segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016
«O termo «niilista» pareceu-me irritante e incongruente, mas deixei de compreender o sentido desse livro e vi-me mergulhado num certo abatimento: era evidente que me mostrava incapaz de compreender os bons livros! E este pertencia, como estava convencido, ao lote das melhores obras: uma senhora tão considerável e tão bela não ia de modo nenhum pôr-se a ler maus livros!»
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 257
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domingo, 31 de janeiro de 2016
« A mulher do cortador ainda não tinha partido quando, por baixo do apartamento dos meus patrões, se veio instalar uma jovem senhora de olhos escuros, com sua filha e sua mãe, que fumava continuamente uma boquilha de âmbar. A senhora era muito bela; imperiosa e firme, tinha uma voz cheia e agradável e olhava toda a gente com um movimento de cabeça, pestanejando, como se as pessoas se encontrassem muito longe dela e as distinguisse mal.»
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 251
«Mas escusas de ir contar isto. Há coisas que as pessoas fazem quando têm muita fome, mas não gostam que se saiba.
- Está bem. Se não precisar de ti durante o dia deixo-te dormir e não vou lá maçar-te, mas se vires que de noite se passa alguma coisa, vai num salto até à minha rua e mia.»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 221
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«O que tu tens de fazer é subir a Rua Hooper e miar. Se eu estiver a dormir, atiras terra à minha janela para me acordares.»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 222
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«Podia ter-lhe estalado o coração em consequência do medo.»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 218
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 218
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«Eu seja cão se isto não é verdade!»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 214
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sensibilidade doentiamente vibrátil
João Gaspar Simões, «António Nobre era um dândi, era um Narciso, era um egocentrista com uma sensibilidade doentiamente vibrátil.»
«Descendemos de três movimentos mais antigos – o
simbolismo francês, o panteísmo transcendental português e
a miscelânea de coisas contraditórias e sem sentido de que o
futurismo, o cubismo e outras correntes afins são expressão
ocasional, embora, para ser exato, descendamos mais do
espírito do que da letra desses movimentos.»
Fernando Pessoa
simbolismo francês, o panteísmo transcendental português e
a miscelânea de coisas contraditórias e sem sentido de que o
futurismo, o cubismo e outras correntes afins são expressão
ocasional, embora, para ser exato, descendamos mais do
espírito do que da letra desses movimentos.»
Fernando Pessoa
Victimes de névroses de tous
ordres, ils ressentent un spleen
qu’ils cultivent enhoisissant le
mercenaire, peuplé d’épiciers et de
rentiers. Les décadents manifestent
leur angoisse devant le monde, par
un pessimisme radical…
Sophie Didier e Etienne Garcin
ordres, ils ressentent un spleen
qu’ils cultivent enhoisissant le
refuge des paradis artificiels, loin
de cet univers trop réel, tropmercenaire, peuplé d’épiciers et de
rentiers. Les décadents manifestent
leur angoisse devant le monde, par
un pessimisme radical…
Sophie Didier e Etienne Garcin
Fernando Pessoa declararia que «[Nobre] foi o primeiro a pôr em europeu este sentimento português das almas e das coisas, que tem pena de que umas não sejam corpos, para lhes poder fazer festas, e de que outras não sejam gente, para poder falar com elas.»
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"[...] não me importa nada que me critiquem. Exactamente como não me importa nada quando me elogiam. Tanto me faz que uma pessoa me elogie como me censure – eu considero aquilo como uma opinião pessoal e não comparo com coisa nenhuma porque eu próprio não tenho opinião pessoal a meu respeito. Não me sinto nem herói, nem criminoso, sinto que vivo, sinto que sou"
– Agostinho da Silva, Vida Conversável [entrevista de 1985], p.99.
Teixeira de Pascoaes, poeta bem mais importante, quanto a
nós, do que Fernando Pessoa.
MÁRIO CESARINY, 1973
nós, do que Fernando Pessoa.
MÁRIO CESARINY, 1973
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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016
Don't Wanna Fight
My life, your life
Don't cross them lines
What you like, what I like
Why can't we both be right?
Attacking, defending
Until there's nothing left worth winning
Your pride and my pride
Don't waste my time
I don't wanna fight no more
Take from my hand
Put in your hands
The fruit of all my grief
Lying down ain't easy
When everyone is pleasing
I can't get no relief
Living ain't no fun
The constant dedication
Keeping the water and power on
There ain't nobody left
Why can't I catch my breath?
I'm gonna work myself to death
No, no, no, no!
I don't wanna fight no more
I don't wanna fight, I don't wanna fight!
I don't wanna fight no more
''viagem da solidão para a solidão''
A poesia pensa o século XX:
Fernando Pessoa lido por Alain Badiou
Fernando Pessoa lido por Alain Badiou
quinta-feira, 28 de janeiro de 2016
«Pecado confessado é pecado perdoado. Dizendo-o, sinto-me aliviado.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 199
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'' as aves não tinham ainda acordado''
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 198
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Nikos Kazantzakis
''(...) uma larga cintura liberta das nuvens, onde brilham as neves.''
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 196
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«Por toda a parte há gente que tem fome enquanto outros lambem os beiços, enfartados. Por toda a parte há lobos e cordeiros: ou comes ou és comido. Só uma lei permaneceu inviolável no mundo: a lei da selva.
- Mas não haverá então salvação? Não existirá um único animal que seja forte e bom, ao mesmo tempo, e não coma os outros nem se deixe comer?
- Não, não existe; talvez um dia venha a existir um. Há milhares de anos que um animal avança nesse sentido, mas ainda não chegou lá.
- Que animal?
- O macaco. Estamos ainda a meio do caminho, no pitecantropo. Tem paciência.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 194
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«(...), permanecia imóvel, tranquila, esperando a noite.
Não falávamos. Sentíamos que aqui a voz do homem, por mais fraca e doce que fosse, teria uma ressonância perfurante e discorde, e que despedaçaria todo o véu mágico que nos envolvia. Andávamos, afastando os ramos baixos dos pinheiros, molhando o rosto e as mãos nas gotas do orvalho matinal.
Sentia-me diluído na felicidade. Voltei-me para o meu amigo, abri a boca na intenção de lhe dizer: « Que felicidade...», mas não ousei; sabia que, se falasse, o sortilégio se dissiparia. »
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 192
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sobre a felicidade
''tinha suíças brancas e emaranhadas''
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 204
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« - Hiero quê?
-Hieroglifos. Desenhos e riscos que parecem não significar coisa alguma.»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 192
-Hieroglifos. Desenhos e riscos que parecem não significar coisa alguma.»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 192
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A verdade é sempre respeitável.
« - Fale, meu rapaz. Não esteja acanhado. A verdade é sempre respeitável. (...)»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 188
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 188
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quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
''O timbre da sua alma é macio.''
Antón Tchekhov (13/1/1899)
Correspondência entre Antón Tchekhov e Máximo Górki.
Correspondência entre Antón Tchekhov e Máximo Górki.
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adjetivo
1. expresso por muitas palavras; difuso
2. superabundante
3. extenso
4. fastidioso; enfadonho
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''Um único defeito: falta de contenção, falta de graciosidade. Graciosidade é quando,
numa determinada ação, utiliza-se o mínimo de movimentos''.
Antón Tchekhov (13/1/1899)
Correspondência entre Antón Tchekhov e Máximo Górki.
numa determinada ação, utiliza-se o mínimo de movimentos''.
Antón Tchekhov (13/1/1899)
Correspondência entre Antón Tchekhov e Máximo Górki.
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"O entendimento humano não é uma luz pura, pois nele se infundem a vontade e as paixões, engendrando-se assim ciências moldadas a partir delas: aquilo que o homem quer que seja verdade acaba por sê-lo. É por essa razão que rejeita as coisas difíceis, por impaciência na investigação;
as coisas moderadas, por estas o desenganarem nas suas esperanças; as profundezas da natureza, por superstição; a luz da experiência, por orgulho e por arrogância, receando parecer ocupar o espírito com objectos vis e em constante transformação; os paradoxos, devido à opinião do vulgo. Em suma, é de mil modos, por vezes imperceptíveis, que as paixões impregnam e inibem o entendimento."
-"Naturalismos: de Lucrécio a Lobo Antunes"
- Lucrécio/ Espinoza/ Francis Bacon/ Diderot/ Paul Valéry/ Gilles Deleuze/ Sigfried Krakauer...
- 480 pgs
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
''as decepções sucediam-se''
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 179
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«Durante quinze dias, Tom ficou prisioneiro, morto para o mundo e para o que se passava. Quando, por fim, pôde levantar-se e, embora fraco, andar pela aldeia, achou tudo e todos muito mudados.»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 179
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«(...), mas em breve descobriu que basta prometer deixar de fazer uma coisa para que fazê-la nos apeteça mais do que nunca.»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 177
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 177
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sábado, 23 de janeiro de 2016
«Havia ali poucas pessoas que soubessem o que significava aquele amontoado de palavras, mas, mesmo assim, agradou muito.»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 173
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 173
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«Em certa altura, uma rapariga de ar triste e melancólico, com a palidez «interessante» dos doentes de estômago, (...)»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 173
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 173
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«Porém, ao fim de pouco tempo, descobre que para lá daquela aparência sedutora tudo é vaidade: a lisonja que lhe deliciava a alma fere-lhe agora desagradavelmente o ouvido; o baile perdeu os seus encantos. Com a saúde arruinada e o coração amargurado, afasta-se então, persuadida de que os prazeres terrenos não bastam para satisfazer os anseios da alma!»
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«A verdade acerca dos nossos é sempre desagradável.»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 172
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
"E imprevistamente reparo que há luz no ar. Não vem do Sol para um sítio determinado, que é a Terra. Espalha-se por todo o lado, não vem de parte alguma, se o Sol desaparecesse, continuaria a iluminar. Porque é uma luz de si própria, da essência de si, que é ser luz sem mais na sua iluminação. E estou contente. E sou também da essência da alegria, que é ser feliz para antes de se saber que a felicidade tem um nome."
- Sebastião Salgado vs Vergílio Ferreira
domingo, 17 de janeiro de 2016
«O LUTO o percurso do luto é parecido ao exílio, arranca-nos do outro, arranca-nos uma parte de nós próprios. É uma viagem que iniciamos para conseguirmos desligar-nos do outro, guardando-o ao mesmo tempo no nosso interior, assim como um exilado tenta guardar nele uma ligação com as suas raízes.
Através desta história, a realizadora quis abordar a forma como se reage à morte e como a tristeza pode encontrar refúgio na imaginação. Quando nos acontecem coisas horríveis, sabemos que temos de viver com a nossa dor. Mas pode-se igualmente transformá-la numa fonte de inspiração criadora.
Baseado no livro Our Father Who Art in the Tree, de Judy Pascoe, dirigido por Julie Bertucelli.
A Árvore é um filme sensível, delicado, extremamente emotivo.
Respeitando o ritmo da dor, a narrativa é ao mesmo tempo segura e envolvente, sem deixar de lado seu cerne emocional.»
Ver vídeo aqui:
https://www.facebook.com/1686583688220406/videos/1700437583501683/?theater
Através desta história, a realizadora quis abordar a forma como se reage à morte e como a tristeza pode encontrar refúgio na imaginação. Quando nos acontecem coisas horríveis, sabemos que temos de viver com a nossa dor. Mas pode-se igualmente transformá-la numa fonte de inspiração criadora.
Baseado no livro Our Father Who Art in the Tree, de Judy Pascoe, dirigido por Julie Bertucelli.
A Árvore é um filme sensível, delicado, extremamente emotivo.
Respeitando o ritmo da dor, a narrativa é ao mesmo tempo segura e envolvente, sem deixar de lado seu cerne emocional.»
Ver vídeo aqui:
https://www.facebook.com/1686583688220406/videos/1700437583501683/?theater
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sábado, 16 de janeiro de 2016
“Sempre me vi como uma pessoa forte, capaz de manter uma calma pelo menos aparente e com ar seguro quando tinha de enfrentar situações difíceis. Mas agora que estava a caminho de me encontrar com o homem mais poderoso do Leste, um homem com fama de ser espectacular e assustador ao mesmo tempo, os meus nervos não estavam tão controlados como eu gostaria.”
Ashraf Pahlavi
Ashraf Pahlavi
quarta-feira, 13 de janeiro de 2016
«Um melro, de asas ainda cobertas de orvalho, pôs-se a meio do caminho, olhando-nos. Não demonstrou medo, não fugiu. Parecia que não era um melro mas um espírito benevolente que nos reconhecia.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 191
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« - Por que razão não falamos? - perguntei para romper o silêncio que começava a pesar-me.
- Falamos, sim - respondeu, tocando-me no ombro levemente -, falamos, mas na língua dos anjos, o silêncio.
E, bruscamente, como se tivesse sido invadido pela cólera:
-Que queres tu que a gente diga? Que isto é belo, que o nosso coração tem asas e quer fugir, que tomámos o caminho que conduz ao Paraíso? Palavras, palavras! Cala-te.
Dois melros fugiram de uma nogueira, os ramos molhados agitaram-se e as gotas de chuva salpicaram-nos o rosto.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 187
«Deste modo, todas as noites, desde o chá até à hora do jantar, passei a ler aos meus patrões a «Folha de Moscovo»: romances de Vachkov, de Rokchanine, de Roudnikovski e toda a espécie de literatura própria para ajudar a fazer a digestão das pessoas que se aborrecem até morrer.
Não gostava nada de ler em voz alta, isso impedia-me de compreender o que lia, mas os patrões escutavam com toda a atenção, quase com uma espécie de avidez cheia de veneração; soltavam alguns «ah» de espanto pelos crimes dos heróis e comentavam entre si, com certa firmeza:
- Ainda bem que vivemos sem fazer ondas, aqui, em paz; não sabemos nada, o Senhor seja louvado!»
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 230
''comilona de alfarrábios''
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 221
«Dai-me a liberdade ou antes a morte»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 171
«Apenas na arte a verdade pode permanecer ao longo dos tempos porque se baseia na contemplação pura do mundo, alicerçada no essencial e permanente de todos os fenómeno e por isso na arte não acontece a felicidade, porque esta é insustentável e inconstante. A arte comunica um conhecimento puro das ideias, elegendo do mundo fugidio dos fenómenos um objecto particular, congelando-o no tempo, como um representante do todo.»
Magda Andreia Delgado Fernandes in O Belo como Consolação – a Ilusão perante a dor, 2011., p 20
Magda Andreia Delgado Fernandes in O Belo como Consolação – a Ilusão perante a dor, 2011., p 20
«O Belo é mais intenso quando emana de tudo, diante de uns olhos que suspenderam as suas lágrimas, o espírito melancólico é também mais pensativo e mais atento aos ínfimos pormenores, depois da onda de desespero.»
Magda Andreia Delgado Fernandes in O Belo como Consolação – a Ilusão perante a dor, 2011., p 16
''mantendo a alma livre de uma ilusão, sem nos deixarmos colher por emoções descontroladas''
Magda Andreia Delgado Fernandes in O Belo como Consolação – a Ilusão perante a dor, 2011., p 13
''Se o Homem aceitasse a dor como inevitável e percebesse que as dores mais agudas apagam as mais suaves e estas só são sentidas porque não existem outras que lhe causem maior sofrimento, tal reduziria a importância enorme que dá à tentativa de extinção da dor. Poderia assim perceber que a dor que tem presentemente ocupa o lugar de outra, que ali poderia vir colocar-se se a primeira desaparecesse. Uma dor por pequena que seja, torna-se dominante se não existir uma maior.''
Magda Andreia Delgado Fernandes in O Belo como Consolação – a Ilusão perante a dor, 2011., p 12
''o prazer e a dor são afecções imediatas do querer''
''Assim, o conhecimento que tenho da vontade está relacionado com o conhecimento que tenho do corpo e eu sou vontade. Perante estes pressupostos, a necessidade, quer seja interior ou exterior, pode ser uma fonte de mágoa se não for satisfeita. Para Schopenhauer, o melhor modo de lidar com esta falta é o ser humano conformar-se com a dor, ver a sua condição como destino e não manter a esperança nas suas expectativas, sendo o fatalismo uma forma de consolo. De certa forma, e a partir desta ideia do autor, podemos acrescentar que se virmos nobreza nos nossos padecimentos, se formos capazes de lhes dedicar um infortúnio que nos é superior, o sofrimento ganha uma dignidade consoladora.''
Magda Andreia Delgado Fernandes in O Belo como Consolação – a Ilusão perante a dor, 2011., p 10
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não se atribui ao artista a função de gritar sofrimento ou de silenciá-lo, mas apenas de apresentá-lo, segundo a concepção de Franz Rosenzweig.
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"Os gostos e os desgostos
levam ao poema
como podem levar
ao precipício
o poema fala do precipício
lá haverá choro
e ranger de dentes
e não haverá Kleenex
nem o Dr. Abílio Loff
o meu querido dentista
o poema fala do precipício
evitado a tempo
o mau poema não mata
(mais vale burro vivo
que sábio morto)"
levam ao poema
como podem levar
ao precipício
o poema fala do precipício
lá haverá choro
e ranger de dentes
e não haverá Kleenex
nem o Dr. Abílio Loff
o meu querido dentista
o poema fala do precipício
evitado a tempo
o mau poema não mata
(mais vale burro vivo
que sábio morto)"
-"Caras Baratas: Antologia"
- Adília Lopes
- Adília Lopes
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
“Não adianta tentar – afirmou ela. – Não se pode acreditar
em coisas impossíveis. (Alice)
– Eu diria que não tens treinado muito – retorquiu
a Rainha. – Quando eu era mais nova, treinava sempre
meia hora por dia. Ora, às vezes chegava a acreditar
em seis coisas impossíveis antes do pequeno-almoço”
CARROLL, Lewis (1978), Alice do Outro Lado do E spelho, Sintra: Europa-América,pág.70
em coisas impossíveis. (Alice)
– Eu diria que não tens treinado muito – retorquiu
a Rainha. – Quando eu era mais nova, treinava sempre
meia hora por dia. Ora, às vezes chegava a acreditar
em seis coisas impossíveis antes do pequeno-almoço”
CARROLL, Lewis (1978), Alice do Outro Lado do E spelho, Sintra: Europa-América,pág.70
“(…) sempre resisti ao poder do tempo graças a um
impulso interior que eu próprio não entendo muito bem,
sempre me fechei à chamada actualidade, na esperança
(…) de descobrir que todos os momentos do tempo
existiram simultaneamente, caso em que nada do que
a história conta seria verdade, os acontecimentos não
aconteceram, estão à espera de acontecer no momento
em que pensarmos neles (…)''
SEBALD, W. G. (2004), Austerlitz, Lisboa: Teorema, pág.96
impulso interior que eu próprio não entendo muito bem,
sempre me fechei à chamada actualidade, na esperança
(…) de descobrir que todos os momentos do tempo
existiram simultaneamente, caso em que nada do que
a história conta seria verdade, os acontecimentos não
aconteceram, estão à espera de acontecer no momento
em que pensarmos neles (…)''
SEBALD, W. G. (2004), Austerlitz, Lisboa: Teorema, pág.96
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
''distribuía os pássaros que serviam de isca''
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 184
«(...) ao longe, ouviam-se uivar os chacais, também eles atormentados pelo amor e pela fome.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 291
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« - O anjo não é mais que um diabo que se foi aperfeiçoando, estás a ouvir?»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 290
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«Ora o que eu pretendo afirmar é que o homem deve viver a sua juventude até ao fim, todas as paixões viris, abrir o ventre a todos esses ídolos e descobrir depois que, afinal, estavam cheios de palha e de vento; ficar por fim vazio, purificar-se em seguida e não ter mais a tentação de olhar para trás; só então estará em condições de apresentar-se perante Deus. A esse chamo eu um lutador.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 289
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« - Ri-te ou zanga-te; desoprime esse coração, mas ouve bem, sou eu que te falo, o gato escaldado, portanto tens o dever de o escutar. Há sete dias que te vejo andar para aí à volta do fogo de Deus, como uma borboleta noctívaga. Ora eu não quero que tu te queimes - tu, não é bem o termo -, a juventude. Tenho pena dessas faces ainda envoltas em penugem, desses lábios ainda não saciados de beijos e blasfémias, dessa alma ingénua que anda por toda a parte atrás do fogo a ver se se queima. Não, eu não permitirei que isso aconteça. Estás à beira do abismo, mas não te deixarei cair.
-Mas de que abismo?
-Do abismo de Deus.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 288
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«Não passava de um bruto que jamais se cansava de comer, beber e de andar abraçado a mulheres. Vendera a alma ao Diabo e o corpo andava sem dono, à rédea solta; ria-me de Deus que, para mim, não passava dum espantalho bom para meter medo aos pássaros idiotas e impedi-los de ir debicar nos jardins.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 285
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«A morte é obra de Deus; o ponto onde Deus toca no Homem. Mas a decadência é uma coisa infame e pérfida;»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 284/5
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 284/5
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Um poema de Rosa Alice Branco
Dias melhores
A mulher espera as noites e também os dias,
esperta o lume enquanto, esperta a espera.
Há umas quantas coisas que a prendem, coisas
que arrecadou para a vida e já não servem.
Quem serve é ela e serve a Deus desfiando o rosário
pelos que já lá estão.
Por aqui vai-se indo, vai-se levando a vida
para o outro lado enquanto se esperam dias melhores,
dias mecânicos, a labuta dos músculos, a cabeça em paz
e a noite cansada, os pensamentos cansados,
o sofrimento cansado só quer estender o corpo
até de manhã. Quando mal nunca pior,
o café quente, o pão acabado de fazer
como se fosse cedo e as mãos na sua azáfama
pudessem fazer os dias gloriosos as noites luminosas
com que sonhou e já não servem. Agora só a espera
e as coisas que foi arrecadando para a morte.
em Da Alma e dos Espíritos Animais, Porto: Campo das Letras, 1ª edição, 2001, p. 14.
''Porta no trinco e nada nas mãos.
Há muito que é tudo o que resta.''
Há muito que é tudo o que resta.''
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excerto,
Raquel Nobre Guerra
Um poema de R. Lino
Tríptico encontrado nas grutas de Kabir-Dá ou o verdadeiro espaço da ficção
I
não mais será quem do dizer se afastou.
uma breve camisa aberta
por ser perto o verão
um som antigo de cor macia
a língua calada e a boca à espera.
esse que dos olhos já refeito se aproximou
saberá quantos os dentes e a boca para dizê-los
e ainda quanto de exemplo têm valor
as histórias ao ritmo do sangue
outra a vida e os sentidos,
únicos e rigorosos os bafejantes elos.
II
horas e horas serão a fio como os dias;
as páginas sem cor dos jornais
por consultar sobre a mesa ao fim da tarde
ficam entre as linhas e os círculos
impossíveis à sombra de cada esquina.
com o sono a pé sobre os tempos
que os fusos já não marcam
limita-se a vida entre a morte
e o que para ela já ocorre.
III
a luz é pouca e os gestos sombrios.
sob os pés caem húmidos os passos
e o corpo esquece,
como se cair e não estar de pé
fosse modo de travessia.
de um sentido em desequilíbrio
a destruição sublinha o sangue
que se oferece mais fundo
sob o vulcão em que se adensa a visita.
os postais não dizem
para os que ficaram lá em cima
à porta das luzes
onde é possível anunciar que se não dorme;
vendidos porventura por dois moços
com a fome e provavelmente encardidos,
ninguém dirá como estão marcados
de tudo quanto ficou
por ser lá em baixo.
em Atlas Paralelo, Porto: Gota de Água/Imprensa Nacional Casa da Moeda, colecção Plural, 1984, pp. 13-15.
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