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sábado, 19 de abril de 2014

protegida pela sua solidão

    «Vira-a apenas a ela. Reconhecera as longas pernas queimadas pelo sol, o sorriso a nascer e a morrer na doçura profunda, aquela maneira de ser, aqueles olhos semicerrados, ela protegida pela sua solidão.»


Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 158
    «Você já não me amava, nessa altura. De certo, você nunca me amou. Você pensava abandonar-me, era para si uma questão de dinheiro, de ganhar dinheiro - você nunca dizia: ganhar a vida.»


Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 152

«Eu disse-lhe que o amava. Você nunca respondia a essa espécie de insânia.»

Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 150
    «Olho para si. Você pergunta-me o que se passa, sempre algo alarmado quando eu o olho. Eu digo-lhe que não se passa nada, que olhava para si pelo prazer de olhar:
     -Não sei se o amor é um sentimento. Às vezes penso que amar é ver. É vê-lo.»

Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 147
    «Esqueci as palavras adequadas. Sabia-as e esqueci-as, e aqui falo-lhe com o esquecimento dessas palavras. Contrariamente a todas as aparências, eu não sou mulher que se entregue de corpo e alma ao amor de uma só pessoa, mesmo que ela fosse o ser mais adorado da sua vida. Sou uma pessoa infiel. Bem gostaria de reencontrar as palavras que tinha reservado para lhe dizer isto. Eis que relembro algumas delas. Queria dizer-lhe aquilo em que creio, é que seria preciso conservar sempre adiante de nós, aqui está, reencontro a palavra, um lugar, uma espécie de lugar pessoal, é isso, para nele estar só e para amar. Para amar não se sabe o quê, nem quem, nem como, nem por quanto tempo. Para amar, eis que todas as palavras me voltam à memória, de repente... para conservarmos o lugar de uma espera, nunca se sabe, da espera de um amor, de um amor sem ninguém ainda, talvez, mas disso e só disso, do amor. »


Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 142/3
    «Ele não procura saber onde encontrá-la. Nem pensa ir encontrar-se com ela. Quer ficar só, para saber, para pensar nela, para amá-la.»


Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 126
    «Ela aproxima-se dele, pousa os lábios nos seus olhos fechados. Ela diz:
       -Gostava muito de ficar aqui consigo até à noite.
     Levanta-se, inclina-se para ele e pousa os seus lábios nos dele, demoradamente. Ficam assim, imóveis, o tempo necessário para se conhecerem para sempre. Depois ela afasta os lábios dos dele. E ele fica como ela o deixou, com o rosto entre as mãos, de olhos fechados.»


Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 124

«Ela quer morrer. That's the point.É isso que ela quer, um capricho como outro qualquer.»


Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 112
    «Ele, o Captain, olha para ela a cada instante; ela não, já não olha para ninguém. Ele, na realidade, não a larga dos olhos, nunca. Ama-a ainda com todo o seu vigor sexual. Ela não. Ela já está noutras paragens, um pouco na morte, um pouco no riso também, e sabe Deus em que outros sítios. Assim, já nem tem força para escolher por si um homem. Mas todas as noites ela o consente em si.»


Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 101

quarta-feira, 16 de abril de 2014

 « - Ele não quer que ela morra, ele proíbe-a de morrer, de certo modo, pelo facto de não querer a morte dela na vida dele, isso não, nunca.»


Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 105
«Fica muito tempo com os olhos baixos, depois, subitamente, olha-a demoradamente como faríamos perante uma paisagem perturbadora e inalcançável, a do mar ou do vazio do céu.»


Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 99

«Tão sós estavam no mundo, que já nada sabiam da solidão.»


Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 95

terça-feira, 15 de abril de 2014

«Era preciso proteger aquela criança contra si mesma, contra aquela obscuridade que, a seu ver, era tão legível que ela a confundia com a sua própria natureza.»


Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 74/5

Uma luz de um amarelo de iodo, sangrenta.

Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 74/5

She's always changing her mind...

«O Captain não queria ouvir falar dessas coisas. Deixava-a sem a ouvir. Não queria saber nada para além das generalidades. Recusava-se a entrar nos pormenores daquele mau humor.»

Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 74/5

Ela voltara a olhar para o chão, com vergonha de ter de morrer.


Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 71
 «-Estou-me completamente nas tintas  para o que você escreve, isso é lá consigo.
   -Sim, é comigo, só comigo. Seja como for, farei o que quiser.
   -Sim, seja como for, Você só faz aquilo que decide, tem esse defeito.
   -Não tenho outra saída. Você não me deixa outra saída. Eu também não.
   -Menos. Você deixa-me ainda menos.
   -Também é verdade.
   Continuámos a falar assim. E depois você disse:
   - O que nós preferimos é escrever livros, um acerca do outro - e rimo-nos.»


Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 62/3
« - O que me impede de escrever, é você. Você é muito infeliz por isso. Porque não escreve. Você não escreve porque sabe tudo acerca dessa coisa, essa coisa trágica que é escrever, fazê-lo ou não, não escrever, não conseguir fazê-lo, você sabe tudo. Você, é por ser um escritor que não escreve. Pode acontecer.»


Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 58
«Não percebo bem o que quer saber de mim. Eu digo o que sei, que certas histórias são inapreensíveis, que são feitas de estados sucessivos sem conexão entre eles. Que são as histórias mais terríveis, aquelas que nunca se confessam, que vivem sem qualquer certeza, nunca.»



Marguerite Duras. Emily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 33
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