quarta-feira, 21 de setembro de 2011

«Tu que, brutal, regressas,
não rejuvenescida, mas mesmo renascida,
fúria da natureza, dulcíssima,
matas-me, homem já morto
por uma série de dias miseráveis,
debruças-te para os meus abismos reabertos,
dás um perfume virgem ao meu eclipse,
antiga sensualidade, estilhaçada, piedade
apavorada, desejo de morte...
Perdi as forças:
já não sei o que é ser racional;
a minha vida decadente atola-se
na tua religiosa decadência,
desesperada por ver apenas
crueldade neste mundo, e raiva na minha alma.»





Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 255

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