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sábado, 18 de agosto de 2012
«Nesse ano a canção estava em toda a parte, e o seu absurdo refrão:
É que parece tão longo, mas não é.
É que parecem tantos anos,
mas talvez seja apenas um.
Quando as árvores lá estavam preocupava-me que lá estivessem,
e agora desapareceram.
Ao sair usávamos o caminho que existe à volta do pântano.
Quando regressávamos a maré tinha subido.
Havia outro caminho, mas era muito longe e difícil de lá chegar.
E por isso esperávamos aqui, e tudo continua igual.
Havia muitas coisas que queria dizer-te
antes de partires. Agora não as direi.
Embora a luz caia sobre a varanda
lançando as mesmas sombras dos mesmos lugares,
só eu as posso ver, só eu posso ouvir o vento
cujo som é demasiado alto.
O mundo ferve com plantas. Perdoa-me.
Amo-te, mas não devo pensar em ti.
Essa é a lei. Nem todos lhe obedecem.
Ainda que o tempo passe e o ar nunca seja o mesmo
não mudarei. Essa é a lei, e está certa.»
Paul Bowles. Poemas. Selecção e tradução José Agostinho Baptista. Assírio&Alvim, 2008, Lisboa., p. 125
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
''A roda do moinho gira incessantemente e o mocho senta-se no carvalho à espera da escuridão.''
Paul Bowles. Poemas. Selecção e tradução José Agostinho Baptista. Assírio&Alvim, 2008, Lisboa., p. 65
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
V
Na colina distante
o feno é como canela cálida nos celeiros,
novas aranhas sobem cautelosamente,
a quebrada luz das estrelas filtra-se pelas fendas.
Há a profunda respiração das vacas
e no pátio levantam-se as grandes malvas
que pela noite serão escuras.
As portas estão abertas
e as tábuas do alpendre não rangem.
Sons suaves, redondos propagam-se
VI
Não poderá uma comoção da noite
ser o orvalho que cai sobre as inclinadas folhas de erva?
Paul Bowles. Poemas. Selecção e tradução José Agostinho Baptista. Assírio&Alvim, 2008, Lisboa., p. 21
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