quinta-feira, 13 de agosto de 2015

vou buscar-te ao fim da tarde,
porque a noite só escurece contigo ao
meu lado, porque a noite aprende por ti
o caminho aberto das estrelas

vou buscar-te ao fim da tarde,
e verás como preparei a casa, como
escolhi a música, como, enfim, espalhei
os objectos mais impressionados contigo,
os que ganharam vida por se interporem
na espessura estreita que vai do meu
ao teu coração

e não mais te devolvo, correndo todos os
riscos de não amanhecer nunca
numa loucura propositada por ti

não mais te devolvo,
ocuparás o mundo debaixo e sobre mim,
e não haverá mais mundo sem que seja assim

Valter Hugo Mãe

Nietzsche, Heidegger e Sartre




''O documentário é conduzido por Alain de Botton, escritor e produtor residente em Londres, famoso por popularizar a filosofia e divulgar o seu uso na vida quotidiana. A obra tem a marca da BBC.

Botton iniciou um doutoramento em filosofia francesa em Harvard, mas acabou por optar por escrever ficção. Para além de escrever possui a sua própria produtora, a Seneca Productions, que transmite regularmente programas e documentários de televisão, baseados nos seus trabalhos.

Humano Demasiado Humano - Jean-Paul Sartre: O Caminho Para a Liberdade 

Neste episódio é abordada a vida e a obra do mais famoso filósofo existencialista europeu, Jean-Paul Sartre (1905-1980). O homem que passou a vida a desafiar a lógica convencional amava os paradoxos. O documentário expõe estes paradoxos da sua vida e da sua obra, ao mesmo tempo em que ambos são questionados. A pergunta central que é colocada é: Se o ser humano é livre para fazer o que quiser, como justifica Sartre, então como devemos viver as nossas vidas no dia-a-dia?





Humano Demasiado Humano - Martin Heidegger: Projeto Para Viver 


O projecto do tratado Ser e Tempo, foi publicado em 1927 no mesmo ano que Minha Luta (Adolf Hitler). Este programa examina a vida e a filosofia de Martin Heidegger, descreve a sua ascensão a proeminência intelectual, expondo os motivos do seu envolvimento no partido Nazi. Entrevistas com o seu filho, Hermann Heidegger, George Steiner autor de uma influente critica da sua filosofia, contado também com o seu biógrafo Hugo Ott; e ex-aluno de Hans-Georg Gadamer, fornecem novas ideias enquanto se faz uma reconstrução dos momentos chaves da vida de Heidegger. Vida e história de um homem cujos apologistas e os antagonistas ainda amargamente se dividem.


Humano Demasiado Humano - Friedrich Nietzsche: Além do Bem e do Mal 

A semente do pensamento disseminado por Nietzsche no século 19 prefigurava o piloto do século 20 sobre os conceitos do existencialismo e da psicanálise. Este programa conta com entrevistas de grandes estudiosos do pensamento do Nietzsche sendo eles: Ronald Hayman e Leslie Chamberlain (biógrafos de Nietzsche), Andrea Bollinger (arquivista), Reg Hollingdale (tradutor), Will Self (escritor) e Keith Ansell Pearson (filosofa) que sonda a vida e os escritos de Nietzsche. Além de mostrar também o papel da irmã de Nietzsche na edição das suas obras para o uso como propaganda nazi. Conta também com partes de prosas aforísticas extraídas de obras como a parábola de um louco e assim falou Zaratustra.''




Ver Aqui a informação.


   «Sentia desejos de se abrir todo para que ela o examinasse, para que a rapariga visse o que nele havia escondido, mesmo coisas que ele próprio não sabia.
   «Assim estaria certo» , pensou ele. « Ela saberia então que homem sou eu; e se o soubesse, faria parte de mim.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 57

«A meio do chicote esvoaçava um laço de fita vermelha.»


John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 54

"The Red Shoes" , 1948


"Trust Me"


Trust in me, baby, give me time, gimme time, um gimme time.
I heard somebody say, oh, "The older the grape,
Sweeter the wine, sweeter the wine."

Oh, my love is like a seed, baby, just needs time to grow,
It's growing stronger day by day, yeah,
That's the price you've got to pay.

Trust in me, baby, give me time, gimme time, please, a little more time.
Takes a road runner just a little bit uh-longer, dear,
Oh, to make up my mind, I gotta make up my mind.
Oh, my love is like a seed, baby, just needs time to grow,
It's growing stronger day by day,
That's the price that we both got to pay.

I gotta know, know that I'm ready, oh ready to settle down,
'Cause I think too much of your loving, baby,
Yeah, I don't wanna mess your life around!

So if you love me like you tell me that you're doing, dear,
You shouldn't mind paying the price, any price, any price.
Love is supposed to be that special kind of thing,
Make anybody want to sacrifice.
Oh, my love is like a seed, baby, just needs time to grow,
It's growing stronger day by day,
That's the price we both gotta pay.

Trust in me baby, trust in me baby,
Trust in my love, in my heart.
Keep the faith, baby, keep the faith in me, dear, in my love.
Don't turn your face away from me, dear, oh you leave a lost girl,
Oh, don't turn your love away, no no no no no no no,
You gotta believe in me, baby, yeah, trust me dear, oh...


Writer(s): Tervald Henrik Mats Anderson, Peter Johansson, Martin Olof Ankelius, Bobby Womack
"The Last Time"


Make it the last time, make it the last time
Make it the last time, oh darling please.

But I don't understand why you always pick the time
When I've just talked to you with your love on my mind.
To see a distant light, to hear a far-off horn
To leave me one more time, I can't stand no more

Say no more, well no more,
Well no more, darling, please.

And every time you leave I make the very same vow
That when you come back I ain't gonna love you no how.
But when you return you look so fine to me
I can't stand no more, my darling, it's just got to be

I said the last time, oh the last time,
Oh the last time, darling, please.

Don't you understand me, don't you understand me ?
Honey, don't you understand my word ?

Well, you told me that you love me, I believed you, darling,
But you lied, you know it's true.
Hold on to my heart, I'll believe it till you're leaving
Then I'll cry.

Oh darling, oh darling,
Oh darling, make up your mind

Oh, I can't stand your loving, honey, it's tearing me apart,
You done got my soul, but now you're after my heart.
Well, don't hurt me, darling, now you know how to do it so well
I just got one consolation, I just wail

It was the last time
It was the last time
It was the last time, darling, please.

When you told me that you love me I believed you, darling,
But you lied, you know it's true.
Hold on to my heart, I'll believe it till you're leaving
Then I'll cry.

Well no more, well no more,
Well no more without you, please!

If you wanna love me, honey, please stay home,
If you don't wanna love me, baby, please stay gone.
Don't you understand me, don't you understand me ?
Don't you understand my words ?

Say no more, oh no more,
Well no more, oh, darling, oh!

You told me that you love me I believed you, darling,
But you lied, you know it's true.
Hold on to my heart, I'll believe it till you're leaving
Then I'll cry, yeah.



Writer(s): Janis Joplin
"Intruder"


You come around here
Trying to make your demand.
You've got a need, darling,
I've seen it grow and expand.

Yeah, you want to reveal my life
With your own two hands.
Well, tell me now
What are you trying to do ?

Those holes in your life
Show what you require.
You're needin' new eyes,
Oh Lord, honey take any wire ?

Yeah you've gotta save us all
Before the next big fire.
Tell me now
What are you trying to do ?

Walked in my life,
Child, and I don't even know your name.
You put others around behind ya
As if they were lame.

You insist a simple feeling
Will be all the same.
Well, tell me now
What are you trying to do ?

Now I look like I'm suffering,
N-n-n-n-n-n-now I'm doing fine.
One look at yourself baby,
Child, I got you alive.

Yeah, you're gonna take care of yours,
I'll take care of mine.
What are you trying to do ?
Hey!



Writer(s): Janis Joplin
«Seria um bom lugar para onde fugir, longe da dor ou da mágoa, do desapontamento ou do medo», pensou ele. «Mas agora não tenho necessidade disso. Não preciso de fugir de qualquer dessas coisas. Mas não me posso esquecer daquele lugar.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 54

''triturar de ossos''


PLANO A


Estou nua ao abrir-te a porta, entra
e arrasta-me até à parede,
lambe-me a boca, és um cão, e
abocanha-me os mamilos, erectos, 
depois, apalpa-me a cona com a mão toda
e com os dedos, afasta-me os grandes lábios,
directa ao clítoris, com intenção,
e esfrega-o, hábil, nesse tarefa de fornicar mulheres, encurralando-as,
com o teu corpo, dá-me com toda a força contra o muro,
até escorrer água da pele que não sua, nunca,
e escorregar até ao chão, onde de barriga para baixo,
e me enfias os dedos e me fodes os buracos todos.
As palavras acabarão por vir.
Cláudia Lucas Chéu (inédito.)

Vagina

A palavra vagina vem do latim “vaginae”, e significa bainha.
Esta noite preciso de outro verão sobre a boca
crescendo nem que seja de rastos.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

gabarolices


«Há um segredo nele que faz com que tudo o que eu pense ou faça seja sujo. Já ouvi mencionar o segredo, mas não o compreendo.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 35

Orientava a esposa com mão bíblica e decisiva.


«Orientava a esposa com mão bíblica e decisiva. Expunha-lhe metodicamente aquilo que pensava e dominava-lhe as emoções quando ela se exaltava.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 31

«Quando um dos cães atacou, enraivecido, o quati e perdeu uma vista na luta, Thomas não se deixou cair em sentimentalismos. Raspou-lhe o resto do olho com um canivete e beliscou-lhe uma pata, para lhe fazer esquecer a dor.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 29
A JANELA
tu és o meu pão
e o ruído
imperceptível
dos meus ossos
és quase
o mar
não és pedra
nem som fundido
julgo
que não tens mãos
esta espécie de ave voa para trás
e este amor
parte-se numa vidraça
onde nenhuma luz fala
não é altura
de cruzar línguas
(a areia aqui
nunca se altera)
acho que
o amanhã
te virou com
a ponta do pé
e que irás
ficar
a brilhar
inexaurível e clandestino

Diane di Prima 
(tradução de Vasco Gato)
«Ignoro porque és tão duro para aqueles que te amam,»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 203

"Man Of Constant Sorrow"

I am a man of constant sorrow
I've seen trouble all my days
I'll say goodbye to Colorado
Where I was born and partly raised.

Your mother says I'm a stranger
My face you'll never see no more
But there's one promise, darling:
I'll see you on God's golden shore.

Through this open world I'm about to trouble
Through ice and snows, sleet and rain
I'm about to ride that morning railroad
Perhaps I'll die on that train.

I'm going back to Colorado
The place that I started from
If I had known how bad you'd treat me honey
I never would have come.

Bob Dylan

"In My Time Of Dyin'"



Well, in my time of dying don't want nobody to mourn
All I want for you to do is take my body home
Well, well, well, so I can die easy
Well, well, well
Well, well, well, so I can die easy
Jesus gonna make up, Jesus gonna make up
Jesus gonna make up my dying bed.

Well, meet me Jesus, meet me, meet me in the middle of the air
If these wings should fail to me,
Lord, won't you meet me with another girl ?
Well, well, well, so I can die easy
Well, well, well
Well, well, well, so I can die easy
Jesus gonna make up, Jesus gonna make up
Jesus gonna make up my dying bed.

Lord, in my time of dying don't want nobody to cry
All I want you to do is take me when I die
Well, well, well, so I can die easy
Well, well, well
Well, well, well, so I can die easy
Jesus gonna make up, Jesus gonna make up
Jesus gonna make up my dying bed.


Bob Dylan

"She's No Good"

Well, I don't know why I love you like I do
Nobody in the world can get along with you
You got the ways of a devil sleeping in a lion's den
I come home last night you wouldn't even let me in.

Oh sometimes you're as sweet as anybody want to be
Oh when you get the crazy notion of jumping all over me
Well, you give me the blues, I guess you're satisfied
When you give me the blues I wanna lay down and die.

I helped you when you had no shoes on your feet, pretty mama
I helped you when you had no food to eat
Now you're the kind of woman that just don't understand
You're taking all my money and give it to another man.

Well, you're that kind of woman makes a man lose his brains
You're that kind of woman drives a man insane
Well, you give me the blues, I guess you're satisfied
You give me the blues, I wanna lay down and die.


Bob Dylan

«A Grécia jazia diante dos seus olhos, coberta de sangue.»


Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 199

''epitalâmios do meu país''


Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 188

raios e coriscos

figurado
 palavras violentas, injúrias, ralhos e descomposturas

«Não passas dum anjo incapaz de sofrer, incapaz de pecar, prisioneiro do Paraíso até à consumação dos séculos.»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 187

Tsamiko (Dance of the Chams - Dance of the Klephts)

«Receio-te, o teu poder faz-me tremer. Não passo dum homem e sofro. Sou grego, deves escutar-me. Deixa-me ao menos gritar o meu sofrimento para aliviar o coração.»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 183

''beijou uma pedra manchada de sangue''

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 183

« - Não me faças perguntas. Onde queres tu chegar?
    -Quero tocar-te o coração, se ainda o tens.»


Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 179

terça-feira, 11 de agosto de 2015

"Li por crises. Algumas duraram dois anos. Nesses casos, era obrigada a ler de dia nas grandes bibliotecas universitárias de Paris. É caso para perguntar por que aberração as grandes bibliotecas públicas estão fechadas de noite. Raramente li em praias e jardins. Não se pode ler com duas luzes simultâneas, a do dia e a do livro. Lê-se à luz eléctrica, com o quarto na penumbra, apenas a página iluminada."

Marguerite Duras, in 'O Mundo Exterior', trad. Clarisse Tavares, Lisboa, Livros do Brasil, 1995
"Falemos de casas coM janelas viradas para dentro. Falemos de casas sem lados, casas redondas, casas vazias. Falemos de casas que são ruas e ruas que são casas. Falemos desse mendigo aconchegado à geada, da puta que pernoita atrás de um balcão de crimes potenciais. Falemos das novas estrelas de David com que te marcaram a liberdade. As casas dos poetas sem terra, sem lugar, dos lugares sem sítio, dos poetas sitiados."

Henrique Bento Fialho. In 
Estranhas Criaturas

METAMORFOSES, um filme de CHRISTOPHE HONORÉ from Leopardo Filmes on Vimeo.

«Uma rapariga é abordada por um rapaz belo mas muito estranho. Deixa-se seduzir pelas suas histórias. Histórias sensuais e maravilhosas nas quais os deuses se apaixonam por jovens mortais. O rapaz propõe à rapariga que o siga. Honoré assina neste novo filme uma adaptação contemporânea e arrojada da obra clássica de Ovídio.»


“Christophe Honoré propõe-nos, com este filme-manifesto, a derradeira e mais bela das metamorfoses.”
Jean-Baptiste Morain, Les Inrockuptibles


“Uma adaptação literária delicada e discreta que esconde muitas ideias por detrás da sua superfície cintilante”
Boyd van Hoeij, The Hollywood Reporter
«Tinha um vago verniz de instrução e, quando não via pela frente padre Yannaros, afoitava-se a exprimir o que pensava.»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 170
 «Quando se é Deus, porque se há-de armar em cordeiro?»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 169

"Um mar calmo nunca fez um bom marinheiro."



“Amadurecer é ter cuidado com o que se diz, respeitar o que se ouve e meditar sobre o que se pensa”

«Construíste a tua casa
emplumaste os teus pássaros
golpeaste o vento
com os teus próprios ossos
terminaste sozinha
aquilo que ninguém começou»


Alejandra Pizarnik. Antologia Poética

segunda-feira, 10 de agosto de 2015


«Dentro do sonho disseste:
Beijemo-nos então,
Neste quarto, nesta cama,
Mas quando tudo terminar
Não voltaremos a ver-nos.

Ao ouvir estas últimas palavras,
Não havia parição nocturna de ovelhas,
Pássaro levado pela ventania
Nem raiz cingida pela geada
Tão frios como o meu coração.»


Philip Larkin
(tradução de Vasco Gato)
"Apaixona-me tanto a leitura que às vezes penso que é como a outra paixão, a escrita, nada mais que o reverso do tapete"



 “A literatura é a arte a que dedicamos nossas vidas”




Virginia Woolf
Estende a tua mão
herberto hélder

estende a tua mão contra a minha boca e respira,
e sente como respiro contra ela,
e sem que eu nada diga,
sente a trémula, tocada coluna de ar
a sorvo e sopro,
ó
táctil, ininterrupta,
e a tua mão sinta contra mim
quanto aumenta o mundo

in a faca não corta o fogo







"A única salvação do que é diferente é ser diferente até o fim, com todo o valor, todo o vigor e toda a rija impassibilidade; tomar as atitudes que ninguém toma e usar os meios de que ninguém usa; não ceder a pressões, nem aos afagos, nem às ternuras, nem aos rancores; ser ele; não quebrar as leis eternas, as não-escritas, ante a lei passageira ou os caprichos do momento; no fim de todas as batalhas — batalhas para os outros, não para ele, que as percebe — há-de provocar o respeito e dominar as lembranças; teve a coragem de ser cão entre as ovelhas; nunca baliu; e elas um dia hão-de reconhecer que foi ele o mais forte e as soube em qualquer tempo defender dos ataques dos lobos."

Agostinho da Silva, Diário de Alcestes
Um outro tanto
Maria Teresa Horta


Não sei como consigo
amar-te tanto
se querer-te assim na minha fantasia

é amar-te em mim
e não saber já quando
de querer-te mais eu vou morrer um dia

perseguir a paixão até ao fim é pouco
exijo tudo até perder-me
enquanto, e de um jeito tal que desconhecia
poder amar-te ainda
um outro tanto

in "Inquietude" quasi (06)

«As estrelas, incrustadas no manto cinzento de aço no céu, pareciam lutar, a tremeluzir, contra a noite.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 20

«As mentiras são todas iguais, sejam elas quais forem. Se o senhor engolir essa aldrabice, ele passa a contar-lhe logo outra.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 19



«(...) ali mais adiante  rodeava cuidadosamente um penedo liso onde uma cobra cascavel costumava aquecer ao sol o seu sangue gelado.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 12

''significações obscuras e prometedoras''

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 11

ferraduras

sábado, 8 de agosto de 2015

Ansel Adams, 1939 Trailer Park Photos



«Há dias em que a minha alma é povoada de negros pressentimentos. Mas tu dás-me coragem; o amor triunfa da morte.»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 158

« 3 de Abril. - Desde anteontem, a vida parece-nos mais pesada. Entrevimos a felicidade que nos escapou. Compreendemos que bastaria uma coisa muito simples para voltarmos a ser homens. Mas essa coisa não se produziu e de novo nos tornámos bichos.»


Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 154

«Via-me já em Atenas, à porta do teu quarto; tu abrias, arremessavas-te para os meus braços e eu beijava-te a nuca, no sítio onde tens um sinal, sem poder falar, sufocado, tantas eram as coisas que te queria dizer»



Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 153

Ansel Easton Adams, Housing Development, South San Francisco, ca. 1964


''leões solitários''

«O homem nem nunca chega a nada de grandioso neste mundo se não subordina a sua vida a um princípio superior.»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 149/150
«Durante três dias fui feliz, porque já não sabia onde estava.»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 144

Dancing in your head


«(...) sob os seus cabelos louros, uma mancha vermelha alastrava na neve.»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 144
«Lembrei-me de repente do sonho que te contei há algumas semanas, o do peixe que invectivava Deus »

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 143
«Matar sem ódio, unicamente por medo, não julgo possível maior degradação.»


Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 141
«Fitávamos o fogo que morria e com ele os nossos corações.»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 139
I don’t know where I’m going, but I’m on my way.


Carl Sagan



"Tough Love"

It's already the time that you hold my mind, it's true
And I've been thinking bout what to say, or what to do
So you wanna be a man about it, do you?
And have you figured out all you wanted, have you?

[Pre-Chorus:]
When your heart becomes a million different pieces
That's when you won't be able to recognize this feeling

[Chorus 1:]
That's called tough love
That's called tough love
That's called tough love
That's called tough love

In the middle of the night, all I think about is you
I trail in all your clouds of glory, it's true
So you wanna be a man about it, do you have to?
And have you figured out all you wanted, have you?

[Pre-Chorus]

[Chorus 2:]
That's called tough love (tough love)
That's called tough love (tough love)
That's called tough love (tough love)
That's called tough love (tough love)

You'll have me crying out, crying out for more
You'll have me crying out, crying out for more
You'll have me crying out, crying out for more
You'll have me crying out, crying out for more

[Chorus 2]

pé aqui, pé acolá

«A verdade não era aquela que durante tanto tempo acumulou angústias no meu coração: a verdade era esta criatura recém-nascida da minha imaginação. Destruí a realidade através dessa imaginação, estava aliviado.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 138

«A serpente e o lírio»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 137

«Sentia um azedume e uns remorsos estranhos daquilo que fizera, do que não fizera; dir-se-ia que cometera um crime e que dava voltas e mais voltas em redor da minha vítima.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 134

Dmitry Rogozhkin, 'Between Them'


fábrica de sabão azul

«(...) as grandes almas são sempre perigosas.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 133
«Outro era um lírio virgem, pálido, melancólico, de grandes olhos azuis. Mãos com longos dedos; escrevia versos. Lembro-me de muito poucos e, quando os murmuro na minha solidão, os olhos enchem-se-me de lágrimas. Uma noite encontraram o jovem poeta enforcado numa oliveira, diante do mosteiro de Kaissariani.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 131

Ficava em casa dela até altas horas da noite


«Ficava em casa dela até altas horas da noite, falávamos de música, líamos poemas, o ar entre nós era um brasido, quando me inclinava sobre o seu ombro seguindo os versos de Keats e de Byron, respirava o odor quente, ácido, dos seus braços, o meu espírito turbava-se, Keats e Byron desapareciam e na pequena sala ficavam somente dois animais inquietos, um vestindo calças, outro um vestido.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 119

sexta-feira, 7 de agosto de 2015


anuviar


conjugação
verbo transitivo
1. cobrir de nuvens
2. toldar; carregar; escurecer
3. figurado entristecer

verbo pronominal
cobrir-se de nuvens; nublar-se
(...) Pedem tanto a quem ama: pedem
o amor. Ainda pedem
a solidão e a loucura.
Dizem: dá-nos a tua canção que sai da sombra fria.
E eles querem dizer: tu darás a tua existência
ardida, a pura mortalidade.
Às mulheres amadas darei as pedras voantes,
uma a uma, os pára-raios abertíssimos da voz.
As raízes afogadas do nascimento. Darei o sono
onde um copo fala
fusiforme
batido pelos dedos. Pedem tudo aquilo em que respiro.
Dá-nos tua ardente e sombria transformação.
E eu darei cada uma das minhas semanas transparentes,
lentamente uma sobre a outra.
(...)

Herberto Hélder
lugar (poema II)

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

"os últimos segredos,
o homem
regressando
com um livro,
o caçador tornando a caça
com um livro,
o camponês
lavrando
com um livro."

Pablo Neruda. ''Antologia Breve''
"O que é mais difícil não é escrever muito; é dizer tudo, escrevendo pouco" [Júlio Dantas]

«Criança louca que não deixámos crescer.»

Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 44

''pevides de eczema salgado''

Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 43

«Coração preso sem amante»

Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 42

''cravos de sangue''

«Aves negras voaram dos meus cabelos»

Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 41
«Abre as minhas mãos
Se puderes
E limpa-lhes o sangue das unhas cravadas
Com teu olhar
Com teu olhar branco de justiça sem balança.»

Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 39

MESMO NADA

Nada à minha volta
Nem a sombra de uma casa nem a folha de uma árvore
Ali em cima leio em letras brancas  sobre esmalte azul:
                                                 GABINETE DO DIRECTOR.

E há um telefone
Gosto dos telefones, dão a ilusão de companhia
É um cepo negro por onde a vida pode entrar.
Gabinete do director.
Lá dentro com ele está alguém e eu vou depois.
Sinto-me vazia como uma flor se deve sentir numa jarra
                                                                                         [com muita água

Que um pintor sem talento vai pintar.
Natureza morta sem frutos.
A solidão de ser recebida por um director.
Mais uma solidão - a hierarquia.


Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 37

James Karales (1930-2002), Passive Resistance Training, SNCC, gelatin silver print, 1960, ©2002 Monica Karales





«Adia-se a dor adia-se a morte»

Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 25

«Monstros de dor só de serem olhados»

Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 23

MORSE

Velha lacerada de trapos
Alpargatas de desprezos
Encardidos abandonos
De cada lado um saco de plástico
Sacos a abarrotar misérias
Como se tivesse dois cães a guardá-la
Castelã do passeio
Nada dissemos senão o olhar
De súbito hoje ela rasga o silêncio:
-Crianças e animais são os mais puros
Nós já não. Não acha?
Abriu a caverna da boca na pergunta
Acenei-lhe adeus como a dizer
Talvez que a amava mas que nada sabia
Mas que nada sabia fazer
Pela lepra do seu mistério
Ela ergueu então o desprezo já desinteressado
Da sua mão ossuda e cinzenta
Soube mais tarde que aqueles dois sacos (com trapos)
Eram todos os seus bens caminhava com eles
Para que não fosse roubada
Tesouro público inquilina solitária do mundo
Lixo sem cotação seu corpo e seus bens
Lixo que incomoda e suja só de olhar
Quem te beijaria? Hoje nem um beijo de leve
Nós já não. Tem razão teu mistério



Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 22

«O cheiro do sabão amarelo como se fossem giestas»

Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 14
«A minha mão está aqui
Presa na seda»

Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 13

«Quando desaprendemos de esperar já morremos.»



Matilde Rosa Araújo. Voz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986

«Até que o tempo em Eco te converta.»

Camões
«Alguém disse um dia que as histórias só acontecem àqueles que são capazes de as contar. Do mesmo modo, talvez, as experiências só se apresentem àqueles capazes de as viverem.»

Paul Auster
, in A Trilogia de Nova Iorque
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