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quinta-feira, 6 de agosto de 2015

«Criança louca que não deixámos crescer.»

Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 44

''pevides de eczema salgado''

Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 43

«Coração preso sem amante»

Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 42

''cravos de sangue''

«Aves negras voaram dos meus cabelos»

Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 41
«Abre as minhas mãos
Se puderes
E limpa-lhes o sangue das unhas cravadas
Com teu olhar
Com teu olhar branco de justiça sem balança.»

Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 39

MESMO NADA

Nada à minha volta
Nem a sombra de uma casa nem a folha de uma árvore
Ali em cima leio em letras brancas  sobre esmalte azul:
                                                 GABINETE DO DIRECTOR.

E há um telefone
Gosto dos telefones, dão a ilusão de companhia
É um cepo negro por onde a vida pode entrar.
Gabinete do director.
Lá dentro com ele está alguém e eu vou depois.
Sinto-me vazia como uma flor se deve sentir numa jarra
                                                                                         [com muita água

Que um pintor sem talento vai pintar.
Natureza morta sem frutos.
A solidão de ser recebida por um director.
Mais uma solidão - a hierarquia.


Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 37

«Adia-se a dor adia-se a morte»

Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 25

«Monstros de dor só de serem olhados»

Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 23

MORSE

Velha lacerada de trapos
Alpargatas de desprezos
Encardidos abandonos
De cada lado um saco de plástico
Sacos a abarrotar misérias
Como se tivesse dois cães a guardá-la
Castelã do passeio
Nada dissemos senão o olhar
De súbito hoje ela rasga o silêncio:
-Crianças e animais são os mais puros
Nós já não. Não acha?
Abriu a caverna da boca na pergunta
Acenei-lhe adeus como a dizer
Talvez que a amava mas que nada sabia
Mas que nada sabia fazer
Pela lepra do seu mistério
Ela ergueu então o desprezo já desinteressado
Da sua mão ossuda e cinzenta
Soube mais tarde que aqueles dois sacos (com trapos)
Eram todos os seus bens caminhava com eles
Para que não fosse roubada
Tesouro público inquilina solitária do mundo
Lixo sem cotação seu corpo e seus bens
Lixo que incomoda e suja só de olhar
Quem te beijaria? Hoje nem um beijo de leve
Nós já não. Tem razão teu mistério



Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 22

«O cheiro do sabão amarelo como se fossem giestas»

Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 14
«A minha mão está aqui
Presa na seda»

Matilde Rosa AraújoVoz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986., p. 13

«Quando desaprendemos de esperar já morremos.»



Matilde Rosa Araújo. Voz Nua. Livros Horizonte, Lisboa, 1986
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