quinta-feira, 1 de março de 2012

«As cidades são cheias e caiadas, só as consciências é que têm nódoas; as praças estão cheias de iluminações, só os corações é que estão escuros; os cais estão arejados, só os espíritos é que sufocam; os corpos estão sãos, cobertos de estofos, frescos e resplandecentes, só as almas é que andam nuas, miseráveis e leprosas. De resto, tendes o riso, a farsa, os paraísos artificiais, as arcas venais, e também o esfriamento do túmulo! Oh! amigos íntimos dos vermes, como vós cuidais do corpo, e o lavais, e o amaciais, e o engordais - para a pastagem escura das covas!»



Eça de Queiroz. Prosas Bárbaras. Com uma introdução por Jaime Batalha Reis. Lello & Irmão Editores, Porto, p. 137

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