« - Por que razão não falamos? - perguntei para romper o silêncio que começava a pesar-me.
- Falamos, sim - respondeu, tocando-me no ombro levemente -, falamos, mas na língua dos anjos, o silêncio.
E, bruscamente, como se tivesse sido invadido pela cólera:
-Que queres tu que a gente diga? Que isto é belo, que o nosso coração tem asas e quer fugir, que tomámos o caminho que conduz ao Paraíso? Palavras, palavras! Cala-te.
Dois melros fugiram de uma nogueira, os ramos molhados agitaram-se e as gotas de chuva salpicaram-nos o rosto.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 187
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