«BERNARDO - Li algures que os pássaros tinham obsessões, que às vezes se matavam sem que houvesse uma explicação aparente.
AMÉLIA - É como as pessoas. Por vezes, aparecem homens enforcados nas suas próprias casas quando nada o fazia prever. Os jovens que se atiram das pontes para os rios.
BERNARDO - Mas aí talvez seja o desespero.
SUSANA - Muitos casos são por causa de paixões ou pessoas sozinhas.»
Jaime Rocha. Casa de Pássaros. Publicações Dom Quixote. Sociedade Portuguesa de Autores., Lisboa, 2001., p. 36
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domingo, 5 de maio de 2019
sábado, 4 de maio de 2019
« AMÉLIA - É a filha dos mistérios, sempre a esconder coisas à tua mãe!»
Jaime Rocha. Casa de Pássaros. Publicações Dom Quixote. Sociedade Portuguesa de Autores., Lisboa, 2001., p. 18
Jaime Rocha. Casa de Pássaros. Publicações Dom Quixote. Sociedade Portuguesa de Autores., Lisboa, 2001., p. 18
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'' muda como uma tábua''
Jaime Rocha. Casa de Pássaros. Publicações Dom Quixote. Sociedade Portuguesa de Autores., Lisboa, 2001., p. 15
« - Este tempo adoece-me, fico com as veias grossas, com mãos de uma velha.»
Jaime Rocha. Casa de Pássaros. Publicações Dom Quixote. Sociedade Portuguesa de Autores., Lisboa, 2001., p. 14
Jaime Rocha. Casa de Pássaros. Publicações Dom Quixote. Sociedade Portuguesa de Autores., Lisboa, 2001., p. 14
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«A Susana sempre foi assim, sempre me escondeu tudo. Já em criança tinha essa mania, metia as coisas debaixo da cama e nos vasos, para que eu não visse. E eu não via, de facto, não queria ver. Que importância tem uma criança esconder gritos mortos ou bezoiros?»
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quarta-feira, 3 de abril de 2019
sexta-feira, 2 de março de 2012
49.
«Pentesileia voltou para os bosques, anunciou o caçador,
dizendo que o seu corpo saiu das escadas do inferno.
Reconhecia-a. Tinha a cicatriz da espada gravada entre
os seios. »
(...)
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 55
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« (...) O olhar dela cai sempre
que lhe toco no peito, como as amoras no inverno.»
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 54
que lhe toco no peito, como as amoras no inverno.»
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 54
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34.
A mulher está agora, pela primeira vez, dentro
da morte, nessa linha de sombra que o cavalo
procura esmagar, incitado pelo chicote. Pela primeira
vez ela descobre o seu corpo subterrâneo, o sítio onde
esconde o sangue e os pedaços de carne que se vão
espalhando pela encosta, entre as ervas. O seu riso tem
um lado negro, um apelo que sai da cintura e que o
cavalo reconhece como um pó cego, entrando pelas narinas.
Pela primeira vez ela consegue ver a sua espada. Tudo se reflecte
no seu peito, a própria imagem do cavaleiro, a chuva, os
gritos dos corvos, as cigarras. Até o Verão se cola ali,
debaixo dos seios, e escorre como lágrimas, como pêssegos
que se destroem lentamente dentro de uma travessa.
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 40
da morte, nessa linha de sombra que o cavalo
procura esmagar, incitado pelo chicote. Pela primeira
vez ela descobre o seu corpo subterrâneo, o sítio onde
esconde o sangue e os pedaços de carne que se vão
espalhando pela encosta, entre as ervas. O seu riso tem
um lado negro, um apelo que sai da cintura e que o
cavalo reconhece como um pó cego, entrando pelas narinas.
Pela primeira vez ela consegue ver a sua espada. Tudo se reflecte
no seu peito, a própria imagem do cavaleiro, a chuva, os
gritos dos corvos, as cigarras. Até o Verão se cola ali,
debaixo dos seios, e escorre como lágrimas, como pêssegos
que se destroem lentamente dentro de uma travessa.
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 40
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21.
E o banquete foi feito. Ela deixara para trás a
roda e a palma com que atraiçoara o homem.
Transportada pelos cães, ordenara que as vespas
se mantivessem sobre a sua cabeça enquanto
dormia, permitindo aos pequenos sátiros que
brincassem no meio dos mirtos a ouvir o mar do
fundo dos búzios. À mesa. com os seus peplos
coloridos, as mulheres aguardavam a incursão
da presa. Espiavam devagar o fio de sangue que ia
marcando o chão. Mas logo os criados surgiam
por detrás de altas colunas, empunhando as aves
domésticas e duas raposas dilaceradas pelos galgos.
A mulher debatia-se com a sua própria volúpia,
limpava o sangue das coxas, afugentando os cães
com os gemidos. Até que o cavaleiro acordasse,
doente, queimado pelo brasido.
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 27
roda e a palma com que atraiçoara o homem.
Transportada pelos cães, ordenara que as vespas
se mantivessem sobre a sua cabeça enquanto
dormia, permitindo aos pequenos sátiros que
brincassem no meio dos mirtos a ouvir o mar do
fundo dos búzios. À mesa. com os seus peplos
coloridos, as mulheres aguardavam a incursão
da presa. Espiavam devagar o fio de sangue que ia
marcando o chão. Mas logo os criados surgiam
por detrás de altas colunas, empunhando as aves
domésticas e duas raposas dilaceradas pelos galgos.
A mulher debatia-se com a sua própria volúpia,
limpava o sangue das coxas, afugentando os cães
com os gemidos. Até que o cavaleiro acordasse,
doente, queimado pelo brasido.
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 27
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quinta-feira, 1 de março de 2012
«Ele cravara-lhe as unhas no pescoço,
ela enroscava o corpo, como fazem os anjos nos
banquetes em honra dos heróis. Ele abria as asas,
protegendo-a, ela sugava-lhe o coração, entre
lágrimas, deixando-o marcando pelas garras.»
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 62
ela enroscava o corpo, como fazem os anjos nos
banquetes em honra dos heróis. Ele abria as asas,
protegendo-a, ela sugava-lhe o coração, entre
lágrimas, deixando-o marcando pelas garras.»
Jaime Rocha. Zona de Caça. Relógio D' Água, 2002., p. 62
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« (...) São as suas
asas que o acordam para aquela sombra
despida, saída do inferno.»
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 62
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36.
É um homem com uma face virada para o
fim das ondas, um homem com uma dança
dentro dos olhos. Está a ser pintado por uma
mão antiga e, atrás dele, uma mulher deita-se
em cima do vidro enquanto os pássaros e as
formigas esperam, encostados a uma trepadeira.
Um sopro aproxima-se, uma coisa a arder no
barro. É o vaso com pólenes trazido pelo
pedreiro. Coloca-o à sua frente como se estivesse
sentado num eucalipto e vislumbrasse uma
jovem rapariga a acender um forno para secar
o seu próprio cabelo.
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 61
fim das ondas, um homem com uma dança
dentro dos olhos. Está a ser pintado por uma
mão antiga e, atrás dele, uma mulher deita-se
em cima do vidro enquanto os pássaros e as
formigas esperam, encostados a uma trepadeira.
Um sopro aproxima-se, uma coisa a arder no
barro. É o vaso com pólenes trazido pelo
pedreiro. Coloca-o à sua frente como se estivesse
sentado num eucalipto e vislumbrasse uma
jovem rapariga a acender um forno para secar
o seu próprio cabelo.
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 61
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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
«E falou de outras mulheres, de corpos que se
decompõem no deserto ou que ficam fechados
em masmorras anos a fio até secarem.»
« (...) Deslumbra-se
com a imagem dela reflectida no aço.»
decompõem no deserto ou que ficam fechados
em masmorras anos a fio até secarem.»
« (...) Deslumbra-se
com a imagem dela reflectida no aço.»
Jaime Rocha.
Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 54
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''Quero a tua culpa, diz.''
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento.
Relógio D' Água, 2012., p. 50
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22.
Agora são doze girassóis numa jarra que o
homem vê no espelho onde se fixam as
omoplatas da mulher. Tudo se passa numa
ponte, dentro de um sonho, com um moinho
parado quase submerso onde se refugiam
as aves de Verão. Apetece-lhe reviver um
crime, ressuscitá-la para de novo a matar,
para que o choro regresse com mais força,
como a chuva de Inverno a bater nas janelas,
o granizo. E anseia por vê-la um segundo,
tocá-la, mexer-lhe na testa, cruzar os dedos
nos seus cabelos e escutar-lhe novamente
os derradeiros gemidos. Como se cheirasse
um aloendro ou se deitasse para sempre num
campo de hortênsias azuis.
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 47
homem vê no espelho onde se fixam as
omoplatas da mulher. Tudo se passa numa
ponte, dentro de um sonho, com um moinho
parado quase submerso onde se refugiam
as aves de Verão. Apetece-lhe reviver um
crime, ressuscitá-la para de novo a matar,
para que o choro regresse com mais força,
como a chuva de Inverno a bater nas janelas,
o granizo. E anseia por vê-la um segundo,
tocá-la, mexer-lhe na testa, cruzar os dedos
nos seus cabelos e escutar-lhe novamente
os derradeiros gemidos. Como se cheirasse
um aloendro ou se deitasse para sempre num
campo de hortênsias azuis.
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 47
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20.
A mulher espreita por uma frecha,
escondida numa touca. Parece Dezembro,
pela ausência de pássaros. E diz,
venho para te misturar
aos meus ossos.
Ele estremece com estas palavras. Nunca
soubera falar para os seus lábos. Apenas
fora capaz de tocar-lhe nos ombros e feri-los,
com o mesmo ódio com que as abelhas
colhem o pólen, como uma condenação.
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 45
escondida numa touca. Parece Dezembro,
pela ausência de pássaros. E diz,
venho para te misturar
aos meus ossos.
Ele estremece com estas palavras. Nunca
soubera falar para os seus lábos. Apenas
fora capaz de tocar-lhe nos ombros e feri-los,
com o mesmo ódio com que as abelhas
colhem o pólen, como uma condenação.
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 45
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« (...) Como se,
a memória da mulher não fosse mais pesada
que o seu corpo e o choro deles regressasse
como um dilúvio para sepultar os prados.»
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 39
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«Ela afasta-se como o vento quente, como
um tronco desfeito por um machado.»
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 35
um tronco desfeito por um machado.»
Jaime Rocha. Necrophilia. Prefácio de João Barrento. Relógio D' Água, 2012., p. 35
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