A RAPARIGA
O pé esquerdo continua inchado!
O GENERAL
Claro. É o pé da partida. É o pé que bate e que aperreia. Como esse teu cascozinho, quando fazes as vénias.
A RAPARIGA
Quando faço o quê? Vamos, desabotoe-se.
O GENERAL
És um cavalo ou uma ignorante? Se és um cavalo, então sabes fazer as vénias. Ajuda-me. Puxa devagar. Vá, devagarinho, não és nenhum cavalo de lavoura.
A RAPARIGA
Faço o que devo fazer.
O GENERAL
Já estás a revoltar-te? Espera que eu esteja pronto. Quanto te meter o freio nos dentes...
A RAPARIGA
Oh, não! Isso não.
O GENERAL
Era o que faltava! Um general a ser chamado à ordem pelo seu próprio cavalo! Sim senhor. Terás o freio, as rédeas, os arreios, a cilha e só então, de botas, chibatada e chapéu, te saltarei em cima!
A RAPARIGA
É horrível, o freio. Fico com as gengivas a sangrar e os lábios todos gretados. E depois, babo sangue.
O GENERAL
Ah! a espuma cor de rosa e o crepitar do fogo! Que cavalgadas! Entre campos de centeio, no meio da luzerna, atravessando prados, caminhos poeirentos, por montes e vales, deitados ou de pé, da aurora ao sol- pôr, do sol-pôr...
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da
Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 66-68
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
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