quarta-feira, 15 de agosto de 2012

[ woman reading on top of ladder ] 1920

uma a uma folheou as cartas que não escrevera a ninguém nem a si mesmo


« (...) estava morto, morto, tinham-no autênticamente condenado à morte; eles sabiam que um homem como ele não poderia viver numa tal jaula sem amor, durante vinte e cinco longos, longos anos; eles sabiam, os sacristas, sabiam que não seria necessário matá-lo, que bastaria aquilo; e bastou; o resto dele agora em nada, definitivamente nada, um corpo rico não de anos, porém de sofrimento, velho de angústia não só, mas de derrota; uma a uma folheou as cartas que não escrevera a ninguém nem a si mesmo»


Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 125

sicómoros

"Destruiu as suas vinhas com saraiva, e os seus sicómoros com pedrisco."


(Salmos 78.47)

pedrisco

nome masculino

saraiva muito miúda, por vezes chuva gelada, constituída por gotas de chuva que atravessaram uma camada de ar muito fria e congelaram.

V

Na colina distante
o feno é como canela cálida nos celeiros,
novas aranhas sobem cautelosamente,
a quebrada luz das estrelas filtra-se pelas fendas.
Há a profunda respiração das vacas
e no pátio levantam-se as grandes malvas
que pela noite serão escuras.
As portas estão abertas
e as tábuas do alpendre não rangem.
Sons suaves, redondos propagam-se

VI

Não poderá uma comoção da noite
ser o orvalho que cai sobre as inclinadas folhas de erva?


Paul Bowles. Poemas. Selecção e tradução José Agostinho Baptista. Assírio&Alvim, 2008, Lisboa., p. 21

terça-feira, 14 de agosto de 2012

ailarilolela



«porque nasceste num bairro operário serás eternamente limitada e numa casa suja de operário serás precocemente desflorada e no incerto futuro de operário serás injustamente desgraçada, serás menstrualmente dum operário pois a tua carne foi despertada, partirás anualmente um operário porque essa vida não foi evitada, morrerás somente como um operário e a tua morte será ignorada, mulher, a tua voz é rude, voz de origens: desgraçado, miserável, nem te aguentas nessas pernas, olha que bonita figura, és um farrapo, um farrapo de homem, é o que tu és. ele avança titubeante, devagar, procurando numa despreocupada alegria esconder-se: ailarilolela: cala-te criminoso, deixa ao menos dormir os pobres a quem nem sequer dás de comer: ailailai: fizeste-me seis filhos e agora que me amole, não?»




Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 112

«sofria de doenças raras queixando-se das que conhecia e doutras que inventava jamais deixando porém de ser sincero chegaram a doer-lhe os cabelos e as unhas fechando-se no quarto durante dias seguidos às escuras onde passou em breve a ver os mortos a falar com os mortos e Goethe disse-lhe o autêntico sentido de suas últimas palavras e uma manhã ele pretendeu morrer também e o que é mais estranho morreu mesmo ficou na cama hirto de olhos fechados sem falar vieram levantá-lo mas ele não deixou e não comia nem bebia depois com tratamentos lá tentaram convencê-lo de que estava vivo e o faziam comer e o fizeram beber embora morto embora continuasse definitivamente morto um vivomorto»



Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 87/8

« fala vagamente de vida existencial concreta e do sensualismo de possuir a morte! afirma que se suicida depois de viver um momento de beleza absoluta, porque depois desse momento há muito procurado, nada pode ser belo, nada já há a esperar deste terrível mundo em que vivemos famintos de infinito!»



Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 84

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Andrey Tarkovskiy on set of ‘Nostalghia’, 1983


«porque fomos criados para que nos criássemos, porque para nos fazermos fomos feitos, a cada instante se fazem e nisso está a liberdade deles, não em fazer o que se quer, mas o que quer o ser, não em fazer o não ser, mas apenas o ser, não em não querer o ser, que o mesmo é que o não ser querer e a escolha precisamente entre o ser e o não ser está, o ser e o nada, o ser e o vazio, o ser e o zero, o ser e o absurdo»



Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 77

« é a hora a que proletários, vão a caminho de casa para, à falta de comida, fazer filhos a quem comida faltará também e depois dormir como quem quer morrer»



Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 76

armadilha para pássaros


« com meia dúzia de frases conhecemo-nos.»


Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 69

imprudência

Suportar o amanhecer da tua morte

domingo, 12 de agosto de 2012

«Ou o teu falar me engana ou me tenta.»

Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 174

«Eu sou Aglauro, que me tornei em pedra.»

Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 168
«Deve matar-me aquele que me encontre.» E fugiu como o trovão se afasta se súbito a nuvem se desfaz.»



Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 168

«Sábia não fui, ainda que Sapia fosse o meu nome: e fui a infelicidade dos outros e mais feliz por isso que com a minha ventura. E para que não julgues que te engano, ouve como fui, segundo te disse, louca, quando já descia a curva dos meus anos.»



Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 164

Poet Ranier Maria Rilke and Clara Westhoff

«(...) grande dor arrancou lágrimas dos meus olhos.»

Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 162

«(...) ó raça humana, nascida para voar alto, porque cais tu se sopra um ligeiro vento?»



Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 160
«Vi a Tróia em cinzas e em cavernas. Ó Ílion, como baixa e vil te mostra a imagem que ali se distingue! 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 159
«Mostrava a ruína e a cruel vingança de Tamíris quando disse a ciro: «Tens sede de sangue e de sangue eu te encho.»
 
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 159

"Há tanta suavidade em nada dizer/ E tudo se entender." - Fernando Pessoa

  "O primeiro beijo, seja isso bem claro, não o dão os lábios mas os olhos."
(Bernardi, Don Juan)


"Quando o amante está distante, mais quente se faz o desejo; o hábito deixa o amado fastidioso."
 (Propércio)

"No homem, o desejo gera o amor. Na mulher, o amor gera o desejo."
 (Jonathan Swift)

"O amor não conhece sua própria intensidade até à hora da separação."
 (Khalil Gibran)


Temer o amor é temer a vida, e aqueles que temem a vida já estão praticamente mortos."
 (Bertrand Russell)

"Se queres prolongar o amor não permitas que a desconfiança te domine em relação à pessoa amada."
 (Ovídio)

"As feridas do amor só podem ser curadas por aquele que as fez."
 (Publílio Siro)

Tudo o que sabemos do amor, é que o amor é tudo que existe."
 (Emily Dickinson)

"Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também viver um grande amor."
 (Mozart)





"O primeiro beijo, seja isso bem claro, não o dão os lábios mas os olhos."

(Bernardi, Don Juan)

sábado, 11 de agosto de 2012

«Não retenhas num só lugar o pensamento», disse o doce Mestre, que me mantinha daquele lado em que as pessoas têm o coração.
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 153
«Assim me pareceu que ela e eu ardíamos, e tanto o fogo imaginário queimava que foi preciso que o sono terminasse.»
 
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 149

'a morte não será mais morte'

Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 28
«(...) como pode alguém assim amar uma pessoa depois de tantos anos de promiscuidade dum dia repetido e chão será que o amor renova realmente tudo em que toca e possuir aceita.»


Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 21

[ Joan Bennett Reading a Book ] 1932

avulsão

Acto. de arrancar ou extrair com violência.

''Sós com a nossa loucura''

John Ashbery. Uma onda e outros poemas. Tradução colectiva de João Barrento com a colaboração de Richard Zenith. Quetzal Editores, Lisboa,1992., p. 48
«Os ribeiros correm docemente, engordando o peixe;
Pássaros escurecem o céu.»




John Ashbery. Uma onda e outros poemas. Tradução colectiva de João Barrento com a colaboração de Richard Zenith. Quetzal Editores, Lisboa,1992., p. 45

pé-ante-pé

Jewish involvement in organized labor, like the International Ladies’ Garment Workers’ Union, is one of the stories in “The Jewish Americans.” Left, members of the garment workers’ union in Chicago in 1935.

domingo, 5 de agosto de 2012

Há muito dessas mulheres e não é necessário que aumentes o seu número.

« - Eu parto amanhã, Nina - começou Grigóri Afanássievitch, estugando o passo - e, digo-to francamente, parto inquieto, sim, por causa disso que começou em ti. - Falava assim do amor, certo de ser compreendido por ela. - Tudo irá correr bem se te calhar um homem de verdade. Nesse caso, de acordo. Mas se do obscurecimento do teu espírito se aproveita um desavergonhado que não acredita nem em deus nem no diabo, mas apenas nos átomos?...Alguém que, para matar o tempo, leva para as montanhas as parvas pintadas, à procura não sei que pedrinhas? Destroçará a tua vida e partirá depois no seu Volga com rumo desconhecido, e tu ficarás destruída, mutilada, passando como uma estranha diante da beleza do mundo e intrigando as gentes com o teu aspecto de aflita. Há muito dessas mulheres e não é necessário que aumentes o seu número.

(...)

« - Tu não tens o direito de ser infeliz! - interrompeu-a Grigóri Afanássievitch em tom irritado. - Foste preparada para teres uma vida interessante e bela. Trouxemos-te para essa vida e pusemos-te perante ela...Pois bem, justifica-nos, a nós os velhos, ao mesmo tempo que te justificas a ti mesma. É verdade que estás numa idade propícia e que não pode ser de outra maneira, já que é uma lei da natureza, mas cuida de que isto não seja o teu fim, a tua vergonha, a tua desgraça, mas o começo, a entrada de honra na vida autêntica.»


Serguéi Antónov..As Pedrinhas Multicores. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 528/9
«(...) - Na nossa era atómica o amor é...como os automóveis...Morre-se de desejo de ter um, mas quando se o tem começam as maçadas.»




Serguéi Antónov..As Pedrinhas Multicores. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 523
«(...) durante um segundo, o seu olhar foi firme e penetrante; depois os olhos suavizaram-se, tornando-se alegres e carinhosos. Era como se tivesse, por um velho hábito, dois olhares distintos: um para os inimigos e outro para os amigos.»




Andréi Merkúlov..Em Voo. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 444

«Os argumentos caíam como um dilúvio sobre Alexandr, que ao fim de pouco tempo deixou de ouvi-los, mergulhado na sua incompreensível tristeza.»



Daniil Gránime. A Segunda Variante. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 426
«Havia qualquer coisa de sublime no modo como ela vivia corajosamente com a sua dor; sem se resignar, sem ocultá-la e sem esquecer nada.»



Daniil Gránime. A Segunda Variante. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 414
«Costuma acontecer que as relações entre as pessoas se determinam, sem causa aparente, à primeira vista.»


Daniil Gránime. A Segunda Variante. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 411
«Aí estou eu com crianças inocentes, mordidas pelos dentes da morte antes que fossem do pecado humano libertadas.»
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 143
«Corri ao pântano, mas os juncos e a lama de tal modo me impediram que eu caí; e ali vi do meu sangue fazer-se em terra um lago.»
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 137
«Primeiro dirigi os olhos para o fundo; depois levantei-os para o Sol;»
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 134

exegese

nome feminino
1. análise e explicação do verdadeiro sentido de um texto, aplicando as regras da hermenêutica
2. interpretação; comentário

(Do grego exégesis, «interpretação», pelo francês exégèse, «idem»)

«Caçadores de cabeças e chacais misturam-se com o viburno»

John Ashbery. Uma onda e outros poemas. Tradução colectiva de João Barrento com a colaboração de Richard Zenith. Quetzal Editores, Lisboa,1992., p. 25

Malva-rosa, Malva-Real, Malvaísco

«(...)        Ninguém´
Me pediu para ficar aqui, ou se me pediram esqueci-me,»



John Ashbery. Uma onda e outros poemas. Tradução colectiva de João Barrento com a colaboração de Richard Zenith. Quetzal Editores, Lisboa,1992., p. 24

''acidamente doce''

«Alguma recordação que nunca poderá ser mais do que isso,»



John Ashbery. Uma onda e outros poemas. Tradução colectiva de João Barrento com a colaboração de Richard Zenith. Quetzal Editores, Lisboa,1992., p. 22

sábado, 4 de agosto de 2012

lodaçal

nome masculino
1. lugar onde muito lodo; lamaçal; atoleiro
2. figurado vida dissoluta
3. figurado lugar de devassidão

 

reverdecer

''Amor, que na minha alma me fala''

Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 128
«Depois à medida que se aproximava de nós, a ave divina mais nítida aparecia: como os meus olhos não a suportavam, baixei-os.»
 
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 127

mar cruel

I've had so many words
but I had no courage.

terça-feira, 31 de julho de 2012

domingo, 29 de julho de 2012

Balthus, o cavaleiro polaco


SWITZERLAND. Rossinière. French painter BALTHUS at home. 1999

 
Entre 1930 e 1932 serviu o exército francês em Marrocos, onde cuidava de um cavalo chamado Arbia. Pouco tempo depois de regressar a Paris alguém lhe disse: «desde que te foste embora, o cavalo recusa-se a comer», e por fim «deixou-se morrer à fome...»


O próprio Balthus (diz-se) tentou o suicídio, em 1934, quando pintou "La Leçon de Guitare". Consta que foi salvo pelo louco Artaud



Pouco antes de morrer no fatídico acidente de automóvel em 1960, Albert Camus fez uma curiosa dedicatória a Balthazar Michel Klossowski de Rola, que vivia já com algum fausto no castelo de Chassy, perto de Montreuillon: «a ti que fazes Primaveras, entrego-te o meu Inverno».




Balthus orgulhava-se da nobreza de conduta dos seus  antepassados («não te esqueças que és um cavaleiro polaco» — dizia-lhe o pai) e mantinha-se estoicamente fiel a um estranho estilo figurativo que em Montparnasse fora condenado ao desprezo (Picasso era, para ele, o carrasco da pintura moderna). Celebrava o seu aniversário apenas de quatro em quatro anos (nasceu a 29 de Fevereiro de 1908 e só em 2004 festejaria pela vigésima quarta vez), e pintava gatos — muito gatos, cúmplices autodidactas —, anjos — «jeunes filles en fleur», eternas adolescentes — e espelhos — os anjos iluminados ou, na simbologia esotérica, virgens que recebem a luz de Deus: nem crianças impúberes que arrastam para a cadeia, nem mulheres fatais que levam à perdição (Balthus passou por grande sofrimento quando soube que a sua mãe, a pintora Baladine, era amante do admirável Rainer Maria Rilke).


Teve muitos amigos famosos: Paul Valéry, Man Ray, Miró, Camus, Éluard, Giacometti, Dalí, os quatro Andrés: Gide, Breton, Derain e Malraux... Alguns deles admiravam-no e tinham-no como uma espécie de «peregrino de Deus.» Só o dramático Artaud, nos períodos de maior demência, fazia dele um demónio: considerava-o seu «duplo», enviava-lhe «cartas terríveis» e acusava-o de ser «o causador de todas as suas desgraças.»





Vexilla Regis Prodeunt Inferni




Beware-with the dark I ride as one. When my legacy I reclaim.
As a fallen god, with the lunar legions by my side
On dragon wings I fly. Behold-the etheral shades of night

Pletoric formations of dark dancing past the aeons of the eleusinian vast
Within a dream, my honour to last, to sprout throughout my blood
to strengthen my heart.
The heaven torns apart as twillight shreds and thunder.
With a vampire breath I whirl the frost, to storm within my kingdom to come
Dead winter enthrones.

Vexilla regis produent inferni
As a phantom of night I ride, by thy side

The Archangels revocation of the dead
The apocalyptic revelation
The arrival of plague and death.
The Armageddon revolution-to come

Astral sparks of fire, descending to ablaze
The landscapes drained by sulphur rain
from the canopy licked by flames
Shadows walks the earth, to ravish life and glee
To walk the fields of reverie, sowing dark in dreams to be

Beware-with the dark I ride as one. When my legacy I reclaim.
As a fallen god, with the lunar legions by my side
On dragon wings I fly. Behold-the etheral shades of night

Clamant-the silence-as blood to my ears
The battlescreams echoes has vanished, faded into the past

The black sun is falling into the abyss
with the lakes of dark blood to merge
The sky is aflame, when I ride through the night
as a phantom through fire I fly
Armageddon...The final redemption of wrath

Dies Irae...
Canto Trigésimo terceiro
 
História do conde Ugolino. O recinto de Ptolomeu
                     (Ptolomea)
 
 «Levantou a cabeça do seu horrível alimento este pecador limpando-a aos cabelos da cabeça que estava a roer e começou: «Queres que eu reavive a desesperada dor que me aperta o coração só de pensar antes mesmo de falar. Mas se as minhas palavras pudessem produzir o fruto da infâmia do traidor que eu mastigo, ver-me-ás ao mesmo tempo falar e chorar.» (...)
 
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 113

«se não secar esta língua com que te falo.» ...

Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 112
« Vê por onde passas: e tenta não calcar com os pés a cabeça dos teus míseros e cansados irmãos.»
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 110
 
«A mesma língua que primeiro me repreendeu e me fez corar as faces depois me aplicou o remédio. Assim, ´foi-me dito que acontecia ser a lança de Aquiles e de seu pai, primeiro, de tristezas e, depois, de boa recompensa.»
 
(...)
 
«Mal eu tinha voltado a cabeça quando me pareceu avistar umas muito altas torres; e perguntei:«Mestre, diz-me que terra é esta.» E ele: «Como olhas através da escuridão para demasiado longe, acontece que a imaginação te confunde. Verás melhor, se lá chegares, como os sentidos te enganam com a lonjura; mas convém estugar o passo.»
 
 
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 106/7

riba

« E o hidrópico: «Tu nisto falas verdade mas não foste testemunha tão verdadeira quando a verdade te foi pedida em Tróia.»
 
(...)
 
«Assim se abre tanto a tua boca para falar mal como de costume: porque se eu tenho sede e os humores me dilatam, tu ardes e dói-te a cabeça e para lamber o espelho de Narciso não precisas de dizer muitas palavras.»
 
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 105

malfadados

sábado, 28 de julho de 2012

Rilke with Clara Westhoff (1906)

QUADRA SEM PARDAIS
BOA NOVA OU ESPERANÇA

                                        provérbio irlandês


O meu mundo foi derrubado, e o vento espalha
As cinzas de Alexandre e de todos os que mataram por nós.
Tróia foi-se. E a mágoa rebelde do Ulster,
Também ela, como Tróia, como os Ingleses, também ela passará.



Thomas McCarthy. O jardim da dor e outros poemas. Tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1991) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira. Quetzal Editores, 1993., p.51

déjà-vu

« a tua mais profunda morte »

Thomas McCarthy. O jardim da dor e outros poemas. Tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1991) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira. Quetzal Editores, 1993., p.28

sábado, 21 de julho de 2012

A documentary film investigating sex trafficking by Mimi Chakarova

The Price of Sex is a feature-length documentary about young Eastern European women who’ve been drawn into a netherworld of sex trafficking and abuse. Intimate, harrowing and revealing, it is a story told by the young women who were supposed to be silenced by shame, fear and violence. Photojournalist Mimi Chakarova, who grew up in Bulgaria, takes us on a personal investigative journey, exposing the shadowy world of sex trafficking from Eastern Europe to the Middle East and Western Europe. Filming undercover and gaining extraordinary access, Chakarova illuminates how even though some women escape to tell their stories, sex trafficking thrives

Rilke with Baladine Klossowska (Muzot 1923)

«As ondas são generosas, ritmadas, maternais,
como molde feito especialmente para seios nus.»


Thomas McCarthy. O jardim da dor e outros poemas. Tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1991) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira. Quetzal Editores, 1993., p.25

«Como uma armadilha, a melancolia apoderou-se do seu belo coração.»

Thomas McCarthy. O jardim da dor e outros poemas. Tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1991) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira. Quetzal Editores, 1993., p.22

«Como se a água pudesse explicar o meu pranto,»

Thomas McCarthy. O jardim da dor e outros poemas. Tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1991) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira. Quetzal Editores, 1993., p.17

II


PEQUENAS AVES, VOZES


Estes são os sons bem entrelaçados da morte,
Aquelas pequenas aves castanhas a cantar, pequenas aves
De inverno pousadas num ramo pendente.
Nunca em vida lhe conhecera esse olhar fixo
Tão ferido de silêncio por um breve instante.

Estas aves lembram as vozes dessa vida:
Uma nota grave e fria é a voz atormentada
da pobreza da infância e as notas breves
E suaves são os sons de Amor e Casamento.

''É o princípio dos problemas da tua vida'',
Disse um vizinho junto à campa. Arranjei
A coroa de flores já murchas no seu sono fingido.
Alguma coisa me disse, a sua voz talvez, mesmo naquele instante
Quanto de Amor, de Dor, de Amor há numa vida.



Thomas McCarthy. O jardim da dor e outros poemas. Tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1991) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira. Quetzal Editores, 1993., p.15

sexta-feira, 20 de julho de 2012

At Cháteau de Muzot. Rilke with the young violin virtuoso, Alma Moodie and the conductor Werner Reinhardt. Rilke in a letter to Nanny Wunderly-Volkart: [about Moodie]"What a sound, what richness, what determination. That and the Sonnets to Orpheus, those were two strings of the same voice. And she plays mostly Bach! Muzot has received its musical christening...."

Mens sana in corpore sano

quarta-feira, 18 de julho de 2012

agiota

nome de 2 géneros
1. pessoa que empresta dinheiro com juros excessivos; usurário

2. especulador de fundos

penitência

Bdelicleon - (...)  Ajuda-o a modificar a sua natureza severa e amarga, comove o seu coração e remove o seu azedume. Mistura à sua cólera uma pequena gota de mel para o adoçar. Oh, possa ele perder o seu rancor e olhar para os homens com simpatia, de modo que as suas lágrimas caiam pelo acusado e não pelo acusador!»


Aristófanes. As Vespas. Edição da Ediclube., p. 166

''Onde está a minha alma? Tem de estar aqui algures. «Trevas, dêem-me passagem.»''



Aristófanes. As Vespas. Edição da Ediclube., p. 161
«Corações de carvalho somos nós todos, e lutaremos até cair»


Aristófanes. As Vespas. Edição da Ediclube., p. 146
de fio a pavio do princípio ao fim;
gastar pavio perder tempo

«(...) espargir incenso num sacrifício à Lua.»

Aristófanes. As Vespas. Edição da Ediclube., p. 136

arenga

nome feminino
1. alocução pública
2. discurso longo e fastidioso; palavrório
3. altercação, discussão

(Do gótico hring, «círculo», pelo latim medieval harenga-, «discurso»)
« Creonte - Tu que és escravo de uma mulher, não me venhas com palavriado.
   Hemão - Queres então falar e não ter que ouvir ninguém?»


Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 112

Não mantenhas como única opinião a tua, nem julgues que só o que tu dizes é razoável.


«Não mantenhas como única opinião a tua, nem julgues que só o que tu dizes é razoável. Os que acreditam ser únicos a usar da sensatez, a pensar e a falar melhor do que ninguém, revelam, uma vez postos a nu, um grande vazio. Não é vergonha para um homem, ainda que seja sábio, aprender com os erros e não se mostrar demasiado obstinado. Nas margens dos rios engrossados pelas torrentes invernais, vemos que as árvores que cedem à corrente conservam os seus ramos, enquanto que as que oferecem resistência são arrancadas pelas raízes.»




Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 110

«Não há pior mal que a anarquia.»


«Não há pior mal que a anarquia. Ela faz perder os Estados, destrói as casas, rompe as filas e põe em fuga as lanças aliadas. A disciplina, pelo contrário, salva a vida dos que a seguem. Assim, deve-se respeitar as ordens, e de modo algum deixar-nos vencer por mulher. Melhor seria, se preciso fosse, cair pela mão de um homem do que sermos considerados mais fracos que as mulheres.


Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 109

«Não amo aqueles que só amam em palavras.»

Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 106
«Creonte - O inimigo jamais será um amigo, mesmo quando morto.»


Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 105
«Corifeu - Ela mostra a natureza inflexível de um pai inflexível. Não aprendeu a ceder perante a desgraça.

Creonte - Sim, mas fica sabendo que o coração que não sabe ceder é, entre todos, o mais frágil, e o mais duro ferro, temperado e endurecido pelo fogo, é o que mais frequentemente se quebra e se faz em bocados.»



Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 103

Antígona

«(...). E se morrer antes do tempo, tanto melhor para mim, porque quem, como eu, vive no meio de desgraças sem conta, como não hei-de considerar a morte um bem desejado? Por isso o destino que me reservas não me causa dor alguma.»



Sófocles. Antígona. Edição da Ediclube., p. 103
«No interior das chamas estão os espíritos, cada um envolvido no próprio fogo que o queima.»
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 91

domingo, 15 de julho de 2012


«Mas não tinham as suas visões algo de comparável às falaciosas alucinações que provocam o haxixe, o ópio ou o vinho, e que embrutecem o espírito deformando a alma?»


Fëdor Mixajlovič Dostoevskij. O Idiota. Tradução de Jorge Sampaio. Círculo de Leitores, Lisboa, 1978., p. 226

sábado, 14 de julho de 2012

Father photographer – Henry Frank, [edited by] Robert Frank and Franðcois-Marie Banier.


«É que a memória das crianças é como um relâmpago de Verão: incendeia-se de repente, ilumina tudo por instantes e apaga-se. Era o que acontecia com a sua memória; como um relâmpago, brilhava de vez em quando.»



Mikhaíl Chólokhov. O Destino de um Homem. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 400.
«Vivi assim dez anos, sem me dar conta de como passaram. Foram-se como um sonho. Que são dez anos? Pergunta a qualquer homem de idade se reparou em como foi a sua vida e dir-te-á que não se apercebeu de nada. O passado é como essa estepe longínqua, envolta em nevoeiro.»





Mikhaíl Chólokhov. O Destino de um Homem. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 360

Desde menina que sabia o que era sofrer e, aliás, isso reflectia-se no seu carácter.

« Desde menina sabia o que era sofrer e, aliás, isso reflectia-se no seu carácter. Olhando-a de fora, sob determinado aspecto, digamos que não era muito vistosa, mas eu não a olhava sob um determinado aspecto, mas de frente. E não havia para mim no mundo mulher mais bonita e desejada que ela, nem haverá!
    Vinha um homem do trabalho, cansado, e às vezes com um humor de mil diabos. Mas ela nunca respondia com rudeza às minhas rudes palavras. Carinhosa, serena, não sabia que fazer comigo e só pensava, mesmo quando eu levava pouco dinheiro para casa, em preparar-me um prato saboroso. Um homem olhava para ela e abrandava-se-lhe o coração, e, pouco depois, abraçava-a e dizia-lhe: ''Perdoa, querida Irina, fui muito grosseiro contigo. Mas, compreendes, hoje as coisas não me correram bem no trabalho. E de novo reinava entre nós a paz e a tranquilidade voltava à minha alma.»






Mikhaíl Chólokhov. O Destino de um Homem. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 358

« Da água vinha um hálito de humidade, juntamente com o azedo sopro dos amieiros putrefactos, e das longínquas estepes de Prikhopérskie, mergulhadas no fumo liláceo da névoa, a suave brisa trazia o aroma, eternamente jovem, da terra recém-libertada da neve.»



Mikhaíl Chólokhov. O Destino de um Homem. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 353

« - Sabe, parece-me que lhe quero muito.
 O capitão voltou-se de costas. As orelhas tornaram-se-lhe pálidas.
  -Bem, deixe-se de disparates.
  - Não é que o ame, mas, simplesmente, aprecio-o - disse Mikháilova com orgulho.
   O capitão ergueu os olhos e, fitando-a de soslaio, disse com timidez:
   -Pois a mim falta-me a miúdo a coragem para dizer o que penso, e isso é muito mau.»


Vadim Kojévnikov. Março e Abril.Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 347
«E, como é costume dizer-se, os gritos da barriga afogam em si a voz da razão.»



Vadim Kojévnikov. Março e Abril.Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 320
«Como se fosse um filho meu, receava deixá-lo só, indefeso contra a acção das inesperadas forças hostis do nosso mundo formoso e pérfido.»


Andréi Platónov. No Mundo Formoso e Pérfido.Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 305
«(...); via-se que eu o fatigava como um homem estúpido.
 - Você sabe tudo, menos o essencial - proferiu lentamente, pensativo. - Pode retirar-se.»



Andréi Platónov. No Mundo Formoso e Pérfido.Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 253

O que eu te digo talvez te pareça velho.

« Oceano (...) - O que eu te digo talvez te pareça velho. E todavia, Prometeu, é evidente que o teu castigo provém das tuas palavras arrogantes. Contudo, não és nada humilde nem te rendes ao sofrimento, e aos teus males presentes queres acrescentar outros.»


Ésquilo.Prometeu Agrilhoado. Edição da Ediclube., p. 19
«Prometeu - Se me é doloroso falar, calar-me não o é menos; sofro quer o faça quer não.»


Ésquilo.Prometeu Agrilhoado. Edição da Ediclube., p. 16

sexta-feira, 13 de julho de 2012

E eu, ao Mestre:

«As tuas palavras têm para mim tal certeza e merecem tanta fé, que outras para mim seriam como cinzas apagadas.»
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 73

''virgem bravia''

«Todas as tuas perguntas me dão prazer»

Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 55
«Assim como fui em vida, assim sou na morte.»
 
 
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 54

não meter prego nem estopa

 não tomar parte num acto ou numa discussão, não emitir opinião, não ter nada a ver com o assunto

quinta-feira, 12 de julho de 2012

«quem traiu eternamente é consumido»

Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 45

a minha cabeça é povoada de tontarias

e, pensando bem o meu desejo é simples: viver num monte, ter gatos, livros, fotografar, andar a cavalo, viver o ócio das horas que passam e não regressam, despir-me da minha utilidade, aumentar o meu dicionário de analfabeta, viajar, sentir excessivamente as sensações, ser a carne e a alma que se dão em ascese, ser contrariada pela vida, perder o orgulho que habita este cárcere, deixar fluir a doçura que existe por detrás de cada palavra amarga, libertar este corpo das suas próprias prisões e cavidades seladas, exprimir aquilo que sou sem recear os julgamentos, não ter cegamente resposta para tudo, ser domada pela simplicidade que é saber pouco, isolar-me das ninharias e tiranias desta espelunca - que alguns, diga-se, conhecem por democracia -, esperar com o trabalho quotidiano pelas bem-querenças do futuro, açoitar a minha própria desconfiança de tudo e todos, dar alento aos meus fantasmas, receber a tempestade de peito aberto, e lentamente descer ao abismo das noites frias e caminhar pelas águas: o solitário chegar ao cume da montanha.



É isto.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

'' uma côdea de pão escuro''

«Às vezes uma onda desliza pela areia e desaparece entre murmúrios.»


Vera Inber. Maia Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 253

emaciado


adjectivo
que mostra emaciação; emagrecido ao extremo
(Do latim emaciatus, «fazer magro»)

« - Não fales assim, Antón, que se passa?»

« - Sim, tenho que to dizer! Na verdade, tornei-me insuportável com os meus caprichos, as minhas tolices... Mas se soubesses como é duro para mim, como desejo viver, como estou cansado de pensar na morte, de dizer a mim mesmo que em breve, muito em breve, deixarei de existir, que não ficará nada de mim, que não tive tempo para fazer nada, absolutamente nada que valha a pena...»




Iúri Guérman. Passeios pelo Pátio. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 236

''Um homem tem sempre medo de uma mulher que o ame muito.'

«Muitas pessoas têm medo do olhar penetrante dos outros. Têm medo de perscrutar as coisas a fundo. Gostam de passar por cima de tudo, de olhos fechados e pensamento vazio.»


Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 262

tuta-e-meia

«As paixões humanas não têm conta, são tantas como as areias do mar, e todas, as mais vis como as mais nobres, começam por ser escravas do homem para depois o tiranizarem. Bem-aventurado aquele que, entre todas as paixões, escolhe a mais nobre: a sua felicidade aumenta de hora a hora, de minuto a minuto, e cada vez penetra mais no ilimitado paraíso da sua alma. Mas existem paixões cuja escolha não depende do homem: nascem com ele e não há força bastante para as repelir. Uma vontade superior as dirige, têm em si um poder de sedução que dura toda a vida. Desempenham neste mundo um importante papel: quer tragam consigo as trevas, quer as envolva uma auréola luminosa, são destinadas, umas e outras, a contribuir misteriosamente para o bem do homem.»




Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 258/9
«Porque havemos de ser tão severos com os outros? Hoje em dia já não se vêem por aí miseráveis, há só pessoas bem intencionadas e simpáticas. E se alguns se expõem à vergonha de serem esbofeteados em público, são só uns dois ou três, o máximo, e mesmo esses agora falam de virtude.»




Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 258

''Não cuspas no poço; pode servir para beber água''

Provérbio russo

« - Um dia sentirás por ela profunda aversão, precisamente por causa do amor que hoje te inspira e dos sofrimentos que padeces.»



Fëdor Mixajlovič Dostoevskij. O Idiota. Tradução de Jorge Sampaio. Círculo de Leitores, Lisboa, 1978., p. 213

jeremíades

''senti o coração apertar-se-me como entre tenazes''

Fëdor Mixajlovič Dostoevskij. O Idiota. Tradução de Jorge Sampaio. Círculo de Leitores, Lisboa, 1978., p. 198

quinta-feira, 28 de junho de 2012

« - Devo dizer-lhe, Gavrila Ardalionovitch - disse bruscamente o príncipe -, que é verdade que a doença que me afligiu noutros tempos, a ponto de me tornar quase idiota. Mas agora estou curado e já há muito tempo. Por isso, acho bastante desagradável que me trate abertamente de idiota. Se bem que os seus infortúnios lhe possam servir de desculpa, está transtornado a pontp de ser a segunda vez que me insulta. Isso desagrada-me, sobretudo tratando-se, como é o caso, do primeiro encontro. Estamos numa encruzilhada, o melhor será que nos separemos. (....)»



Fëdor Mixajlovič Dostoevskij. O Idiota. Tradução de Jorge Sampaio. Círculo de Leitores, Lisboa, 1978., p. 93/4

Talvez diga, por vezes, coisas estranhas...»

« Sei melhor do que ninguém que vivi menos tempo do que qualquer outro e compreendo a vida menos do que quem quer que seja. Talvez diga, por vezes, coisas estranhas...»


Fëdor Mixajlovič Dostoevskij. O Idiota. Tradução de Jorge Sampaio. Círculo de Leitores, Lisboa, 1978., p. 68

terça-feira, 26 de junho de 2012

Acaso não era possível viver fria, como a água de uma nascente, ignorando a febre amorosa?

«Acaso não era possível viver fria, como a água de uma nascente, ignorando a febre amorosa? Mas dava-se conta e estremecia: a vida tinha-a destroçado e pisado no seu almofariz sem curá-la dessa loucura e ''isso'', naturalmente, ia começar agora...Não escaparia ao inevitável.»



Alexéi Tolstói. A Víbora. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 191

Não esquecia o passado. Vivia solitária, duramente.

«Não esquecia o passado. Vivia solitária, duramente. Mas a rudeza da vida de campanha ia-a deixando pouco a pouco. Olga voltava a ser mulher...




Alexéi Tolstói. A Víbora. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 183

«Qual pássaro que voa com ímpeto num céu ventoso, enlouquecido, e de repente, partidas as asas, se abate sobre o chão como uma bola de penas, toda a vida de Olga, o seu amor inocente e apaixonado, se rompeu, se truncou; e começou para ela uma existência sem sentido, dura e incolor.»




Alexéi Tolstói. A Víbora. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 181

«A sua alma cobria-se de cicatrizes como uma ferida curada.»


Alexéi Tolstói. A Víbora. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 147

segunda-feira, 25 de junho de 2012

«Considerava a vida como uma tarefa séria, via e pensava demasiado, e vivia num alarme perpétuo. Tudo um coro discordante de perguntas estranhas ao espírito desta mulher, gritavam na minha alma.»
 
 
 
 
Máximo Górki. O Primeiro Amor. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 136

''O amor e a fome governam o mundo''

«Não direi que amava o seu próximo, não; ela sentia prazer em observá-lo. Às vezes acelerava ou complicava a evolução dos pequenos dramas da existência entre os esposos e os amantes, fomentando habilmente os ciúmes de uns e a aproximação de outros, e esse jogo perigoso apaixonava-a muito.
     ''O amor e a fome governam o mundo'', e a filosofia é a sua desgraça - dizia -. Vive-se para amar; isso é o mais importante da vida.»
 
 
Máximo Górki. O Primeiro Amor. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 133

Lauren Bacall smoking

«Mas há sentimentos, pensamentos e conjecturas das que não se falam senão à mulher amada. Há um momento no comportamento para com a mulher em que se deixa de ser um só e se abre só a ela como o crente para com o seu deus.»
 
 
 
Máximo Górki. O Primeiro Amor. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 131
«(...) eu não possuía a arte de castigar o próximo sem ferir o seu amor próprio.»
 
 
Máximo Górki. O Primeiro Amor. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 126
«Não há mulher que se respeite que não goste de ser lisonjeada.»
 
 
 
Máximo Górki. O Primeiro Amor. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 123

''(...) parecia que tudo em volta se fundia num abismo húmido e sem fundo.''

Máximo Górki. O Primeiro Amor. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 112

''endureci-me e tornei-me mais azedo''

«(...) tive um sem fim de impressões e de aventuras, endureci-me e tornei-me mais azedo, mas, no entanto conservei na minha alma a doce imagem imperecível daquela mulher, embora tivesse encontrado outras melhores e mais inteligentes do que ela.»


Máximo Górki. O Primeiro Amor. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 111
«Amava aquela mulher até à loucura e a minha piedade por ela esta cheia de angústia e de raiva.»


Máximo Górki. O Primeiro Amor. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 104

« (...) sorria com um sorriso que é absolutamente indispensável ao coração de um jovem de vinte anos, a um coração ferido pela rudeza da sua vida.»



Máximo Górki. O Primeiro Amor. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 96

Máximo Górki

''...A coisa mais inteligente que o homem pode ter, é saber amar a mulher, inclinando-se perante a sua beleza: do amor pela mulher nasceu toda a beleza que há no mundo.''

Converter num deserto este país de canalhas

« - Oh, monsieur! Eu tenho a minha teoria: tudo, até aos alicerces. Compreende-me? Converter num deserto este país de canalhas. Temos cento e quarenta milhões de habitantes, mas só dois ou três milhões têm direito a viver. A flor da raça: a literatura, as artes, a ciência. Sou materialista. Os outros cento e trinta e sete milhões, serão convertidos em adubo! Compreende? Nada de superfosfatos, sais de nitrato, salitre! Adubar os campos com milhões de indivíduos! Os mujiks, os rufiões, a canalha rebelde: Todos para a máquina! Uma espécie de grão de café moído. Para reduzi-los a papa! Essa papa, uma vez prensada e seca, será derramada pelos campos, por todos os lugares em que a terra é má. Sobre esses campos assim adubados levantaremos a nova civilização dos eleitos.»



Boris Lavreniov. Uma Coisa Bem Simples. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 50

conluio


1. combinação entre duas ou mais pessoas para prejudicar outrem
2. maquinação; trama
(Do latim colludĭu-, «jogo entre muitos; conluio»)

''Às mil maravilhas!''

bonomia

nome feminino
1. bondade natural aliada à simplicidade de maneiras
2. paciência

(Do francês bonhomie, «idem»)

''papalvo entusiasta''

«Au revoir, bravo jeune homme!»


Boris Lavreniov. Uma Coisa Bem Simples. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980

«Vê-se que é um descrente. E o seu nome é mais de cão do que de pessoa! Cout...Cout...! Oh, quantos porcos tem este mundo!»


Boris Lavreniov. Uma Coisa Bem Simples. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980

''indomável força de carácter''

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Eu tinha meus pés naquela parte da vida
Onde não se pode ir com intenção de regressar.


Dante Alighieri, Vita Nuova

Marilyn Monroe smoking a cigarette


eu sou a inércia criminosa e o exílio dos cães
tenho a amizade dos gatos e dos pobres
todas as minhas esposas me foram infiéis
soçobraram numa insensível loucura
das imagens e não das das almas
eles dizem que estou doido
mas o que estou é sozinho
um pouco triste
escutai-me
vou contar-vos tudo...
eu tinha-lhe dado uma cabra...
não
não estou doido
se me deres um cigarro eu continuo a história...





Tahar Ben Jelloun. Arzila. Estação de espuma.Texto Bilingue. Tradução de Al Berto Ilustrações de Luís Miguel Gaspar. Hiena Editora. Lisboa, 1987
Fui profeta da sabedoria e da verdade. Possuía as chaves da cidade. Senhor dos mares e dos pecadores. Sou hoje um cemitério de terracota. O mais belo cemitério onde vem desenvolver-se a loucura, onde dormem homens loucos de bondade, doentes por amor, doentes de razão.



Tahar Ben Jelloun. Arzila. Estação de espuma.Texto Bilingue. Tradução de Al Berto Ilustrações de Luís Miguel Gaspar. Hiena Editora. Lisboa, 1987
Ele abandonou a família
deixou crescer a barba
e encheu a sua solidão com pedras e sombra

Chegou ao deserto
a cabeça enrolada num sudário
o sangue derramado
em terra ocupada

E não era
nem herói nem mártir
era
cidadão do sofrimento



Tahar Ben Jelloun. Arzila. Estação de espuma.Texto Bilingue. Tradução de Al Berto Ilustrações de Luís Miguel Gaspar. Hiena Editora. Lisboa, 1987

«O silêncio de uma estrela
em troca de um pouco de água.»


Tahar Ben Jelloun. Arzila. Estação de espuma.Texto Bilingue. Tradução de Al Berto Ilustrações de Luís Miguel Gaspar. Hiena Editora. Lisboa, 1987
As raparigas
de ruiva cabeleira
esperam
a alma velada
lêem no horizonte do mar
por trás do véu branco da ilusão
o limite e os perfumes das areias
recostadas sobre os meandros
azuis do vento norte
pardais
perdem-se em suas cabeleiras
entrançadas de paciência


Tahar Ben Jelloun. Arzila. Estação de espuma.Texto Bilingue. Tradução de Al Berto Ilustrações de Luís Miguel Gaspar. Hiena Editora. Lisboa, 1987
A madrugada roça a vaga
lambe as botas dos pescadores adormecidos
desune as mãos calosas do servente de pedreiro
desperta os seios nus das raparigas que amassam o pão
e afasta-se para o céu
onde crianças magoadas
andam à procura de lume





Tahar Ben Jelloun. Arzila. Estação de espuma.Texto Bilingue. Tradução de Al Berto Ilustrações de Luís Miguel Gaspar. Hiena Editora. Lisboa, 1987
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