sábado, 17 de março de 2012
quinta-feira, 15 de março de 2012
Um Segredo
Meu pai tinha sandálias de vento
só agora o sei.
Tinha sandálias de vento
e isto nem sequer é uma maneira de dizer
andava por longe os olhos fugidos a expressão em
[nenhures
com as miraculosas instantaneidades que nos fazem
[estar em todos os sítios.
Andava por longe meu pai sonhando errando vadiando
mas toda a sua ausência era
o malogro de o ser
só agora o sei.
Andava por longe ou sentíamo-lo longe
vem dar no mesmo
e no entanto víamo-lo sempre
ali plantado de imobilidade absorta
no cepo de carvalho raiado de negro
a que o caruncho comera o miolo
como as lagartas esvaziam as maçãs
estranhamente quieto murcho resignado
no seu estranho vadiar
os olhos aguados numa tristeza que hoje me dói
como um apelo perdido uma coragem abortada.
Ausência era tão de mágoa urdida tão de fracasso
[tingida
ausência era
altiva e desolada altiva e triste sobretudo triste
tristeza sim tristeza solene e irremediada
só agora o sei.
Às vezes parecia-me uma águia que atravessa os ares
sulco azul
que nada distingue do azul onde foi sulcado
e por isso nem é águia nem ao menos
o que do seu voo resta para que
o sonho se faça real.
Meu pai era um homem com as nostalgias
do que nunca acontecera e isso minava-o víscera a
[víscera
como as tais lagartas esfarelam as maçãs
e então sei-o agora calçava as ágeis sandálias
miraculosamente leves soltas imaginosas
indo de acaso em acaso de astro em astro
eram de vento as suas sandálias fabulosas
levando-o aonde mais ninguém poderia chegar.
Os outros não o sabiam nem eu o sabia
só o víamos sentado no cepo velho
raiado de negro como uma estrela fossilizada
por isso tudo era para ele mais irremediável e triste
sei-o agora tarde de mais
tarde de mais é uma dor de remorso
que me consome víscera a víscera
como as tais lagartas esfarelam as maçãs.
Mas de qualquer maneira existe um segredo
de que ambos partilhamos
ciosamente avaramente indecifradamente
como os astutos conspiradores
que fazem do seu segredo
um mágico tesouro inviolado.
Um segredo simples:
o que sentiste pai
sinto-o eu agora por ambos
sinto-o por ti
sinto-o por mim.
Ainda que por ele devorados.
Fernando Namora, in 'Nome Para Uma Casa'
só agora o sei.
Tinha sandálias de vento
e isto nem sequer é uma maneira de dizer
andava por longe os olhos fugidos a expressão em
[nenhures
com as miraculosas instantaneidades que nos fazem
[estar em todos os sítios.
Andava por longe meu pai sonhando errando vadiando
mas toda a sua ausência era
o malogro de o ser
só agora o sei.
Andava por longe ou sentíamo-lo longe
vem dar no mesmo
e no entanto víamo-lo sempre
ali plantado de imobilidade absorta
no cepo de carvalho raiado de negro
a que o caruncho comera o miolo
como as lagartas esvaziam as maçãs
estranhamente quieto murcho resignado
no seu estranho vadiar
os olhos aguados numa tristeza que hoje me dói
como um apelo perdido uma coragem abortada.
Ausência era tão de mágoa urdida tão de fracasso
[tingida
ausência era
altiva e desolada altiva e triste sobretudo triste
tristeza sim tristeza solene e irremediada
só agora o sei.
Às vezes parecia-me uma águia que atravessa os ares
sulco azul
que nada distingue do azul onde foi sulcado
e por isso nem é águia nem ao menos
o que do seu voo resta para que
o sonho se faça real.
Meu pai era um homem com as nostalgias
do que nunca acontecera e isso minava-o víscera a
[víscera
como as tais lagartas esfarelam as maçãs
e então sei-o agora calçava as ágeis sandálias
miraculosamente leves soltas imaginosas
indo de acaso em acaso de astro em astro
eram de vento as suas sandálias fabulosas
levando-o aonde mais ninguém poderia chegar.
Os outros não o sabiam nem eu o sabia
só o víamos sentado no cepo velho
raiado de negro como uma estrela fossilizada
por isso tudo era para ele mais irremediável e triste
sei-o agora tarde de mais
tarde de mais é uma dor de remorso
que me consome víscera a víscera
como as tais lagartas esfarelam as maçãs.
Mas de qualquer maneira existe um segredo
de que ambos partilhamos
ciosamente avaramente indecifradamente
como os astutos conspiradores
que fazem do seu segredo
um mágico tesouro inviolado.
Um segredo simples:
o que sentiste pai
sinto-o eu agora por ambos
sinto-o por ti
sinto-o por mim.
Ainda que por ele devorados.
Fernando Namora, in 'Nome Para Uma Casa'
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sábado, 10 de março de 2012
«Agasalhava todos os pássaros na véspera dos temporais.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 197
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 197
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Prosas Bárbaras
«(...), dou-te as visões que são a poesia do movimento na alma»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 186
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 186
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''Tens uma complicação infinita de asas que te impede o voo.''
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução
por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 186
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«Eu tenho ainda por ti aquele amor servil e adulador, que se glorifica quando abdica, que tem um êxtase quando se dá a uma humilhação. Quando te afastas, quando me deixas, fico triste, amorteço-me, toda esta grande alma de chama, que te quer tão bem, se definha, e apenas ficam as brasas, ainda quentes, ainda vermelhas, mas já inertes, e cheias de negro - justamente como o corpo dum amor abandonado.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 183
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''A minha história é triste, luminosa e terrível, imunda e meiga''
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução
por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 182
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«Agora, de Inverno, no campo, as noites são ásperas e hostis. Toda a natureza está impassível e entorpecida, esperando a fermentação violenta das seivas. As árvores erguem os braços nus, miseráveis, e suplicantes. E as águas, que no Outono estavam quietas e pálidas, e que em Maio faziam claras murmurações, tão melódicas como o ritmo dum idílio latino, têm agora vozes vingativas e más. O vento é rouco e lento como um canto católico de ofícios: as chuvas caem de cima, como escárnios triunfantes e ruidosos.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 181
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domingo, 4 de março de 2012
« E, como a alma adormece, calam-se os seus gemidos. Mas quando desperta, ou seja pelo amor, ou pela vergonha, ou pela paixão, ou pelo dever, ou pela paternidade, ou pelo remorso, começa logo a pobre alma, chorando aflita, torturando-se, e pedindo com as mãos postas às estrelas um refúgio sereno!»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 180
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EN UNA TEMPESTAD
Huracán, huracán, venir te siento,
Y en tu soplo abrasado
Respiro entusiasmado
Del señor de los aires el aliento.
En las alas del viento suspendido
Vedle rodar por el espacio inmenso,
Silencioso, tremendo, irresistible
En su curso veloz. La tierra en calma
Siniestra; misteriosa,
Contempla con pavor su faz terrible.
¿Al toro no miráis? El suelo escarban,
De insoportable ardor sus pies heridos:
La frente poderosa levantando,
Y en la hinchada nariz fuego aspirando,
Llama la tempestad con sus bramidos.
¡Qué nubes! ¡qué furor! El sol temblando
Vela en triste vapor su faz gloriosa,
Y su disco nublado sólo vierte
Luz fúnebre y sombría,
Que no es noche ni día...
¡Pavoroso calor, velo de muerte!
Los pajarillos tiemblan y se esconden
Al acercarse el huracán bramando,
Y en los lejanos montes retumbando
Le oyen los bosques, y a su voz responden.
Llega ya... ¿No le veis? ¡Cuál desenvuelve
Su manto aterrador y majestuoso...!
¡Gigante de los aires, te saludo...!
En fiera confusión el viento agita
Las orlas de su parda vestidura...
¡Ved...! ¡En el horizonte
Los brazos rapidísimos enarca,
Y con ellos abarca
Cuanto alcanzó a mirar de monte a monte!
¡Oscuridad universal!... ¡Su soplo
Levanta en torbellinos
El polvo de los campos agitado...!
En las nubes retumba despeñado
El carro del Señor, y de sus ruedas
Brota el rayo veloz, se precipita,
Hiere y aterra a suelo,
Y su lívida luz inunda el cielo.
¿Qué rumor? ¿Es la lluvia...? Desatada
Cae a torrentes, oscurece el mundo,
Y todo es confusión, horror profundo.
Cielo, nubes, colinas, caro bosque,
¿Dó estáis...? Os busco en vano:
Desparecisteis... La tormenta umbría
En los aires revuelve un oceano
Que todo lo sepulta...
Al fin, mundo fatal, nos separamos:
El huracán y yo solos estamos.
¡Sublime tempestad! ¡Cómo en tu seno,
De tu solemne inspiración henchido,
Al mundo vil y miserable olvido,
Y alzo la frente, de delicia lleno!
¿Dó está el alma cobarde
Que teme tu rugir...? Yo en ti me elevo
Al trono del Señor: oigo en las nubes
El eco de su voz; siento a la tierra
Escucharle y temblar. Ferviente lloro
Desciende por mis pálidas mejillas,
Y su alta majestad trémulo adoro.
LA NOTE
_Que n’ai-je un peu de voix ! J’ai le cruel ennui
De sentir mon poème en ma poitrine éclore,
Et dc ne pouvoir pas, plus créateur encore,
Comme j’ai mis mon cœur, mettre mon souffle en lui.
_Le chant aérien laisse, après qu’il a fui,
Des lèvres jusqu’au ciel tin sillage sonore
Ou l’âme, rajeunie et plus légère, explore
Les paradis anciens qu’elle pleure aujourd’hui.
_La ilote est comme une aile an pied du vers posée ;
Comme l’aile des vents fait trembler la rosée,
Elle le fait frémir plus sonore et plus frais.
_O vierges qu’effarouche un seul mot, le plus tendre,
Peut-être modulé daigneriez-vous l’entendre,
Vous qui l’osez chanter sans le dire jamais !
Sully Prudhomme
De sentir mon poème en ma poitrine éclore,
Et dc ne pouvoir pas, plus créateur encore,
Comme j’ai mis mon cœur, mettre mon souffle en lui.
_Le chant aérien laisse, après qu’il a fui,
Des lèvres jusqu’au ciel tin sillage sonore
Ou l’âme, rajeunie et plus légère, explore
Les paradis anciens qu’elle pleure aujourd’hui.
_La ilote est comme une aile an pied du vers posée ;
Comme l’aile des vents fait trembler la rosée,
Elle le fait frémir plus sonore et plus frais.
_O vierges qu’effarouche un seul mot, le plus tendre,
Peut-être modulé daigneriez-vous l’entendre,
Vous qui l’osez chanter sans le dire jamais !
Sully Prudhomme
L’INSPIRATION
Un oiseau solitaire aux bizarres couleurs
Est venu se poser sur une enfant ;
mais elle, Arrachant son plumage où le prisme étincelle,
De toute sa parure elle fait des douleurs.
_Et le duvet mœlleux, plein d’intimes chaleurs,
Épars, flotte au doux vent d’une bouche cruelle.
Or l’oiseau, c’est mon cœur ; l’enfant coupable est celle,
Celle dont je ne puis dire le nom sans pleurs.
_Ce jeu l’amuse, et moi j’en meurs, et j’ai la peine
De voir dans le ciel vide errer sous son haleine
La beauté dc mon cœur pour le plaisir du sien !
_Elle aime à balancer mes rêves sur sa tête
Par un souffle, et je suis ce qu’on nomme un poète.
Que ce souffle leur manque, et je ne suis plus rien.
Sully Prudhomme
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Prémio Nobel de Literatura 1901,
Sully Prudhomme
«Na arte só têm importância os que criam almas, e não os que reproduzem costumes.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 178
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 178
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«Quais podem ser as obras desta geração? Criações febris, convulsões cerebrais, idealistas e doentias, todo um pesadelo moral. Por isso, temos tido toda uma série de figuras melodramáticas, desde Fausto até Mr. de Camors.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 177
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«(...), com todo o sangue de Tácito - para pintar a cara macia do egoísmo humano.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 173
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Que tardes!
«Que tardes! Da varanda via-se a serenidade virgiliana dos prados e dos rios.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 171
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 171
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«Outrora, nos dias já distantes da minha juventude e da minha infância, que passaram como um sonho e não voltam mais, sentia-me imensamente feliz sempre que chegava pela primeira vez a qualquer lugar desconhecido: quer fosse uma aldeia, vila, pequena cidade da província ou capital do distrito, em toda a parte o meu olhar infantil encontrava motivos para satisfazer a sua curiosidade.»
Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 117
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«Como obstinado corvo, a alcunha plebeia lá ficará sempre a grasnar, proclamando com a sua voz a prodecência do pássaro.»
Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 115
Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 115
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Nikolai Gógol
fleuma
nome feminino
1. | impassibilidade; frieza; domínio das emoções |
2. | indiferença; falta de interesse |
3. | pachorra |
4. | um dos humores naturais, segundo a medicina
antiga |
(Do grego phlégma, -atos, «inflamação», pelo latim phlegma, -ătis, «idem»)
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« - Francamente, o senhor é como a pega do provérbio que só conhece um som, e o repete a cada instante.»
Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 110
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Nikolai Gógol
fornicoques
nome masculino
plural
1. | popular cócegas |
2. | popular apetite; desejo; tentação |
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sexta-feira, 2 de março de 2012
49.
«Pentesileia voltou para os bosques, anunciou o caçador,
dizendo que o seu corpo saiu das escadas do inferno.
Reconhecia-a. Tinha a cicatriz da espada gravada entre
os seios. »
(...)
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 55
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« (...) O olhar dela cai sempre
que lhe toco no peito, como as amoras no inverno.»
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 54
que lhe toco no peito, como as amoras no inverno.»
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 54
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poetas portugueses
34.
A mulher está agora, pela primeira vez, dentro
da morte, nessa linha de sombra que o cavalo
procura esmagar, incitado pelo chicote. Pela primeira
vez ela descobre o seu corpo subterrâneo, o sítio onde
esconde o sangue e os pedaços de carne que se vão
espalhando pela encosta, entre as ervas. O seu riso tem
um lado negro, um apelo que sai da cintura e que o
cavalo reconhece como um pó cego, entrando pelas narinas.
Pela primeira vez ela consegue ver a sua espada. Tudo se reflecte
no seu peito, a própria imagem do cavaleiro, a chuva, os
gritos dos corvos, as cigarras. Até o Verão se cola ali,
debaixo dos seios, e escorre como lágrimas, como pêssegos
que se destroem lentamente dentro de uma travessa.
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 40
da morte, nessa linha de sombra que o cavalo
procura esmagar, incitado pelo chicote. Pela primeira
vez ela descobre o seu corpo subterrâneo, o sítio onde
esconde o sangue e os pedaços de carne que se vão
espalhando pela encosta, entre as ervas. O seu riso tem
um lado negro, um apelo que sai da cintura e que o
cavalo reconhece como um pó cego, entrando pelas narinas.
Pela primeira vez ela consegue ver a sua espada. Tudo se reflecte
no seu peito, a própria imagem do cavaleiro, a chuva, os
gritos dos corvos, as cigarras. Até o Verão se cola ali,
debaixo dos seios, e escorre como lágrimas, como pêssegos
que se destroem lentamente dentro de uma travessa.
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 40
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21.
E o banquete foi feito. Ela deixara para trás a
roda e a palma com que atraiçoara o homem.
Transportada pelos cães, ordenara que as vespas
se mantivessem sobre a sua cabeça enquanto
dormia, permitindo aos pequenos sátiros que
brincassem no meio dos mirtos a ouvir o mar do
fundo dos búzios. À mesa. com os seus peplos
coloridos, as mulheres aguardavam a incursão
da presa. Espiavam devagar o fio de sangue que ia
marcando o chão. Mas logo os criados surgiam
por detrás de altas colunas, empunhando as aves
domésticas e duas raposas dilaceradas pelos galgos.
A mulher debatia-se com a sua própria volúpia,
limpava o sangue das coxas, afugentando os cães
com os gemidos. Até que o cavaleiro acordasse,
doente, queimado pelo brasido.
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 27
roda e a palma com que atraiçoara o homem.
Transportada pelos cães, ordenara que as vespas
se mantivessem sobre a sua cabeça enquanto
dormia, permitindo aos pequenos sátiros que
brincassem no meio dos mirtos a ouvir o mar do
fundo dos búzios. À mesa. com os seus peplos
coloridos, as mulheres aguardavam a incursão
da presa. Espiavam devagar o fio de sangue que ia
marcando o chão. Mas logo os criados surgiam
por detrás de altas colunas, empunhando as aves
domésticas e duas raposas dilaceradas pelos galgos.
A mulher debatia-se com a sua própria volúpia,
limpava o sangue das coxas, afugentando os cães
com os gemidos. Até que o cavaleiro acordasse,
doente, queimado pelo brasido.
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 27
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peplo
nome masculino
manto comprido usado pelas matronas romanas, de rico tecido de cores vivas, bordado a ouro, e ornamentado de figuras de deuses e heróis |
(Do grego péplos, «idem», pelo latim
peplu-, «idem»)
«Andava convulsivamente como se ferisse os pés no lajedo.»
Eça de Queiroz. Prosas
Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão
Editores, Porto, p. 158
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''convulsões dos cérebros industriais''
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução
por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 147
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quinta-feira, 1 de março de 2012
«Os seus olhos olharam muito para a verdade, e cegaram»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 141
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 141
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«As cidades são cheias e caiadas, só as consciências é que têm nódoas; as praças estão cheias de iluminações, só os corações é que estão escuros; os cais estão arejados, só os espíritos é que sufocam; os corpos estão sãos, cobertos de estofos, frescos e resplandecentes, só as almas é que andam nuas, miseráveis e leprosas. De resto, tendes o riso, a farsa, os paraísos artificiais, as arcas venais, e também o esfriamento do túmulo! Oh! amigos íntimos dos vermes, como vós cuidais do corpo, e o lavais, e o amaciais, e o engordais - para a pastagem escura das covas!»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 137
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«Morreram velhos, expulsos, esfomeados e nus.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 136
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«Ele cravara-lhe as unhas no pescoço,
ela enroscava o corpo, como fazem os anjos nos
banquetes em honra dos heróis. Ele abria as asas,
protegendo-a, ela sugava-lhe o coração, entre
lágrimas, deixando-o marcando pelas garras.»
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 62
ela enroscava o corpo, como fazem os anjos nos
banquetes em honra dos heróis. Ele abria as asas,
protegendo-a, ela sugava-lhe o coração, entre
lágrimas, deixando-o marcando pelas garras.»
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 62
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« (...) São as suas
asas que o acordam para aquela sombra
despida, saída do inferno.»
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 62
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36.
É um homem com uma face virada para o
fim das ondas, um homem com uma dança
dentro dos olhos. Está a ser pintado por uma
mão antiga e, atrás dele, uma mulher deita-se
em cima do vidro enquanto os pássaros e as
formigas esperam, encostados a uma trepadeira.
Um sopro aproxima-se, uma coisa a arder no
barro. É o vaso com pólenes trazido pelo
pedreiro. Coloca-o à sua frente como se estivesse
sentado num eucalipto e vislumbrasse uma
jovem rapariga a acender um forno para secar
o seu próprio cabelo.
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 61
fim das ondas, um homem com uma dança
dentro dos olhos. Está a ser pintado por uma
mão antiga e, atrás dele, uma mulher deita-se
em cima do vidro enquanto os pássaros e as
formigas esperam, encostados a uma trepadeira.
Um sopro aproxima-se, uma coisa a arder no
barro. É o vaso com pólenes trazido pelo
pedreiro. Coloca-o à sua frente como se estivesse
sentado num eucalipto e vislumbrasse uma
jovem rapariga a acender um forno para secar
o seu próprio cabelo.
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 61
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estuário
nome masculino
GEOGRAFIA parte terminal de um rio, longa e ampla, onde se faz sentir a ação das marés |
(Do latim aestuarĭu-, «idem»)
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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
«E falou de outras mulheres, de corpos que se
decompõem no deserto ou que ficam fechados
em masmorras anos a fio até secarem.»
« (...) Deslumbra-se
com a imagem dela reflectida no aço.»
decompõem no deserto ou que ficam fechados
em masmorras anos a fio até secarem.»
« (...) Deslumbra-se
com a imagem dela reflectida no aço.»
Jaime Rocha.
Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 54
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''Quero a tua culpa, diz.''
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento.
Relógio D' Água, 2012., p. 50
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22.
Agora são doze girassóis numa jarra que o
homem vê no espelho onde se fixam as
omoplatas da mulher. Tudo se passa numa
ponte, dentro de um sonho, com um moinho
parado quase submerso onde se refugiam
as aves de Verão. Apetece-lhe reviver um
crime, ressuscitá-la para de novo a matar,
para que o choro regresse com mais força,
como a chuva de Inverno a bater nas janelas,
o granizo. E anseia por vê-la um segundo,
tocá-la, mexer-lhe na testa, cruzar os dedos
nos seus cabelos e escutar-lhe novamente
os derradeiros gemidos. Como se cheirasse
um aloendro ou se deitasse para sempre num
campo de hortênsias azuis.
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 47
homem vê no espelho onde se fixam as
omoplatas da mulher. Tudo se passa numa
ponte, dentro de um sonho, com um moinho
parado quase submerso onde se refugiam
as aves de Verão. Apetece-lhe reviver um
crime, ressuscitá-la para de novo a matar,
para que o choro regresse com mais força,
como a chuva de Inverno a bater nas janelas,
o granizo. E anseia por vê-la um segundo,
tocá-la, mexer-lhe na testa, cruzar os dedos
nos seus cabelos e escutar-lhe novamente
os derradeiros gemidos. Como se cheirasse
um aloendro ou se deitasse para sempre num
campo de hortênsias azuis.
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 47
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20.
A mulher espreita por uma frecha,
escondida numa touca. Parece Dezembro,
pela ausência de pássaros. E diz,
venho para te misturar
aos meus ossos.
Ele estremece com estas palavras. Nunca
soubera falar para os seus lábos. Apenas
fora capaz de tocar-lhe nos ombros e feri-los,
com o mesmo ódio com que as abelhas
colhem o pólen, como uma condenação.
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 45
escondida numa touca. Parece Dezembro,
pela ausência de pássaros. E diz,
venho para te misturar
aos meus ossos.
Ele estremece com estas palavras. Nunca
soubera falar para os seus lábos. Apenas
fora capaz de tocar-lhe nos ombros e feri-los,
com o mesmo ódio com que as abelhas
colhem o pólen, como uma condenação.
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 45
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« (...) Como se,
a memória da mulher não fosse mais pesada
que o seu corpo e o choro deles regressasse
como um dilúvio para sepultar os prados.»
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 39
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«Ela afasta-se como o vento quente, como
um tronco desfeito por um machado.»
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 35
um tronco desfeito por um machado.»
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 35
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«Mas o seu olhar vive ao fundo, no lugar
deixado pelas romãs, nessa exaustão.»
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 34
deixado pelas romãs, nessa exaustão.»
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 34
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domingo, 26 de fevereiro de 2012
«Ele, o meu saltimbanco, tem a alma de ouro e o coração de diamante - e ri-se, ri-se, quando o vento soa como flauta do Inverno, e ao concerto das corujas e das ondas as estrelas dançam.
A miséria anda-lhe cavando a sepultura. Um dia, abandonado da bem-amada, morrerá sem pão, sem luz, sem calor, sem orações e sem sol. E não sofrerá mais.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 131
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« E o seu olhar, lancinante e rápido, estava cheio das minhas agonias.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 130
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Dies irae
« Depois uma música, como a do Dies irae, obra dos terríveis dominicanos: um poema de morte: uma das maiores agonias da alma: música ascética e flamejante, onde a natureza aparece, trágica e desgrenhada.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 111
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« - Quero beber pelas tuas mãos - disse Hansi a Loulou.»
Georges Bataille. História do Olho e Minha Mãe. Edição ''Livros do Brasil'', Lisboa, 1988., p. 230
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«A grande 'ursa' jamais saberá - dizia ela - que o prazer da inteligência, mais sujo que o do corpo, é mais puro, e o único que nunca se desfia.»
Georges Bataille. História do Olho e Minha Mãe. Edição ''Livros do Brasil'', Lisboa, 1988., p. 224
Georges Bataille. História do Olho e Minha Mãe. Edição ''Livros do Brasil'', Lisboa, 1988., p. 224
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« - E no entanto, sou feliz. Doem-me os nervos dos olhos, mas vejo-te.
- Sim, também me doem os olhos. Vejo-te. A única maneira de não sofrermos mais, é fazermos amor outra vez.»
Georges Bataille. História do Olho e Minha Mãe. Edição ''Livros do Brasil'', Lisboa, 1988., p. 217/8
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«(...) sofro e já não sei o que penso.»
Georges Bataille. História do Olho e Minha Mãe. Edição ''Livros do Brasil'', Lisboa, 1988., p. 215
Georges Bataille. História do Olho e Minha Mãe. Edição ''Livros do Brasil'', Lisboa, 1988., p. 215
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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
«Perco frequentemente o gosto de viver.»
Georges Bataille. História do Olho e Minha Mãe. Edição ''Livros do Brasil'', Lisboa, 1988., p. 206
Georges Bataille. História do Olho e Minha Mãe. Edição ''Livros do Brasil'', Lisboa, 1988., p. 206
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Georges Bataille
«Quero que me conheças bem. Faço infelizes todos os que me amam. É por isso que peço o meu prazer às mulheres das quais me posso servir com indiferença.»
Georges Bataille. História do Olho e Minha Mãe. Edição ''Livros do Brasil'', Lisboa, 1988., p. 166
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Aforismos
34. «Ninguém agradece o seu passado
ao leito seco do rio.»
Rabindranath Tagore. O Coração da Primavera. Editorial A. O. 3ª edição., p. 103
ao leito seco do rio.»
Rabindranath Tagore. O Coração da Primavera. Editorial A. O. 3ª edição., p. 103
LONGE DE TI SEI DO TEU ROSTO
TOMASTE-ME pela mão,
levaste-me contigo
e sentaste-me no trono
diante dos homens.
Comecei a ficar tímido,
incapaz de agir,
inútil para o caminho.
Duvidava de tudo,
e discutia comigo a cada passo,
não fosse caso
que pisasse algum espinho
no favor humano.
Veio a pedrada,
soou o tambor do insulto,
e a minha cadeira
rolou humilhada no pó.
Livre por fim!
Os caminhos abertos à minha frente;
as minhas asas cheias do desejo do céu!
Vou com as estrelas errantes da meia-noite,
mergulhar na profundidade sombria!
Sou como a nuvem de verão
no meio da tempestade,
que arranca a sua coroa de oiro
e cinge o raio como uma espada,
presa pela cadeia do relâmpago!
Com que desesperada alegria
corro pelo caminho poeirento
dos desprezados,
a caminho da tua boa-vinda final!
O menino encontra a mãe
ao sair do seu ventre.
Agora que estou separado de Ti,
fora da tua casa
que bem distingo o teu rosto!
Rabindranath Tagore. O Coração da Primavera. Editorial A. O. 3ª edição., p. 67/8
levaste-me contigo
e sentaste-me no trono
diante dos homens.
Comecei a ficar tímido,
incapaz de agir,
inútil para o caminho.
Duvidava de tudo,
e discutia comigo a cada passo,
não fosse caso
que pisasse algum espinho
no favor humano.
Veio a pedrada,
soou o tambor do insulto,
e a minha cadeira
rolou humilhada no pó.
Livre por fim!
Os caminhos abertos à minha frente;
as minhas asas cheias do desejo do céu!
Vou com as estrelas errantes da meia-noite,
mergulhar na profundidade sombria!
Sou como a nuvem de verão
no meio da tempestade,
que arranca a sua coroa de oiro
e cinge o raio como uma espada,
presa pela cadeia do relâmpago!
Com que desesperada alegria
corro pelo caminho poeirento
dos desprezados,
a caminho da tua boa-vinda final!
O menino encontra a mãe
ao sair do seu ventre.
Agora que estou separado de Ti,
fora da tua casa
que bem distingo o teu rosto!
Rabindranath Tagore. O Coração da Primavera. Editorial A. O. 3ª edição., p. 67/8
AMOR QUE LIBERTA
OS QUE me amam neste mundo
fazem quanto podem para me deter;
mas TU
não procedes assim no teu amor,
que é o maior de todos,
e deixas-me livre.
Eles nunca se atrevem
a deixar-me sozinho,
com medo que os esqueça;
mas passam dias e dias
sem que Te deixes ver.
E embora não chame por Ti
nas minhas orações,
embora não Te guarde no coração,
o teu amor
espera sempre
o meu amor.
Rabindranath Tagore. O Coração da Primavera. Editorial A. O. 3ª edição., p. 48
fazem quanto podem para me deter;
mas TU
não procedes assim no teu amor,
que é o maior de todos,
e deixas-me livre.
Eles nunca se atrevem
a deixar-me sozinho,
com medo que os esqueça;
mas passam dias e dias
sem que Te deixes ver.
E embora não chame por Ti
nas minhas orações,
embora não Te guarde no coração,
o teu amor
espera sempre
o meu amor.
Rabindranath Tagore. O Coração da Primavera. Editorial A. O. 3ª edição., p. 48
lousa
nome feminino
1. | PETROLOGIA rocha metamórfica muito físsil, escura por impregnação de substâncias carbonosas |
2. | placa de pedra que cobre um túmulo |
3. | ardósia encaixilhada, móvel ou fixa à parede, usada nas escolas, e também conhecida por pedra e quadro preto |
4. | lájea que serve de armadilha para pássaros; lousão |
5. | toca de coelhos; lura |
(Do latim vulgar *lausa- ou lausĭa-,
«pedra chata»)
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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
«Tremia, era infeliz, mas tinha prazer em me oferecer a toda a desordem do mundo. Teria conseguido não sucumbir ao mal em que minha mãe me sufocava? Durante vários dias ela esteve fora de casa. Eu passava o tempo a destruir-me - ou a chorar -, a esperá-la.»
Georges Bataille. História do Olho e Minha Mãe. Edição ''Livros do Brasil'', Lisboa, 1988., p. 149
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Georges Bataille
« - Adivinho o que pensas - disse-me ainda. - Decidi não mais te poupar. Não modificarei os meus desejos. Respeitar-me-ás tal como sou: não esconderei nada de ti. Finalmente sou feliz por não me esconder de ti.»
Georges Bataille. História do Olho e Minha Mãe. Edição ''Livros do Brasil'', Lisboa, 1988., p. 135
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Georges Bataille
domingo, 19 de fevereiro de 2012
« - Queria - e falava-me como quem acaba de deixar à vista um veneno, depois de tomá-lo -, que me amasses até na morte. Por mim, já te amo neste momento na morte. Mas não quero o teu amor senão desde que sabes que sou repugnante e que, sabendo-o, me amas.»
Georges Bataille. História do Olho e Minha Mãe. Edição ''Livros do Brasil'', Lisboa, 1988., p. 127
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erotismo,
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Georges Bataille,
sagrado
A VELHICE RENOVA O TERROR ATÉ AO INFI-
NITO. ELA FAZ REGRESSAR O SER, SEM CESSAR,
AO PRINCÍPIO. O PRINCÍPIO QUE ENTREVEJO
À BEIRA DO TÚMULO É O PORCO, QUE NEM
A MORTE NEM O INSULTO PODEM MATAR EM MIM.
O TERROR À BEIRA DO TÚMULO É DIVINO, E EU
AFUNDO-ME NO TERROR DO QUE SOU FILHO.
Georges Bataille. História do Olho e Minha Mãe. Edição ''Livros do Brasil'', Lisboa, 1988., p. 116
NITO. ELA FAZ REGRESSAR O SER, SEM CESSAR,
AO PRINCÍPIO. O PRINCÍPIO QUE ENTREVEJO
À BEIRA DO TÚMULO É O PORCO, QUE NEM
A MORTE NEM O INSULTO PODEM MATAR EM MIM.
O TERROR À BEIRA DO TÚMULO É DIVINO, E EU
AFUNDO-ME NO TERROR DO QUE SOU FILHO.
Georges Bataille. História do Olho e Minha Mãe. Edição ''Livros do Brasil'', Lisboa, 1988., p. 116
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transgressão
Vem ao meu lago
(...)
«Se enlouqueceste
e queres morrer,
vem, vem ao meu lago.
O meu lago é frio
e não tem fundo;
escuro como um sono
sem sonhos.
Lá em baixo,
as noites e os dias são iguais,
e toda a canção é silêncio.
Vem, vem ao meu lago,
se enlouqueceste
e queres morrer.»
Rabindranath Tagore. O Coração da Primavera. Editorial A. O. 3ª edição., p. 20/1
«Se enlouqueceste
e queres morrer,
vem, vem ao meu lago.
O meu lago é frio
e não tem fundo;
escuro como um sono
sem sonhos.
Lá em baixo,
as noites e os dias são iguais,
e toda a canção é silêncio.
Vem, vem ao meu lago,
se enlouqueceste
e queres morrer.»
Rabindranath Tagore. O Coração da Primavera. Editorial A. O. 3ª edição., p. 20/1
domingo, 12 de fevereiro de 2012
metempsicose
nome feminino
teoria que admite a transmigração das almas, de um corpo para outro, quer de homens, quer de animais |
(Do grego metempsýkhosis, «idem», pelo latim
metempsychōse-, «idem»)
sábado, 11 de fevereiro de 2012
«O meu cansaço é quase uma doença.»
Adolfo Bioy Casares. A Invenção de Morel. Tradução de Miguel Serras Pereira e Maria Teresa Sá. 2ª Edição. Antígona, 2003, p. 39
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«noites dolorosas de lágrimas»
Eça de Queiroz. Prosas
Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão
Editores, Porto, p. 75
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Prosas Bárbaras
''desenhou a figura de Ofélia levada pela corrente''
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução
por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 72
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ofélia
dessorar
verbo transitivo
1. | converter em soro |
2. | aguar |
3. | tirar a substância a; enfraquecer |
4. | estragar; corromper |
verbo pronominal
1. | perder a substância |
2. | corromper-se |
3. | esvair-se |
(De des-+sorar)
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Verdi
« (...) ele sabe excitar sonoridades materiais, mas não consegue arrancar a alma do seu vestido de carne e levá-la, nua e possuída do infinito, pelas regiões das surpresas radiosas.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 68
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 68
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Prosas Bárbaras
''lume santo''
(...)
«aquele sopro de que fala a Bíblia.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 68
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domingo, 5 de fevereiro de 2012
Oh! nunca me digas que me queres muito!
«Mas se me dizes que me queres muito, sinto que vem logo um estranho Inverno descorar-me as faces, desfolhar-me a alma de todas as emoções, e cobrir de geada todos os loucos desejos.
Oh! nunca me digas que me queres muito!»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 52
Oh! nunca me digas que me queres muito!»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 52
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Prosas Bárbaras
«(...) os teus olhos húmidos, como violetas debaixo de água - »
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 51
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Prosas Bárbaras
«(...) por fim, agitas-te, cheia de tempestades.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 50
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 50
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«Ainda hoje o triste anda penado nas águas escuras; e os teus olhos, ó serena rapariga, são eternamente falsos!
Não era assim que eu pensava no tempo daqueles nossos amores, ó nome que eu não escrevo! daqueles amores tão doces como a suavidade das nossas noites de Outono - tão coloridos e vagos como aquelas nuvens, que sempre no ar andávamos formando e desmanchando.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto.
Não era assim que eu pensava no tempo daqueles nossos amores, ó nome que eu não escrevo! daqueles amores tão doces como a suavidade das nossas noites de Outono - tão coloridos e vagos como aquelas nuvens, que sempre no ar andávamos formando e desmanchando.»
Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto.
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"Ayer, cuando me dormía, así te vi y te oí de pronto: desperté sobresaltado y quedé muy acongojado, pensando en ti con mucha ternura y también en mí y en cómo vamos perdiéndolo todo"....
Carta de Adolfo Bioy Casares a Elena Garro
Mi querida , aquí estoy recorriendo desorientado las tristes galerías del barco y no volví a Víctor Hugo. Sin embargo, te quiero más que a nadie... Desconsolado canto, fuera de tono, Juan Charrasqueado (pensando que no merezco esa letra, que no soy buen gallo, ni siquiera parrandero y jugador) y visito de vez en vez tu fotografía y tu firma en el pasaporte. Extraño las tardes de Víctor Hugo, el té de las seis y con adoración a Helena. Has poblado tanto mi vida en estos tiempos que si cierro los ojos y no pienso en nada aparecen tu imagen y tu voz. Ayer, cuando me dormía, así te vi y te oí de pronto: desperté sobresaltado y quedé muy acongojado, pensando en ti con mucha ternura y también en mí y en cómo vamos perdiendo todo....
Te
digo esto y en seguida me asusto: en los últimos días estuviste no solamente muy
tierna conmigo sino también benévola e indulgente, pero no debo irritarte con
melancolía; de todos modos cuando abra el sobre de tu carta (espero, por favor
que me escribas) temblaré un poco. Ojalá que no me escribas diciéndome que todo
se acabó y que es inútil seguir la correspondencia... Tú sabes que hay muchas
cosas que no hicimos y que nos gustaría hacer juntos. Además, recuerda lo bien
que nos entendemos cuando estamos juntos... recuerda cómo nos hemos divertido,
cómo nos queremos. Y si a veces me pongo un poco sentimental, no te enojes
demasiado...
Me
gustaría ser más inteligente o más certero, escribirte cartas maravillosas. Debo
resignarme a conjugar el verbo amar, a repetir por milésima vez que nunca quise
a nadie como te quiero a ti, que te admiro, que te respeto, que me gustas, que
me diviertes, que me emocionas, que te adoro. Que el mundo sin ti, que ahora me
toca, me deprime y que sería muy desdichado de no encontrarnos en el futuro. Te
beso, mi amor, te pido perdón por mis necedades.
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Elena Garro
«(...) dar-me por morto para não morrer.»
Adolfo Bioy Casares. A Invenção de Morel. Tradução de Miguel Serras Pereira e Maria Teresa Sá. 2ª Edição. Antígona, 2003, p. 31
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« Não espero nada. O facto não é horrível. Desde que o resolvi, ganhei tranquilidade.
Mas essa mulher deu-me uma esperança. Tenho que temer as esperanças.
Ela olha os entardeceres todas as tardes; eu, escondido, fico a olhá-la. Ontem, e hoje outra vez, descobri que as minhas noites e dias estão à espera dessa hora. A mulher, com a sua sensualidade de cigana e com o lenço colorido grande demais, parece-me ridícula. No entanto, sinto, talvez com um pouco de humor, que se pudesse ser olhado um instante por ela, falar com ela um instante, receberia ao mesmo tempo o socorro que o homem tem nos amigos, nas noivas e nos que são do seu próprio sangue.»
Adolfo Bioy Casares. A Invenção de Morel. Tradução de Miguel Serras Pereira e Maria Teresa Sá. 2ª Edição. Antígona, 2003, p. 25/6
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escritor argentino.
«Em qualquer parte deste desgraçado mundo, quer nas classes inferiores que vegetam na pobreza e na imundície, quer nas classes superirores que cristalizam na riqueza e no tédio, todo o homem tem, ao menos uma vez na vida, um encontro que desperta nele sentimentos nunca experimentados.»
Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 97
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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
concupiscência
nome feminino
1. | atração pelos prazeres materiais e/ou sensuais |
2. | desejo sexual intenso |
3. | cobiça |
(Do latim concupiscentĭa-, «idem»)
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«-Quero fazer-me monge para fugir ao desespero.
E contou-lhe o seu amor, dizendo que Eufrósina, a noiva, havia desaparecido de repente, que a procurava em vão havia oito anos e que se sentia queimado, ressequido de amor e de desgosto.
Ela respondeu-lhe com uma celeste suavidade:
-Senhor, essa Eufrósina, cuja perda chorais tão amargamente, não merecia tanto amor. Só a vossa imaginação torna preciosas a sua beleza; na realidade, ela é vil e desprezível. O que resta do seu transitório corpo não vale um simples lamento. Julgais que vos é impossível viver sem Eufrósina e no entanto, caso a encontrásseis, nem sequer a reconheceríeis.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 266
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«Feliz criança que foge do mundo no seu traje de inocência!»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 264
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acrimónia
nome feminino
1. | sabor acre; acidez |
2. | figurado aspereza, azedume |
(Do latim acrimonĭa-, «amargor, acidez»)
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«(...) divisavam-se os ossos mais cobertos de sujidade do que carne.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 246
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 246
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excerto
«A fome espalhava-se pelo reino e milhões de infelizes comiam pedras em vez de pão.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 243
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 243
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excerto
«Os amorosos ardentes e os sábios austeros
Todos gostam, na idade madura,
De gatos meigos e fortes, o orgulho do lar,
Que como eles são friorentos e também sedentários.»
Charles Baudelaire
Todos gostam, na idade madura,
De gatos meigos e fortes, o orgulho do lar,
Que como eles são friorentos e também sedentários.»
Charles Baudelaire
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«Eis que ela languesce no seu leito virginal,
Muito pálida, envolta em finos panos.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 228
Muito pálida, envolta em finos panos.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 228
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terça-feira, 31 de janeiro de 2012
NOCTURNO DE LA ESTATUA
A Agustín Lazo
Soñar, soñar la noche, la calle, la escalera
y el grito de la estatua desdoblando la esquina.
Correr hacia la estatua y encontrar sólo el grito,
querer tocar el grito y sólo hallar el eco,
querer asir el eco y encontrar sólo el muro
y correr hacia el muro y tocar un espejo.
Hallar en el espejo la estatua asesinada,
sacarla de la sangre de su sombra,
vestirla en un cerrar de ojos,
acariciarla como a una hermana imprevista
y jugar con las fichas de sus dedos
y contar a su oreja cien veces cien cien veces
hasta oírla decir: « estoy muerta de sueño ».
Xavier Villaurrutia, 1938.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Nocturne: the Statue
To Agustín Lazo
To dream, to dream the night, the street, the stairway
and the scream of the statue unfolding in the corner.
To run toward the statue and find only the scream,
to want to touch the scream and find only the echo,
to want to seize the echo and find only the wall
and to run toward the wall and to touch a mirror.
To find in the mirror the murdered statue,
to obtain the blood from her shadow,
to dress her in closed eyes,
to caress her like an unforeseen sister
and to play the tokens of her fingers
and to count into her ear a hundred times a hundred hundred times
until I hear her say: « I am dead from dreaming ».
Xavier Villaurrutia, 1938.
[traducción inglesa por Raymond E. André III, 2009]
A Agustín Lazo
Soñar, soñar la noche, la calle, la escalera
y el grito de la estatua desdoblando la esquina.
Correr hacia la estatua y encontrar sólo el grito,
querer tocar el grito y sólo hallar el eco,
querer asir el eco y encontrar sólo el muro
y correr hacia el muro y tocar un espejo.
Hallar en el espejo la estatua asesinada,
sacarla de la sangre de su sombra,
vestirla en un cerrar de ojos,
acariciarla como a una hermana imprevista
y jugar con las fichas de sus dedos
y contar a su oreja cien veces cien cien veces
hasta oírla decir: « estoy muerta de sueño ».
Xavier Villaurrutia, 1938.
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Nocturne: the Statue
To Agustín Lazo
To dream, to dream the night, the street, the stairway
and the scream of the statue unfolding in the corner.
To run toward the statue and find only the scream,
to want to touch the scream and find only the echo,
to want to seize the echo and find only the wall
and to run toward the wall and to touch a mirror.
To find in the mirror the murdered statue,
to obtain the blood from her shadow,
to dress her in closed eyes,
to caress her like an unforeseen sister
and to play the tokens of her fingers
and to count into her ear a hundred times a hundred hundred times
until I hear her say: « I am dead from dreaming ».
Xavier Villaurrutia, 1938.
[traducción inglesa por Raymond E. André III, 2009]
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Xavier Villaurrutia
domingo, 29 de janeiro de 2012
''Para quê tantas reflexões?''
«Para quê tantas reflexões?... Para que havemos de deixar, nos momentos de jovial despreocupação, a tristeza insinuar-se em nós? Logo que o riso se congela em nossos lábios, tornamo-nos sombrios, e eis-nos diferentes de todos os que nos cercam...»
Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 57
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psykhé
« - Valha-me Deus, tantas blasfémias! - exclamou a velha, horrorizada.
- O que quer que lhe diga? Para falar com franqueza, a senhora parece, salvo o devido respeito, um cão de guarda deitado numa manjedoura: não come o feno, mas não deixa ninguém comê-lo. No entanto, eu tencionava mais tarde comprar-lhe também alguns produtos agrícolas, pois sou fornecedor da coroa.»
Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 57
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Nikolai Gogol
''Um Prometeu, um verdadeiro Prometeu! Que ar majestoso! Que andar imponente! Parece uma águia! Mal sai dali, com a papelada debaixo do braço, e entra no gabinete do director, a águia transforma-se em perdiz...''
«À noite, em sociedade, se os presentes lhe são inferiores, Prometeu continua a ser Prometeu, mas se encontra alguém duma categoria ligeiramente superior, o nosso Prometeu sofre uma metamorfose tão completa como o próprio Ovídio não seria capaz de imaginar: transforma-se em mosca, ou em menos do que mosca, num grão de areia...''Este não é Ivan Petrovich!'', dirá quem o vir. ''Ivan Petrovich é alto e este é um João-ninguém; Ivan Petrovich nunca ri, tem voz forte, um ar imponente e este ri por tudo e por nada e pipila como um passarinho...'' Mas se se aproximar um pouco mais, acabam-se as dúvidas, e exclamará então: ''Afinal, sempre é Ivan Petrovich! Quem haveria de dizer!''»
Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 51
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Nikolai Gógol
«E foi com a alma desolada que me ajoelhei aos pés do leito onde a minha amada Annie repousava sob uma cruz de rosas, muda, branca, e com as pálidas violetas da morte sobre as faces.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 190/1
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 190/1
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«(...) senti a boca amarga e o coração enlutado.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 190
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espineta
nome feminino
MÚSICA antigo instrumento musical, que é uma espécie de cravo
(Do italiano spinetta, «idem», do nome do seu fabricante, o veneziano Spinetti, que morreu em 1550)
MÚSICA antigo instrumento musical, que é uma espécie de cravo
(Do italiano spinetta, «idem», do nome do seu fabricante, o veneziano Spinetti, que morreu em 1550)
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1503,
Cordofones,
Giovanni Spinetti,
instrumentos de teclas,
significados
«A minha bem-amada é como um jardim fechado.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 104
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terça-feira, 24 de janeiro de 2012
«Creio sinceramente na virtude e na felicidade. São duas coisas inseparáveis, mas raras; escondem-se. Descobri-las-emos sob os humildes tectos ocultos no coração dos campos.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 87
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 87
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«Nado em plena alegria, encontro-me magnificamente embriagado. Pronuncio em completa consciência e na sublime plenitude do seu significado esta palavra de todas as bebedeiras, de todos os entusiasmos e de todos os encantamentos: «Não sei quem sou!»
Anatole France. Contos
Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora
do Minho, 1967., p. 77
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«SE A FELICIDADE CONSISTE EM JÁ NÃO SENTIR»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução
e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 76
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«O pavor de morrer aterrava-a e ao mesmo tempo o suicídio atraía-a.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 74
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 74
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«Aconteceu-me como a qualquer outro ter sido amado: isso é a felicidade, Saint-Sylvain;»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 71
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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
«Até o facto de eu próprio pertencer à espécie humana faz-me morrer de vergonha e desgosto.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 62
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«A Deusa parecia ainda encontrar-se molhada pela onda marinha.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 58
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domingo, 22 de janeiro de 2012
Turn thou away thy false dark eyes
Nor gaze upon my face;
Great love I bore the: now great hate
Sits firmly in its place.
Elizabeth Siddal
(I saw her smile.) But soon their path
Was vague in distant spheres:
And then she cast her arms along
The golden barriers,
And wept. (I heard her tears.)
Dante Gabriel Rossetti.
Nor gaze upon my face;
Great love I bore the: now great hate
Sits firmly in its place.
Elizabeth Siddal
(I saw her smile.) But soon their path
Was vague in distant spheres:
And then she cast her arms along
The golden barriers,
And wept. (I heard her tears.)
Dante Gabriel Rossetti.
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Elizabeth Siddal
Chichikov poucas vezes falava de si próprio
«Chichikov poucas vezes falava de si próprio e, quando o fazia, era em termos vagos e com grande modéstia, dando às frases um estilo livresco. Dizia, por exemplo, que um insignificante verme da terra como ele não era digno de muita atenção;»
Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p.12
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Nikolai Gógol
Biblioteca Real
«Depois de os ter convidado a sentarem-se, o bibliotecário indicou com um gesto aos visitantes a enorme quantidade de livros que cobriam, as quatro paredes, desde o soalho até ao tecto.
- Os senhores não ouvem? Os senhores não ouvem o barulho que eles fazem? Tenho os tímpanos furados. Estão sempre a falar ao mesmo tempo e em todas as línguas. Discutem acerca de tudo: Deus, a natureza, o homem, o tempo, o número e o espaço, o inteligível e o ininteligível, o bem e o mal, e examinam tudo, contestam tudo, afirmam tudo, negam tudo. Raciocinam acertada e desacertadamente. Uns são leves, outros pesados; uns alegres, outros tristes; uns são profundos, outros superficiais; alguns deles falam muito para nada dizer; acumulam sílabas e juntam os sons segundo as leis que eles próprios ignoram a origem e o espírito; são os mais satisfeitos de todos. Existem os de uma espécie austera e melancólica, que apenas especulam acerca de noções isentas de qualquer qualidade e se colocam cautelosamente ao abrigo das contigências naturais; debatem-se no vazio e agitam-se entre as invisíveis categorias do nada, e estes são encarniçados disputadores que utilizam para sustentar as suas entidades e os seus símbolos um furor sanguinário. »
(...)
«Não sabem, a maioria das vezes, nem aquilo que dizem nem aquilo que os outros disseram.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 45/6
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«Para me aliviar dos males que suporto durante o dia, escrevo-os durante a noite e vomito assim o fel de que me alimento.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 33
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 33
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falaz
1. | enganador |
2. | ardiloso |
3. | falso |
(Do latim fallāce-,
«enganador»)
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«Não era nem muito amado nem muito estimado pelo seu povo, o que lhe proporcionava a magnífica vantagem de nunca decepcionar ninguém. »
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 16
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 16
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A CAMISA
Estava um jovem pastor pre-
guiçosamente deitado na erva do
campo, a entreter a solidão tocando
a flauta...Tinham-no despido à
força, mas...
(Grand Dictionnaire de Pierre Larousse, artigo CAMIS; t. IV, p. 5, col.4.)
in Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p.
guiçosamente deitado na erva do
campo, a entreter a solidão tocando
a flauta...Tinham-no despido à
força, mas...
(Grand Dictionnaire de Pierre Larousse, artigo CAMIS; t. IV, p. 5, col.4.)
in Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p.
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
“O que me atrai é o ser humano. Carrascos ou vítimas, nós nunca somos só uma coisa. A natureza humana é complexa e, como artista, tenho a impressão que a minha função é iluminá-la. Filmo para conhecer o outro e a mim mesmo”
Realizador e argumentista Lee Chang-dong
Realizador e argumentista Lee Chang-dong
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Realizador e argumentista Lee Chang-dong
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
''Em busca de Odradek''
''Depois do desaparecimento das mães o trauma do segundo nascimento/ E o que eu vi era mais do que eu podia suportar.''
Heiner Müller. O Anjo do Desespero (Poemas). Tradução e Posfácio de João Barrento. Relógio D' Água, Lisboa, 1997,
«Durante vinte anos Clitemnestra sonha o mesmo sonho: uma serpente vem beber leite e sangue no seu peito.»
Heiner Müller. O Anjo do Desespero (Poemas). Tradução e Posfácio de João Barrento. Relógio D' Água, Lisboa, 1997, p. 43
Heiner Müller. O Anjo do Desespero (Poemas). Tradução e Posfácio de João Barrento. Relógio D' Água, Lisboa, 1997, p. 43
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dramaturgo e escritor alemão,
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Heiner Müller,
Mitologia
«Diz que o homem tem «uma grande vantagem sobre o resto do universo: sabe que morre, ao passo que o universo ignora-o absolutamente». Vês? Logo, o homem que disputa o osso a um cão tem sobre este a grande vantagem de saber que tem fome; e é isto que torna grandiosa a luta, como eu dizia. «Sabe que morre» é uma expressão profunda; creio todavia que é mais profunda a minha expressão: sabe que tem fome.»
Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 235
algoz
nome masculino
1. | executor da pena de morte; carrasco; verdugo |
2. | figurado pessoa cruel |
(Do turco gozz, pelo árabe al-gozz,
nome de uma tribo onde se iam geralmente buscar os carrascos)
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língua portuguesa,
significados
«Ai dor! era-me preciso enterrar magnificamente os meus amores.»
«Eles lá iam, mar em fora, no espaço e no tempo, e eu ficava-me ali numa ponta da mesa, com os meus quarenta e tantos anos, tão vadios e tão vazios; ficava-me para os não ver nunca mais, porque ela poderia tornar e tornou, mas o eflúvio da manhã quem é que o pediu ao crepúsculo da tarde?»
Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 203
O PAI
1
Um pai morto talvez tivesse
Sido um pai melhor. Melhor ainda
É um pai nado-morto.
Volta sempre a crescer erva sobre a fronteira.
Tem de ser arrancada a erva
Sempre sempre a erva que cresce sobre a fronteira.
2
Gostava que o meu pai tivesse sido um tubarão
E despedaçado quarenta pescadores de baleias
(E eu aprendido a nadar no seu sangue)
A minha mãe uma baleia azul o meu nome Lautréamont
Falecido em Paris
Incógnito em 1871
Heiner Müller. O Anjo do Desespero (Poemas). Tradução e Posfácio de João Barrento. Relógio D' Água, Lisboa, 1997, p. 23
Um pai morto talvez tivesse
Sido um pai melhor. Melhor ainda
É um pai nado-morto.
Volta sempre a crescer erva sobre a fronteira.
Tem de ser arrancada a erva
Sempre sempre a erva que cresce sobre a fronteira.
2
Gostava que o meu pai tivesse sido um tubarão
E despedaçado quarenta pescadores de baleias
(E eu aprendido a nadar no seu sangue)
A minha mãe uma baleia azul o meu nome Lautréamont
Falecido em Paris
Incógnito em 1871
Heiner Müller. O Anjo do Desespero (Poemas). Tradução e Posfácio de João Barrento. Relógio D' Água, Lisboa, 1997, p. 23
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dramaturgo e escritor alemão,
Heiner Müller,
poesia
«As lágrimas que me traíram e as humilhações que sofri
são-me agora brisas e aves eternas: »
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 91
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Nobel de Literatura 1979,
Odysséas Elýtis,
poetas gregos
«Nas noites em que choram * os tormentos do homem.»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 89
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Nobel de Literatura 1979,
Odysséas Elýtis,
poetas gregos
«E a primeira palavra que o último dos homens há-de dizer será para que as ervas se ergam e a mulher a seu lado saia como raio do sol. E de novo adorará a mulher e a deitará na erva como está determinado.»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 88
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Nobel de Literatura 1979,
Odysséas Elýtis,
poetas gregos
XVI
«CEDO acordei as volúpias
cedo acendi o meu choupo-branco
de mão na frente dirigi-me ao mar
e aí o erigi sozinho:
Sopraste e cercaram-me as procelas
uma a uma tiraste-me as aves -
Meu Deus chamaste-me e como fugir-te?
Fitei no futuro os meses e os anos
que hão-de regressar sem mim
e mordi-me tão fundo
que senti o meu sangue devagar a pulsar para o alto
e a gotejar do meu futuro.
Escavei a terra no momento em que era o culpado
e a tremer ergui a vítima na minha mão
e falei-lhe tão suavemente
que devagar os seus olhos se abriram e verteram orvalho
sobre o chão onde eu era culpado.
Derramei o negrume no leito do amor
com as coisas do mundo nuas no meu espírito
e o meu esperma lancei tão longe
que devagar as mulheres regressaram ao sol e sofreram
e voltaram a parir as coisas visíveis.
Meu Deus chamaste-me e como fugir-te?
Cedo acordei as volúpias
cedo acendi o meu choupo-branco
de mão na frente dirigi-me ao mar
e aí o erigi sozinho:
Sopraste e as minhas entranhas estremeceram
uma a uma voltaram-me as aves!»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 82/3
cedo acendi o meu choupo-branco
de mão na frente dirigi-me ao mar
e aí o erigi sozinho:
Sopraste e cercaram-me as procelas
uma a uma tiraste-me as aves -
Meu Deus chamaste-me e como fugir-te?
Fitei no futuro os meses e os anos
que hão-de regressar sem mim
e mordi-me tão fundo
que senti o meu sangue devagar a pulsar para o alto
e a gotejar do meu futuro.
Escavei a terra no momento em que era o culpado
e a tremer ergui a vítima na minha mão
e falei-lhe tão suavemente
que devagar os seus olhos se abriram e verteram orvalho
sobre o chão onde eu era culpado.
Derramei o negrume no leito do amor
com as coisas do mundo nuas no meu espírito
e o meu esperma lancei tão longe
que devagar as mulheres regressaram ao sol e sofreram
e voltaram a parir as coisas visíveis.
Meu Deus chamaste-me e como fugir-te?
Cedo acordei as volúpias
cedo acendi o meu choupo-branco
de mão na frente dirigi-me ao mar
e aí o erigi sozinho:
Sopraste e as minhas entranhas estremeceram
uma a uma voltaram-me as aves!»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 82/3
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