«(...) o adultério banalizado perdeu, além disso, muito do seu prestígio graças à facilidade do divórcio»
Marguerite Yourcenar. Posfácios. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 211
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domingo, 5 de março de 2023
domingo, 26 de fevereiro de 2023
«Depois de haver, segundo alguns, homologado o universo, e segundo outros provado Deus, ou pelo contrário, a sua inutilidade ( tais zé-ninguéns devem ser rejeitados a par), eis-me de cu assente na terra nua e, pendurados por cima da minha cabeça, os meus silogismos perfeitos e as minhas incontroversas demonstrações, alto demais, contudo, para que eu, num golpe de rins, me consiga agarrar a eles.»
Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 136/7
sexta-feira, 23 de dezembro de 2016
terça-feira, 11 de agosto de 2015
"Li por crises. Algumas duraram dois anos. Nesses casos, era obrigada a ler de dia nas grandes bibliotecas universitárias de Paris. É caso para perguntar por que aberração as grandes bibliotecas públicas estão fechadas de noite. Raramente li em praias e jardins. Não se pode ler com duas luzes simultâneas, a do dia e a do livro. Lê-se à luz eléctrica, com o quarto na penumbra, apenas a página iluminada."
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literatura,
marguerite duras
sexta-feira, 20 de março de 2015
OS INSOLENTES
"Maud ficou uns momentos à janela, com os braços estendidos sobre o parapeito, de cabeça pendurada, numa atitude semelhante semelhante à de uma criança ociosa. Mas estava pálida, e parecia mortificada pelo aborrecimento.
Quando se voltou para o quarto e fechou a janela o ruído do vale parou bruscamente, como se se fechasse a comporta num rio."
Quando se voltou para o quarto e fechou a janela o ruído do vale parou bruscamente, como se se fechasse a comporta num rio."
-"Os Insolentes"
- Marguerite Duras
- Marguerite Duras
quinta-feira, 19 de março de 2015
OLHOS AZUIS CABELO PRETO
"Excepto desse olhar há dias, já não se sabe, não acontece nada a não os movimentos do mar, as passagens da noite os choros.
Dormem, desviados um do outro.
É ela quem habitualmente cai primeiro no sono. Ele vê-a afastar-se, partir no esquecimento do seu quarto, da história. De todas as histórias."
Dormem, desviados um do outro.
É ela quem habitualmente cai primeiro no sono. Ele vê-a afastar-se, partir no esquecimento do seu quarto, da história. De todas as histórias."
-"Olhos Azuis Cabelo Preto"
- Marguerite Duras
- Marguerite Duras
DEZ HORAS E MEIA NUMA NOITE DE VERÃO
"Maria vive uma alegria feliz. Atrevem-se, agora. Enquanto a polícia passa, continuam a olhar-se. A expectativa resolve-se por fim, liberta. De todos os pontos do céu, de todas as ruas, daqueles que dormem, ali perto. Bastava-lhe o céu, a ela bastava-lhe o céu para adivinhar que era Rodrigo Paestra.
O horizonte surge por fim lavado. A tempestade lavou-o. Como uma foice, corta o trigo. Um vento frouxo seca as ruas. O tempo amansa, um belo,luminoso dia vai nascer. A noite corre ainda, total. São talvez possíveis soluções para as soluções para as incertezas da consciência. Tudo o leva a crer."
O horizonte surge por fim lavado. A tempestade lavou-o. Como uma foice, corta o trigo. Um vento frouxo seca as ruas. O tempo amansa, um belo,luminoso dia vai nascer. A noite corre ainda, total. São talvez possíveis soluções para as soluções para as incertezas da consciência. Tudo o leva a crer."
-"Dez Horas e Meia Numa Noite de Verão"
- Marguerite Duras
- Marguerite Duras
quarta-feira, 11 de março de 2015
"O meu livreiro dá-me conselhos. Ele conhece-me, sabe o género de livros de que eu gosto. O meu marido, esse, lê coisas científicas. Não gosta de romances, lê coisas muito difíceis de compreender... oh, não é que não gostasse de ler... mas neste momento... durmo...
Sou alguém que tem medo - continua Alissa - medo de ficar abandonada, medo do futuro, medo de amar, medo da violência, do número, do desconhecido, da fome, da miséria, da verdade."
Sou alguém que tem medo - continua Alissa - medo de ficar abandonada, medo do futuro, medo de amar, medo da violência, do número, do desconhecido, da fome, da miséria, da verdade."
-"Destruir, Diz Ela"
- Marguerite Duras
- Marguerite Duras
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
NUIT CHEZ MAUD
"A água estava tão fria que, momentos depois, Maud já não sentia os dedos. Retirou a mão e pousou-a na erva espessa que, por contraste, lhe pareceu tépida.
No silêncio que reinava perto do rio, ouviu o barulho dos seus próprios soluços. Pouco depois, quis dobrar as pernas; doeram-lhe; e aconteceu o mesmo quando quis levantar-se. Por isso, com cuidado, encolheu-as, em direcção à concavidade que fazia o corpo curvado, e achou que o movimento tinha uma certa doçura, foi como se tivesse pena de si própria."
No silêncio que reinava perto do rio, ouviu o barulho dos seus próprios soluços. Pouco depois, quis dobrar as pernas; doeram-lhe; e aconteceu o mesmo quando quis levantar-se. Por isso, com cuidado, encolheu-as, em direcção à concavidade que fazia o corpo curvado, e achou que o movimento tinha uma certa doçura, foi como se tivesse pena de si própria."
Marguerite Duras. Os Insolentes.
terça-feira, 4 de novembro de 2014
"Silêncio,e depois
Não disse o principal sobre a sua pessoa, a sua alma, os seus
pés, as suas mãos, o seu riso.
O principal para mim é deixar o seu olhar quando ele está só.
Quando está na desordem do pensamento.
É muito belo. É difícil saber.
Se começo a falar dele, nunca mais paro.
O principal para mim é deixar o seu olhar quando ele está só.
Quando está na desordem do pensamento.
É muito belo. É difícil saber.
Se começo a falar dele, nunca mais paro.
A minha vida é como incerta, mais
incerta, sim, do que a dele diante de mim.
Silêncio, e depois"
Marguerite Duras. É Tudo.
quarta-feira, 2 de julho de 2014
sábado, 19 de abril de 2014
protegida pela sua solidão
«Vira-a apenas a ela. Reconhecera as longas pernas queimadas pelo sol, o sorriso a nascer e a morrer na doçura profunda, aquela maneira de ser, aqueles olhos semicerrados, ela protegida pela sua solidão.»
Marguerite Duras. Emily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 158
Marguerite Duras. Emily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 158
«Eu disse-lhe que o amava. Você nunca respondia a essa espécie de insânia.»
Marguerite Duras. Emily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 150
«Olho para si. Você pergunta-me o que se passa, sempre algo alarmado quando eu o olho. Eu digo-lhe que não se passa nada, que olhava para si pelo prazer de olhar:
-Não sei se o amor é um sentimento. Às vezes penso que amar é ver. É vê-lo.»
Marguerite Duras. Emily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 147
-Não sei se o amor é um sentimento. Às vezes penso que amar é ver. É vê-lo.»
Marguerite Duras. Emily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 147
«Esqueci as palavras adequadas. Sabia-as e esqueci-as, e aqui falo-lhe com o esquecimento dessas palavras. Contrariamente a todas as aparências, eu não sou mulher que se entregue de corpo e alma ao amor de uma só pessoa, mesmo que ela fosse o ser mais adorado da sua vida. Sou uma pessoa infiel. Bem gostaria de reencontrar as palavras que tinha reservado para lhe dizer isto. Eis que relembro algumas delas. Queria dizer-lhe aquilo em que creio, é que seria preciso conservar sempre adiante de nós, aqui está, reencontro a palavra, um lugar, uma espécie de lugar pessoal, é isso, para nele estar só e para amar. Para amar não se sabe o quê, nem quem, nem como, nem por quanto tempo. Para amar, eis que todas as palavras me voltam à memória, de repente... para conservarmos o lugar de uma espera, nunca se sabe, da espera de um amor, de um amor sem ninguém ainda, talvez, mas disso e só disso, do amor. »
«Ela aproxima-se dele, pousa os lábios nos seus olhos fechados. Ela diz:
-Gostava muito de ficar aqui consigo até à noite.
Levanta-se, inclina-se para ele e pousa os seus lábios nos dele, demoradamente. Ficam assim, imóveis, o tempo necessário para se conhecerem para sempre. Depois ela afasta os lábios dos dele. E ele fica como ela o deixou, com o rosto entre as mãos, de olhos fechados.»
Marguerite Duras. Emily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 124
-Gostava muito de ficar aqui consigo até à noite.
Levanta-se, inclina-se para ele e pousa os seus lábios nos dele, demoradamente. Ficam assim, imóveis, o tempo necessário para se conhecerem para sempre. Depois ela afasta os lábios dos dele. E ele fica como ela o deixou, com o rosto entre as mãos, de olhos fechados.»
Marguerite Duras. Emily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 124
«Ela quer morrer. That's the point.É isso que ela quer, um capricho como outro qualquer.»
Marguerite Duras. Emily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 112
«Ele, o Captain, olha para ela a cada instante; ela não, já não olha para ninguém. Ele, na realidade, não a larga dos olhos, nunca. Ama-a ainda com todo o seu vigor sexual. Ela não. Ela já está noutras paragens, um pouco na morte, um pouco no riso também, e sabe Deus em que outros sítios. Assim, já nem tem força para escolher por si um homem. Mas todas as noites ela o consente em si.»
Marguerite Duras. Emily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 101
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