Aborrecia-se um Príncipe porque apenas se dedicara ao aperfeiçoamento das
generosidades vulgares. Do amor, ele esperava espantosas revoluções, e suspei-
tava de que as suas mulheres podiam dar-lhe mais do que uma complacência
coroada de céu e luxo. Queria ver a verdade, a hora do desejo e da satisfação
essenciais. Fosse ou não fosse, isto, uma aberração mística, ele assim o quis.
Dispunha, pelo menos, de largos poderes humanos.
Todas as mulheres que possuíra foram assassinadas. Que estrago no jardim da
beleza! Sob o sabre, elas abençoaram-no. Não encomendou novas mulheres. - As
mulheres reapareceram.
Matou todos aqueles que o seguiam quando vinha da caça ou das libações . -
Todos o seguiam.
Divertiu-se a degolar animais raros. Mandava incendiar os palácios. Precipi-
tava-se sobre as pessoas e cortava-as às postas. - A multidão, os tectos de ouro,
os belos animais subsistiam.
Podemos extasiar-nos na destruição, rejuvenescer na crueldade! O povo não
murmurou. Ninguém ofereceu o concurso de uma opinião.
Uma noite, galopava ele altivamente, saiu-lhe ao caminho um Génio de uma
beleza inefável, inconfessável, até!Da sua fisionomia e do seu porte nascia a
promessa de um amor complexo e múltiplo, de uma felicidade inexprimível,
insuportável, até! O Príncipe e o Génio aniquilaram-se provavelmente na saú-
de primordial. Como poderiam ter sobrevivido? Juntos, tiveram de morrer.
Mas o Príncipe faleceu no seu palácio, muitos anos depois. O Príncipe era o
Génio. O Génio era o Príncipe.
Falta ao nosso desejo música sábia.
Jean-Arthur Rimbaud
in Iluminações
Estúdios Cor
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
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