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sábado, 28 de janeiro de 2017

“e quando estiver recém-lavado o mundo/ nascerão outros olhos na água/ e crescerá sem lágrimas o trigo”

Pablo Neruda

“tudo deixou de ser, menos teus olhos”

Pablo Neruda
“trouxe o amor sua cauda de dores,/ seu longo raio estático de espinhos,/ e fechamos os olhos porque nada,/ para que nenhuma ferida nos separe”

Pablo Neruda

''amor-perfeito, de fome e de sede dela''

O amor de Neruda é um amor sem término

''O amor de Neruda é um amor sem término, um amor que “assim como não teve nascimento/ morte não tem, é como um longo rio,/ só muda de terras e de lábios” (NERUDA, 2016, p. 108). É um amor de marinheiro – o amor que o poeta ama -, pois os marinheiros “besan y se van./ Dejan una promesa./ No vuelven nunca más”. O amor do poeta é “el amor que se reparte/ en besos, lecho y pan./ Amor que puede ser eterno/ y puede ser fugaz./ Amor que quiere libertarse/ para volver a amar./ Amor divinizado que se acerca/ Amor divinizado que se va”; amor que sabe que há horas de partir, amor de naufrágios.''
“nega-me o pão, o ar,/ a luz, a primavera,/ mas nunca o teu riso,/ porque então morreria”

Pablo Neruda

“tua beleza e tua pobreza/ de dádivas encheram o outono”

Pablo Neruda
“teus quadris imponham na água/ uma medida nova de cisne ou de nenúfar/ e navegue tua estátua pelo cristal eterno”

Pablo Neruda
“quando antes de amar-te me esqueci de teus beijos/ meu coração ficou recordando tua boca”

Pablo Neruda

Não te quero senão porque te quero – Pablo Neruda

Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.
Talvez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.
( Pablo Neruda )

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A Essência da Poesia

«Não aprendi nos livros qualquer receita para a composição de um poema; e não deixarei impresso, por meu turno, nem sequer um conselho, modo ou estilo para que os novos poetas recebam de mim alguma gota de suposta sabedoria. Se narrei neste discurso alguns sucessos do passado, se revivi um nunca esquecido relato nesta ocasião e neste lugar tão diferentes do sucedido, é porque durante a minha vida encontrei sempre em alguma parte a asseveração necessária, a fórmula que me aguardava, não para se endurecer nas minhas palavras, mas para me explicar a mim próprio. Encontrei, naquela longa jornada, as doses necessárias para a formação do poema. Ali me foram dadas as contribuições da terra e da alma. E penso que a poesia é uma acção passageira ou solene em que entram em doses medidas a solidão e solidariedade, o sentimento e a acção, a intimidade da própria pessoa, a intimidade do homem e a revelação secreta da Natureza. E penso com não menor fé que tudo se apoia - o homem e a sua sombra, o homem e a sua atitude, o homem e a sua poesia - numa comunidade cada vez mais extensa, num exercício que integrará para sempre em nós a realidade e os sonhos, pois assim os une e confunde. E digo igualmente que não sei, depois de tantos anos, se aquelas lições que recebi ao cruzar um rio vertiginoso, ao dançar em torno do crânio de uma vaca, ao banhar os pés na água purificadora das mais elevadas regiões, digo que não sei se aquilo saía de mim mesmo para se comunicar depois a muitos outros seres ou era a mensagem que os outros homens me enviavam como exigência ou embrazamento. Não sei se aquilo o vivi ou escrevi, não sei se foram verdade ou poesia, transição ou eternidade, os versos que experimentei naquele momento, as experiências que cantei mais tarde. De tudo aquilo, amigos, surge um ensinamento que o poeta deve aprender dos outros homens. Não há solidão inexpugnável. Todos os caminhos conduzem ao mesmo ponto: à comunicação do que somos. E é necessário atravessar a solidão e aspereza, a incomunicação e o silêncio para chegar ao recinto mágico em que podemos dançar com hesitação ou cantar com melancolia, mas nessa dança ou nessa canção acham-se consumados os mais antigos ritos da consciência; da consciência de serem homens e de acreditarem num destino comum. »

Pablo Neruda, in "Nasci para Nascer" (Discurso na entrega do Prémio Nobel)

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

"os últimos segredos,
o homem
regressando
com um livro,
o caçador tornando a caça
com um livro,
o camponês
lavrando
com um livro."

Pablo Neruda. ''Antologia Breve''

sábado, 14 de agosto de 2010

É muito cedo

Grave imobilidade do silêncio. Altera-o o cacarejo de um galo. Também a passada de um homem de trabalho. Mas o silêncio continua.
De repente, uma mão distraída no meu peito sentiu o latejo do meu coração. Não deixa de ser surpreendente.
E de novo - oh, os dias de outrora! -, as minhas recordações, as minhas dores, as minhas intenções caminham agachadas para se crucificarem nos caminhos de espaço e de tempo.
Assim, pode transitar-se com facilidade.



Pablo Neruda. Nasci para nascer. Publicações Europa-América. Trad de Eduardo Saló (texto em prosa), Dr. Mário Dionísio (poemas), 1878., p.20

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

[...] nasci para nascer, para impedir a passagem
daquilo que se aproxima, daquilo que me bate
no peito como um novo coração palpitante.


Pablo Neruda. Nasci para nascer. Publicações Europa-América. Trad de Eduardo Saló (texto em prosa), Dr. Mário Dionísio (poemas), 1878.
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