domingo, 2 de março de 2014
«Maria Adelaide, se não é louca, é destemida; tem o seu lado de bravia, como a mulher domada de Shakespeare.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 218
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 218
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«A cozinha denegrida pelo fumo da lareira, a arca do pão, o enchido no fumeiro, tudo lhe recordava o tempo em que, criança, passava as férias na Beira-Alta com os irmãos. Era esse retorno que a tranquilizava, porque nada é mais benéfico para um espírito perturbado do que o regresso à casa protectora onde se nasceu, onde se criaram as raízes das primeiras recordações. Maria Adelaide, grande depressiva, maltratada por emoções que iam além das suas forças debilitadas pelo culto da civilização, sentia-se amada e protegia entre a gente simples do Roção.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 213
«As mulheres amoráveis são todas; mas porque pressentem alguma humilhação na forma como são despedidas do coração dos homens, o que é justo porque o coração dos homens engana de noite e de dia, elas criam um calor de vingança até no que elas é expansão das melhores virtudes.»
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domingo, 23 de fevereiro de 2014
Ela queria amar.
«Ela queria amar. Incapaz de tolerar a frustração da idade e de tudo aquilo que a condenava e a excluía como objecto de amor, Maria Adelaide recorria a uma agressão destruidora que atingia o marido, os amigos, a sociedade denunciante. Mas, ao mesmo tempo que se sentia livre de amar, a violência das emoções despojava-a do sentimento do amor.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 194
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«Não se sente traído, quem ama não sente a traição, mas só tem o objectivo de recuperar a mulher ou o que dela resta.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 193
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«(...) Quando um homem dá importância a uma mulher toma este ar distraído.
-O sentimento trágico é o que temos quando percebemos que os homens poderosos não estão preocupados com as decisões deles. Precisam de decidir rapidamente coisas que levariam muito tempo a reflectir. Se reflectissem eram filósofos e não políticos. Total: o sentimento trágico da vida é uma reacção pessoal.
-As mulheres não têm reacções pessoais?
-Elas não são pessoas, são um padrão.
-Um padrão de quê?
-De qualquer coisa. Estão sujeitas às escolas de charme desde que nasceram e acreditam que só isso as pode salvar.
-Salvar de quê?
-De tudo, absolutamente tudo. Da raiva e das verrugas. Dum marido chato e pobre e de filhos malcriados.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 185
-O sentimento trágico é o que temos quando percebemos que os homens poderosos não estão preocupados com as decisões deles. Precisam de decidir rapidamente coisas que levariam muito tempo a reflectir. Se reflectissem eram filósofos e não políticos. Total: o sentimento trágico da vida é uma reacção pessoal.
-As mulheres não têm reacções pessoais?
-Elas não são pessoas, são um padrão.
-Um padrão de quê?
-De qualquer coisa. Estão sujeitas às escolas de charme desde que nasceram e acreditam que só isso as pode salvar.
-Salvar de quê?
-De tudo, absolutamente tudo. Da raiva e das verrugas. Dum marido chato e pobre e de filhos malcriados.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 185
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«Não a julgava capaz de se apaixonar, mas sim de ser impelida a agir pelas suas decepções acumuladas.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 185
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XL
« - Há gente muito bem caçada neste mundo! - dizia Francisco Freire. Com bem caçado queria dizer uma pessoa com o seu lado de originalidade que confinava com a loucura. Para um homem são do juízo (que é o mais desconcertante dos homens) um manicómio é um lugar onde se tratam os doentes mentais e, sobretudo, onde a família os deposita para tranquilizar dela própria e para que não estorvem os casamentos das meninas da casa. Um louco faz uma má impressão e não há muitos rapazes que aspirem à mão de uma jovem, por bonita e decente que ela seja, se um irmão incómodo entra na sala com um barrete, feito de jornal, na cabeça. Além disso, pode fazer coisas mais assustadoras e que não têm nada de hilariante; como pegar num machado da carvoeira e levantá-lo à altura dos olhos do aterrado pretendente. É certo que, se estivesse na cidade de Erewhon, isso seria prova de perfeito juízo, e o dito irmãozinho podia chegar a um alto posto na sociedade, inspector fiscal ou qualquer coisa assim. Há uma quantidade de empregos disponíveis para pessoas destas, empregos que, em geral, são ocupados por gente sorumbática e rotineira. A propósito, alguém que é sorumbático tem muitas probabilidades de ser um louco perigoso. Maria Adelaide acusava o marido desse horrível defeito e recorria à genealogia dele para o comprovar. O pai e o avô do doutor Cunha eram tirânicos e desagradecidos com as mulheres. O avô chegou a ditar uma cláusula no testamento que o punha a salvo de ser enterrado junto da esposa. Amuavam frequentemente, mantendo-se calados durante dias e semanas. Um tio, que era mais fantasioso: apaixonou-se por uma espanhola que era artista ambulante e escrevia o nome dela nas paredes, e, cúmulo da insanidade, chegou a casar com ela. O doutor Egas Moniz tratara pelo menos uma prima de Alfredo da Cunha, e nessa família do Fundão havia casos de neurastenia delirante.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 183/4
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«(...) Sabia-se que para curar uma doença da alma era preciso ser-se filósofo. Sabia-se que a origem dessas doenças não era outra coisa senão um desejo violento por uma coisa que o doente encara como um bem. O dever do médico consistia em provar ao doente, por meio de sólidas razões, que aquilo que o doente deseja com tal ardor é um bem aparente. Ora, o paciente só parece curado quando o estado arcaico da sua natureza profunda é atingido pelo medo de ser expulso da terra da sua verdade imediata.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 181/2
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«Há decisões irrevogáveis, são as que coincidem com a liberdade.
Ninguém como a mulher preza a liberdade. O sucesso interessa-lhe menos do que ao homem e entende como vida agradável acreditar nos afectos. A literatura das mulheres não se desenvolveu tanto como quando nos anos 20 uma nova ambição ofusca o desejo do sucesso. É quando a forma de sentir do homem se aproxima da da mulher; ela tem prazer de resignação que nenhum outro iguala. É o sucesso que significa a perda da integridade e a desertificação do amor humano. Como Maria Adelaide descreve, a sua vida com Manuel parece-nos um pouco lírica. ''À tarde lia ao meu companheiro, ou ele lia a mim, livros dos melhores autores portugueses que por assinatura tínhamos conseguido de uma livraria de Lisboa.''»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 170
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«Essa mulher, '' que vivia num museu que o seu coração transformara num lar'', descobria a veia teatral do seu temperamento. Não interpreta uma personagem, cria uma personagem.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 168
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 168
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Uma mulher medíocre
«Uma mulher medíocre é capaz de destruir um homem de talento sem lhe deixar senão os pés dentro das botas.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 159
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sábado, 22 de fevereiro de 2014
Werewolf
Oh the werewolf, oh the werewolf
Comes stepping along
He don't even break the branches where he's gone
Once I saw him in the moonlight, when the bats were a flying
I saw the werewolf, and the werewolf was crying
Cryin' nobody knows, nobody knows, body knows
How I loved the man, as I teared off his clothes.
Cryin' nobody know, nobody knows my pain
When I see that it's risen; that full moon again
For the werewolf, for the werewolf has sympathy
For the werewolf, somebody like you and me.
And only he goes to me, man this little flute I play.
All through the night, until the light of day, and we are doomed to play.
For the werewolf, for the werewolf, has sympathy
For the werewolf, somebody like you and me
Thank You Were Wrong
If I tell you
What you want
Then you'll be
Over me
If I tell you
What you want
Then you'll be
Over me
Used to tell you
What you want
Made you be
Over me
If I let you
See me cry
Lose much lust
Yes, lust each time
If you care
For someone else
I'll be left here with myself
When you save
Every breath
Brings me closer to my death
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
« - O dom com que se nasce, que pode deitar tudo a perder. Maria Adelaide nasceu com a virtude, o que na mulher é uma desgraça que nunca vem só. Havemos de conversar sobre isto.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 146
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 146
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« - Essa mulher precisava mais de Prozac do que dum amante (...)»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 145
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«O que faz de si meu amigo verdadeiro é que inventa todas as maneiras de me contradizer. Obriga-me a pensar e dar luta.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 143
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« - E a Maria Adelaide quem era? A Mata-Hari que o repórter X levou ao cinema?
- Era uma tola que sonhava com toleimas.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 137
- Era uma tola que sonhava com toleimas.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 137
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«As árvores estão nuas e tristes, o rio vai torvo, as árvores não cantam quando o ceú está em luto. Aquilo é inspirativo de fastio e amargura; mas o seu delírio deleitou-lhe magicamente o que dias antes lhe parecia estância de degredo. Não há senão dois criadores: Deus e o amor.»
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Livros do bolso europa américa, Lisboa, 1971., p. 61/2
domingo, 16 de fevereiro de 2014
«Sentou-se na borda da cama, em silêncio, com aquela indiferença polida dos jovens que não sabem amar generosamente ninguém.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 121
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«E acabava sempre com aquele soluço na garganta, um desejo de amor que a fazia pálida e distraída e cansada.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 112/3
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«Para que alguma coisa ou alguém exerça uma impressão profunda numa mulher é preciso que a economia da dor em que ela aceitou a sua vida sofra uma transformação. A educação duma mulher faz-se no sentido de a tornar pusilânime. Enquanto pusilânime é obediente, sensível e sobretudo lenta na execução de um plano. Um homem aprende que a rapidez da acção abrevia o sofrimento. A mulher, e Maria Adelaide é disso um exemplo, economiza a dor como se ela fosse um património. Leva muito tempo a tomar uma decisão e, quando a toma, é com a ideia de poder voltar atrás. Maria Adelaide quando foi para Santa Comba não pensava pedir o divórcio. Foi preciso que uma dor se mudasse em irritação para proceder assim. As mulheres sofredoras estavam em vias de se tornarem mulheres irritáveis.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 109
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«Eu insurgia-me, porque uma mulher não suporta muito bem ser posta de parte quando se trata de ideais.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 108
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XXI
«A dor não se destina apenas a um sintoma, mas também a estimular as energias vitais do paciente, que é o ser humano em geral. No caso de Maria Adelaide podemos observar as suas queixas desde muito nova e que serviam aos médicos para fazerem um diagnóstico. Desde 1889 que Maria Adelaide sofre de uma depressão profunda motivada provavelmente pela morte do pai, que sucede a 14 de Maio do mesmo ano. Em Setembro ela escreve: ''Chego a parecer doida''. Tem falhas de memória que a surpreendem, fica sem saber como se escrevem palavras que não oferecem qualquer dificuldade. Não consegue fixar a atenção num livro ou num trabalho qualquer. Sai de casa e logo deseja regressar. Colhe flores no jardim e deita-as fora. À mesa, mantém-se calada e desinteressada da conversa das pessoas presentes. Tudo isso no tempo de luto que foi interrompido pelo casamento com o doutor Cunha, casamento prematuro, dado o seu estado depressivo. Nunca chega a remeter-se dessa desordem nervosa e a imagem de Eduardo Coelho afirma-se cada vez mais na sua mente. Em 1903 piora muito. Tem trinta e dois anos e a sua instabilidade faz com que lhe seja atribuída uma neurastenia. ''A neurastenia entra no quadro das enfermidades mentais!'' - dizem os doutores mais eminentes do país. Comprometem-se a declará-la doida e entram sem hesitação na estranha perversidade de a encerrar no manicómio com o fim de ser instruído o processo de interdição.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 101
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urticação
nome feminino
1. acto ou efeito de urticar
2. flagelação da pele para a excitar
3. sensação de ardência, parecida com a que é causada pelas urtigas sobre a pele
Acha que ela sofria?
« - Claro que tinha talento. Só não sabia o que fazer com ele. É a sina das mulheres. Sofrem com isso e usam de todos os meios para se livrarem dessa dor. Usam a fricção, a flagelação, a urticação, e nós somos os parceiros escolhidos. Maria Adelaide usou o cautério para despertar a sensibilidade que tinha perdido. É o método dos remédios dolorosos contra a dor.
-Acha que ela sofria?
-Acho que sim. Era uma mulher extraordinária. A dor decompõe-se a favor da arte numa infinidade de intermediários até ao sentimento mais perto do prazer. Estou a citar.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 99
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«''Um príncipe de ilustração! Infelizmente os príncipes verdadeiros não são assim.'' Ela reconhecia que as mulheres o perdia e que ele ia ter uma carreira fulgurante e breve, porque as mulheres amam os que vão morrer.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 87
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XVII
«Há dois meses que Maria Adelaide estava presa no manicómio por ordem do seu marido. Em princípio ela talvez quisesse agredi-lo, sem um plano formado de levar muito longe aquela desavença conjugal que lhe servia de exército, não sem um toque de sadismo.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 84
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«O senhor Júlio Dantas, que escrevia como um Óscar Wilde falava à mesa, teve a ocasião de assistir a certos sintomas inquietantes em relação a Maria Adelaide. Ela tinha, como a condessa de Ficalho, um vestido de linho branco com botões de coral. Um dia arrancou-lhe os botões, servindo-se de uma faca de sobremesa, e pôs-se a jogar com eles como se fossem berlindes.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 77
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 77
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XV
«Alguém para quem vive uma rotina equivale a uma manipulação do espaço em que vive, o espaço do casamento, só muito tarde se apercebe das transformações de carácter que foram explicadas como alienação mental.
O carácter de uma pessoa não é imutável. Ele sofre alterações nas diversas idades da vida; às vezes certos períodos bastam para fixar um comportamento oposto ao que até ali era tido por normal.»
Agustina Bessa-Luís. Doidos e amantes. 2ª edição, Lisboa Guimarães Editores, 2005., p. 76
«(...) e agora como gosto eu de reflectir, para libertar o meu sonho desta roupagem.»
Stéphane Mallarmé. IGITUR ou A Loucura de Elbehnon. Tradução de Carlos Valente. Lisboa, Hiena Editora, 1990., p. 55
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«além do bater de asas absurdas de um qualquer habitante assustado da noite, ferido pela claridade no seu sono pesado e prolongado a sua indefinida sombra.»
Stéphane Mallarmé. IGITUR ou A Loucura de Elbehnon. Tradução de Carlos Valente. Lisboa, Hiena Editora, 1990., p. 52
Stéphane Mallarmé. IGITUR ou A Loucura de Elbehnon. Tradução de Carlos Valente. Lisboa, Hiena Editora, 1990., p. 52
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«IGITUR. Igitur, ou a Loucura de Elbehnon: título estranho de uma obra estranha. Ensina-nos Rolland de Renéville que em hebreu El behnon significa «o filho dos Elohim», quer dizer «anjos», quer dizer «astros», e o advérbio-substantivo Igitur teria sido tirado do primeiro versículo do segundo capítulo do Génesis: Igitur perfecti sunt coeli et terra et omnis ornatus eorum. Igitur seria, pois, o filho de uma raça de anjos, o último rebento, a última consequência («igitur») de uma raça de puros espíritos cujo destino, a «loucura» se quisermos, é ele manter-se no plano do espírito puro, no plano das essências eternas e imutáveis libertando-se do presente, do acaso, da individualidade. Atrás do rosto desta personagem, Mallarmé pinta-se a ele próprio, o último descendente dos altos poetas e herdeiro espiritual dos grandes filósofos, no qual deve resumir-se.»
Stéphane Mallarmé. IGITUR ou A Loucura de Elbehnon. Tradução de Carlos Valente. Lisboa, Hiena Editora, 1990., p. 30
sábado, 15 de fevereiro de 2014
«Queixa-se do peito, de um sistema nervoso «feito num oito», e descobre-se incapaz de pronunciar a mais simples frase. Durante esses invernos terríveis vive sempre numa espécie de beatitude de sonâmbulo, uma vez que os seus excessos de reflexão sobre si o ajudaram a reduzir-se ao estado de verdadeira sombra, e procura-se, inquieto, no reflexo dos espelhos para não se reconhecer. Bem sabe, porém, que esta dura ascese é necessária para dar oportunidade às «belas coisas» com que sonha obstinadamente e que devem desabrochar «na Vida - ou na Morte» (Corr., 226)
Stéphane Mallarmé. IGITUR ou A Loucura de Elbehnon. Tradução de Carlos Valente. Lisboa, Hiena Editora, 1990., p. 22/23
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«Para Hegel, o pensamento do pensamento é a reflexão que representa, na dialéctica da Enciclopédia, a passagem necessária do pensamento em si ao pensamento para si. E esta reflexão, ao atingir o nível do Absoluto, faz-se a própria reflexão do ser no pensamento, ao mesmo tempo que o pensamento se faz o pensamento do ser.»
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«De resto confesso, mas só a ti, que os insultos do meu triunfo foram de tal forma grandes, ao ponto de ainda sentir necessidade de me olhar nesse espelho para pensar, e até voltaria a ser o Nada se acaso ele não estivesse à frente da mesa onde te escrevo esta carta. É isto dizer-te que agora sou impessoal, e não mais o Stéphane que conheceste - mas uma aptidão que o Universo espiritual tem para se ver e desenvolver através daquilo que eu fui. (Corr., 240-242)
Stéphane Mallarmé. IGITUR ou A Loucura de Elbehnon. Tradução de Carlos Valente. Lisboa, Hiena Editora, 1990., p. 20
A sua verdadeira tragédia
«A sua verdadeira tragédia (começava a entender) residia na incapacidade de comunicar aos outros o conhecimento que tinha da existência de um outro mundo, um mundo para além da ignorância e da fragilidade, para além do riso e das lágrimas.»
Henry Miller. O Sorriso aos Pés da Escada. Tradução de Célia Henriques e Vítor Silva Tavares. Literatura ASA, 1ª edição: Maio de 1992, p. 49
«Agora sei quem sou, o que sou, e o que devo fazer. É isto a realidade. O que vocês chama realidade não passa de serradura; esboroa-se, escapa-se entre os dedos.»
Henry Miller. O Sorriso aos Pés da Escada. Tradução de Célia Henriques e Vítor Silva Tavares. Literatura ASA, 1ª edição: Maio de 1992, p. 46/7
Henry Miller. O Sorriso aos Pés da Escada. Tradução de Célia Henriques e Vítor Silva Tavares. Literatura ASA, 1ª edição: Maio de 1992, p. 46/7
“(…) Sobretudo no amor se deve ter cuidado; gostar dos outros e lhes querer bem tem sido o motivo de muita opressão e de muita morte dos espíritos. (…) Não tens, essencialmente, de amar nos outros senão a liberdade, a deles e a tua; têm, pelo amor, de deixar de ser escravos, como temos nós, pelo amor, de deixar de ser donos do escravo. (…)”
Agostinho da Silva
Agostinho da Silva
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
«Não sei o que me diz o coração...»
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Livros do bolso europa américa, Lisboa, 1971., p.44
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domingo, 9 de fevereiro de 2014
«Rubro de humilhação, adiando uma resposta que tardava, por fim lançara um repto cuja ousadia, se fosse bem sucedida, poderia ter feito dele a personagem mais falado da vila...»
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 32
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 32
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«(....), vasculhando na memória, enrugava a testa até ao martírio.»
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 32
''Os desejos dos mortos são sagrados.''
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 28
«Sempre que abria um rego na terra e o ensopava com água do poço, não podia deixar de mirar, com ressentimento e ternura, o inútil engenho que a ferrugem ia corroendo.»
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 21
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domingo, 2 de fevereiro de 2014
NOITE PERENE
De repente abri os meus olhos na escuridão
-lua negra, ardósia imensa, precipício -
e nada pude ver. Senti que a minha memória
tinha-me igualmente abandonado.
A cidade absorvia o seu esgotado deserto,
como se a impassível escuridão
desde sempre ocupasse a sua amorfa existência.
A realidade vazava os meus sentidos
para quedas de água e desaguamentos,
precipitando-se num marasmo tenebroso
de invisíveis objectos repudiados.
Procurei a minha própria sombra e aquele nome,
mas encontrei o torpe esquecimento da linguagem.
A voz fez-se bruma, tácita transparência.
Tudo ficou em suspenso e continuei pela noite
da alma como um navio sem timoneiro e sem luz,
perdido entre as águas fantasmagóricas.
Justo Jorge Padrón. Extensão da Morte. Editorial Teorema, 2000., p. 72
-lua negra, ardósia imensa, precipício -
e nada pude ver. Senti que a minha memória
tinha-me igualmente abandonado.
A cidade absorvia o seu esgotado deserto,
como se a impassível escuridão
desde sempre ocupasse a sua amorfa existência.
A realidade vazava os meus sentidos
para quedas de água e desaguamentos,
precipitando-se num marasmo tenebroso
de invisíveis objectos repudiados.
Procurei a minha própria sombra e aquele nome,
mas encontrei o torpe esquecimento da linguagem.
A voz fez-se bruma, tácita transparência.
Tudo ficou em suspenso e continuei pela noite
da alma como um navio sem timoneiro e sem luz,
perdido entre as águas fantasmagóricas.
Justo Jorge Padrón. Extensão da Morte. Editorial Teorema, 2000., p. 72
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