segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

«O que eu pretendo é que as palavras deixem de significar semanticamente para representarem um complexo de imagens suscitadas à consciência liminar pelas associações sonoras que as compõem. Eu não quero ampliar a linguagem corrente da poesia, quero destruí-la como significação, retirando-lhe o carácter mítico-semântico, que é transferido para a sobreposição de imagens ( no sentido psíquico e não estilístico), compondo um sentido global, em que o gesto imaginado valha mais que a sua mesma designação».

Jorge de Sena Do Postfácio a Metamorfoses, seguidas de
Quatro Sonetos a Afrodite Anadiómena (1963)
1968

domingo, 6 de dezembro de 2009

# 1

Havia uma casa com raízes numa montanha de granito. Uma casa sem vizinhos, meia perdida entre o caminho que corta por entre urzes e o riacho. Por detrás dessa casa, havia um estábulo de madeira; era aí criado um menino - que fora trazido pela época das chuvas -, como um animal.
Os caseiros, ambos já velhos, eram avessos a ter uma criança sentada à mesma mesa que eles. Não suportavam ter o encargo de a educar. Por não a conseguirem deixar ao abandono, à espera da morte, colocaram-na perto dos animais, e passados uns meses, esse menino de olhos negros como a sombra, viria a estar no mesmo espaço onde se movia a vaca, os bois, e as galinhas.
O velho, um homem de feições rudes e de maldade crepitante nos cantos da boca, traz ao nascer do sol, comida para abastecer o gado. Depois de colocada uma braçada de feno, que empilha na manjedoura, revira os olhos para aquele corpo petiz sem nome.
-Vá, come! - resmunga o velho.
Atira-lhe feno para o rosto e pão duro para o chão, que este, se apressa a agarrar para trincar. Com o tempo, como que, uma propensão para o mal puxa ainda pela raíz mais funda, deixou de lhe dar comida. O menino, dormia em cima do feno, esperneando-se todas as noites com dor: dor de fome, que queimava como ferro no estômago. Horas e horas de sede e para a boca encontrou na erva fresca vinda dos pastos, o engano para a fome; começou como o boi, a ruminar.
Alguns dias depois, em que, não aguentava na barriga o sentimento vivo desse azedume - enquanto a mão levava à boca o verde das ervas -, o menino, fixou os olhos da vaca - tristes, como que gravados numa escultura - e, dela veio a permissão, o chamamento; moveu-se a criança esfaimada até às tetas - aí pôs-se a beber o leite, agarrando-as com sofreguidão, para as sugar . A caseira, uma velhota, ainda que, mais afável que o homem, quando começou a dar pela falta do leite, levou abóboras e frutas para o estábulo. Elas chegavam, tão frescas na cor, que era vê-lo atirar-se para roer o que houvesse. A isto, tudo assistiam, as aranhas recolhidas entre as grandes névoas de teia, que cobriam o tecto de madeira podre.
O velho, num dia de tédio, em que o suor lhe escorria da fronte e, uma inquietante e contínua impressão na artéria do peito, se lhe apertava cada vez mais, perdeu as estribeiras, ao olhar aquela criatura, ali, tão obediente e passiva, ao lado dos animais.
- Meu grandessíssimo filho da puta! - berrou, e a seguir atirou-lhe com um balde de água à cabeça. Seguiram-se pontapés na barriga e, pegando numa correia dum chicote pendurado ao pé das forquilhas, deixou-o com o corpo e a alma marcada, como se, por ali tivesse passado o diabo. Foi a vaca, que lhe lambeu o sangue das feridas abertas, bebeu-lhe a infecção - o pus -,enxotando as moscas com o movimento incessante do rabo. No dia seguinte, o velho ao confrontar-se com o menino todo batido, fruto das suas mãos loucas, não abrandou, e desceu mais fundo: chicoteou-o ainda com mais força. De instinto animalesco, o menino agora educado como uma fera, agarrou-se-lhe à perna, e, só alimentado de sementes e pasto, cravou os dentes na carne, até a rasgar, até correr sangue no estábulo cheio de esterco. Os gritos do velho, trouxeram a caseira, e com ela, a súbita consciência, de que eram responsáveis pelo comportamento desse animal que criaram.
-Santo Deus! - disse, sem quase haver ar no peito para respirar.
O menino ao vê-la, parou, subitamente assustadiço. Afastou-se para um canto. Agarrou em folhas de milho e pôs-se a trincá-las para tirar da boca, o sabor do sangue humano. A mulher arrastou o velho, dali para fora, e ele nunca mais voltou. Passou a vir sempre ela, com passo lento, na sujidade do chão de pedra. Deitava o milho às galinhas, ordenhava a vaca, e deixava latas de conserva de feijão e carne para o menino. Com os meses, deu-lhe um nome. Chamava-o e quando o menino deixava que o tocasse, dáva-lhe sementes de abóbora, o seu banquete preferido. Depois começou a cantar-lhe canções, que só do coração lhe tinham saído, quando criara as suas crias - agora ausentes, lá nas cidades de fumo negro. Ensinou-lhe depois as palavras, a este ser, que aprendera a imitar os grunhidos dos animais; e, quando se sentou na escada da casa na colina, e o céu se abriu entre as nuvens de Inverno, ela, a mulher do caseiro matou a maldade, e sentou o menimo à mesa.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny in Pena Capital I. Assírio & Alvim, 2ª ed., 1999
Novel for Girls, 2000
Terra vermelha, terra negra
tu vens do mar,
do verde requeimado
onde há palavras
antigas e fadiga sanguínea
e gerânios entre as pedras -
não sabes o que em ti
trazes de mar palavras e fadiga,
tu rica como uma lembrança,
como o campo despido,
tu áspera e dulcíssima
palavra, antiga como o sangue
recolhido nos olhos;
jovem, como um fruto
que é lembrança e estação -
a respiração repousa
sob o céu de agosto,
as azeitonas do teu
olhar suavizam
o mar e tu vives revives
sem surpresa, certa
como a terra, escura
como a terra, moinho
de estações e de sonhos
que ao luar se revela
antiquíssimo, como
as mãos de tua mãe,
a concha da braseira.

Tu és terra e a morte.
A tua estação é a sombra
e o silêncio. Nada
vive mais distante
da aurora que tu.

Quando pareces despertar
és dor apenas,
tem-la nos olhos e no sangue
mas tu não sentes. Vives
como vive uma pedra,
como a terra dura.
Vestem-te sonhos
movimentos soluços
que tu ignoras. Como a água
de um lago a dor
tremula e envolve-te.
Há círculos sobre a água.
Tu deixa-los desvanecer.
Tu és a terra e a morte.

Virá a morte e terá os teus olhos
- esta morte que nos acompanha
de manhã à noite, insone,
surda, como um velho remorso
ou um vício absurdo. Os teus olhos
serão uma palavra vã,
um grito mudo, um silêncio.
Assim os vês todas as manhãs
quando sobre ti mesma no espelho
te inclinas. Ó minha cara esperança,
nesse dia saberemos nós também
que tu és vida e és o nada.

Para todos a morte tem um olhar.
Virá a morte e terá os teus olhos.
Será como abandonar um vício,
como ver surgir no espelho
em rosto morto, como
escutar uns lábios fechados.
Mudos, desceremos no abismo.

Cesare Pavese in Dez Poetas Italianos Contemporâneos em selecção, tradução e notas de Albano Martins. Publicações Dom Quixote, 1992

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

You Are Welcome to Elsinore

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

Mário Cesariny in Pena Capital I. Assírio & Alvim, 2ª ed., 1999
Deep Devotion of Veronika, 1994
*

Desci, dando-te o braço, pelo menos um milhão de escadas
e agora que não estás aqui há um vazio em cada degrau.
Até nisso foi breve a nossa viagem.
A minha dura ainda, e já não são necessárias
as coincidências, as reservas,
as ciladas, as vergonhas de quem acredita
que a realidade é aquilo que se vê.

Desci milhões de escadas dando-te o braço
e não porque com quatro olhos talvez se veja mais.
Contigo as desci por saber que de nós dois
as únicas pupilas verdadeiras, ainda que tão ensombradas,
eram as tuas.

*
«E o Paraíso? Existe um paraíso?»
«Creio que sim, senhora, mas os vinhos doces
já ninguém os quer».

*

Sinto remorso por ter esmagado
o mosquito na parede, a formiga
no chão.
Sinto remorso mas aqui estou vestido de escuro
para o congresso, para a recepção.
Sinto dor por tudo, até pelo hilota
que me propina conselhos de participação,
dor pelo mendigo a quem não dou esmola,
dor pelo demente que preside ao conselho
de administração.

Eugenio Montale in Dez Poetas Italianos Contemporâneos em selecção, tradução e notas de Albano Martins. Publicações Dom Quixote, 1992

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Eterno

Entre uma flor colhida e outra dada
o inexprimível nada.


Giuseppe Ungaretti in Dez Poetas Italianos Contemporâneos em selecção, tradução e notas de Albano Martins. Publicações Dom Quixote, 1992

A Cabra

Falei com uma cabra.
Estava sozinha no prado, estava presa.
Saciada de erva, molhada
pela chuva, balia.

Aquele monótono balido era irmão
da minha dor. Eu respondi-lhe, a princípio
por brincadeira, depois porque a dor é eterna,
tem voz e não muda.
Era esta voz que sentia
gemer numa cabra solitária.

Numa cabra de rosto semita
sentia queixarem-se todos os outros males,
todas as outras vidas.

Umberto Saba in Dez Poetas Italianos Contemporâneos em selecção, tradução e notas
de Albano Martins. Publicações Dom Quixote, 1992

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Se os poetas fossem menos patetas

Se os poetas fossem menos patetas
E se fossem menos preguiçosos
Faziam toda a gente feliz
Para poderem tratar em paz
Dos seus sofrimentos literários
Construíam casas amarelas
Com grandes jardins à frente
E árvores cheias de zaves
De mirliflautas e lizores
De melharufos e toutiverdes
De plumuchos e picapães
E pequenos corvos vermelhos
Que soubessem ler a sina
Havia grandes repuxos
Com luzes por dentro
Havia duzentos peixes
Desde o crusco ao ramusão
De libela ao papamula
Da orfia ao rara curul
E da alvela ao canissão
Havia um ar novo
Perfumado odor das folhas
Comia-se quando se quisesse
E trabalhava-se sem pressa
A construir escadarias
De formas nunca antes vistas
Com madeiras raiadas de lilás
Lisar como ela sob os dedos

Mas os poetas são uns patetas
Escrevem para começar
Em vez de se porem a trabalhar
E isso traz-lhe um remorso
Que conservam até à morte
Encantados de ter sofrido tanto
Dedicam-lhes grandes discursos
E são esquecidos num dia
Mas se trabalhassem mais
Só seriam esquecidos em dois


Boris Vian in canções e poemas . Assírio & Alvim, 1997 .Trad. Irene Freire Nunes
Fernando Cabral Martins

O Fanal

Aqui, onde entre mares cresceu a ilha,
pedra e ara súbito como torre erguida,
aqui ascende sob um negro céu
Zaratustra os seus fogos das alturas,-
fanal para navegantes sem rumo,
ponto de interrogação para os que têm resposta...

Esta chama de ventre esbranquiçado
-sua cobiça lança línguas a distâncias frias,
dobra o pescoço para alturas mais puras -
cobra erguida a pino, de impaciência:
este sinal o pus eu em frente a mim.

A minha própria alma é esta chama:
insaciável de distâncias novas,
lança ao alto, ao alto o seu ardor silente.
Porque fugira Zaratustra dos bichos e dos homens?
porque se escapou de repente de toda a terra firme?

Seis solidões conhece ele já -,
mas o seu próprio mar não lhe era solitário bastante,
a ilha deixou-o subir, sobre o monte ele se fez chama,
a uma sétima solidão
lança buscando agora o seu anzol por sobre a fonte.

Navegantes sem rumo! Destroços de astros velhos!
Ó mares de futuro! Ó céus inexplorados!
Lanço agora o anzol a tudo o que é solitário:
dai resposta à impaciência da chama,
agarrai para mim, pescador nos altos montes,
a minha sétima última solidão! -

Friedrich Nietzsche (1844-1900) in Rosa Do Mundo 2001 poemas para o futuro
2. ed. Assírio & Alvim, 2001

"Não foi alguém, nem foi ninguém"

A morte de Mairi

Ela morreu
Como morre no Oriente a nuvem vermelha ao romper do dia,
A nuvem de beleza imensa que o sol inveja
E em glória se alevanta para roubar
A sua cor.

Ela morreu
Como morre o clarão breve e fugaz da luz do Sol
Que a sombra persegue correndo veloz.
Não mais cai a chuva, a glória passou e ela morreu
Como o arco-íris.

Ela morreu
Como morre a neve na praia caída à beira do mar
E a maré subindo, serena e lenta e sem piedade
E vai cobrindo sem nunca ver nem admirar
Sua brancura.

Ela morreu
Como morre a voz da harpa que ao soar vai esmorecendo doce e
solene.
Como num conto de encantar ela morreu
Um conto que ninguém ouvira e estava ainda
Em seu início.

Ela morreu
Como morre o luar que da Lua desce
E o marinheiro da noite escura se arreceia.
Como um sonho doce ela morreu e ao sonhador veio
A tristeza.

Ela morreu
Ao acordar sua beleza, Sem ela o Céu
Não fora o Céu. Ela morreu e assim o Sol
Na madrugada se vai erguer e apagar.
Morreu Mairi!


Evan Maccoll (1808-1898) in Rosa Do Mundo 2001 poemas para o futuro
2. ed. Assírio & Alvim, 2001

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Um hemisfério numa cabeleira

Deixa-me respirar longamente, longamente, o aroma dos teus
cabelos, neles mergulhar todo o meu rosto, como um homem se-
dento na água de uma nascente, e agitá-los na minha mão como
um lenço aromático, para sacudir recordações no ar.
Se pudesses saber tudo aquilo que eu vejo! tudo aquilo que eu
sinto!tudo aquilo que ouço nos teus cabelos! A minha alma viaja por
sobre o perfume como a alma dos outros homens sobre a música.
Os teus cabelos levam um sonho inteiro, cheio de velames e de
mastreações; levam grandes mares de monções que me transportam
para encantadores climas,onde o espaço é mais azul e mais profundo,
de atmosfera perfumada pelos frutos, pelas folhas da pele humana.
No oceano da tua cabeleira, avisto um porto irrompendo em
cantos melancólicos, homens vigorosos de todas as nações e navios
de todos os formatos recortando arquitecturas finas e complicadas
num céu imenso em que preguiça o eterno calor.
Nas carícias da tua cabeleira, reencontro as demoras das longas
horas passadas num divã. no quarto de um belo navio, embaladas
pelo rolar imperceptível do porto, entre os vasos de flores e os cân-
taros refrescantes.
No lar ardente da tua cabeleira, respiro o aroma do tabaco
mesclado em ópio e açúcar; na noite da tua cabeleira, vejo resplan-
descer o infinito do horizonte tropical; nas margens sedosas da tua
cabeleira embriago-me com os aromas misturados do almíscar, do
alcatrão e do óleo de coco.
Deixa-me morder demoradamente as tuas tranças pesadas e ne-
gras. Quando mordisco os teus cabelos elásticos e rebeldes, julgo estar
a mastigar recordações.

Charles Baudelaire(1821-1867) in Rosa Do Mundo 2001 poemas para o futuro
2. ed. Assírio & Alvim, 2001)

terça-feira, 24 de novembro de 2009

I

Tenho uma pele cor de fumo avermelhado, cor de mulo,
tenho um chapéu de miolo de sabugueiro coberto de tela
branca.
Meu orgulho é que a minha filha seja belíssima quando dê
ordens às mulheres negras,
minha alegria, que ela desnude um braço branquíssimo entre
suas galinhas negras,
e não se envergonhe de minha bochecha rude sob a barba,
quando volto a casa enlameado.

*

E primeiro lhe dou meu chicote, minha cabaça e meu chapéu.
Sorrindo, ela desculpa-me a cara encharcada; e leva ao rosto
minhas mãos, que engordurei provando a amêndoa de cacau,
o grão de café.
E depois ela me traz um lenço de cabeça farfalhante; e minha
roupa de lã; água pura para limpar meus dentes de silencioso:
e a água de minha bacia lá está; e escuto a água do tan-
que na cabana da água.

*

Um homem é duro, sua filha é doce. Que elas se encontre
sempre,
ao voltar ele, no mais alto degrau da casa branca,
e livrando seu cavalo do aperto dos joelhos,
ele esquecerá a febre que repuxa toda a pele do rosto para
dentro.

*

Gosto também de meus cães, do apelo de meu melhor cavalo,
e de ver no extremo da reta alameada meu gato sair de casa
em companhia da macaca...
coisas essas suficientes para não invejar as velas dos veleiros
que percebo no alto do teto de zinco sobre o mar, como um
céu.


Saint-John Perse
in Obra Poética
Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1973
Trad. Darcy Damasceno
'Durante uma excursão ao Potomac, no decorrer de uma conversa com Aristide Briand e, como que justificando pelo seu amor da natureza a sua aversão pelo papel impresso, pronuncia (...):
«Um livro é a morte de uma árvore.» ' (pp.29)


Saint-John Perse
in Obra Poética
Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1973
Trad. Darcy Damasceno

VI

Palmeiras!
e contra a crepitante casa tantas lanças de chama!

...As vozes eram um ruído luminoso e sotavento...O barco
de meu pai, diligente, conduzia grandes figuras brancas: talvez,
em suma, Anjos despenteados; ou talvez homens sadios, vestidos
de belo pano, capacetes de sabugueiro ( e assim meu pai, que foi
nobre e decente).

...Pois de manhã, pelos campos pálidos da Água nua, ao
longo do Oeste,vi andarem Príncipes e seus Genros, homens de
alta estirpe, bem vestidos e calados, que o mar antes do meio-dia é
um Domingo em que o sono tomou o corpo de um Deus,
dobrando as pernas.

E tochas ao meio-dia, se ergueram para minhas fugas,
E creio que Arcos, Salas de ébano e zinco iluminaram-se
todas as noites ao sonho dos vulcões,
na hora em que juntavam nossas mãos diante o ídolo em
traje de gala.
Palmeiras! e a doçura
de velhice nas raízes...! Os ventos alísios, os pombos trocazes
e a gata parda
esburacavam a amarga folhagem verde onde, na crueza de uma
noite com perfume de Dilúvio
as luas rosas e verdes inclinavam-se qual mangas.

...Já os tios falavam baixo a minha mãe. Haviam amarrado
seu cavalo à porta. E a casa durava, sob as árvores de plumas.

Saint-John Perse
in Obra Poética
Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1973
Trad. Darcy Damasceno

estação

Esperar ou vir esperar querer ou vir querer-te
vou perdendo a noção desta subtileza.
Aqui chegado até eu venho ver se me apareço
e o fato com que virei preocupa-me, pois chove miudinho

Muita vez vim esperar-te e não houve chegada
De outras, esperei-me eu e não apareci
embora bem procurado entre os mais que passavam.
Se algum de nós vier hoje é já bastante
como comboio e como subtileza
Que dê o nome e espere. Talvez apareça

Mário Cesariny
in Pena Capital I
Assírio & Alvim, 2ª ed., 1999

uma certa quantidade

Uma certa quantidade de gente à procura
de gente à procura duma certa quantidade

Soma:
uma paisagem extremamente à procura
o problema da luz (adrede ligado ao problema da vergonha)
e o problema do quarto-atelier-avião

Entretanto
e justamente quando
já não eram precisos
apareceram os poetas à procura
e a querer multiplicar tudo por dez
má raça que eles têm
ou muito inteligentes ou muito estúpidos
pois uma e outra coisa eles são
Jesus Aristóteles Platão
abrem o mapa:
dói aqui
dói acolá

E resulta que também estes andavam à procura
duma certa quantidade de gente
que saía à procura mas por outras bandas
bandas que por seu turno também procuravam imenso
um jeito certo de andar à procura deles

Mário Cesariny
in Pena Capital I
Assírio & Alvim, 2ª ed., 1999

domingo, 15 de novembro de 2009

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Tempo de retiro durante Novembro

Devora-me, luz que gritas na sombra!

Devora-me, luz que gritas na sombra!
Ilumina-me estas mãos feitas de pedra;
sangra os meus versos de amor e, tão
somente neles, deita-te para dormir.
Seguirei por estas linhas tortas,
para dançar junto à tua cintura;
dar-te-ei uma maçã, para abrirmos
num dia de Sol, e fecharei
todas as portas que a Morte abre
para receber o teu corpo.

sábado, 17 de outubro de 2009

O Temor da Morte

I

Que a morte me desmembre em outro, e eu fique
Ou o nada do nada ou o de tudo
E acabo enfim esta consciência oca
Que de existir me resta.

Sinto um tropel esfuziante e quente
De propósitos-sombras, e de impulsos
Transbordando do cálix da consciência
Para cima da vida...

II

....só um sentimento
De desejar eterna inquietação,
Ambição vaga de fechar os olhos
E vaga esp'rança de não mais abri-los.
Ânsia cansada de não mais viver;
Meu cérebro esvaído não lamenta
Nem sabe lamentar. Tumultuárias
Ideias mistas do meu ser antigo
E deste, surgem e desaparecem
Sem deixar rastos à compreensão.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Já deslumbradas, vãs, incoerentes
Amargas,[vagas] desorganizações
Que nem deixam sofrer. Vem pois, oh Morte!
Sinto-te os passos!Sinto-te! O teu seio
Deve ser suave e ouvir o teu coração
Como uma melodia estranha e vaga
Que enleva até ao sono e passa o sono.
Nada. Já nada [passa] - nada, nada...
Vai-te, Vida!

III

Ah, o horror de morrer!
E encontrar o mistério frente a frente
Sem poder evitá-lo, sem poder...

IV

Gela-me a ideia de que a morte seja
O encontrar o mistério face a face
E conhecê-lo. Por mais mal que seja
A vida e o mistério de a viver

(...)

Fernando Pessoa
in Poemas Dramáticos
Edições Ática
Tinha um corpo de
lua
pelo lado da cor e do frio

em desiquilíbrio no fio da faca
do orgasmo

Maria Teresa Horta
in Os Anjos
Litexa, 1983
São os anjos
apenas
com o corpo dos homens

num corpo de mulher

e um ligeiro crepitar
de asas
na altura dos ombros.

Maria Teresa Horta
in Os Anjos
Litexa, 1983

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Apreensões (1860)

Quando as nuvens flutuando sobre recuados montes
Tempestuosas ondulam no tardio Outono sombrio,
E o horror invade o ensopado vale,
E o pináculo cai estrondoso na cidade,
Medito nas dores do meu país -
A tempestade irrompendo da vastidão do Tempo
Na mais bela esperança do mundo ao mais ignóbil crime do homem
(unida.

O lado obscuro da Natureza agora atento -
(Ah, exclamação optimista de desencanto plena) -
Uma criança pode ler o taciturno cume
D´aquela solitária e negra montanha.
Com brados as correntes descem os desfiladeiros,
E tempestades formam-se sob a tempestade por nós sentida:
A cicuta agita-se na viga, o carvalho na quilha.

Herman Melville
in Poemas
Assírio & Alvim, 2009
Tradução de Mário Avelar

Para que venham

Uma vela, mais não. A sua luz ténue
é mais adequada, mais brando te assombras
quando vierem do Amor, quando vierem as Sombras.

Uma vela, mais não. Para não ter hoje à noite
a alcova grande iluminação. Dentro do enleio inteiro
e da sugestão, e com a pouca luz -
assim no enleio hei-de ter visões
para que venham do Amor, para que venham as Sombras.


Konstandinos Kavafis
in Poemas e Prosas
Relógio d´Água, 1994
Tradução de Joaquim Manuel Magalhães
e Nikos Pratsinis

Teatro de Sídon (400 d.C.)

Filho de cidadão íntegro - sobretudo, formoso
adolescente de teatro, apreciado de vários modos,
às vezes componho em língua grega
versos assaz audaciosos, que faço circular
muito às escondidas, claro - deuses! para que não os vejam
os vestidos de pardo, os parlantes de moral -
versos do prazer excelente, encaminhado
para amor estéril e desaprovado.


Konstandinos Kavafis
in Poemas e Prosas
Relógio d´Água, 1994
Tradução de Joaquim Manuel Magalhães
e Nikos Pratsinis

terça-feira, 13 de outubro de 2009


«Um tão inexplicável excesso de mágoa absurda, uma dor tão desolada, tão órfã, tão/metafisicamente/minha, (...)»

Fernando Pessoa
«O homem vulgar, por mais dura que lhe seja a vida, tem ao menos a felicidade de a não pensar. Viver a vida decorrentemente, exteriormente, como um gato ou um cão - assim fazem os homens gerais, e assim se deve viver a vida para que possa contar a satisfação do gato e do cão.


Pensar é destruir. O próprio processo do pensamento o indica para o mesmo pensamento, porque pensar é compor. Se os homens soubessem meditar no mistério da vida, se soubessem sentir as mil complexidades que espiam a alma em cada pormenor da acção, não agiriam nunca, não viveriam até. Matar-se-iam de assustados, como os que se suicidam para não ser guilhotinados no dia seguinte.»

Fernando Pessoa
in Livro do Desassossego, 1ª parte
Livros de bolso europa-améria

Penumbra



É com saudade que te (re)lembro ó mestre!

Tantas foram as manhãs de sol, a voz, o acorde dessas aprendizagens que não tinham fim, mesmo quando, terminava o tempo de aula no anfiteatro.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

«Não sei o que quero ou o que não quero. Deixei de saber querer, de saber como se quer, de saber as emoções ou os pensamentos com que ordinariamente se conhece que estamos querendo, ou querendo querer. Não sei quem sou ou o que sou. Como alguém soterrado sob um muro que se desmoronasse, jazo sob a vacuidade tombada do universo inteiro. E assim, vou, na esteira de mim mesmo, até que a noite entre e um pouco do afago de ser diferente ondule, como uma brisa, pelo começo da minha impaciência de mim.

Ah, e a lua alta e maior destas noites plácidas, mornas de angústia e desassossego! A paz sinistra da beleza celeste, ironia fria do ar quente, azul negro enevoado de luar e tímido de estrelas.»

Fernando Pessoa
in Livro do Desassossego 1ª parte
Livros de bolso europa américa

Antes de Começar*

O BONECO - Já por várias vezes fomos os dois juntos dentro da mesma algibeira!...
A BONECA - É verdade!...Nesse tempo não sabia que tu eras como eu...
O BONECO - É verdade!...nem eu!...e podíamos ter falado tanto, dentro da algibeira!...Fartei-
me de puxar por ti!...
A BONECA - Eu não sabia que eras tu!
O BONECO - Era eu!
A BONECA - Porque não me disseste ao ouvido?
O BONECO - Eu não sabia que tu ouvias!
A BONECA - Pois ouvia!
O BONECO - E tu nunca te aborrecias de estar sempre na posição em que o Homem te tinha dei-
xado?
A BONECA - Punha-me a pensar...Pensei muito! Pus por ordem todas as coisas que aconteceram
comigo...Sei tudo de cor...
O BONECO - Conta, conta o que sabes!...
A BONECA - Só há uma coisa que eu não sei e que também aconteceu comigo...
O BONECO - O que foi?
A BONECA - Não sei explicar a razão por que são tão pequenas as pessoas que vêm todas as
noites ver o espectáculo!...
O BONECO - (Ri.) São assim tão pequenas porque ainda não chegaram a grandes...As pessoas pequenas chamam-se crianças.
A BONECA - Isso não sabia eu...Era a única coisa que eu não tinha sido capaz de compreender!...Via umas pessoas maiores e outras mais pequenas, e não sabia a razão.
O BONECO - Ah! Ah! Ah!
A BONECA - Naturalmente estás-me a enganar?...
O BONECO - Não te estou a enganar, não...estou a rir-me do que terás para contar se não sabias
que as pessoas antes de serem grandes começam por ser pequeninas!...(Ri.)

Almada Negreiros
in Antes de Começar
Colecção Baratinha, Raiz Editora, 1995

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Conto

Aborrecia-se um Príncipe porque apenas se dedicara ao aperfeiçoamento das
generosidades vulgares. Do amor, ele esperava espantosas revoluções, e suspei-
tava de que as suas mulheres podiam dar-lhe mais do que uma complacência
coroada de céu e luxo. Queria ver a verdade, a hora do desejo e da satisfação
essenciais. Fosse ou não fosse, isto, uma aberração mística, ele assim o quis.
Dispunha, pelo menos, de largos poderes humanos.

Todas as mulheres que possuíra foram assassinadas. Que estrago no jardim da
beleza! Sob o sabre, elas abençoaram-no. Não encomendou novas mulheres. - As
mulheres reapareceram.

Matou todos aqueles que o seguiam quando vinha da caça ou das libações . -
Todos o seguiam.

Divertiu-se a degolar animais raros. Mandava incendiar os palácios. Precipi-
tava-se sobre as pessoas e cortava-as às postas. - A multidão, os tectos de ouro,
os belos animais subsistiam.

Podemos extasiar-nos na destruição, rejuvenescer na crueldade! O povo não
murmurou. Ninguém ofereceu o concurso de uma opinião.

Uma noite, galopava ele altivamente, saiu-lhe ao caminho um Génio de uma
beleza inefável, inconfessável, até!Da sua fisionomia e do seu porte nascia a
promessa de um amor complexo e múltiplo, de uma felicidade inexprimível,
insuportável, até! O Príncipe e o Génio aniquilaram-se provavelmente na saú-
de primordial. Como poderiam ter sobrevivido? Juntos, tiveram de morrer.

Mas o Príncipe faleceu no seu palácio, muitos anos depois. O Príncipe era o
Génio. O Génio era o Príncipe.

Falta ao nosso desejo música sábia.

Jean-Arthur Rimbaud
in Iluminações
Estúdios Cor

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Ce grand malheur, de ne pouvoir être seul. (La Bruyère)

O que poderia o teu sorriso impor-me
que a Noite me não desse, ela que aqui quase com

[começo tímido na minha face

começa e acaba - onde? onde? Em ti eu cessaria;
mas assim esforço o coração, corro torrencial, e nunca
o espaço tem bastante.

[ Paris, Março de 1913.] (392)

Rainer Maria Rilke
in Esboços, Fragmentos e Primeiras
Versões das Elegias de Duíno
Editorial Inova Limitada


terça-feira, 22 de setembro de 2009

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Frases

Quando o mundo estiver reduzido a
um só bosque negro para os nossos quatro
olhos espantados - a uma praia para duas
crianças fiéis - a uma casa musical para
a nossa clara simpatia - encontrar-vos-ei.

Quando só haja aqui um velho solitário,
belo e calmo, rodeado de um «luxo
inaudito» - a vossos pés estarei.

Quando eu assumir a vossa ânsia
toda - seja eu aquela que vos estran-
gula - e estrangular-vos-ei.

------

Quando somos muito fortes - quem
foge?muito alegres - quem cai no ridí-
culo? Quando somos muito maus, que
fariam de nós?

Alindai-vos, dançai, desatai a rir.- Eu
nunca poderia atirar o Amor pela janela.

(...)

Jean-Arthur Rimbaud
in Iluminações
Estúdios Cor
Tradução Mário Cesariny

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

18

Água apressada que corre - sem memória -,
que a terra distraída bebe,
duvida, só por um instante, na minha mão vazia,
lembra-te!

Claro e rápido amor, indiferença,
quase ausência que corre,
entre teu excesso de ficar e de partir,
tem arrepios de permanência.

Rainer Maria Rilke
in Frutos e Apontamentos
Relógio D´Água, 1996

Jardim da ESTRELA

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

(a influência da poesia sobre a nossa vida interior)

"Ela pode nos tornar de tempos em tempos mais conscientes dos sentimentos profundos e anónimos que constituem o substrato de nosso ser no qual penetramos raramente, porque nossas vidas são sobretudo, uma evasão constante de nós mesmos."

Thomas Stearns Eliot

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A Máscara

«Tira essa máscara de ouro ardente
E olhos de esmeralda.»
«Oh não, meu amor, atreves-te demasiado
A ver se um coração é selvagem e sábio,
Sem ser frio.»

«Só quero ver o que houver para ver,
O amor ou o engano.»
«Foi a máscara o que ocupou a tua mente,
E fez bater o teu coração,
Não o que está por detrás.»

«Mas a não ser que sejas minha inimiga
Devo inquirir.»
«Oh não, meu amor, deixa tudo ser como é;
Que importa, se entretanto houver fogo
Em ti e em mim?»

W. B. Yeats
in Uma Antologia
Assírio & Alvim, 1996

Princípios de Novembro de 1910

«Mas esquecer não é a palavra que convém aqui...A memória deste homem não sofreu mais do que a sua força de imaginação. Quanto a remover montanhas, nem a sua memória nem a sua imaginação o podem; este homem, é necessário reconhecê-lo, mantém-se fora do nosso povo, fora da nossa humanidade, não cessa de ser esfomeado, só o instante lhe pertence, o instante ininterrupto da calamidade, instante que não é seguido de nenhuma faísca, de nenhum momento de reconforto;há apenas sempre uma mesma coisa: as suas dores, mas no mundo inteiro nenhuma outra coisa que se possa fazer passar por remédio, não há mais solo do que aquele que podem cobrir as suas mãos, tem portanto menos do que o trapezista do Music- Hall, para o qual se tomou o cuidado de estender uma rede acima do solo».

Franz Kafka
in Antologias De Páginas Íntimas
Guimarães Editores

sábado, 12 de setembro de 2009

Depeche Mode - Personal Jesus

O meu olhar escurece sempre que fechas a porta,
a mais sombria partida que o meu coração não aguenta.
Desço o Oriente até encontrar o poente do sol nos teus olhos,
bordo a febre que me habita o coração, perco os dias só neste cansaço.

[ A minha mão que escreve começou a tremer há dias...]

Descrente e enforcado no meu corpo doente,
tornei-me poeta sonâmbulo, e, aqui tenho notado que já não espero alento.
Tudo o que me rodeia entristece o meu peito, e o revólver que aperto entre os dedos
é um desassossego dentro do meu monólogo de acesos tambores


espero...

por uma certa quantidade de atrito.

Ocupo-me com o absurdo das horas vagas.
Não mudo o braço direito para o meu lado esquerdo
onde o chá de barbas de milho arrefece ao pé da lareira
quase apagada - e, diz-me quem sabe, que o tempo
é uma aragem: passa e só tardiamente damos conta que passou.

Acendo o cigarro que se alimenta do fumo dessas comédias dos mortos vivos.
Oiço no café, as explosões da segunda guerra mundial, cristalizada nos olhos dentados de vazio -
negrume aflição - e, são tantas as estátuas de mármore sentadas à espera de movimento;

por dentro, quem sabe o que choram, o que dizem,
o que gritam? Sabê-lo arruinaria a minha alma cansada de aspirar cansaço...

Deito-me na nuvem da noite e finjo encontrar a luz saciada de lugares.

No estreito desfiladeiro, analiso os homens miseráveis até ao fundo
e, por isso, a minha mão que escreve começou a tremer há dias...

caiu o lenço que conhecia a lágrima de esperança.
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