Tenho uma pele cor de fumo avermelhado, cor de mulo,
tenho um chapéu de miolo de sabugueiro coberto de tela
branca.
Meu orgulho é que a minha filha seja belíssima quando dê
ordens às mulheres negras,
minha alegria, que ela desnude um braço branquíssimo entre
suas galinhas negras,
e não se envergonhe de minha bochecha rude sob a barba,
quando volto a casa enlameado.
*
E primeiro lhe dou meu chicote, minha cabaça e meu chapéu.
Sorrindo, ela desculpa-me a cara encharcada; e leva ao rosto
minhas mãos, que engordurei provando a amêndoa de cacau,
o grão de café.
E depois ela me traz um lenço de cabeça farfalhante; e minha
roupa de lã; água pura para limpar meus dentes de silencioso:
e a água de minha bacia lá está; e escuto a água do tan-
que na cabana da água.
*
Um homem é duro, sua filha é doce. Que elas se encontre
sempre,
ao voltar ele, no mais alto degrau da casa branca,
e livrando seu cavalo do aperto dos joelhos,
ele esquecerá a febre que repuxa toda a pele do rosto para
dentro.
*
Gosto também de meus cães, do apelo de meu melhor cavalo,
e de ver no extremo da reta alameada meu gato sair de casa
em companhia da macaca...
coisas essas suficientes para não invejar as velas dos veleiros
que percebo no alto do teto de zinco sobre o mar, como um
céu.
Saint-John Perse
in Obra Poética
Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1973
Trad. Darcy Damasceno
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Liliana sempre soube das surpresas e elas sucedem com o habitual sentir tão particular do seu blog. Serei um leitor interessado de escolhas e partilhas. Obrigado.
ResponderEliminarEste livro tem um senão: é de edição/tradução brasileira. Mantive-me fiel à mesma, embora, pareça que há uma certa beleza que se perde no texto...
ResponderEliminarA nossa língua, a meu ver, é mais rica e sublime na palavra.
Concordo inteiramente, nas traduções dos poetas ingleses nota-se imenso a diferença. vou ler um pouco mais deste poeta na língua original. há um site www.sjperse.org que encontrei e vou explorar.
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