terça-feira, 27 de setembro de 2011
Etiquetas:
1986,
9 1/2 Weeks,
Adrian Lyne,
cinema,
Kim Basinger,
marco iconográfico dos anos 80,
Mickey Rourke,
vídeos
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
«De um modo geral, descobri que numa desgraça, é uma grande prova de força uma pessoa ter que suportar continuamente a solidão. A solidão é mais forte que tudo e conduz-nos outra vez às pessoas. »
Franz Kafka. Os Aeroplanos Em Brescia E Outros Textos. Trad. Ana Maria Freire Damião. Edições «Livros do Brasil», Lisboa, 1988., p. 40
«Enquanto ainda estamos a entrar no buraco negro da estação de Brescia, onde as pessoas gritam como se o chão queimasse, exortamo-nos uns aos outros seriamente a permanecer unidos, aconteça o que acontecer. Não começámos nós a viagem, com uma espécie de hostilidade?»
Franz Kafka. Os Aeroplanos Em Brescia E Outros Textos. Trad. Ana Maria Freire Damião. Edições «Livros do Brasil», Lisboa, 1988., p. 14/15
domingo, 25 de setembro de 2011
«Ah, olha, olha a terra dava trigo!, era seu! E olhou à volta como que a defendê-lo: era seu!»
«Chegaram as primeiras águas, e o Giudé, ouvindo do seu abrigo nocturno marulhar a chuva, pensou que também naquele momento chovia sobre aquele seu pedaço de terra...Depois, com uma alegria que lhe punha lágrimas nos olhos, viu o grão germinar e surgir da terra húmida, tímidas, as primeiras espigas.Ah, olha, olha a terra dava trigo!, era seu! E olhou à volta como que a defendê-lo: era seu!»
Luigi Pirandello. Contos Escolhidos. Prefácio do Prof. Ricardo Averini. Selecção e tradução de Carmen Gonzalez. Editorial Verbo, Lisboa, 1972.,p. 68
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
«Tu que, brutal, regressas,
não rejuvenescida, mas mesmo renascida,
fúria da natureza, dulcíssima,
matas-me, homem já morto
por uma série de dias miseráveis,
debruças-te para os meus abismos reabertos,
dás um perfume virgem ao meu eclipse,
antiga sensualidade, estilhaçada, piedade
apavorada, desejo de morte...
Perdi as forças:
já não sei o que é ser racional;
a minha vida decadente atola-se
na tua religiosa decadência,
desesperada por ver apenas
crueldade neste mundo, e raiva na minha alma.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 255
não rejuvenescida, mas mesmo renascida,
fúria da natureza, dulcíssima,
matas-me, homem já morto
por uma série de dias miseráveis,
debruças-te para os meus abismos reabertos,
dás um perfume virgem ao meu eclipse,
antiga sensualidade, estilhaçada, piedade
apavorada, desejo de morte...
Perdi as forças:
já não sei o que é ser racional;
a minha vida decadente atola-se
na tua religiosa decadência,
desesperada por ver apenas
crueldade neste mundo, e raiva na minha alma.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 255
Etiquetas:
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poeta italiano
«Tudo o que em ti vive - e por ti em mim treme -
continua a ser gemido sufocado
de quem não se conhece, de quem não se diz.
Mas será possível amar
sem saber o que isso significa?»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 251
continua a ser gemido sufocado
de quem não se conhece, de quem não se diz.
Mas será possível amar
sem saber o que isso significa?»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 251
Etiquetas:
excerto,
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poeta italiano
«Não sei o que será
esta não-razão, esta pouca-razão: »
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 249
Etiquetas:
excerto,
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poeta italiano
Abulia
nome feminino
PATOLOGIA
alteração anormal da vontade caracterizada pela incapacidade de tomar decisões e
de agir;
abulia generalizada - abulia que incide sobre todas
as acções e todos os pensamentos;
abulia
localizada
- abulia que incide sobre um movimento de um membro;
abulia
sistematizada - abulia que incide sobre um acto particular ou um sistema de
actos
|
(Do grego aboulía, «irresolução; falta de
vontade»)
«Tu sabias que pecar não é fazer o mal:
não fazer o bem, isso sim, é que é pecar.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 239
Etiquetas:
excerto,
Pier Paolo Pasolini,
poesia
terça-feira, 20 de setembro de 2011
«A casa está cheia dos seus frágeis
membros de menina, e do seu cansaço:
mesmo à noite, quando tudo dorme, lágrimas
amargas tudo cobrem; e, ao voltar para casa,
uma piedade antiga e tremenda aperta-me
tanto o coração que me apetece gritar, ou matar-me.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 229
membros de menina, e do seu cansaço:
mesmo à noite, quando tudo dorme, lágrimas
amargas tudo cobrem; e, ao voltar para casa,
uma piedade antiga e tremenda aperta-me
tanto o coração que me apetece gritar, ou matar-me.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 229
Etiquetas:
excerto,
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poeta italiano
«o fascínio da morte - nada há,
neste mundo humano, que eu possa amar.
Tudo me faz sofrer: esta gente
servil que obedece a cada chamada
que aos seus senhores apraz fazer,
adoptando, sem suspeita, os mais infames
hábitos das vítimas predestinadas;
o cinzento das roupas pelas ruas cinzentas;
os gestos cinzentos em que parece gravada
a cumplicidade com o mal que a invade;
a sua agitação em redor de um bem-estar
ilusório, como um rebanho em redor de uma seara:
a sua regularidade de maré que alterna
multidões e desertos pelas ruas,
em fluxos e refluxos obcecados»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 221-223
neste mundo humano, que eu possa amar.
Tudo me faz sofrer: esta gente
servil que obedece a cada chamada
que aos seus senhores apraz fazer,
adoptando, sem suspeita, os mais infames
hábitos das vítimas predestinadas;
o cinzento das roupas pelas ruas cinzentas;
os gestos cinzentos em que parece gravada
a cumplicidade com o mal que a invade;
a sua agitação em redor de um bem-estar
ilusório, como um rebanho em redor de uma seara:
a sua regularidade de maré que alterna
multidões e desertos pelas ruas,
em fluxos e refluxos obcecados»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 221-223
Etiquetas:
excerto,
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poeta italiano
E nós?
«E nós? Ah, eu sei que em cada erro há um fermento
de verdade: o olhar mais turvo e mais escravo
pode tornar-se livre e límpido, para acolher
a vida em redor, maravilhosa porque existe
não só para os instintos, mas também
para o pensamento, que assiste - vencido,»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 199
de verdade: o olhar mais turvo e mais escravo
pode tornar-se livre e límpido, para acolher
a vida em redor, maravilhosa porque existe
não só para os instintos, mas também
para o pensamento, que assiste - vencido,»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 199
Etiquetas:
excerto,
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poeta italiano
« ...São os filhos
da fome, os filhos da revolta,»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 199
Etiquetas:
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poeta italiano,
versos soltos
« Porque havia esta
cansada recaída, esta escuridão.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 169
cansada recaída, esta escuridão.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 169
Etiquetas:
excerto,
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poeta italiano
« E eu,
na plateia de hoje, tenho uma serpente
a contorcer-se nas entranhas: e mil lágrimas
despontam em cada ponto do meu corpo,
dos olhos às pontas dos dedos,
da raiz dos cabelos até ao peito:
um choro desmedido, porque jorra
antes de ser compreendido, como se antecipasse
a dor.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 167
Etiquetas:
excerto,
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poeta italiano
«À minha volta,
nas origens, só havia a Língua das Fraudes
instituídas, das ilusões devidas,
que as primeiras angústias
de um menino, as paixões pré-humanas,
já impuras, não exprimia.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 161
nas origens, só havia a Língua das Fraudes
instituídas, das ilusões devidas,
que as primeiras angústias
de um menino, as paixões pré-humanas,
já impuras, não exprimia.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 161
Etiquetas:
escritor italiano,
excerto,
Pier Paolo Pasolini
«há uma astúcia demasiado ancestral naquelas veias...»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 153
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 153
Etiquetas:
Pier Paolo Pasolini,
poeta italiano,
verso solto
« E sinto náusea, horror, ódio por este homem que não sou eu, que nunca fui eu; por esta forma morta, de que sou prisioneiro e de que não posso libertar-me. Forma carregada de deveres que não sinto meus, oprimida por cuidados que não me importam nada, alvo de uma consideração com que nada tenho a ver; forma que é estes deveres, estes cuidados, esta consideração, fora de mim, acima de mim; coisas vazias, coisas mortas que pesam em cima de mim, me sufocam, me esmagam, e não me deixam respirar.»
Luigi Pirandello. Contos Escolhidos. Prefácio do Prof. Ricardo Averini. Selecção e tradução de Carmen Gonzalez. Editorial Verbo, Lisboa, 1972.,p. 56
Só podemos portanto ver e conhecer o que de nós está morto.
«Só se conhece quem consegue ver a forma que deu a si próprio, ou que os outros lhe deram, ou a sorte, ou as circunstâncias, ou as condições em que nasceu. Mas quando a podemos ver é sinal de que a nossa vida não está já dentro dessa forma; porque, se estivesse, não a veríamos; vivê-la-íamos sem a ver e morreríamos todos os dias dentro dela, que é já por si uma morte, sem a conhecer. Só podemos portanto ver e conhecer o que de nós está morto. Conhecer-se é morrer.»
Luigi Pirandello. Contos Escolhidos. Prefácio do Prof. Ricardo Averini. Selecção e tradução de Carmen Gonzalez. Editorial Verbo, Lisboa, 1972.,p. 55
«Quem vive, se vive, não se vê; vive...Se alguém vê a sua própria vida é sinal de que já não a vive; suporta-a, arrasta-a. Arrasta-a como uma coisa morta. Porque toda a forma é uma morte.»
Luigi Pirandello. Contos Escolhidos. Prefácio do Prof. Ricardo Averini. Selecção e tradução de Carmen Gonzalez. Editorial Verbo, Lisboa, 1972.,p. 55
Luigi Pirandello. Contos Escolhidos. Prefácio do Prof. Ricardo Averini. Selecção e tradução de Carmen Gonzalez. Editorial Verbo, Lisboa, 1972.,p. 55
«Os olhos fecharam-se-me a pouco e pouco, sem eu dar por isso, e continuei talvez no sono o sonho daquela vida que não nascera. Digo talvez, porque, quando despertei, todo dorido e com a boca amarga, ácida e árida, já próximo da chegada, achei-me de repente numa disposição completamente diferente, com uma sensação atrozmente nauseante da vida, numa tétrica e plúmbea estupefacção, na qual os aspectos das coisas habituais me apareceram como que vazios de todo o sentido, e no entanto de uma gravidade cruel, insuportável.»
Luigi Pirandello. Contos Escolhidos. Prefácio do Prof. Ricardo Averini. Selecção e tradução de Carmen Gonzalez. Editorial Verbo, Lisboa, 1972.,p. 53
«(...) a recordação indistinta, não de actos, não de aspectos, mas quase de desejos dissipados antes de nascidos; juntamente com uma dor de não ser, angustiosa, vã, e no entanto cruel, aquela que sentem talvez as flores que não puderam desabrochar;»
Luigi Pirandello. Contos Escolhidos. Prefácio do Prof. Ricardo Averini. Selecção e tradução de Carmen Gonzalez. Editorial Verbo, Lisboa, 1972.,p. 53
Luigi Pirandello. Contos Escolhidos. Prefácio do Prof. Ricardo Averini. Selecção e tradução de Carmen Gonzalez. Editorial Verbo, Lisboa, 1972.,p. 53
«Uma das minhas obrigações mais pesadas é não advertir o cansaço que me oprime, o peso enorme de todos os deveres que me são e me foram impostos, não ceder minimamente à necessidade de um pouco de distracção que a minha mente afadigada de tempos a tempos reclama. A única que posso conceder-me, quando me sinto excessivamente vencido pelo cansaço causado por um trabalho a que me entrego há muito tempo, é entregar-me a um novo trabalho.»
Luigi Pirandello. Contos Escolhidos. Prefácio do Prof. Ricardo Averini. Selecção e tradução de Carmen Gonzalez. Editorial Verbo, Lisboa, 1972.,p. 52
«Há qualquer coisa que une quem conhece a angústia
a quem não a conhece: o homem tem desejos humildes.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., pgs 143
a quem não a conhece: o homem tem desejos humildes.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., pgs 143
Etiquetas:
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poetas italianos,
versos soltos
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
«quem nunca nasceu não morre nunca.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., pgs 139
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., pgs 139
Etiquetas:
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poetas italianos,
verso solto
«Sinais impuros de que por aqui passaram
velhos bêbados de Ponte, antigas
prostitutas, bandos de malandrins
despudorados: rastos humanos,
impuros que, humanamente infectos,
vêm falar-nos, violentos e pacíficos,
desses homens, dos seus baixos prazeres
inocentes, dos seus míseros desígnios.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., pgs 135-137
velhos bêbados de Ponte, antigas
prostitutas, bandos de malandrins
despudorados: rastos humanos,
impuros que, humanamente infectos,
vêm falar-nos, violentos e pacíficos,
desses homens, dos seus baixos prazeres
inocentes, dos seus míseros desígnios.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., pgs 135-137
Etiquetas:
excerto,
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poetas italianos
domingo, 11 de setembro de 2011
Terra Di Lavoro
Já está próxima a Terra Di Lavoro,
algumas manadas de búfalas, alguns
amontoados de casas entre tomateiros,
heras e míseras estacas.
De vez em quando, um riacho, rasando
o solo, surge entre os ramos
dos ulmeiros carregados de vides, negro
como um esgoto. Dentro deste comboio
que segue a sua marcha, meio vazio, o gelo
outonal cobre a madeira triste,
as roupas molhadas: se lá fora
é o paraíso, aqui é o reino
dos mortos, passados de dor
em dor - sem suspeitarem de nada.
Aqui estão eles, nos bancos, nos corredores,
de queixo enterrado no peito,
costas apoiadas ao espaldar,
abocanhando um pedaço de pão
com unto, mastigando mal,
míseros e escuros como cães
devorando um naco roubado: e
se os olhares nos olhos, se lhes olhares
para as mãos, sobe-lhes à face um piedoso rubor,
em que inimiga se lhes descobre a alma.
Mas mesmo quem não come ou as suas histórias
não conta ao vizinho atento,
se o olhares, olha-te com o coração
nos olhos, aterrado, como se dissesse
que nada fez de mal,
que é inocente.
Uma mulher, de Fondi ou de Aversa, embala
uma criança adormecida num saco
de pele de cordeiro, e entretém-na
- se ela acorda do seu sono
dizendo palavras novas como o mundo -
com palavras tão cansadas como o mundo.
Se olhares para ela, não se mexe,
como animal que finge que está morto;
encolhe-se nas suas pobres
roupas e, olhando para o vazio, escuta
a voz que a cada instante lhe recorda
a pobreza como se fosse culpa sua.
Depois, recomeçando a embalar, cega, surda,
sem sequer reparar, suspira.
Junto da janela, está um jovem
de um rosto escuro como turfa,
envolto num mudo cheiro a redil,
hostil, como se não ousasse abrir
a porta, incomodar o vizinho.
Olha fixamente para a montanha, para o céu,
de mãos nos bolsos, bóina de malandro
sobre os olhos: não vê o forasteiro,
não vê nada, de gola levantada
pelo frio, ou por suspeito mistério
de delinquente, de cão abandonado.
A humidade reaviva os velhos
cheiros da madeira, untada e fumada,
misturando-os aos novos, de bordéis
cheios de fresca forragem humana.
E dos campos, agora roxos,
vem uma luz que revela almas,
não corpos, ao olhar que mais cru
do que a luz lhes descobre a fome,
a servidão, a solidão.
Almas que enchem o mundo,
como imagens fiéis e nuas,
da sua história, embora enraizadas
numa história que já não nos pertence.
Com uma vida de outros séculos, estão
vivos neste: e mostram-se no mundo
a quem do mundo tem conhecimento, rebanho
de quem nada mais conhece que miséria.
O ódio servil e a servil alegria foram
desde sempre a sua única lei:
mas nos seus olhos já podia ler-se
um sinal de diferente fome - escura
como a do pão e, como ela,
necessária. Uma sombra pura
que já começava a ter nome
de esperança: e o Sul,
como que reconquistado para o homem,
via a luz tímida do resgate
sobre os seus rebanhos resignados
de vivos. Mas para estas almas marcadas
pelo crepúsculo, para este arraial
de passageiros tímidos,
qualquer luz interior, qualquer acto
de consciência, parecem de repente coisa de ontem.
Hoje, para esta mulher que embala
o filho, para estes camponeses
negros que nada sabem, o inimigo
é quem morre para que se salve
noutras mães, noutros filhos,
a sua liberdade. É o seu inimigo
quem morre para que arda em outros servosm
outros camponeses, a sua sede,
ainda que bastarda, de justiça.
É seu inimigo quem rasga a bandeira
já vermelha de assassínios
e é seu unimigo quem, fiel,
a defende dos brancos assassinos.
É seu inimigo o patrão que espera
a sua rendição, e o camarada que deseja
que lutem numa fé que é já negação
da fé. É seu inimigo quem dá
graças a Deus pela reacção
do velho povo, e é seu inimigo
quem perdoa o sangue em nome
do novo povo. Assim, num dia de sangue,
se devolve o mundo
a um tempo que parecia já passado:
a luz que desaba sobre estas almas
é ainda a luz do velho sul,
a alma desta terra é a lama antiga.
Se medes no teu íntimo a desilusão no mundo,
sentes que ela não conduz
a uma nova aridez, mas a uma velha paixão.
E perdes-te nesta luz que, de repente,
roça, com a chuva, por torrões
de salva vermelha, casas imundas.
Perdes-te no velho paraíso
que aqui fora, nos relevos de lava,
dá rosto celeste, embora humano,
ao horizonte em que Nápoles
se esfuma na baba cinzenta,
aos temporais do sul que o sereno invadem,
um sobre os montes do Lácio, já remotos,
outro sobre esta terra entregue
às hortas sujas, aos pântanos,
às aldeias do tamanho de cidades.
A chuva e o sol misturam-se
numa alegria que talvez esteja guardada
-como lasca da outra história,
que já não nos pertence - no fundo do coração
destes pobres viajantes:
vivos, apenas vivos, no calor
que torna a vida maior que a história.
Tu pedes-me no paraíso interior
e mesmo a tua piedade é sua inimiga.
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., pgs 119 - 129
algumas manadas de búfalas, alguns
amontoados de casas entre tomateiros,
heras e míseras estacas.
De vez em quando, um riacho, rasando
o solo, surge entre os ramos
dos ulmeiros carregados de vides, negro
como um esgoto. Dentro deste comboio
que segue a sua marcha, meio vazio, o gelo
outonal cobre a madeira triste,
as roupas molhadas: se lá fora
é o paraíso, aqui é o reino
dos mortos, passados de dor
em dor - sem suspeitarem de nada.
Aqui estão eles, nos bancos, nos corredores,
de queixo enterrado no peito,
costas apoiadas ao espaldar,
abocanhando um pedaço de pão
com unto, mastigando mal,
míseros e escuros como cães
devorando um naco roubado: e
se os olhares nos olhos, se lhes olhares
para as mãos, sobe-lhes à face um piedoso rubor,
em que inimiga se lhes descobre a alma.
Mas mesmo quem não come ou as suas histórias
não conta ao vizinho atento,
se o olhares, olha-te com o coração
nos olhos, aterrado, como se dissesse
que nada fez de mal,
que é inocente.
Uma mulher, de Fondi ou de Aversa, embala
uma criança adormecida num saco
de pele de cordeiro, e entretém-na
- se ela acorda do seu sono
dizendo palavras novas como o mundo -
com palavras tão cansadas como o mundo.
Se olhares para ela, não se mexe,
como animal que finge que está morto;
encolhe-se nas suas pobres
roupas e, olhando para o vazio, escuta
a voz que a cada instante lhe recorda
a pobreza como se fosse culpa sua.
Depois, recomeçando a embalar, cega, surda,
sem sequer reparar, suspira.
Junto da janela, está um jovem
de um rosto escuro como turfa,
envolto num mudo cheiro a redil,
hostil, como se não ousasse abrir
a porta, incomodar o vizinho.
Olha fixamente para a montanha, para o céu,
de mãos nos bolsos, bóina de malandro
sobre os olhos: não vê o forasteiro,
não vê nada, de gola levantada
pelo frio, ou por suspeito mistério
de delinquente, de cão abandonado.
A humidade reaviva os velhos
cheiros da madeira, untada e fumada,
misturando-os aos novos, de bordéis
cheios de fresca forragem humana.
E dos campos, agora roxos,
vem uma luz que revela almas,
não corpos, ao olhar que mais cru
do que a luz lhes descobre a fome,
a servidão, a solidão.
Almas que enchem o mundo,
como imagens fiéis e nuas,
da sua história, embora enraizadas
numa história que já não nos pertence.
Com uma vida de outros séculos, estão
vivos neste: e mostram-se no mundo
a quem do mundo tem conhecimento, rebanho
de quem nada mais conhece que miséria.
O ódio servil e a servil alegria foram
desde sempre a sua única lei:
mas nos seus olhos já podia ler-se
um sinal de diferente fome - escura
como a do pão e, como ela,
necessária. Uma sombra pura
que já começava a ter nome
de esperança: e o Sul,
como que reconquistado para o homem,
via a luz tímida do resgate
sobre os seus rebanhos resignados
de vivos. Mas para estas almas marcadas
pelo crepúsculo, para este arraial
de passageiros tímidos,
qualquer luz interior, qualquer acto
de consciência, parecem de repente coisa de ontem.
Hoje, para esta mulher que embala
o filho, para estes camponeses
negros que nada sabem, o inimigo
é quem morre para que se salve
noutras mães, noutros filhos,
a sua liberdade. É o seu inimigo
quem morre para que arda em outros servosm
outros camponeses, a sua sede,
ainda que bastarda, de justiça.
É seu inimigo quem rasga a bandeira
já vermelha de assassínios
e é seu unimigo quem, fiel,
a defende dos brancos assassinos.
É seu inimigo o patrão que espera
a sua rendição, e o camarada que deseja
que lutem numa fé que é já negação
da fé. É seu inimigo quem dá
graças a Deus pela reacção
do velho povo, e é seu inimigo
quem perdoa o sangue em nome
do novo povo. Assim, num dia de sangue,
se devolve o mundo
a um tempo que parecia já passado:
a luz que desaba sobre estas almas
é ainda a luz do velho sul,
a alma desta terra é a lama antiga.
Se medes no teu íntimo a desilusão no mundo,
sentes que ela não conduz
a uma nova aridez, mas a uma velha paixão.
E perdes-te nesta luz que, de repente,
roça, com a chuva, por torrões
de salva vermelha, casas imundas.
Perdes-te no velho paraíso
que aqui fora, nos relevos de lava,
dá rosto celeste, embora humano,
ao horizonte em que Nápoles
se esfuma na baba cinzenta,
aos temporais do sul que o sereno invadem,
um sobre os montes do Lácio, já remotos,
outro sobre esta terra entregue
às hortas sujas, aos pântanos,
às aldeias do tamanho de cidades.
A chuva e o sol misturam-se
numa alegria que talvez esteja guardada
-como lasca da outra história,
que já não nos pertence - no fundo do coração
destes pobres viajantes:
vivos, apenas vivos, no calor
que torna a vida maior que a história.
Tu pedes-me no paraíso interior
e mesmo a tua piedade é sua inimiga.
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., pgs 119 - 129
«A hora é confusa, e nós como perdidos
a vivemos...», murmuravas-me, amargo,
desiludido com tudo o que tens tido
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p 103
a vivemos...», murmuravas-me, amargo,
desiludido com tudo o que tens tido
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p 103
Etiquetas:
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poeta italiano
«Mas porquê obrigar-me a odiar, eu
que, quase grato ao mundo pela minha dor,
por ser diferente - e por isso odiado -
só sei amar, fiel e amargurado?»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p 95/7
que, quase grato ao mundo pela minha dor,
por ser diferente - e por isso odiado -
só sei amar, fiel e amargurado?»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p 95/7
Etiquetas:
cineasta italiano,
excerto,
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poeta italiano
O ESCRAVO
Esforçamo-nos por apodrecer de pé. E isso nem sempre é fácil, acreditai. A vida muitas vezes tenta levar a melhor...Mas nós resistimos. E vamos diminuindo um pouco mais em cada...
ROGER
Dia?
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 258
Esforçamo-nos por apodrecer de pé. E isso nem sempre é fácil, acreditai. A vida muitas vezes tenta levar a melhor...Mas nós resistimos. E vamos diminuindo um pouco mais em cada...
ROGER
Dia?
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 258
Etiquetas:
excerto,
jean genet,
teatro
ROGER, para o Escravo
E a ti, quem é que te canta?
O ESCRAVO
Ninguém. Limito-me a morrer.
ROGER
Mas sem mim, sem o meu suor, sem as minhas lágrimas, sem o meu sangue, o que serias tu?
O ESCRAVO
Nada.
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 257/8
E a ti, quem é que te canta?
O ESCRAVO
Ninguém. Limito-me a morrer.
ROGER
Mas sem mim, sem o meu suor, sem as minhas lágrimas, sem o meu sangue, o que serias tu?
O ESCRAVO
Nada.
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 257/8
sábado, 10 de setembro de 2011
«Entro e volto a fechar-me, mudo e morto como
um enforcado só com o seu corpo e o seu nome.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p 93
Etiquetas:
excerto,
Pier Paolo Pasolini,
poeta italiano
«era sangue a correr do peito ferido
de um animal ignaro, tirado do covil, perseguido...»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p 91
Etiquetas:
excerto,
Pier Paolo Pasolini,
poeta italiano
«De repente, reparei: a luz da manhã foi a luz do entardecer.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p 89
Etiquetas:
Pier Paolo Pasolini,
poeta italiano,
verso solto
«promete ao mundo -
reparas que estás a sonhar.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p 79
reparas que estás a sonhar.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p 79
Etiquetas:
cineasta italiano,
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poeta italiano
ROGER, com violência
Não te fui roubar para te transformares num licórnio ou numa águia de duas cabeças.
CHANTAL
Não gostas de licórnios?
ROGER
Nunca soube fazer amor com eles. (Acaricia-a.) Nem contigo, aliás.
CHANTAL
Queres tu dizer que não sei amar. Que te desaponto. Mas eu gosto de ti, Roger. E tu alugaste-me a troco de cem vivandeiras.
ROGER
Perdoa-me, Chantal. Fui obrigado a isso. Também eu te amo. Amo-te e não to sei dizer, e não sei cantar. E o último recurso é ainda cantar.
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 163/4
Não te fui roubar para te transformares num licórnio ou numa águia de duas cabeças.
CHANTAL
Não gostas de licórnios?
ROGER
Nunca soube fazer amor com eles. (Acaricia-a.) Nem contigo, aliás.
CHANTAL
Queres tu dizer que não sei amar. Que te desaponto. Mas eu gosto de ti, Roger. E tu alugaste-me a troco de cem vivandeiras.
ROGER
Perdoa-me, Chantal. Fui obrigado a isso. Também eu te amo. Amo-te e não to sei dizer, e não sei cantar. E o último recurso é ainda cantar.
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 163/4
O CHEFE DA POLÍCIA
E hoje, lamentas esses momentos?
IRMA, com ternura
Daria o meu reino pelo regresso de um deles! E tu bem sabes qual é. Preciso duma palavra de verdade, uma que seja, como quando à noite a gente observa as rugas que tem na cara, ou limpa a boca...
O CHEFE DA POLÍCIA
É tarde demais. (Pausa.) E além disso, não podíamos continuar toda a vida abraçados um ao outro. Enfim, não sabes em que é que eu pensava, secretamente, quando estava nos teus braços.
IRMA
Sei é que te amava...
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 148
E hoje, lamentas esses momentos?
IRMA, com ternura
Daria o meu reino pelo regresso de um deles! E tu bem sabes qual é. Preciso duma palavra de verdade, uma que seja, como quando à noite a gente observa as rugas que tem na cara, ou limpa a boca...
O CHEFE DA POLÍCIA
É tarde demais. (Pausa.) E além disso, não podíamos continuar toda a vida abraçados um ao outro. Enfim, não sabes em que é que eu pensava, secretamente, quando estava nos teus braços.
IRMA
Sei é que te amava...
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 148
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
«Pode a vida ser boa,
quando se acorda para a fome? Que sentido tem Ser?»
John Updike. Ponto Último e outros poemas. Tradução de Ana Luísa Amaral. Civilização Editora, Porto, 2009., p. 77
quando se acorda para a fome? Que sentido tem Ser?»
John Updike. Ponto Último e outros poemas. Tradução de Ana Luísa Amaral. Civilização Editora, Porto, 2009., p. 77
Etiquetas:
excerto,
John Updike,
poetas americanos
«Esta gente teve uma guerra,
e a paz aqui compartilha do tédio do mar.»
John Updike. Ponto Último e outros poemas. Tradução de Ana Luísa Amaral. Civilização Editora, Porto, 2009., p. 75
Etiquetas:
excerto,
John Updike,
mar,
poesia,
poetas americanos
«as árvores são de dia nossas mães,
mas de noite lamentam-nos a inquietação.»
John Updike. Ponto Último e outros poemas. Tradução de Ana Luísa Amaral. Civilização Editora, Porto, 2009., p. 65
Etiquetas:
John Updike,
poesia,
poetas americanos,
versos soltos
«desatar o pequeno nó bravio de um coração»
John Updike. Ponto Último e outros poemas. Tradução de Ana Luísa Amaral. Civilização Editora, Porto, 2009., p. 60
Etiquetas:
amor,
John Updike,
verso solto
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
«Daqui a pouco, quando as trombetas soarem, desceremos os dois - eu montado em ti - para a glória e para a morte, sim, porque eu vou morrer. Trata-se, na verdade, duma autêntica descida ao túmulo.»
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 73
A RAPARIGA
O pé esquerdo continua inchado!
O GENERAL
Claro. É o pé da partida. É o pé que bate e que aperreia. Como esse teu cascozinho, quando fazes as vénias.
A RAPARIGA
Quando faço o quê? Vamos, desabotoe-se.
O GENERAL
És um cavalo ou uma ignorante? Se és um cavalo, então sabes fazer as vénias. Ajuda-me. Puxa devagar. Vá, devagarinho, não és nenhum cavalo de lavoura.
A RAPARIGA
Faço o que devo fazer.
O GENERAL
Já estás a revoltar-te? Espera que eu esteja pronto. Quanto te meter o freio nos dentes...
A RAPARIGA
Oh, não! Isso não.
O GENERAL
Era o que faltava! Um general a ser chamado à ordem pelo seu próprio cavalo! Sim senhor. Terás o freio, as rédeas, os arreios, a cilha e só então, de botas, chibatada e chapéu, te saltarei em cima!
A RAPARIGA
É horrível, o freio. Fico com as gengivas a sangrar e os lábios todos gretados. E depois, babo sangue.
O GENERAL
Ah! a espuma cor de rosa e o crepitar do fogo! Que cavalgadas! Entre campos de centeio, no meio da luzerna, atravessando prados, caminhos poeirentos, por montes e vales, deitados ou de pé, da aurora ao sol- pôr, do sol-pôr...
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 66-68
O pé esquerdo continua inchado!
O GENERAL
Claro. É o pé da partida. É o pé que bate e que aperreia. Como esse teu cascozinho, quando fazes as vénias.
A RAPARIGA
Quando faço o quê? Vamos, desabotoe-se.
O GENERAL
És um cavalo ou uma ignorante? Se és um cavalo, então sabes fazer as vénias. Ajuda-me. Puxa devagar. Vá, devagarinho, não és nenhum cavalo de lavoura.
A RAPARIGA
Faço o que devo fazer.
O GENERAL
Já estás a revoltar-te? Espera que eu esteja pronto. Quanto te meter o freio nos dentes...
A RAPARIGA
Oh, não! Isso não.
O GENERAL
Era o que faltava! Um general a ser chamado à ordem pelo seu próprio cavalo! Sim senhor. Terás o freio, as rédeas, os arreios, a cilha e só então, de botas, chibatada e chapéu, te saltarei em cima!
A RAPARIGA
É horrível, o freio. Fico com as gengivas a sangrar e os lábios todos gretados. E depois, babo sangue.
O GENERAL
Ah! a espuma cor de rosa e o crepitar do fogo! Que cavalgadas! Entre campos de centeio, no meio da luzerna, atravessando prados, caminhos poeirentos, por montes e vales, deitados ou de pé, da aurora ao sol- pôr, do sol-pôr...
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 66-68
O JUIZ
O CARRASCO, para o Juiz
Rasteje!
O JUIZ
Como me sinto orgulhoso!
O CARRASCO, ameaçador
Rasteje!
O Juiz, que estava de joelhos, deita-se de barriga
para baixo e rasteja lentamente em direcção à Ladra.
À medida que vai avançando a Ladra recua.
Isso. Continue.
O JUIZ, para a Ladra
Que me obrigues a rastejar depois de eu ser juiz, está bem, minha marota! Mas se te recusasses definitivamente ao teu papel, isso seria um crime, minha cabra!...
A LADRA, altiva
Chame-me minha senhora e seja mais educado!
O JUIZ
E terei o que pretendo?
A Ladra, galante
Roubar, não é fácil, sabe!...
O JUIZ
Mas eu pago! Pago o que for preciso, minha senhora. Se deixasse de poder separar o Bem do Mal, para que serviria eu, diga-me, para que serviria?
A LADRA
Isso pergunto eu a mim própria.
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 52-54
Seria uma coisa horrível. Mas não, você não ousaria um tal volte-face! Não posso acreditar! Ouve bem o que eu te digo: continua a dissimular, a fingir, o mais que puderes e os meus nervos suportarem. Continua a negar, a negar sempre, para me obrigares a sofrer, a bater com os pés no chão, a escumar de raiva, a suar, a ganir de impaciência, a rastejar...Queres que rasteje?
O CARRASCO, para o Juiz
Rasteje!
O JUIZ
Como me sinto orgulhoso!
O CARRASCO, ameaçador
Rasteje!
O Juiz, que estava de joelhos, deita-se de barriga
para baixo e rasteja lentamente em direcção à Ladra.
À medida que vai avançando a Ladra recua.
Isso. Continue.
O JUIZ, para a Ladra
Que me obrigues a rastejar depois de eu ser juiz, está bem, minha marota! Mas se te recusasses definitivamente ao teu papel, isso seria um crime, minha cabra!...
A LADRA, altiva
Chame-me minha senhora e seja mais educado!
O JUIZ
E terei o que pretendo?
A Ladra, galante
Roubar, não é fácil, sabe!...
O JUIZ
Mas eu pago! Pago o que for preciso, minha senhora. Se deixasse de poder separar o Bem do Mal, para que serviria eu, diga-me, para que serviria?
A LADRA
Isso pergunto eu a mim própria.
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 52-54
Por isso me sinto morto.
A LADRA
Roubei pão, porque tinha fome.
Roubei pão, porque tinha fome.
O JUIZ, erguendo-se e largando o livro
Sublime! Função sublime! Tudo isso vai ser julgado por mim. Oh, minha querida filha, só tu me consegues reconciliar com o mundo. Juiz! Vou ser juiz de todos os teus actos! De mim vai depender a medida, o equilíbrio. O mundo é uma maçã para eu cortar ao meio: os bons, os maus. E tu, meu Deus, tu aceitas ser a parte má! (Para o público.) Debaixo dos vossos olhos: nada nas mãos, nada nos bolsos, explicar o podre e deitá-lo fora. Mas que ocupação dolorosa! Se todos os julgamentos fossem feitos a sério, custar-me-iam a vida! Por isso me sinto morto. Habito esta região da liberdade exacta. Rei dos Infernos, todos os que eu julgo, estão como eu: mortos. Esta está como eu: morta.
Jean Genet. A
Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova
Série, Lisboa, 1976., p. 46
terça-feira, 6 de setembro de 2011
«Porquê, ao ver aquela desbotada cor de sangue,
a minha consciência tão cegamente resiste
e se esconde, como obcecada
por um remorso que, no fundo, a entristece?»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p 65
a minha consciência tão cegamente resiste
e se esconde, como obcecada
por um remorso que, no fundo, a entristece?»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p 65
Etiquetas:
excerto,
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poeta italiano
«Uma alma, em mim, não apenas minha,
uma alma pequena naquele imenso mundo,
crescia, revigorada pela alegria
de quem amava, não sendo embora amado.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p 57
uma alma pequena naquele imenso mundo,
crescia, revigorada pela alegria
de quem amava, não sendo embora amado.»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p 57
Etiquetas:
excerto,
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poeta italiano
«Longos passeios numa névoa quente,»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p 55
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p 55
Etiquetas:
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poeta italiano,
verso solto
«Irás pedir-me, tu, morto austero,
para renunciar a esta desesperada
paixão de estar no mundo?»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p 41
para renunciar a esta desesperada
paixão de estar no mundo?»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p 41
Etiquetas:
excerto,
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poeta italiano
IRMA, cuidadosa
«Há sangue por toda a parte...
(...)
Ouve-se, no mesmo instante,
um grande grito de dor, lançado
por uma mulher que não se vê.»
«Há sangue por toda a parte...
(...)
Ouve-se, no mesmo instante,
um grande grito de dor, lançado
por uma mulher que não se vê.»
Jean Genet. A Varanda.
Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa,
1976., p.20/1
Etiquetas:
escritor,
jean genet,
poeta e dramaturgo francês.,
teatro
Quando a sorte está decidida...
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva
Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p.19
Etiquetas:
escitor,
jean genet,
poeta e dramaturgo francês.,
teatro
As actrizes
«As actrizes não devem substituir as palavras do texto por outras mais suaves. Podem muito bem recusar-se a representar a minha peça - serão substituídas por homens. Se não querem dizer o meu texto, ao menos digam as palavras ao contrário.»
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976.,
Etiquetas:
escritor,
jean genet,
poeta e dramaturgo francês.,
teatro
«Penso nos que amei e nos que vi morrer »
John Updike. Ponto Último e outros poemas. Tradução de Ana Luísa Amaral. Civilização Editora, Porto, 2009., p. 32
Etiquetas:
Ana Luísa Amaral,
escritor americano,
John Updike,
Morte
«Um escritor, mesmo parecendo ter um coração de pedra,
precisa de cuidados.»
John Updike. Ponto Último e outros poemas. Tradução de Ana Luísa Amaral. Civilização Editora, Porto, 2009., p. 21
precisa de cuidados.»
John Updike. Ponto Último e outros poemas. Tradução de Ana Luísa Amaral. Civilização Editora, Porto, 2009., p. 21
Etiquetas:
Ana Luísa Amaral,
escritor americano,
John Updike,
novelista
*
A minha mulher ausente um dia ou dois.
Acordo mais gasto e só, a tempestade que me
envelheceu: destilada numa pele de neve do passado,
um cobertor tão fino que por ele se vêem folhas de erva.
Ali, atrás dos teixos, a neve faz sombras brancas,
dissolve-se no beijo oblíquo do sol e espalha-se
ao longo do relvado, como se dissesse:
Dá-me uma hora mais, e eu partirei depois.
John Updike. Ponto Último e outros poemas. Tradução de Ana Luísa Amaral. Civilização Editora, Porto, 2009., p. 13
Etiquetas:
Ana Luísa Amaral,
autores americanos,
escritor,
excerto,
John Updike,
novelista,
poesia
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
A Arthur Rimbaud
Mortal, anjo e demónio, ou seja, Rimbaud,
Mereces o primeiro lugar no meu livro,
Apesar do boçal escriba que te chamou
Ébrio liceal, devasso imberbe, monstro a abrir.
Fumo em espirais de incenso, acordes de alaúde
Alegram-se ao entrares no templo da memória
E o teu nome radioso cantará na glória,
Porque tu amaste como foi preciso, em tudo.
Mulheres verão em ti um jovem muito forte,
Belo, de uma beleza rústica e perversa,
Desejável, com a tua indolência atrevida!
E a história esculpiu-te ao triunfares da morte
Fruindo até aos puros excessos da vida,
Com os teus brancos pés na cabeça da Inveja!
Paul Verlaine. Poemas Saturianos e Outros. Tradução, prefácio, cronologia e notas de Fernando Pinto Amaral. Assírio&Alvim ., p. 175
Mereces o primeiro lugar no meu livro,
Apesar do boçal escriba que te chamou
Ébrio liceal, devasso imberbe, monstro a abrir.
Fumo em espirais de incenso, acordes de alaúde
Alegram-se ao entrares no templo da memória
E o teu nome radioso cantará na glória,
Porque tu amaste como foi preciso, em tudo.
Mulheres verão em ti um jovem muito forte,
Belo, de uma beleza rústica e perversa,
Desejável, com a tua indolência atrevida!
E a história esculpiu-te ao triunfares da morte
Fruindo até aos puros excessos da vida,
Com os teus brancos pés na cabeça da Inveja!
(DEDICÁCIAS)
Paul Verlaine. Poemas Saturianos e Outros. Tradução, prefácio, cronologia e notas de Fernando Pinto Amaral. Assírio&Alvim ., p. 175
Etiquetas:
dedicácias,
paul verlaine,
poesia,
poetas franceses,
Rimbaud
«Trabalho de árduas noites, de onde então se eleva
A Obra, devagar, como um sol matinal!»
Paul Verlaine. Poemas Saturianos e Outros. Tradução, prefácio, cronologia e notas de Fernando Pinto Amaral. Assírio&Alvim ., p. 147
A Obra, devagar, como um sol matinal!»
Paul Verlaine. Poemas Saturianos e Outros. Tradução, prefácio, cronologia e notas de Fernando Pinto Amaral. Assírio&Alvim ., p. 147
Etiquetas:
paul verlaine,
poesia,
poetas franceses,
versos soltos
«Raiando o céu cinzento com asas de lume, »
Paul Verlaine. Poemas Saturianos e Outros. Tradução, prefácio, cronologia e notas de Fernando Pinto Amaral. Assírio&Alvim ., p. 143
Etiquetas:
paul verlaine,
poetas franceses,
verso solto
V
«O escândalo de me contradizer, de estar
contigo e contra ti; contigo no coração,
à luz do dia, contra ti na noite das entranhas;»
Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p 31
Etiquetas:
cineasta italiano,
excerto,
Pier Paolo Pasolini,
poesia,
poetas italianos
Marco
Quando Marco passava, os jovens todos
Corriam pra ver seus olhos, Sodomas
Onde os fogos de Amor sem dó queimavam
Tua pobre choça, ó fria Amizade;
E em redor dançavam odores místicos
Em que a alma, chorando, se anulava;
No ruivo cabelo um encanto roçava;
Estranhas músicas vinham do vestido
Quando ela passava.
Quando Marco cantava, as suas mãos
Lembravam, no marfim, a escuridão
De antigas árias, nunca repetidas,
E a sua voz subia aos paraísos
Sonhados numa sinfonia imensa
E então o entusiasmo transportava
Rumo a céus conhecidos quem escutasse
Esse timbre de prata a vibrar sempre
Quando ela cantava.
Quando Marco chorava, as suas lágrimas
Venciam o brilho das mais belas armas;
Escurecia a cor dos lábios de sangue
E o desespero já não era humano;
Como lareira que o óleo excita,
Crescia a fúria, rubra, e era quase
A de uma leoa no bosque selvagem
Transmitindo uma cólera terrível,
Quando ela chorava.
Quando ela dançava, a saia irisada
Tal como as marés, ia e regressava
E, quais bambus flexíveis, os seus flancos
Torciam-se e mostravam os seios brancos:
Um raio partia. A perna de mármore,
Clinicamente enfática, elevava
Os mares esplendores, o que imitava
O rumor de vento, à noite, nas árvores,
Quando ela dançava.
Quando Marco dormia, ah! que odores de âmbar
E carne sufocavam toda a câmara!
Sob os lençóis ondeava a excelsa linha
Das costas, e na sombra das cortinas
Subia o hálito, ritmado e leve;
Um sono feliz e calmo cobria
Os olhos, e esse enigma concedia
Encanto à credência e aos seus objectos,
Quando ela dormia.
Mas quando amava, caudais de lascívia
Transbordavam, tal como de uma ferida
Sai, vermelho, o sangue, a fumegar, vivo,
Do cruel corpo, absolvido plo crime;
Torrente a romper os diques da alma,
Afogava as ideias, transtornava
Tudo à sua passagem e pulava,
Devorador e suave, como chama.
E por fim gelava.
Paul Verlaine. Poemas Saturianos e Outros. Tradução, prefácio, cronologia e notas de Fernando Pinto Amaral. Assírio&Alvim ., p. 121-125
Corriam pra ver seus olhos, Sodomas
Onde os fogos de Amor sem dó queimavam
Tua pobre choça, ó fria Amizade;
E em redor dançavam odores místicos
Em que a alma, chorando, se anulava;
No ruivo cabelo um encanto roçava;
Estranhas músicas vinham do vestido
Quando ela passava.
Quando Marco cantava, as suas mãos
Lembravam, no marfim, a escuridão
De antigas árias, nunca repetidas,
E a sua voz subia aos paraísos
Sonhados numa sinfonia imensa
E então o entusiasmo transportava
Rumo a céus conhecidos quem escutasse
Esse timbre de prata a vibrar sempre
Quando ela cantava.
Quando Marco chorava, as suas lágrimas
Venciam o brilho das mais belas armas;
Escurecia a cor dos lábios de sangue
E o desespero já não era humano;
Como lareira que o óleo excita,
Crescia a fúria, rubra, e era quase
A de uma leoa no bosque selvagem
Transmitindo uma cólera terrível,
Quando ela chorava.
Quando ela dançava, a saia irisada
Tal como as marés, ia e regressava
E, quais bambus flexíveis, os seus flancos
Torciam-se e mostravam os seios brancos:
Um raio partia. A perna de mármore,
Clinicamente enfática, elevava
Os mares esplendores, o que imitava
O rumor de vento, à noite, nas árvores,
Quando ela dançava.
Quando Marco dormia, ah! que odores de âmbar
E carne sufocavam toda a câmara!
Sob os lençóis ondeava a excelsa linha
Das costas, e na sombra das cortinas
Subia o hálito, ritmado e leve;
Um sono feliz e calmo cobria
Os olhos, e esse enigma concedia
Encanto à credência e aos seus objectos,
Quando ela dormia.
Mas quando amava, caudais de lascívia
Transbordavam, tal como de uma ferida
Sai, vermelho, o sangue, a fumegar, vivo,
Do cruel corpo, absolvido plo crime;
Torrente a romper os diques da alma,
Afogava as ideias, transtornava
Tudo à sua passagem e pulava,
Devorador e suave, como chama.
E por fim gelava.
Paul Verlaine. Poemas Saturianos e Outros. Tradução, prefácio, cronologia e notas de Fernando Pinto Amaral. Assírio&Alvim ., p. 121-125
domingo, 4 de setembro de 2011
Dies Israe
Il est un jour, une heure, où dans le chemin rude,
Courbé sous le fardeau des ans multipliés,
L'Esprit humain s'arrête, et, pris de lassitude,
Se retourne pensif vers les jours oubliés.
La vie a fatigué son attente inféconde ;
Désabusé du Dieu qui ne doit point venir,
Il sent renaître en lui la jeunesse du monde ;
Il écoute ta voix, ô sacré Souvenir !
Les astres qu'il aima, d'un rayon pacifique
Argentent dans la nuit les bois mystérieux,
Et la sainte montagne et la vallée antique
Où sous les noirs palmiers dormaient ses premiers Dieux.
Il voit la Terre libre et les verdeurs sauvages
Flotter comme un encens sur les fleuves sacrés,
Et les bleus Océans, chantant sur leurs rivages,
Vers l'inconnu divin rouler immesurés.
De la hauteur des monts, berceaux des races pures,
Au murmure des flots, au bruit des dômes verts,
Il écoute grandir, vierge encor de souillures,
La jeune Humanité sur le jeune Univers.
Bienheureux ! Il croyait la Terre impérissable,
Il entendait parler au prochain firmament,
Il n'avait point taché sa robe irréprochable ;
Dans la beauté du monde il vivait fortement.
L'éclair qui fait aimer et qui nous illumine
Le brûlait sans faiblir un siècle comme un jour ;
Et la foi confiante et la candeur divine
Veillaient au sanctuaire où rayonnait l'amour.
Pourquoi s'est-il lassé des voluptés connues ?
Pourquoi les vains labeurs et l'avenir tenté ?
Les vents ont épaissi là-haut les noires nues ;
Dans une heure d'orage ils ont tout emporté.
Oh ! la tente au désert et sur les monts sublimes,
Les grandes visions sous les cèdres pensifs,
Et la Liberté vierge et ses cris magnanimes,
Et le débordement des transports primitifs !
L'angoisse du désir vainement nous convie :
Au livre originel qui lira désormais ?
L'homme a perdu le sens des paroles de vie :
L'esprit se tait, la lettre est morte pour jamais.
Nul n'écartera plus vers les couchants mystiques
La pourpre suspendue au devant de l'autel,
Et n'entendra passer dans les vents prophétiques
Les premiers entretiens de la Terre et du Ciel.
Les lumières d'en haut s'en vont diminuées,
L'impénétrable Nuit tombe déjà des cieux,
L'astre du vieil Ormuzd est mort sous les nuées ;
L'Orient s'est couché dans la cendre des Dieux.
L'Esprit ne descend plus sur la race choisie ;
Il ne consacre plus les Justes et les Forts.
Dans le sein desséché de l'immobile Asie
Les soleils inféconds brûlent les germes morts.
Les Ascètes, assis dans les roseaux du fleuve,
Écoutent murmurer le flot tardif et pur.
Pleurez, Contemplateurs ! votre sagesse est veuve :
Viçnou ne siège plus sur le Lotus d'azur.
L'harmonieuse Hellas, vierge aux tresses dorées,
À qui l'amour d'un monde a dressé des autels,
Gît, muette à jamais, au bord des mers sacrées,
Sur les membres divins de ses blancs Immortels.
Plus de charbon ardent sur la lèvre-prophète !
Adônaï, les vents ont emporté ta voix ;
Et le Nazaréen, pâle et baissant la tête,
Pousse un cri de détresse une dernière fois.
Figure aux cheveux roux, d'ombre et de paix voilée,
Errante au bord des lacs sous ton nimbe de feu,
Salut ! l'Humanité, dans ta tombe scellée,
Ô jeune Essénien, garde son dernier Dieu !
Et l'Occident barbare est saisi de vertige.
Les âmes sans vertu dorment d'un lourd sommeil,
Comme des arbrisseaux, viciés dans leur tige,
Qui n'ont verdi qu'un jour et n'ont vu qu'un soleil.
Et les sages, couchés sous les secrets portiques,
Regardent, possédant le calme souhaité,
Les époques d'orage et les temps pacifiques
Rouler d'un cours égal l'homme à l'Éternité.
Mais nous, nous, consumés d'une impossible envie,
En proie au mal de croire et d'aimer sans retour,
Répondez, jours nouveaux ! nous rendrez-vous la vie ?
Dites, ô jours anciens ! nous rendrez-vous l'amour ?
Où sont nos lyres d'or, d'hyacinthe fleuries,
Et l'hymne aux Dieux heureux et les vierges en choeur,
Eleusis et Délos, les jeunes Théories,
Et les poèmes saints qui jaillissent du coeur ?
Où sont les Dieux promis, les formes idéales,
Les grands cultes de pourpre et de gloire vêtus,
Et dans les cieux ouvrant ses ailes triomphales
La blanche ascension des sereines Vertus ?
Les Muses, à pas lents, Mendiantes divines,
S'en vont par les cités en proie au rire amer.
Ah ! c'est assez saigner sous le bandeau d'épines,
Et pousser un sanglot sans fin comme la Mer !
Oui ! le Mal éternel est dans sa plénitude !
L'air du siècle est mauvais aux esprits ulcérés.
Salut, Oubli du monde et de la multitude !
Reprends-nous, ô Nature, entre tes bras sacrés !
Dans ta khlamyde d'or, Aube mystérieuse,
Éveille un chant d'amour au fond des bois épais !
Déroule encor, Soleil, ta robe glorieuse !
Montagne, ouvre ton sein plein d'arome et de paix !
Soupirs majestueux des ondes apaisées,
Murmurez plus profonds en nos coeurs soucieux !
Répandez, ô forêts, vos urnes de rosées !
Ruisselle en nous, silence étincelant des cieux !
Consolez-nous enfin des espérances vaines :
La route infructueuse a blessé nos pieds nus.
Du sommet des grands caps, loin des rumeurs humaines,
Ô vents ! emportez-nous vers les Dieux inconnus !
Mais si rien ne répond dans l'immense étendue,
Que le stérile écho de l'éternel Désir,
Adieu, déserts, où l'âme ouvre une aile éperdue !
Adieu, songe sublime, impossible à saisir !
Et toi, divine Mort, où tout rentre et s'efface,
Accueille tes enfants dans ton sein étoilé ;
Affranchis-nous du temps, du nombre et de l'espace,
Et rends-nous le repos que la vie a troublé !
Courbé sous le fardeau des ans multipliés,
L'Esprit humain s'arrête, et, pris de lassitude,
Se retourne pensif vers les jours oubliés.
La vie a fatigué son attente inféconde ;
Désabusé du Dieu qui ne doit point venir,
Il sent renaître en lui la jeunesse du monde ;
Il écoute ta voix, ô sacré Souvenir !
Les astres qu'il aima, d'un rayon pacifique
Argentent dans la nuit les bois mystérieux,
Et la sainte montagne et la vallée antique
Où sous les noirs palmiers dormaient ses premiers Dieux.
Il voit la Terre libre et les verdeurs sauvages
Flotter comme un encens sur les fleuves sacrés,
Et les bleus Océans, chantant sur leurs rivages,
Vers l'inconnu divin rouler immesurés.
De la hauteur des monts, berceaux des races pures,
Au murmure des flots, au bruit des dômes verts,
Il écoute grandir, vierge encor de souillures,
La jeune Humanité sur le jeune Univers.
Bienheureux ! Il croyait la Terre impérissable,
Il entendait parler au prochain firmament,
Il n'avait point taché sa robe irréprochable ;
Dans la beauté du monde il vivait fortement.
L'éclair qui fait aimer et qui nous illumine
Le brûlait sans faiblir un siècle comme un jour ;
Et la foi confiante et la candeur divine
Veillaient au sanctuaire où rayonnait l'amour.
Pourquoi s'est-il lassé des voluptés connues ?
Pourquoi les vains labeurs et l'avenir tenté ?
Les vents ont épaissi là-haut les noires nues ;
Dans une heure d'orage ils ont tout emporté.
Oh ! la tente au désert et sur les monts sublimes,
Les grandes visions sous les cèdres pensifs,
Et la Liberté vierge et ses cris magnanimes,
Et le débordement des transports primitifs !
L'angoisse du désir vainement nous convie :
Au livre originel qui lira désormais ?
L'homme a perdu le sens des paroles de vie :
L'esprit se tait, la lettre est morte pour jamais.
Nul n'écartera plus vers les couchants mystiques
La pourpre suspendue au devant de l'autel,
Et n'entendra passer dans les vents prophétiques
Les premiers entretiens de la Terre et du Ciel.
Les lumières d'en haut s'en vont diminuées,
L'impénétrable Nuit tombe déjà des cieux,
L'astre du vieil Ormuzd est mort sous les nuées ;
L'Orient s'est couché dans la cendre des Dieux.
L'Esprit ne descend plus sur la race choisie ;
Il ne consacre plus les Justes et les Forts.
Dans le sein desséché de l'immobile Asie
Les soleils inféconds brûlent les germes morts.
Les Ascètes, assis dans les roseaux du fleuve,
Écoutent murmurer le flot tardif et pur.
Pleurez, Contemplateurs ! votre sagesse est veuve :
Viçnou ne siège plus sur le Lotus d'azur.
L'harmonieuse Hellas, vierge aux tresses dorées,
À qui l'amour d'un monde a dressé des autels,
Gît, muette à jamais, au bord des mers sacrées,
Sur les membres divins de ses blancs Immortels.
Plus de charbon ardent sur la lèvre-prophète !
Adônaï, les vents ont emporté ta voix ;
Et le Nazaréen, pâle et baissant la tête,
Pousse un cri de détresse une dernière fois.
Figure aux cheveux roux, d'ombre et de paix voilée,
Errante au bord des lacs sous ton nimbe de feu,
Salut ! l'Humanité, dans ta tombe scellée,
Ô jeune Essénien, garde son dernier Dieu !
Et l'Occident barbare est saisi de vertige.
Les âmes sans vertu dorment d'un lourd sommeil,
Comme des arbrisseaux, viciés dans leur tige,
Qui n'ont verdi qu'un jour et n'ont vu qu'un soleil.
Et les sages, couchés sous les secrets portiques,
Regardent, possédant le calme souhaité,
Les époques d'orage et les temps pacifiques
Rouler d'un cours égal l'homme à l'Éternité.
Mais nous, nous, consumés d'une impossible envie,
En proie au mal de croire et d'aimer sans retour,
Répondez, jours nouveaux ! nous rendrez-vous la vie ?
Dites, ô jours anciens ! nous rendrez-vous l'amour ?
Où sont nos lyres d'or, d'hyacinthe fleuries,
Et l'hymne aux Dieux heureux et les vierges en choeur,
Eleusis et Délos, les jeunes Théories,
Et les poèmes saints qui jaillissent du coeur ?
Où sont les Dieux promis, les formes idéales,
Les grands cultes de pourpre et de gloire vêtus,
Et dans les cieux ouvrant ses ailes triomphales
La blanche ascension des sereines Vertus ?
Les Muses, à pas lents, Mendiantes divines,
S'en vont par les cités en proie au rire amer.
Ah ! c'est assez saigner sous le bandeau d'épines,
Et pousser un sanglot sans fin comme la Mer !
Oui ! le Mal éternel est dans sa plénitude !
L'air du siècle est mauvais aux esprits ulcérés.
Salut, Oubli du monde et de la multitude !
Reprends-nous, ô Nature, entre tes bras sacrés !
Dans ta khlamyde d'or, Aube mystérieuse,
Éveille un chant d'amour au fond des bois épais !
Déroule encor, Soleil, ta robe glorieuse !
Montagne, ouvre ton sein plein d'arome et de paix !
Soupirs majestueux des ondes apaisées,
Murmurez plus profonds en nos coeurs soucieux !
Répandez, ô forêts, vos urnes de rosées !
Ruisselle en nous, silence étincelant des cieux !
Consolez-nous enfin des espérances vaines :
La route infructueuse a blessé nos pieds nus.
Du sommet des grands caps, loin des rumeurs humaines,
Ô vents ! emportez-nous vers les Dieux inconnus !
Mais si rien ne répond dans l'immense étendue,
Que le stérile écho de l'éternel Désir,
Adieu, déserts, où l'âme ouvre une aile éperdue !
Adieu, songe sublime, impossible à saisir !
Et toi, divine Mort, où tout rentre et s'efface,
Accueille tes enfants dans ton sein étoilé ;
Affranchis-nous du temps, du nombre et de l'espace,
Et rends-nous le repos que la vie a troublé !
IV Voto
Ah! primeiras amantes! oaristos!, dourados
Cabelos, o azul dos olhos, carne em flor
De corpos juvenis, e entre o seu odor
As carícias a medo e com espontaneidade!
Ficaram já distantes essas alegrias
E todas as canduras! Rumo à Primavera
Dos remorsos fugiram os negros Invernos
Das minhas dores, dos meus cansaços e agonias!
E eis-me aqui, agora, só e abatido,
Desesperado e mais frio que os avós mais antigos,
Tão pobre como um órfão sem irmã crescida.
Ó mulher de amor meigo e tão reconfortante,
Suave e pensativa, que nunca se espanta
E nos beija na testa, como uma criança!
Paul Verlaine. Poemas Saturianos e Outros. Tradução, prefácio, cronologia e notas de Fernando Pinto Amaral. Assírio&Alvim ., p. 57
Cabelos, o azul dos olhos, carne em flor
De corpos juvenis, e entre o seu odor
As carícias a medo e com espontaneidade!
Ficaram já distantes essas alegrias
E todas as canduras! Rumo à Primavera
Dos remorsos fugiram os negros Invernos
Das minhas dores, dos meus cansaços e agonias!
E eis-me aqui, agora, só e abatido,
Desesperado e mais frio que os avós mais antigos,
Tão pobre como um órfão sem irmã crescida.
Ó mulher de amor meigo e tão reconfortante,
Suave e pensativa, que nunca se espanta
E nos beija na testa, como uma criança!
Paul Verlaine. Poemas Saturianos e Outros. Tradução, prefácio, cronologia e notas de Fernando Pinto Amaral. Assírio&Alvim ., p. 57
Etiquetas:
paul verlaine,
poesia,
poetas franceses
PETRA
Eu não a amei. Apenas a quis possuir. Isso passou. Só agora começo a amá-la. Aprendi, mãe, e doeu-me muito. Contudo aprender devia ser belo, não devia fazer sofrer.
VALÉRIA
Tens de ser boa para a Gabi. As crianças são tão sensíveis.
PETRA
Eu sei.
VALÉRIA
Chorou muito antes de adormecer. Tens de a ajudar a conhecer-te.
Rainer Werner Fassbinder. As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant. Trad. Y.K.Centeno. Edições Cotovia, Lisboa, 1ª ed, 1990., p. 81
Eu não a amei. Apenas a quis possuir. Isso passou. Só agora começo a amá-la. Aprendi, mãe, e doeu-me muito. Contudo aprender devia ser belo, não devia fazer sofrer.
VALÉRIA
Tens de ser boa para a Gabi. As crianças são tão sensíveis.
PETRA
Eu sei.
VALÉRIA
Chorou muito antes de adormecer. Tens de a ajudar a conhecer-te.
Rainer Werner Fassbinder. As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant. Trad. Y.K.Centeno. Edições Cotovia, Lisboa, 1ª ed, 1990., p. 81
PETRA
Não sejas tão mesquinha.
KARIN
Eu não sou mesquinha, digo a verdade, Petra. Tínhamos prometido dizer sempre a verdade uma à outra. Mas tu não aguentas. Queres que te mintam.
PETRA
Sim, mente-me. Por favor, mente-me.
Rainer Werner Fassbinder. As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant. Trad. Y.K.Centeno. Edições Cotovia, Lisboa, 1ª ed, 1990., p. 51
Não sejas tão mesquinha.
KARIN
Eu não sou mesquinha, digo a verdade, Petra. Tínhamos prometido dizer sempre a verdade uma à outra. Mas tu não aguentas. Queres que te mintam.
PETRA
Sim, mente-me. Por favor, mente-me.
Rainer Werner Fassbinder. As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant. Trad. Y.K.Centeno. Edições Cotovia, Lisboa, 1ª ed, 1990., p. 51
KARIN
Eu também gosto de ti, Petra, gosto muito, mas tens de me dar tempo. Por favor.
PETRA
Dou-te tempo, Karin. Tempo é o que não nos falta. Temos imenso tempo. Tempo para nos conhecer uma à outra. Havemos de amar-nos, Marlène, traz mais uma garrafa de champanhe. (Marlène sai.) Ainda nunca, nunca, senti amor por uma mulher. Sou louca, Karin, louca! Mas é belo ser louco. É loucamente belo ser louco.
Rainer Werner Fassbinder. As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant. Trad. Y.K.Centeno. Edições Cotovia, Lisboa, 1ª ed, 1990., p. 42
KARIN
Os meus pais morreram.
PETRA
Lamento muito. Logo os dois.
KARIN
O pai primeiro matou a mãe e depois enforcou-se.
PETRA
Não! Que horror!
KARIN
Está a ver, agora já olha para mim com outros olhos. Acontece o mesmo a toda a gente. Primeiro gostam de mim, depois quando sabem da minha história, pronto, acaba-se.
Rainer Werner Fassbinder. As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant. Trad. Y.K.Centeno. Edições Cotovia, Lisboa, 1ª ed, 1990., p. 38
Os meus pais morreram.
PETRA
Lamento muito. Logo os dois.
KARIN
O pai primeiro matou a mãe e depois enforcou-se.
PETRA
Não! Que horror!
KARIN
Está a ver, agora já olha para mim com outros olhos. Acontece o mesmo a toda a gente. Primeiro gostam de mim, depois quando sabem da minha história, pronto, acaba-se.
Rainer Werner Fassbinder. As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant. Trad. Y.K.Centeno. Edições Cotovia, Lisboa, 1ª ed, 1990., p. 38
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Subscrever:
Mensagens (Atom)