os loucos que colheram e cantaram o voo do sol
e aprenderam, muito tarde, como o feriram no seu caminho,
não entram docilmente nessa noite serena.

Junto da morte, homens graves que vedes com um olhar que cega
quando os olhos cegos fulgiriam como meteoros e seriam alegres,
odiai, odiai a luz que começa a morrer.

E de longe, meu pai, peço-te que nessa altura sombria
venhas beijar ou amaldiçoar-me com as tuas cruéis lágrimas.
Não entre docilmente nessa noite serena.
Odeia, odeia a luz que começa a morrer.





Dylan Thomas. A Mão Ao Assinar Este Papel. Edição bilingue. Trad. e prefácio de Fernando Guimarães. Assírio & Alvim, 2.ª edição, Lisboa, 1998., p. 41

E A MORTE PERDERÁ O SEU DOMÍNIO


«E a morte perderá o seu domínio.
Nus, os homens mortos irão confundir-se
com o homem no vento e na lua do poente;
quando, descarnados e limpos, desaparecerem os ossos
hão-de nos seus braços e pés brilhar as estrelas.
Mesmo que se tornem loucos permanecerá o espírito lúcido;
mesmo que sejam submersos pelo mar, eles hão-de ressurgir;
mesmo que os amantes se percam, continuará o amor;
e a morte perderá o seu domínio»

(...)


Dylan Thomas. A Mão Ao Assinar Este Papel. Edição bilingue. Trad. e prefácio de Fernando Guimarães. Assírio & Alvim, 2.ª edição, Lisboa, 1998., p. 39

''porque vem a pedra feri-lo e é suave a seda.''

Dylan Thomas. A Mão Ao Assinar Este Papel. Edição bilingue. Trad. e prefácio de Fernando Guimarães. Assírio & Alvim, 2.ª edição, Lisboa, 1998., p. 35
«  este meu vinho que bebes, este pão de que te alimentas.»




Dylan Thomas. A Mão Ao Assinar Este Papel. Edição bilingue. Trad. e prefácio de Fernando Guimarães. Assírio & Alvim, 2.ª edição, Lisboa, 1998., p. 33

'' e eu, preso pelas garras do sol, caminho sobre as chamas''

incréu

A FORÇA QUE IMPELE ATRAVÉS DO VERDE RASTILHO A FLOR

A força que impele através do verde rastilho a flor
impele os meus verdes anos; a que aniquila as raízes das árvores
é o que me destrói.
E não tenho voz para dizer à rosa que se inclina
como a minha juventude se curva sob a febre do mesmo inverno.

A força que impele a água através das pedras
impele o meu rubro sangue; a que seca o impulso das correntes
deixa as minhas como se fossem de cera.
E não tenho voz para que os lábios digam às minhas veias
como a mesma boca suga as nascentes da montanha.

A mão que faz oscilar a água no pântano
agita mais ainda a areia; a que detém o sopro do vento
levanta as velas do meu sudário.
E não tenho voz para dizer ao homem enforcado
como da minha argila é feito o lodo do carrasco.

Como sanguessugas, os lábios do tempo unem-se à fome;
fica o amor intumescido e goteja, mas o sangue derramado
acalmará as suas feridas.
E não tenho voz para dizer ao dia tempestuoso
como as horas assinalam um céu à volta dos astros.

E não tenho voz para dizer ao túmulo da amada
como sobre o meu sudário rastejam os mesmos vermes.



Dylan  Thomas. A Mão Ao Assinar Este Papel.  Edição bilingue. Trad. e prefácio de Fernando Guimarães. Assírio & Alvim, 2.ª edição, Lisboa, 1998., p. 21

domingo, 2 de setembro de 2012



À janela, nova, a vida velha:
mexem as folhas e vem a mim a luz.
Estou só, cheio de mim, como aquela nuvem
que tem lá dentro a calma de ali estar.
Meu Deus, como aqui nos alegramos com tão pouco!
Assim seria a vida, sem a ânsia
dos homens que parece terem pressa de matar,
dessa raça de mastim que rouba o tempo,
os anos, o fôlego e a memória,
e sem ciúmes nem amores ocultos
que murcham a flor do respirar.
Estou só e canto, e olho aquela nuvem
cheia de mim e do seu antigo olhar-me.



Franco Loi. Memória. Tradução colectiva (Mateus, Março de 1992, revista e apresentada por António Osório.) Quetzal Editores, 1993 p. 53
Quietas, belas árvores, e tu detém-te, terra!
Falta-me o ar ao penetrar em ti.
A noite cruza o mar e esconde a aldeia,
as estrelas lá em cima e à nossa volta o bosque.
Como está perto o céu e que mover adverso
o dos homens que as mulheres abraçam, sombrio
uivar dos cães, que sobe de Maestrale para o meu peito!
Aguda água de distância é para mim de cinza
e chama-me, talvez me queira até
uma dor agarra-me as entranhas,
tristeza de estar ali, silvos de vento,
e a memória que o bosque habita,
o corpo que cansado olha o que sente.
Oh, como o ar se retarda, e como a água
funda vai passando e quase não se ouve.



Franco Loi. Memória. Tradução colectiva (Mateus, Março de 1992, revista e apresentada por António Osório.) Quetzal Editores, 1993 p. 43

Eva Green as Milo's Venus in Bertolucci's movie "The dreamers''



«Ontem a minha juventude morria nos teus braços».


Franco Loi. Memória. Tradução colectiva (Mateus, Março de 1992, revista e apresentada por António Osório.) Quetzal Editores, 1993 p. 42

Mas quantos amores parecem de tristeza / dentro de um que tanta dor nos dá.

Devesse eu ter duas dores, e eu
uma só sentiria, como todos sentem;
pois tantas são as dores que dão a forma
àquele que se queixa, que uma lhe parece;
e se ainda falar de amor devesse,
de um me roería pela beleza
que busca a forma no parar do sol...
Mas quantos amores parecem de tristeza
dentro de um que tanta dor nos dá.




Franco Loi. Memória. Tradução colectiva (Mateus, Março de 1992, revista e apresentada por António Osório.) Quetzal Editores, 1993 p. 41

Oh, quanta gente que, morta por aí,
passou por ela a história sem a ver,
sem ver o frio de esperança generosa
de que a minha própria sombra seja maior que ela,
oh, quanta gente que, morta por aí,
parece à espera e já não espera mais;
e passa o ar e afasta-se para longe,
lá onde se imagina estar a vida
que se esconde, mas que regressará.



Franco Loi. Memória. Tradução colectiva (Mateus, Março de 1992, revista e apresentada por António Osório.) Quetzal Editores, 1993 p. 30

Inclino a cabeça entre pensamentos
e de longe me vem a melancolia,
o rio devagar, sem porquê, mas rio,
olho depois uma árvore que treme pela morte
que passa rente a mim. Será engano?
ou era o vento? Alheio à minha sorte,
de mim próprio inimigo, caminho estrada fora.



Franco Loi. Memória. Tradução colectiva (Mateus, Março de 1992, revista e apresentada por António Osório.) Quetzal Editores, 1993 p. 28

Eu venho de longe, sou o das ostras e das blasfémias,
o mercador de maravilhas e dos caroços de pêssego,
o que compra a amargura dos humildes
e doce a espalha limpa como um pássaro voando...
Eu vi dos pobres a cidade dos mortos,
os plátanos ali, especados, com os homens sós
que gritavam com os pés e cuja cabeça à banda
cortava oscilando a corda nos nós do tronco,
vi os campos de erva, onde os braços calcavam
com fúria a terra, como se catarrentos
quisessem soterrar-se, ou desesperados
pôr-se de cu para aquele céu... Oh, escarpas
de fuzilados, exangues, ar de tragédia,
freixos selvagens que já não tendes céu, mendigos de que sopros!
Vi gente gotejando, em fuga ofegante,
e aquelas sirenes, atrás, com as mãos a gritar:
foge, foge, corre!, vem por aí abaixo
uma porradaria de bombas, que metralham e ceifam,
e os rapazes que escarvam, cães como bandos de rapazes,
e mães que berram  - Meninos, quem pode fugir do vento?...
Ah, se eu venho de longe...Péssima raça!
Quando penso que morrer não é nada,
que temos medo de uma sombra, que louca
é esta nossa vida, e que os homens parecem caminhar...
Caminhar? Ou é este o empurrão do ar que os colhe
e os arrasta pra onde quer, para onde vão finar-se?




Franco Loi. Memória. Tradução colectiva (Mateus, Março de 1992, revista e apresentada por António Osório.) Quetzal Editores, 1993 p.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

«Talvez sejas um outchitel muito culto, mas, como pessoa, és terrivelmente estúpido.»

Dostoievski. O Jogador. Editorial Verbo - Livros RTP, Lisboa, p. 178

«O que te disseram aqueles judeus? O principal é a coragem, e essa não te falta.»


Dostoievski. O Jogador. Editorial Verbo - Livros RTP, Lisboa, p. 166

«Olha, je suis bonne enfant, já te aviso, tu veras des étoiles.»

Dostoievski. O Jogador. Editorial Verbo - Livros RTP, Lisboa, p. 164

«a vaidade levava-a a não acreditar em mim e a ofender-me, ainda que, possivelmente, não tivesse muita consciência disso.»

Dostoievski. O Jogador. Editorial Verbo - Livros RTP, Lisboa, p. 157/8

«Elle est tombée en enfance - repetiu De Grillet ao general: - seule, elle fera des bêtises...»



Dostoievski. O Jogador. Editorial Verbo - Livros RTP, Lisboa, p. 95

domingo, 26 de agosto de 2012

«As mulheres são todas iguais! As mais orgulhosas acabam sempre por ser as mais vis escravas! A única coisa de que Polina é capaz é de amar apaixonadamente!»


Dostoievski. O Jogador. Editorial Verbo - Livros RTP, Lisboa, p. 77

The execution of women by the Nazis during World War II



«Não há nada como evitar os equívocos e comportarmo-nos francamente. Além disso, de que serve enganarmo-nos a nós próprios? É a preocupação mais inútil e a menos compensadora.»



Dostoievski. O Jogador. Editorial Verbo - Livros RTP, Lisboa, p. 21

«Agora, perguntava-me de novo: amo-a?

 
«E não sabia responder. Ou melhor, respondi-me novamente, pela centésima vez, que a detestava. Sim, odiava-a! Havia momentos (sobretudo depois das nossas conversas) em que teria dado metade da minha vida para estrangulá-la! Juro-o. Se tivesse sido possível, ainda há momentos, cravar-lhe no peito um punhal bem afiado, julgo que o teria empunhado de boa vontade. E ao mesmo tempo, juro também, pelo que tenho de mais sagrado, que no Schlangenberg, no pico mais frequentado, se me tivesse dito: ''atire-se daqui'', ter-me-ia atirado imediatamente, até com prazer. Tinha a certeza disso. De qualquer modo, tinha que tomar uma decisão. Ela sabe-o muito bem e a ideia de que eu a compreendo, perfeita e precisamente, a distância que nos separa, a impossibilidade absoluta de ver realizadas as minhas fantasias, essa ideia, estou convencido, proporciona-lhe um prazer extraordinário. De contrário, como se compreende que, sendo discreta e inteligente, possa ter comigo estas intimidades?»



Dostoievski. O Jogador. Editorial Verbo - Livros RTP, Lisboa, p. 17
«Odeio-o pelo muito que lhe consenti, e ainda mais pela necessidade que tenho de si. Por isso, enquanto precisar de si, terei que tratá-lo bem.»


Dostoievski. O Jogador. Editorial Verbo - Livros RTP, Lisboa, p. 16

sábado, 18 de agosto de 2012

Photodynamic portrait of Anton Giulio Bragaglia, 1912-1913



«Um dia as minhas palavras consolar-te-ão, como as tuas a mim
           nunca o poderão fazer.»




Paul Bowles. Poemas. Selecção e tradução José Agostinho Baptista. Assírio&Alvim, 2008, Lisboa., p. 127

'mancha de sangue no teu pão'


«Nesse ano a canção estava em toda a parte, e o seu absurdo refrão:
É que parece tão longo, mas não é.
É que parecem tantos anos,
mas talvez seja apenas um.
Quando as árvores lá estavam preocupava-me que lá estivessem,
e agora desapareceram.
Ao sair usávamos o caminho que existe à volta do pântano.
Quando regressávamos a maré tinha subido.
Havia outro caminho, mas era muito longe e difícil de lá chegar.
E por isso esperávamos aqui, e tudo continua igual.


Havia muitas coisas que queria dizer-te
antes de partires. Agora não as direi.
Embora a luz caia sobre a varanda
lançando as mesmas sombras dos mesmos lugares,
só eu as posso ver, só eu posso ouvir o vento
cujo som é demasiado alto.


O mundo ferve com plantas. Perdoa-me.
Amo-te, mas não devo pensar em ti.
Essa é a lei. Nem todos lhe obedecem.
Ainda que o tempo passe e o ar nunca seja o mesmo
não mudarei. Essa é a lei, e está certa.»





Paul Bowles. Poemas. Selecção e tradução José Agostinho Baptista. Assírio&Alvim, 2008, Lisboa., p. 125

Love Is the Devil : Study for a Portrait of Francis Bacon

«O vento cai em pedaços
pelos caminhos da montanha.
Temos de gritar sem tréguas -
aquele que pára está perdido.»



Paul Bowles. Poemas. Selecção e tradução José Agostinho Baptista. Assírio&Alvim, 2008, Lisboa., p. 87

«Chegará o dia em que as linhas do céu
Se desprenderão das torres
E em que tu, que tremes pela noite
Partirás para lugares sombrios ao lado de um desconhecido.»



Paul Bowles. Poemas. Selecção e tradução José Agostinho Baptista. Assírio&Alvim, 2008, Lisboa., p. 79

sexta-feira, 17 de agosto de 2012


«(...) os lagartos correm ao longo da gravilha junto às rosas.»



Paul Bowles. Poemas. Selecção e tradução José Agostinho Baptista. Assírio&Alvim, 2008, Lisboa., p. 67

''A roda do moinho gira incessantemente e o mocho senta-se no carvalho à espera da escuridão.''

Paul Bowles. Poemas. Selecção e tradução José Agostinho Baptista. Assírio&Alvim, 2008, Lisboa., p. 65
« - Vamos, como podem tratá-lo assim? - protestou Adelaida, que se aproximou solicitamente do príncipe e lhe estendeu a mão.
     Ele sorriu-lhe com ar perturbado. De súbito, um sussurro precipitado causou-lhe no ouvido uma espécie de queimadura, era Aglaia que lhe murmurava:
   - Se não põe imediatamente esses infames na rua, odiá-lo-ei toda a vida, toda a vida, e só a si!»




Fëdor Mixajlovič Dostoevskij. O Idiota. Tradução de Jorge Sampaio. Círculo de Leitores, Lisboa, 1978., p. 296
«Ó alma», disse eu, «que pareces tão desejosa de falar comigo, faz de maneira que eu te entenda; e a ti e a mim o teu falar satisfaça.»
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo II). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 35

''mas fala-me tu de ti com verdade''

Dante. A Divina Comédia (Tomo II). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 32

quinta-feira, 16 de agosto de 2012



«sinto que sinto como sentiria sendo eles e isso me perturba como o mundo inteiro que me envolve e transcende. só através da memória me é permitido ver até ao fundo ou até àquilo que imagino o fundo da verdade dos entes solitários»


Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 160

um homem sem memória seria um homem feliz.

«um homem sem memória seria um homem feliz. não tanto por não a ter o que poderia dar-lhe a plenitude do instante mas por nem ter a memória de a ter tido, e a memória do futuro e o futuro para ele seriam letra morta.»

Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 159

''gritaste para dentro''

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

''cálice com cicuta que bebera por engano''


«sentia numa onda o torpor de quem lentamente adormece; é o veneno, pensou; veneno não da aranha mas do cálice, do cálice com cicuta que bebera por engano, não tanto por engano como os outros poderiam pensar, mas ele cuspia no que os outros fossem dizer ou pensar, só que se antecipara, vira o líquido tão belo, tão fascinante colorindo o cálice e não resistira e quando quis impedir a boca de beber tinha já pelo veneno refrescados os lábios e quando ainda quis obstar a que a garganta engolisse já o estômago arrefecera com as primeiras gotas e todo ele se sentia do líquido que o convertia na sua cor, a cor daquele líquido tão belo, tão fascinante aquele líquido; o escravo viera interromper a conversa com os discípulos, o escravo trazia um cálice em sua negra mão, o escravo era o ponteiro do relógio que marcava a hora;»



Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 134

cicuta


nome feminino
 
BOTÂNICA planta venenosa, da família das Umbelíferas, espontânea em Portugal e também conhecida por cegude e ansarinha-malhada; embude
(Do latim cicūta-, «idem»)

«máscaras que os sufocavam à medida que barba e cabelo iam crescendo»

Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 132

condenação à morte lenta


«aquela era a condenação à morte lenta, condenação que estava na lei e tinha de ser cumprida, cumprida por todos, mesmo pelos que a fizeram, mesmo por aqueles que fizeram a lei»



Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 129

''foram os homens em que ele confiava que o mataram por dentro''

Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 127

tarimba


nome feminino
1. estrado de madeira sobre o qual dormiam os soldados que estavam de guarda
2. cama desconfortável
3. figurado vida de quartel; tropa; caserna
4. figurado experiência de dificuldades

[ woman reading on top of ladder ] 1920

uma a uma folheou as cartas que não escrevera a ninguém nem a si mesmo


« (...) estava morto, morto, tinham-no autênticamente condenado à morte; eles sabiam que um homem como ele não poderia viver numa tal jaula sem amor, durante vinte e cinco longos, longos anos; eles sabiam, os sacristas, sabiam que não seria necessário matá-lo, que bastaria aquilo; e bastou; o resto dele agora em nada, definitivamente nada, um corpo rico não de anos, porém de sofrimento, velho de angústia não só, mas de derrota; uma a uma folheou as cartas que não escrevera a ninguém nem a si mesmo»


Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 125

sicómoros

"Destruiu as suas vinhas com saraiva, e os seus sicómoros com pedrisco."


(Salmos 78.47)

pedrisco

nome masculino

saraiva muito miúda, por vezes chuva gelada, constituída por gotas de chuva que atravessaram uma camada de ar muito fria e congelaram.

V

Na colina distante
o feno é como canela cálida nos celeiros,
novas aranhas sobem cautelosamente,
a quebrada luz das estrelas filtra-se pelas fendas.
Há a profunda respiração das vacas
e no pátio levantam-se as grandes malvas
que pela noite serão escuras.
As portas estão abertas
e as tábuas do alpendre não rangem.
Sons suaves, redondos propagam-se

VI

Não poderá uma comoção da noite
ser o orvalho que cai sobre as inclinadas folhas de erva?


Paul Bowles. Poemas. Selecção e tradução José Agostinho Baptista. Assírio&Alvim, 2008, Lisboa., p. 21

terça-feira, 14 de agosto de 2012

ailarilolela



«porque nasceste num bairro operário serás eternamente limitada e numa casa suja de operário serás precocemente desflorada e no incerto futuro de operário serás injustamente desgraçada, serás menstrualmente dum operário pois a tua carne foi despertada, partirás anualmente um operário porque essa vida não foi evitada, morrerás somente como um operário e a tua morte será ignorada, mulher, a tua voz é rude, voz de origens: desgraçado, miserável, nem te aguentas nessas pernas, olha que bonita figura, és um farrapo, um farrapo de homem, é o que tu és. ele avança titubeante, devagar, procurando numa despreocupada alegria esconder-se: ailarilolela: cala-te criminoso, deixa ao menos dormir os pobres a quem nem sequer dás de comer: ailailai: fizeste-me seis filhos e agora que me amole, não?»




Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 112

«sofria de doenças raras queixando-se das que conhecia e doutras que inventava jamais deixando porém de ser sincero chegaram a doer-lhe os cabelos e as unhas fechando-se no quarto durante dias seguidos às escuras onde passou em breve a ver os mortos a falar com os mortos e Goethe disse-lhe o autêntico sentido de suas últimas palavras e uma manhã ele pretendeu morrer também e o que é mais estranho morreu mesmo ficou na cama hirto de olhos fechados sem falar vieram levantá-lo mas ele não deixou e não comia nem bebia depois com tratamentos lá tentaram convencê-lo de que estava vivo e o faziam comer e o fizeram beber embora morto embora continuasse definitivamente morto um vivomorto»



Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 87/8

« fala vagamente de vida existencial concreta e do sensualismo de possuir a morte! afirma que se suicida depois de viver um momento de beleza absoluta, porque depois desse momento há muito procurado, nada pode ser belo, nada já há a esperar deste terrível mundo em que vivemos famintos de infinito!»



Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 84

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Andrey Tarkovskiy on set of ‘Nostalghia’, 1983


«porque fomos criados para que nos criássemos, porque para nos fazermos fomos feitos, a cada instante se fazem e nisso está a liberdade deles, não em fazer o que se quer, mas o que quer o ser, não em fazer o não ser, mas apenas o ser, não em não querer o ser, que o mesmo é que o não ser querer e a escolha precisamente entre o ser e o não ser está, o ser e o nada, o ser e o vazio, o ser e o zero, o ser e o absurdo»



Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 77

« é a hora a que proletários, vão a caminho de casa para, à falta de comida, fazer filhos a quem comida faltará também e depois dormir como quem quer morrer»



Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 76

armadilha para pássaros


« com meia dúzia de frases conhecemo-nos.»


Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 69

imprudência

Suportar o amanhecer da tua morte

domingo, 12 de agosto de 2012

«Ou o teu falar me engana ou me tenta.»

Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 174

«Eu sou Aglauro, que me tornei em pedra.»

Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 168
«Deve matar-me aquele que me encontre.» E fugiu como o trovão se afasta se súbito a nuvem se desfaz.»



Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 168

«Sábia não fui, ainda que Sapia fosse o meu nome: e fui a infelicidade dos outros e mais feliz por isso que com a minha ventura. E para que não julgues que te engano, ouve como fui, segundo te disse, louca, quando já descia a curva dos meus anos.»



Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 164

Poet Ranier Maria Rilke and Clara Westhoff

«(...) grande dor arrancou lágrimas dos meus olhos.»

Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 162

«(...) ó raça humana, nascida para voar alto, porque cais tu se sopra um ligeiro vento?»



Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 160
«Vi a Tróia em cinzas e em cavernas. Ó Ílion, como baixa e vil te mostra a imagem que ali se distingue! 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 159
«Mostrava a ruína e a cruel vingança de Tamíris quando disse a ciro: «Tens sede de sangue e de sangue eu te encho.»
 
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 159

"Há tanta suavidade em nada dizer/ E tudo se entender." - Fernando Pessoa

  "O primeiro beijo, seja isso bem claro, não o dão os lábios mas os olhos."
(Bernardi, Don Juan)


"Quando o amante está distante, mais quente se faz o desejo; o hábito deixa o amado fastidioso."
 (Propércio)

"No homem, o desejo gera o amor. Na mulher, o amor gera o desejo."
 (Jonathan Swift)

"O amor não conhece sua própria intensidade até à hora da separação."
 (Khalil Gibran)


Temer o amor é temer a vida, e aqueles que temem a vida já estão praticamente mortos."
 (Bertrand Russell)

"Se queres prolongar o amor não permitas que a desconfiança te domine em relação à pessoa amada."
 (Ovídio)

"As feridas do amor só podem ser curadas por aquele que as fez."
 (Publílio Siro)

Tudo o que sabemos do amor, é que o amor é tudo que existe."
 (Emily Dickinson)

"Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também viver um grande amor."
 (Mozart)





"O primeiro beijo, seja isso bem claro, não o dão os lábios mas os olhos."

(Bernardi, Don Juan)

sábado, 11 de agosto de 2012

«Não retenhas num só lugar o pensamento», disse o doce Mestre, que me mantinha daquele lado em que as pessoas têm o coração.
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 153
«Assim me pareceu que ela e eu ardíamos, e tanto o fogo imaginário queimava que foi preciso que o sono terminasse.»
 
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 149

'a morte não será mais morte'

Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 28
«(...) como pode alguém assim amar uma pessoa depois de tantos anos de promiscuidade dum dia repetido e chão será que o amor renova realmente tudo em que toca e possuir aceita.»


Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 21

[ Joan Bennett Reading a Book ] 1932

avulsão

Acto. de arrancar ou extrair com violência.

''Sós com a nossa loucura''

John Ashbery. Uma onda e outros poemas. Tradução colectiva de João Barrento com a colaboração de Richard Zenith. Quetzal Editores, Lisboa,1992., p. 48
«Os ribeiros correm docemente, engordando o peixe;
Pássaros escurecem o céu.»




John Ashbery. Uma onda e outros poemas. Tradução colectiva de João Barrento com a colaboração de Richard Zenith. Quetzal Editores, Lisboa,1992., p. 45

pé-ante-pé

Jewish involvement in organized labor, like the International Ladies’ Garment Workers’ Union, is one of the stories in “The Jewish Americans.” Left, members of the garment workers’ union in Chicago in 1935.

domingo, 5 de agosto de 2012

Há muito dessas mulheres e não é necessário que aumentes o seu número.

« - Eu parto amanhã, Nina - começou Grigóri Afanássievitch, estugando o passo - e, digo-to francamente, parto inquieto, sim, por causa disso que começou em ti. - Falava assim do amor, certo de ser compreendido por ela. - Tudo irá correr bem se te calhar um homem de verdade. Nesse caso, de acordo. Mas se do obscurecimento do teu espírito se aproveita um desavergonhado que não acredita nem em deus nem no diabo, mas apenas nos átomos?...Alguém que, para matar o tempo, leva para as montanhas as parvas pintadas, à procura não sei que pedrinhas? Destroçará a tua vida e partirá depois no seu Volga com rumo desconhecido, e tu ficarás destruída, mutilada, passando como uma estranha diante da beleza do mundo e intrigando as gentes com o teu aspecto de aflita. Há muito dessas mulheres e não é necessário que aumentes o seu número.

(...)

« - Tu não tens o direito de ser infeliz! - interrompeu-a Grigóri Afanássievitch em tom irritado. - Foste preparada para teres uma vida interessante e bela. Trouxemos-te para essa vida e pusemos-te perante ela...Pois bem, justifica-nos, a nós os velhos, ao mesmo tempo que te justificas a ti mesma. É verdade que estás numa idade propícia e que não pode ser de outra maneira, já que é uma lei da natureza, mas cuida de que isto não seja o teu fim, a tua vergonha, a tua desgraça, mas o começo, a entrada de honra na vida autêntica.»


Serguéi Antónov..As Pedrinhas Multicores. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 528/9
«(...) - Na nossa era atómica o amor é...como os automóveis...Morre-se de desejo de ter um, mas quando se o tem começam as maçadas.»




Serguéi Antónov..As Pedrinhas Multicores. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 523
«(...) durante um segundo, o seu olhar foi firme e penetrante; depois os olhos suavizaram-se, tornando-se alegres e carinhosos. Era como se tivesse, por um velho hábito, dois olhares distintos: um para os inimigos e outro para os amigos.»




Andréi Merkúlov..Em Voo. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 444

«Os argumentos caíam como um dilúvio sobre Alexandr, que ao fim de pouco tempo deixou de ouvi-los, mergulhado na sua incompreensível tristeza.»



Daniil Gránime. A Segunda Variante. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 426
«Havia qualquer coisa de sublime no modo como ela vivia corajosamente com a sua dor; sem se resignar, sem ocultá-la e sem esquecer nada.»



Daniil Gránime. A Segunda Variante. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 414
«Costuma acontecer que as relações entre as pessoas se determinam, sem causa aparente, à primeira vista.»


Daniil Gránime. A Segunda Variante. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 411
«Aí estou eu com crianças inocentes, mordidas pelos dentes da morte antes que fossem do pecado humano libertadas.»
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 143
«Corri ao pântano, mas os juncos e a lama de tal modo me impediram que eu caí; e ali vi do meu sangue fazer-se em terra um lago.»
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 137
«Primeiro dirigi os olhos para o fundo; depois levantei-os para o Sol;»
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 134

exegese

nome feminino
1. análise e explicação do verdadeiro sentido de um texto, aplicando as regras da hermenêutica
2. interpretação; comentário

(Do grego exégesis, «interpretação», pelo francês exégèse, «idem»)

«Caçadores de cabeças e chacais misturam-se com o viburno»

John Ashbery. Uma onda e outros poemas. Tradução colectiva de João Barrento com a colaboração de Richard Zenith. Quetzal Editores, Lisboa,1992., p. 25

Malva-rosa, Malva-Real, Malvaísco

«(...)        Ninguém´
Me pediu para ficar aqui, ou se me pediram esqueci-me,»



John Ashbery. Uma onda e outros poemas. Tradução colectiva de João Barrento com a colaboração de Richard Zenith. Quetzal Editores, Lisboa,1992., p. 24

''acidamente doce''

«Alguma recordação que nunca poderá ser mais do que isso,»



John Ashbery. Uma onda e outros poemas. Tradução colectiva de João Barrento com a colaboração de Richard Zenith. Quetzal Editores, Lisboa,1992., p. 22

sábado, 4 de agosto de 2012

lodaçal

nome masculino
1. lugar onde muito lodo; lamaçal; atoleiro
2. figurado vida dissoluta
3. figurado lugar de devassidão

 

reverdecer

''Amor, que na minha alma me fala''

Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 128
«Depois à medida que se aproximava de nós, a ave divina mais nítida aparecia: como os meus olhos não a suportavam, baixei-os.»
 
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 127

mar cruel

I've had so many words
but I had no courage.

terça-feira, 31 de julho de 2012

domingo, 29 de julho de 2012

Balthus, o cavaleiro polaco


SWITZERLAND. Rossinière. French painter BALTHUS at home. 1999

 
Entre 1930 e 1932 serviu o exército francês em Marrocos, onde cuidava de um cavalo chamado Arbia. Pouco tempo depois de regressar a Paris alguém lhe disse: «desde que te foste embora, o cavalo recusa-se a comer», e por fim «deixou-se morrer à fome...»


O próprio Balthus (diz-se) tentou o suicídio, em 1934, quando pintou "La Leçon de Guitare". Consta que foi salvo pelo louco Artaud



Pouco antes de morrer no fatídico acidente de automóvel em 1960, Albert Camus fez uma curiosa dedicatória a Balthazar Michel Klossowski de Rola, que vivia já com algum fausto no castelo de Chassy, perto de Montreuillon: «a ti que fazes Primaveras, entrego-te o meu Inverno».




Balthus orgulhava-se da nobreza de conduta dos seus  antepassados («não te esqueças que és um cavaleiro polaco» — dizia-lhe o pai) e mantinha-se estoicamente fiel a um estranho estilo figurativo que em Montparnasse fora condenado ao desprezo (Picasso era, para ele, o carrasco da pintura moderna). Celebrava o seu aniversário apenas de quatro em quatro anos (nasceu a 29 de Fevereiro de 1908 e só em 2004 festejaria pela vigésima quarta vez), e pintava gatos — muito gatos, cúmplices autodidactas —, anjos — «jeunes filles en fleur», eternas adolescentes — e espelhos — os anjos iluminados ou, na simbologia esotérica, virgens que recebem a luz de Deus: nem crianças impúberes que arrastam para a cadeia, nem mulheres fatais que levam à perdição (Balthus passou por grande sofrimento quando soube que a sua mãe, a pintora Baladine, era amante do admirável Rainer Maria Rilke).


Teve muitos amigos famosos: Paul Valéry, Man Ray, Miró, Camus, Éluard, Giacometti, Dalí, os quatro Andrés: Gide, Breton, Derain e Malraux... Alguns deles admiravam-no e tinham-no como uma espécie de «peregrino de Deus.» Só o dramático Artaud, nos períodos de maior demência, fazia dele um demónio: considerava-o seu «duplo», enviava-lhe «cartas terríveis» e acusava-o de ser «o causador de todas as suas desgraças.»





Vexilla Regis Prodeunt Inferni




Beware-with the dark I ride as one. When my legacy I reclaim.
As a fallen god, with the lunar legions by my side
On dragon wings I fly. Behold-the etheral shades of night

Pletoric formations of dark dancing past the aeons of the eleusinian vast
Within a dream, my honour to last, to sprout throughout my blood
to strengthen my heart.
The heaven torns apart as twillight shreds and thunder.
With a vampire breath I whirl the frost, to storm within my kingdom to come
Dead winter enthrones.

Vexilla regis produent inferni
As a phantom of night I ride, by thy side

The Archangels revocation of the dead
The apocalyptic revelation
The arrival of plague and death.
The Armageddon revolution-to come

Astral sparks of fire, descending to ablaze
The landscapes drained by sulphur rain
from the canopy licked by flames
Shadows walks the earth, to ravish life and glee
To walk the fields of reverie, sowing dark in dreams to be

Beware-with the dark I ride as one. When my legacy I reclaim.
As a fallen god, with the lunar legions by my side
On dragon wings I fly. Behold-the etheral shades of night

Clamant-the silence-as blood to my ears
The battlescreams echoes has vanished, faded into the past

The black sun is falling into the abyss
with the lakes of dark blood to merge
The sky is aflame, when I ride through the night
as a phantom through fire I fly
Armageddon...The final redemption of wrath

Dies Irae...
Canto Trigésimo terceiro
 
História do conde Ugolino. O recinto de Ptolomeu
                     (Ptolomea)
 
 «Levantou a cabeça do seu horrível alimento este pecador limpando-a aos cabelos da cabeça que estava a roer e começou: «Queres que eu reavive a desesperada dor que me aperta o coração só de pensar antes mesmo de falar. Mas se as minhas palavras pudessem produzir o fruto da infâmia do traidor que eu mastigo, ver-me-ás ao mesmo tempo falar e chorar.» (...)
 
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 113

«se não secar esta língua com que te falo.» ...

Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 112
« Vê por onde passas: e tenta não calcar com os pés a cabeça dos teus míseros e cansados irmãos.»
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 110
 
«A mesma língua que primeiro me repreendeu e me fez corar as faces depois me aplicou o remédio. Assim, ´foi-me dito que acontecia ser a lança de Aquiles e de seu pai, primeiro, de tristezas e, depois, de boa recompensa.»
 
(...)
 
«Mal eu tinha voltado a cabeça quando me pareceu avistar umas muito altas torres; e perguntei:«Mestre, diz-me que terra é esta.» E ele: «Como olhas através da escuridão para demasiado longe, acontece que a imaginação te confunde. Verás melhor, se lá chegares, como os sentidos te enganam com a lonjura; mas convém estugar o passo.»
 
 
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 106/7

riba

« E o hidrópico: «Tu nisto falas verdade mas não foste testemunha tão verdadeira quando a verdade te foi pedida em Tróia.»
 
(...)
 
«Assim se abre tanto a tua boca para falar mal como de costume: porque se eu tenho sede e os humores me dilatam, tu ardes e dói-te a cabeça e para lamber o espelho de Narciso não precisas de dizer muitas palavras.»
 
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 105

malfadados

sábado, 28 de julho de 2012

Rilke with Clara Westhoff (1906)

QUADRA SEM PARDAIS
BOA NOVA OU ESPERANÇA

                                        provérbio irlandês


O meu mundo foi derrubado, e o vento espalha
As cinzas de Alexandre e de todos os que mataram por nós.
Tróia foi-se. E a mágoa rebelde do Ulster,
Também ela, como Tróia, como os Ingleses, também ela passará.



Thomas McCarthy. O jardim da dor e outros poemas. Tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1991) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira. Quetzal Editores, 1993., p.51

déjà-vu

« a tua mais profunda morte »

Thomas McCarthy. O jardim da dor e outros poemas. Tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1991) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira. Quetzal Editores, 1993., p.28

sábado, 21 de julho de 2012

A documentary film investigating sex trafficking by Mimi Chakarova

The Price of Sex is a feature-length documentary about young Eastern European women who’ve been drawn into a netherworld of sex trafficking and abuse. Intimate, harrowing and revealing, it is a story told by the young women who were supposed to be silenced by shame, fear and violence. Photojournalist Mimi Chakarova, who grew up in Bulgaria, takes us on a personal investigative journey, exposing the shadowy world of sex trafficking from Eastern Europe to the Middle East and Western Europe. Filming undercover and gaining extraordinary access, Chakarova illuminates how even though some women escape to tell their stories, sex trafficking thrives

Rilke with Baladine Klossowska (Muzot 1923)

«As ondas são generosas, ritmadas, maternais,
como molde feito especialmente para seios nus.»


Thomas McCarthy. O jardim da dor e outros poemas. Tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1991) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira. Quetzal Editores, 1993., p.25

«Como uma armadilha, a melancolia apoderou-se do seu belo coração.»

Thomas McCarthy. O jardim da dor e outros poemas. Tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1991) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira. Quetzal Editores, 1993., p.22

«Como se a água pudesse explicar o meu pranto,»

Thomas McCarthy. O jardim da dor e outros poemas. Tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1991) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira. Quetzal Editores, 1993., p.17

II


PEQUENAS AVES, VOZES


Estes são os sons bem entrelaçados da morte,
Aquelas pequenas aves castanhas a cantar, pequenas aves
De inverno pousadas num ramo pendente.
Nunca em vida lhe conhecera esse olhar fixo
Tão ferido de silêncio por um breve instante.

Estas aves lembram as vozes dessa vida:
Uma nota grave e fria é a voz atormentada
da pobreza da infância e as notas breves
E suaves são os sons de Amor e Casamento.

''É o princípio dos problemas da tua vida'',
Disse um vizinho junto à campa. Arranjei
A coroa de flores já murchas no seu sono fingido.
Alguma coisa me disse, a sua voz talvez, mesmo naquele instante
Quanto de Amor, de Dor, de Amor há numa vida.



Thomas McCarthy. O jardim da dor e outros poemas. Tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1991) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira. Quetzal Editores, 1993., p.15

sexta-feira, 20 de julho de 2012

At Cháteau de Muzot. Rilke with the young violin virtuoso, Alma Moodie and the conductor Werner Reinhardt. Rilke in a letter to Nanny Wunderly-Volkart: [about Moodie]"What a sound, what richness, what determination. That and the Sonnets to Orpheus, those were two strings of the same voice. And she plays mostly Bach! Muzot has received its musical christening...."

Mens sana in corpore sano

quarta-feira, 18 de julho de 2012

agiota

nome de 2 géneros
1. pessoa que empresta dinheiro com juros excessivos; usurário

2. especulador de fundos

penitência

Bdelicleon - (...)  Ajuda-o a modificar a sua natureza severa e amarga, comove o seu coração e remove o seu azedume. Mistura à sua cólera uma pequena gota de mel para o adoçar. Oh, possa ele perder o seu rancor e olhar para os homens com simpatia, de modo que as suas lágrimas caiam pelo acusado e não pelo acusador!»


Aristófanes. As Vespas. Edição da Ediclube., p. 166

''Onde está a minha alma? Tem de estar aqui algures. «Trevas, dêem-me passagem.»''



Aristófanes. As Vespas. Edição da Ediclube., p. 161
«Corações de carvalho somos nós todos, e lutaremos até cair»


Aristófanes. As Vespas. Edição da Ediclube., p. 146
de fio a pavio do princípio ao fim;
gastar pavio perder tempo

«(...) espargir incenso num sacrifício à Lua.»

Aristófanes. As Vespas. Edição da Ediclube., p. 136

arenga

nome feminino
1. alocução pública
2. discurso longo e fastidioso; palavrório
3. altercação, discussão

(Do gótico hring, «círculo», pelo latim medieval harenga-, «discurso»)
« Creonte - Tu que és escravo de uma mulher, não me venhas com palavriado.
   Hemão - Queres então falar e não ter que ouvir ninguém?»


Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 112

Não mantenhas como única opinião a tua, nem julgues que só o que tu dizes é razoável.


«Não mantenhas como única opinião a tua, nem julgues que só o que tu dizes é razoável. Os que acreditam ser únicos a usar da sensatez, a pensar e a falar melhor do que ninguém, revelam, uma vez postos a nu, um grande vazio. Não é vergonha para um homem, ainda que seja sábio, aprender com os erros e não se mostrar demasiado obstinado. Nas margens dos rios engrossados pelas torrentes invernais, vemos que as árvores que cedem à corrente conservam os seus ramos, enquanto que as que oferecem resistência são arrancadas pelas raízes.»




Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 110

«Não há pior mal que a anarquia.»


«Não há pior mal que a anarquia. Ela faz perder os Estados, destrói as casas, rompe as filas e põe em fuga as lanças aliadas. A disciplina, pelo contrário, salva a vida dos que a seguem. Assim, deve-se respeitar as ordens, e de modo algum deixar-nos vencer por mulher. Melhor seria, se preciso fosse, cair pela mão de um homem do que sermos considerados mais fracos que as mulheres.


Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 109

«Não amo aqueles que só amam em palavras.»

Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 106
«Creonte - O inimigo jamais será um amigo, mesmo quando morto.»


Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 105
«Corifeu - Ela mostra a natureza inflexível de um pai inflexível. Não aprendeu a ceder perante a desgraça.

Creonte - Sim, mas fica sabendo que o coração que não sabe ceder é, entre todos, o mais frágil, e o mais duro ferro, temperado e endurecido pelo fogo, é o que mais frequentemente se quebra e se faz em bocados.»



Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 103

Antígona

«(...). E se morrer antes do tempo, tanto melhor para mim, porque quem, como eu, vive no meio de desgraças sem conta, como não hei-de considerar a morte um bem desejado? Por isso o destino que me reservas não me causa dor alguma.»



Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 103
«No interior das chamas estão os espíritos, cada um envolvido no próprio fogo que o queima.»
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 91

domingo, 15 de julho de 2012


«Mas não tinham as suas visões algo de comparável às falaciosas alucinações que provocam o haxixe, o ópio ou o vinho, e que embrutecem o espírito deformando a alma?»


Fëdor Mixajlovič Dostoevskij. O Idiota. Tradução de Jorge Sampaio. Círculo de Leitores, Lisboa, 1978., p. 226
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