«O LUTO o percurso do luto é parecido ao exílio, arranca-nos do outro, arranca-nos uma parte de nós próprios. É uma viagem que iniciamos para conseguirmos desligar-nos do outro, guardando-o ao mesmo tempo no nosso interior, assim como um exilado tenta guardar nele uma ligação com as suas raízes.
Através desta história, a realizadora quis abordar a forma como se reage à morte e como a tristeza pode encontrar refúgio na imaginação. Quando nos acontecem coisas horríveis, sabemos que temos de viver com a nossa dor. Mas pode-se igualmente transformá-la numa fonte de inspiração criadora.
Baseado no livro Our Father Who Art in the Tree, de Judy Pascoe, dirigido por Julie Bertucelli.
A Árvore é um filme sensível, delicado, extremamente emotivo.
Respeitando o ritmo da dor, a narrativa é ao mesmo tempo segura e envolvente, sem deixar de lado seu cerne emocional.»
Ver vídeo aqui:
https://www.facebook.com/1686583688220406/videos/1700437583501683/?theater
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domingo, 17 de janeiro de 2016
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
É com uma ironia melancólica, avô, que turvadas imagens me chegam aos olhos. Nunca estive tão cansada cá dentro, nunca houve dias em que me sentisse tão fora deste rio (mundo?). Sento-me nas margens, e olho os pássaros que rasgam pelos céus, escurecidos pelas nuvens de fria tempestade. Tenho-os visto, amiúde, sentindo-lhes a vertigem das asas, do voo sem fim (e, sem princípio?). Olho e escureço. E a solidão, passeia, como uivo, preso ao rasgo de um saia com flores primaveris, que sem querer, semeia o movimento de memórias e ruínas. Lembro-me daquele que tinha a palavra no espírito, mas acções tão cegas de afeição; e vejo, sim vejo, aqueloutro que entre arbustos diz esconder-se, mas é apenas caruma nos grandes adornos. Tanto peso do gelo sobre os ramos das árvores; tanto ouro e tantas máscaras ímpias, apenas me entristecem. Fixo o branco das flores de Chloé. Esse branco húmido na prisão onde acordei depois de pensar-me na morte. Foram talvez as lágrimas de sangue que mais me marcaram e, recordo-te, sempre que a madrugada me aleita a insónia. Tantas vezes peço, estremeço, por um eco teu e, entregue aos alguéns e ninguéns de mim mesma, procuro viver com o luto (aqueles que cá ficam presos à infinita espera). E é tudo uma ironia tão amarga! Permanecer no mundo com a saudade da tua ausência.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Remexer de novo, com as carumas nos púcaros de resina. Retirar de lá o baço das imagens, o luto que não termina. Estarás sentado, aconchegado ao peito dela, a minha primeira treva? Que verás, quando na madrugada silenciosa, a minha alma vagueia, recua, até ao dia desse desmoronamento...As árvores conservam o frio; não aguentar este pulsar, este não-sentido que parece empalidecer perante ruínas. Estarás comigo, escutando-me este coração sem forças para se aguentar na haste dum tão grande cansaço sem margens? Estou só, dentro de mim mesma, entregue ao golpe incómodo desse sangue, desse rio que nunca mais regressou, e aguento todas as memórias, as misérias que corróiem este caminho para profundas distâncias. Olho-me distanciada, e vejo outra entregue ao incompreendido labor de lavar feridas na laje iluminada pela lua em carne viva. Crepita um embalo rude. Um pássaro abandona uma leve pena no parapeito. Fecho as pálpebras. Mornos fios de sal encontram os lábios. Amarga o que nos é saudade e, talvez me pese esse olhar cínzeo entregue ao lugar desconhecido que nos vigia, ao além das nuvens, que nos ensina a viver com enlutada chama. E, baixinho, muito baixinho, rastejando os pés sobre o mármore branco, volto para o meu leito. Aguento este cerrado nevoeiro e, talvez, amanhã divague por colheita tranquila. O que nos pertence? O desejar de um rio.
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