domingo, 2 de junho de 2013

 
«Lembra-se - continuou Ernst - do que nos dizia muitas vezes: que a saúde mental de uma pessoa não estava no que ela fazia, mas sim naquilo em que ela pensava? Lembra-se de perguntar a cada um de nós: em que tens pensado? Lembra-se dessa pergunta, que nos metia medo? Se agora me fizesse de novo essa pergunta, agora que me sinto equilibrado, sabe o que lhe respondia? Que nos últimos dias tenho pensado em matá-lo.»
 


Gonçalo M.Tavares. Jerusalém. Editorial Caminho, 7ª edição, 2005., p. 139

Pedra de Sísifo II

Agora medirei o tempo
Pela vara erguida ao meio-dia
Pela areia a descer o coração
E o sono
 
Pela cinza no cabelo de Jacob
Pelas agulhas no colo de Penélope
 
Agora lavarei a minha face
Sem perturbar os círculos da água
Medirei o tempo pelo peso da pedra
De Sísifo, perto do cimo
E pelo musgo que dificulta
A firmeza dos seus pés
 
Partirei sozinho na viagem
Sem nenhuma pedra ou senda repetida
E no tempo repetido acharei uma saída
Uma manhã depois de uma manhã
 
 
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 70

''A viagem sempre repetida''

Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 69

Labirinto II

«(...)



A teia é movimento que persiste
Em sua paciência.
Como Ariadne costurando umbrais
Para que Teseu possa vir do nada.»


Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 67

AQUILES E PÁTROCLO


Nem sucessivas e sucessivas migrações de aves
Perfarão a distância que agora nos separa
Mas esta nau não me levará a casa
E seguir-te não será morrer



Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 65

«Naquilo que não fui vim a encontrar-me
E sempre que te vi recomecei»



Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 59

indigência


nome feminino

1. situação de quem vive em condições de miséria, sofrendo necessidades básicas (comida, vestuário, abrigo, etc.); pobreza extrema
2. falta de alguma coisa; carência
3. conjunto de pessoas que vivem em grande pobreza


(Do latim indigentĭa-, «carência»)

''ideia ensimesmada''

Explicação da pedra enquanto lume


Tenho aflição por tudo o que morre
Como tenho pavor por cada noite que cai.
Como fui esquecer o caminho para fora?

Infeliz que esqueci as sendas da caça.
Comerei erva? Sol? Comerei estepes e estepes
A arder?

Vou-me pôr à mesa  e esperar.

Tenho aflição por toda a ausência não anunciada
Acendi a luz por toda a casa e electrifiquei a voz
Agora posso ampliar o clarão dos gritos.

Posso abrir trilhos no fogo: sei o ritmo da mão exacta
Que fez o povo atravessar enxuto o interior da água.

Vou-me encostar à mesa. Vou deixar arrefecer a comida.
Fazer de conta que estou a esperar.



Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 40
Poderia ter escrito a tremer de respirares tão longe
Ter escrito com o sangue.
Também poderia ter escrito as visões
Se os olhos divididos em partes não sobrassem
No vazio de ceguez
E luz.
Poderia ter escrito o que sei
Do futuro e de ti
E de ter visto no deserto
O silêncio, o fogo e o dilúvio.
De dormir cheio de sede e poderia
Escrever
O interior do repouso
E ser faúlha onde a morte vive
E a vida irrompe.
E poderia ter escrito o meu nome no teu nome
Porque me alimento da tua boca
E na palavra me sustento em ti.


Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 19
               Nas pálpebras
da noite
Chorei
cadências
que me ensinaram
que o Amor     Ama-se
 
 
Assim teus
Olhos.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

domingo, 26 de maio de 2013


O sobrevivente de um campo de concentração disse:

«Os homens normais não sabem que tudo é possível.»


Gonçalo M.Tavares. Jerusalém. Editorial Caminho, 7ª edição, 2005., p. 139

«Não precisavam um do outro, pareciam pois preparados, se necessário, para o ódio.»



Gonçalo M.Tavares. Jerusalém. Editorial Caminho, 7ª edição, 2005., p. 108

curado de

«Estar curado não era apenas deixar de ter determinados comportamentos, era ainda esquecer o trajecto que de novo os poderia recuperar.»




Gonçalo M.Tavares. Jerusalém. Editorial Caminho, 7ª edição, 2005., p. 104

«Wisliz traz uma ligadura na cabeça.
  Fui operado à cabeça, diz Wisliz.
  Tiraram-me a inteligência.
  Dizem que sou estúpido, que não percebo.
  Eu fico cansado, não me consigo concentrar.
  Preciso de dormir muito, diz Wisliz.»


Gonçalo M.Tavares. Jerusalém. Editorial Caminho, 7ª edição, 2005., p. 85/6

quinta-feira, 16 de maio de 2013


«A Noiva»

   «A Noiva», chamavam-lhe, uma argentina com um físico que não era mau de todo embora tivesse, quanto à moral, uma única ideia: casar com o pai. E então dava sumiço às flores dos canteiros, uma a uma, para serem espetadas no grande véu branco que usava dia e noite, onde quer que estivesse. Um caso de que a família, religiosamente fanática, tinha uma horrível vergonha. Escondiam do mundo a filha mais a sua ideia. »
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 392

«Enfeitiçava-me de estupidez.»

«Eu nunca mais voltaria a dormir profundamente. Tinha como que perdido o hábito daquela confiança, da que é bastante necessário nós termos, e em grande quantidade, para adormecer profundamente entre os homens. »
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 390

Parapine

«(...) Parapine é um rapaz que tenho na conta de inteligente, bem entendido...Mas apesar de tudo um rapaz com uma inteligência inteiramente arbitrária! Não acha, Ferdinand? - entièremeng, como ele dizia. - Antes de mais, é um rapaz que não quer adaptar-se...É coisa que se nota logo...Nem sempre está à vontade na profissão...Não está sequer à vontade neste mundo! ...Confesse!...E neste ponto ele não tem razão! Nenhuma razão!...E então sofre!...A prova é esta. Olhe para mim, veja como eu me adapto, Ferdinand!... - batia no esterno. - Que a terra comece amanhã a girar ao contrário, por exemplo. Muito bem, e eu? Adapto-me, Ferdinand! E logo de seguida! Sabe como, Ferdinand? Dormindo mais umas dozes horas, e acabou-se! E pronto! Para a frente! Não é mais esperteza que isto! E a coisa fica arrumada! Estou adaptado! Enquanto o seu amigo Parapine, esse, sabe o que ele faz numa aventura semelhante? Põe-se a ruminar projectos e azedumes durante mais cem anos!...Tenho a certeza!»
 
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 381
«Em suma, a grande fadiga da existência talvez não passe do enorme esforço que fazemos para continuar vinte, quarenta anos ou mais razoáveis, para não sermos simplesmente, profundamente nós próprios, isto é, imundos, atrozes, absurdos. Pesadelo de termos sempre que apresentar como ideal universal, e super-homem de manhã à noite, o infra-homem claudicante que nos deram.»
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 380
«Por vezes, os loucos vinham às janelas do refeitório que davam para a rua berrar e alvoraçar a vizinhança, mas principalmente dentro deles próprios é que o horror continuava. Ocupavam-se pessoalmente desse horror e preservavam-no contra os nossos cometimentos terapêuticos. Apaixonava-os, essa resistência.»
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 379

O manicómio de Vigny-sur-Seine

 
          O manicómio de Vigny-sur-Seine nunca desenchia lá muito. Nos jornais intitulavam-no «Casa de Saúde» por causa de um grande jardim que o rodeava e onde os nossos loucos passeavam quando fazia bom tempo. Passeavam, os loucos, com um estranho ar de quem achava difícil equilibrar a cabeça sobre os ombros, como se tivessem constantemente medo de tropeçar e espalhar o seu conteúdo no chão. Lá dentro tinham fechada toda a espécie de coisas saltitantes e patuscas a que estavam horrivelmente agarrados.
          Só nos falavam dos seus tesouros mentais, os alienados, com uma porção de contorções horrorizadas ou ares condescendentes e protectores, como se fossem muito poderosos e meticulosos administradores. Nem um império faria aquela gente abdicar das suas cabeças. Um louco não passa de vulgares ideias de homem, embora bem fechadas numa cabeça. O mundo não lhe atravessa a cabeça, e isso basta. Uma cabeça fechada transforma-se numa espécie de lago sem rio, numa infecção.
          Baryton abastecia-se de massas e legumes em Paris, a grosso. Por isso os comerciantes de Vigny-sur-Seine não gostavam lá muito de nós. Nem sequer nos podiam ver, pode mesmo dizer-se. Mas esta animosidade não nos tirava o apetite. À mesa, quando o meu estágio começou, Baryton extraía regularmente conclusões e filosofia das nossas desconchavadas conversas. Mas como tinha passado a vida entre alienados, a ganhar o pão com o seu tráfico, a partilhar a sua sopa, a neutralizar-lhes como podia a insânia, nada lhe parecia mais entendiante do que às vezes ter de falar das manias deles durante as refeições. «Não devem estar presentes na conversa de pessoas normais!», afirmava defensivo e peremptório. Pela parte que lhe tocava, agarrava-se a esta higiene mental.
       Gostava de conversa, ele, e de uma forma quase inquieta, gostava dela divertida, sobretudo tranquilizadora e bastante sensata. No que respeitava a tolinhos não queria insistências.»
 
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 378

quarta-feira, 15 de maio de 2013


cabra montês


»(...): sabia que perceber os hábitos de pensamento do louco é normalizá-lo, é prever o seu comportamento, é, enfim, controlá-lo enquanto indivíduo.»


Gonçalo M.Tavares. Jerusalém. Editorial Caminho, 7ª edição, 2005., p. 59
 
 
«Dois tipos de educação recebera Mylia: a educação para ver e a educação para ouvir. Por ela, ou talvez pela sua doença,havia aprendido a tocar. Não se toca assim nas pessoas - escutava uma e outra vez. E assustava-se. Não se toca assim nas pessoas? Ela não o repetiria.»



Gonçalo M.Tavares. Jerusalém. Editorial Caminho, 7ª edição, 2005., p. 44


«A nossa filha não tem saúde - esta foi a primeira frase que ouviu sobre Mylia, aquela que viria a ser a sua única mulher.»



Gonçalo M.Tavares. Jerusalém. Editorial Caminho, 7ª edição, 2005., p. 31

domingo, 12 de maio de 2013

Todas as terras enraízaram seus grandes
medos debaixo dos meus pés
e eles pendem poços-de-corda pesados e velhíssimos
enchendo sempre a transbordar a noite
a palavra mortífera -

Assim não posso eu viver
só na queda -



Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 228

II

Visões de crepúsculo
Coisas perdidas dos mortos
também nós deixamos
o mais solitário de nós aos recém-nascidos -


Um volta-se
e olha pra o deserto -
a alucinação abre
a parede do ermo solar
onde um par de avós
fala a língua do pó descoberto
longe como voz de búzio sob o selo -

Trememos de frio
e lutamos com o passo próximo
pra o futuro -



Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 225

Sempre de novo dilúvio novo
com as letras arrancadas a tormentos
os peixes falando presos ao anzol
para no esqueleto do sal
fazerem legível a ferida -

Sempre de novo aprender a morrer
pela vida velha
Fuga pela porta de ar
pra buscar pecado novo de planetas dormentes
Exercício extremo no velho elemento do respirar
assustado com a nova morte
Pra onde vai a lágrima
Se a Terra desapareceu?




Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 223

Chant Sacrè


''Vide que dá seu vinho à chama''

''Deserdaddos nós choramos o pó -''

«Não fazer nada
visível murchar
As minhas mãos pertencem a um bater de asas roubado
Com elas vou cosendo um buraco
mas elas suspiram junto a este abismo aberto - »



Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 197
«No Norte azul da rosa-dos-ventos
vigilante à noite
já um botão de Morte sobre as pálpebras

caminhando para a fonte -»




Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 192


Ela dança -
mas com um grande peso -
Porque dança ela com um grande peso?
Ela quer ser inconsolável -

Gemendo vai puxando o seu amado
pelos cabelos da fundura do Oceano
Hábito de inquietação sopra
sobre as traves salvadoras dos seus braços
Um peixe sofredor estrebucha sem fala
com o seu amor -

Mas de repente
pela nuca
o sono dobra-a para diante -

Libertos
são Vida -
são Morte -



Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 184

''as idades da noite''


«Fundo-escuro é a cor da nostalgia sempre
assim a noite toma
de novo de mim posse.»



Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 164

''unicórnio-dor''

Morte
Cântico do mar
banhando-me o corpo em volta
uva salgada
a atrair sede na minha boca -

Feres as cordas das minhas veias
até que elas cantando rebentam
desabrochando das chagas
pra tocar a música do meu amor -

Os teus horizontes em leque desdobrados
com a coroa dentada do morrer
já posta em volta do teu pescoço
o ritual de partida
com o som regougado da respiração
começado
abandonaste como um sedutor
antes do casamento a vítima enfeitiçada
despida quase já até à areia
expulsa
de dois reinos
já só suspiros
entre noite e noite -


Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 160

quarta-feira, 1 de maio de 2013




«Um estranho tem sempre
a pátria nos braços
como uma órfã
para a qual talvez nada mais
busque do que uma sepultura.» 




Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 155

Caçador
a minha constelação
aponta
a ponto secreto do sangue: desassossego...
e o passo voa sem asilo -

Mas o vento não é uma casa
lambe apenas como os bichos
as feridas do corpo -

Como se há de puxar o tempo
dos fios de ouro do Sol?
Enrolá-lo
pra o casulo da borboleta-da-seda
Noite?

Ó escuridão
estende a tua mensagem
só por um bater de pestanas:

Repouso na fuga.




Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 147
Isto é o hálito escuro
de Sodoma
e a carga
de Nínive
pousada
junto à ferida aberta
da nossa porta.

Isto é a Escrita sagrada
em fuga pela terra
trepando ao céu
com todas as letras,
escondendo a emplumada
ventura num favo de mel.

Isto é o negro Laocoonte
lançando à nossa pálpebra
perfurando milénios
a retorcida árvore da dor
rebentando na nossa pupila.

Isto são dedos inteiriçados em sal
gotejando lágrimas na oração.

Isto é a Sua causa marinha
recolhida
para a cápsula marulhante dos mistérios.

Isto é o nosso refluxo
Constelação da dor
da nossa areia a desfazer-se





Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 145/6

''flores infecundas''


«Numa curva do rio ouvimos um acordeão.»

Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 364

''cortina de choupos''

Chegou mesmo a fazer-me uma espécie de cena...

«Que era séria...Que era uma vergonha da minha parte...Que eu tinha uma pavorosa opinião a seu respeito...Que isso não, porque só era comigo e mais ninguém!...Que eu a desprezava...Que os homens eram todos uns sujos...»
   Enfim, o que elas, as mulheres, dizem todas em casos destes. Era de esperar. Poeira nos olhos. Para mim, o mais importante é que tivesse escutado bem os meus conselhos e retido o essencial. O resto não tinha importância nenhuma.»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 362

desmancha-prazeres

«(...) Uma vez por outra, Madelon e eu arranjávamos os nossos momentos antes do jantar, no seu quarto. Mas não eram fáceis de combinar, as entrevistas. Não falávamos delas. Éramos o que havia de mais discreto.
     Com isto não deve imaginar-se que não amava o seu Robinson. Não tinha nada a ver uma coisa com a outra. O caso é que ele brincava aos noivados enquanto ela, naturalmente, ia brincando às fidelidades. Era este o sentimento que entre eles existia. Nestes casos, tudo vai de se entenderem. Ele estava à espera de casar para lhe tocar, e a mim  o para-já. Falara-me aliás de um projecto que também tinha, estabelecer-se com um restaurante mais ela, e largar a velha Henrouille. Tudo muito a sério, claro. «É graciosa, há-de agradar à clientela», previa nos seus melhores momentos. «E de resto provaste-lhe a cozinha, hem? Não teme seja quem for quanto à paparoca!»
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 360

ensosso

femeeiro

 

«(...)Nascera durante a guerra, tempo de morte fácil. Sabia bem, eu, como se morre. Tinha aprendido. Faz sofrer enormemente. »
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 355
«A vida é muitíssimo curta. Não desejaríamos ser injustos para ninguém. Sentimos escrúpulos, hesitamos em julgar tudo isto de repente, e sobretudo tememos que seja preciso morrer enquanto hesitamos, porque então teríamos vindo ao mundo para absolutamente nada. O pior dos piores.»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 349
«Se vivêssemos muito tempo, deixaríamos de poder respirar. Os verdadeiros abortos, os que estão nos museus, conseguem pôr as pessoas doentes e prestes a vomitar só de os verem. As nossas tentativas para sermos felizes, bem nossas mas muito ascorosas, são capazes de nos deixar doentes por serem assim tão falhadas, e isto muito antes de morrermos de vez.»
 
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 348

sem tugir nem mugir



Gerard Philippe and Maria Casares in ''Les Epiphanies''
by Henri Pichette, directed by Georges Vitaly, Paris 1974

ganha-pão

***

 
«Os jovens, que pressa têm de fazer amor, como são rápidos a deitar a mão a tudo aquilo que lhes fazemos crer que os diverte, quando se trata de sensações nem olham para trás. Fazem lembrar aqueles viajantes que devoram tudo quanto lhes oferecem no bufete da estação, entre dois apitos. Desde que se forneçam aos jovens as duas ou três canções que servem para puxar as conversas da foda, isso basta e é vê-los todos contentes. São de alegria fácil, os jovens, é bem verdade que gozam quanto querem!»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 345

Tomamos tudo por desgostos de amor, quando somos jovens

«Tomamos tudo por desgostos de amor, quando somos jovens e ainda não sabemos...
 
                      Where I go...where I look...
                       It's only for you... u....
                       Only for you...  u...»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 333

matagais

Olarila!

domingo, 28 de abril de 2013

«- A morte está entrelaçada de violetas, disse Louis. A morte, sempre a morte.»


Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 113

«Não andes mais. Tudo o resto é dor e mentira. O fim é aqui.»

Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 111
« - Estas águas rumorejantes, disse Neville, sobre as quais construímos as nossas loucas plataformas, são, apesar de tudo, mais estáveis que os gritos selvagens, inconsequentes e frágeis que soltamos quando tentamos falar, quando raciocinamos e pronunciamos do género «eu sou isto...eu sou aquilo». A linguagem mente.



Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 110


«Em que pegadas
hei-de eu buscar a poesia do teu  sangue?»




Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 136

«Prontas a levar na mala o último
peso de melancolia, este casulo de borboleta,
em cujas asas um dia levarão
a viagem ao fim.»  




Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 129



''e a pedra dançando transforma
em música o seu pó.''



Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 127

Quem sabe onde as estrelas estão
na ordem da magnificiência do Criador
e onde a paz começa
e se na tragédia da Terra
a guelra rasgada e sangrenta do peixe
está destinada
a completar o seu vermelho-rubi
a constelação Martírio,
a escrever a primeira
letra da língua sem palavras -



Por certo possui o amor olhar
que repassa ossadas como um relâmpago
e acompanha os mortos
para além do alento -



mas onde os rendidos
depõem a sua riqueza,
é desconhecido.



As framboesas traem-se no mais negro bosque
pelo seu perfume,
mas a carga-de-alma deposta dos mortos
não se trai a nenhuma busca -
e bem pode alada
entre cimento ou átomos tremer



ou sempre ali
onde ficou esquecido
um lugar pra o pulsar de um coração.

 
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 122/3
«O verdugo
na escuridão carregada de culpa
escondeu o dedo fundo
no cabelo do recém-nascido
que deita rebentos já há anos-luz
pra céus não sonhados.»





Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 120
(...)

Povos da Terra
vós, que com a força dos desconhecidos
astros vos envolveis como carrinhos de linhas,
que coseis e de novo descoseis o que cosestes,
que entrais na confusão das línguas
como em cortiços de abelhas,
para no doce picardes
e serdes picados -

Povos da Terra,
não destruais o Universo das Palavras,
não corteis com as facas do ódio
o som que nasceu ao mesmo tempo que o hálito.

Povos da Terra,
Oh, que ninguém queira dizer Morte quando diz Vida -
e ninguém Sangue, quando diz Berço -

Povos da Terra,
deixai as palavras ao pé da sua fonte,
pois são elas que podem levar
os horizontes até aos céus verdadeiros
e desviadas de lado
como uma máscara atrás da qual boceja a noite
ajudar as estrelas a parir -

Já hoje exercitamos a morte de manhã
quando ainda o morrer velho murcha em nós -
O medo da humanidade de não resistir -

Ó habituação da morte até adentro de sonhos
onde andaime de noite cai em cacos negros
e lua de osso brilha nas ruínas -

Õ medo da humanidade de não resistir -

Que é dos suaves açoitados
Anjos-calma, que a fonte oculta
nos tocaram, que do cansaço
corre pra o morrer?






Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 114/5

'' as luas da morte''


''despidas as asas da noite de todos os mistérios...''


Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 110

''idade nocturna''

destrinçar


«se Deus não existe, tudo é permitido»

«Se o sentimento religioso morre, fazendo desaparecer a via mística do conhecimento, se a razão abre falência, na crise do positivismo, do idealismo germânico e, de um modo geral, das conglomerações de ideias tendentes e eternizar e a universalizar os conceitos, o homem vê-se então perdido num universo onde tudo lhe é estranho e cuja linguagem não entende. O homem é um estrangeiro em terra alheia e, ignorando o código por que deve comportar-se, não pode senão comportar-se sem código ou por um código interior. É o tema de O Estrangeiro.»



In Prefácio, António Quadros



Albert Camus. Os Justos. Prefácio António Quadros. Edição Livros do Brasil, Lisboa., p. 18/9

«Sísifo é maior do que o seu rochedo.»

Albert Camus

Albert Camus

 
«Albert Camus impôs-se-me antes de mais nada como um dos poucos escritores sérios da nossa época (não são tantos, os escritores sérios, como o dá a entender a «bibliografia da fama literária»...) Escritor sério porque, para ele, a literatura não era um jogo, um pretexto para a afirmação pessoal, um meio de atingir a glória, uma actividade gratuita e sem responsabilidade no próprio destino do mundo ou ainda uma forma de enfeudamento às suspeitas forças de uma sociedade egolátrica ou desviada do seu mais fundo sentido criador. É este o ponto culminante do parentesco que me sinto com Albert Camus.»
 


In Prefácio, António Quadros



Albert Camus. Os Justos. Prefácio António Quadros. Edição Livros do Brasil, Lisboa., p. 14
« A única reforma subsistente será a reforma espiritual, que volte a colocar a Verdade no vértice da hierarquia dos valores.»


In Prefácio, António Quadros



Albert Camus. Os Justos. Prefácio António Quadros. Edição Livros do Brasil, Lisboa., p. 12-13

sábado, 27 de abril de 2013

'' (...) e a noite desfez-se em lágrimas''

Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 108

''o amor - entre em ti e a morte -''



Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 108

''então a humildade fez-te emudecer''


Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 108

EM SEGREDO

Ó minha mãe,
nós, que moramos numa estrela órfã -
acabamos de suspirar o suspiro
dos que foram atirados para a morte -
quantas vezes cede sob os teus passos e areia
e te deixa sozinha -

Deitada nos meus braços
saboreias o mistério
que Elias andou -
onde o silêncio fala
nascer e morrer acontecem
e os elementos de outro modo se misturam -

Os meus braços seguram-te
como um carro de madeira os que viajam para o céu -
madeira que chora, arrancada
das suas muitas metamorfoses -

Ó minha regressante,
o mistério concrescido c'o esquecimento -
eu bem ouço coisas novas
no teu amor crescente!


Estás sentada à janela
e neva -
e o teu cabelo é branco
e as tuas mãos -
mas nos dois espelhos
da tua face branca
conservou-se o Verão:
Terra para os prados erguidos para o Invisível -
Bebedouro para as corças de sombra à noite.

Mas queixosa mergulho na tua brancura,
na tua neve -
donde a vida tão de manso se afasta
como depois numa reza dita até ao fim -

Oh, adormecer na tua neve
com toda a dor no hálito de fogo do mundo.

Enquanto as linhas suaves do teu rosto
mergulham já em noite marinha
pra novo nascimento

Quando o dia se esvazia
no crepúsculo,
quando o tempo sem imagens começa,
as vozes solitárias se unem -
os bichos nada são senão caçadores
ou caçados -
as flores só ainda odor -
vais tu para entre as catacumbas do tempo
quando tudo é sem nome como no princípio -
vais tu para entre as catacumbas do tempo
que se abrem para aqueles que estão perto do fim -
ali onde crescem os germes de coração -
na escura intimidade
te afundas -
já para lá da Morte
que é apenas um desfiladeiro ventoso -
e com frio da saída abres
os olhos
nos quais já uma nova estrela
deixou o seu reflexo -»

(...)



Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 105-107

caducidades

MÃE DE LUTO

(...)

«Despedida -
palavra a sangrar de duas feridas.
Ontem ainda palavra de mar
com o navio a afundar-se
como espada no meio -
Ontem ainda palavra trespassada
de morte de estrelas cadentes -
Garganta beijada da meia-noite
dos rouxinóis -

Hoje - dois trapos pendentes
e cabelo humano numa mão em garra
que rasgava -

E nós a sangrar depois -
a esvair-nos de sangue em ti -
mantemos a tua fonte nas nossas mãos.
Nós exércitos dos que se despedem
que construímos a tua escuridão -
até que a Morte diga: cala-te -
mas aqui é: continuar a sangrar!



Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 99

''mares de sono''

quinta-feira, 25 de abril de 2013


JOB


Ó tu rosa-dos-ventos dos martírios!
Por tempestades de tempos primevos
Arrastada sempre noutras direcções dos temporais;
O teu Sul chama-se ainda Solidão.
Onde tu estás, é o umbigo das dores.

Os teus olhos estão encovados fundo no teu crânio
como pombos de cavernas na noite
que o caçador às cegas tira cá para fora.
À tua voz fez-se muda,
pois ela perguntou vezes demais porquê.

Para os vermes e peixes se foi a tua voz.
Job, a chorar passaste todas as vigias da noite
mas um dia a constelação do teu sangue
fará empalidecer todos os sóis nascentes.





Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 84

VOZ DA TERRA SANTA

Ó meus filhos,
A morte passou pelos vossos corações
Como por uma vinha -
Pintou Israel a vermelho em todas as paredes da Terra.

Para onde há-de ir a pequena santidade
Que ainda mora na minha areia?
Através dos canais da solidão
Falam as vozes dos mortos:

Deponde sobre o campo as armas da vingança
Pra que elas falem baixo -
Pois também o ferro e o trigo são irmãos
No seio da Terra -

Pra onde há-de ir a pequena santidade
Que ainda mora na minha areia?

A criança no sono assassinada
Levanta-se; torce pra baixo a árvore dos milénios
E prende a estrela branca anelante
Que outrora se chamou Israel
Na sua coroa.

Reergue-te de novo, diz ela
Pra lá. onde lágrimas significam Eternidade.


Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 78

«Terra, Terra, fizeste-te cega
Ante os olhos de irmãs das Plêiades
Ou do olhar perscrutador da Balança?

Mãos assassinas deram a Israel um espelho
Para nele ver ao morrer o seu morrer -

Terra, ó Terra
Estrela de todas as Estrelas
Um dia há-de haver uma constelação chamada Espelho.
Então ó Cega tornarás tu a ver.»


Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 71

empedernir



verbo transitivo, intransitivo e pronominal

1. converter(-se) em pedra; petrificar
2. tornar ou ficar duro como pedra; endurecer
3. figurado tornar(-se) insensível

(Do latim *impetrinīre, «empedernir», de petrīnu-, «de pedra»)
(...)

«Quando alguém nos toca
Toca um muro de lamentações.
Como o diamante o vosso lamento corta a nossa dureza
Até que ela cai e se faz coração brando -
Enquanto vós emperdenis.
Quando alguém nos toca
Toca as encruzilhadas da meia-noite
Ressonantes de nascimento e morte.

Quando alguém nos atira -
Atira ao Jardim do Éden -
O vinho das estrelas -
Os olhos dos amantes e toda a traição -

Quando alguém nos atira com ira
Atira leões de corações partidos
E de borboletas de seda.

Cuidado, cuidado
Não atireis com uma pedra em ira -
A nossa mistura está repassada do espírito.
Endureceu no mistério
Mas pode acordar com um beijo.»





Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 69

CORO DAS SOMBRAS

Nós sombras, oh, nós sombras!
Sombras de algozes
Agarrados ao pó dos vossos crimes -
Sombras de vítimas
A desenhar o drama do vosso sangue numa parede.
Oh, nós desvalidas borboletas do luto
Presas numa estrela que continua a arder tranquila
Enquanto nós temos de dançar em infernos.
Os nossos titeriteiros já só sabem a morte.

Áurea ama que nos alimentas
Para tal desespero,
Ó sol, desvia a tua face
Pra também nós nos afundarmos -
Ou deixa que sejamos o espelho dos dedos erguidos
Duma criança exultante
E da leve ventura duma libélula
Sobre o beiral dum poço.



Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 67


Eu vi que ele via.
 
JEHUDA ZWI



Os teus olhos, ó meu Amado,
Eram olhos da corça,
C'os longos arcos-íris das pupilas
Como depois de passadas tempestades de Deus -
Como abelhas tinham os milénios
Juntando neles o mel das noites de Deus,
Últimas centelhas dos fogos do Sinai -
Ó portas transparentes
Para os reinos íntimos,
Sobre os quais jaz tanta areia dos desertos,
Tantas milhas de martírios para oh chegar a Ele -
Ó olhos apagados,
Cuja força de vidente agora caiu
Nas surpresas áureas do Senhor,
Das quais nós apenas sabemos os sonhos.





Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 61
Se eu ao menos soubesse
Sobre o que é que pousou o teu últimos olhar.
Foi uma pedra, que já muitos olhares
Tinha bebido, até que eles em cegueira
Caíram sobre a cega?

Ou foi terra,
Bastante para encher um sapato,
E já negra
De tanta despedida
E de preparar tanta morte?

Ou foi o teu último caminho,
Que te trouxe o adeus de todos os caminhos
Que tu tinhas andado?

Uma poça de água, um pedaço de metal luzente,
Talvez a fivela do cinto do teu inimigo,
Ou qualquer outro, pequeno adivinho
Do céu?

Ou mandou-te esta terra,
Que não deixa partir ninguém sem ser amado,
Um sinal de pássaro pelo ar,
Acordando lembranças na tua alma, e ela estremeceu
No seu corpo queimado de martírio?



Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 60

algoz


nome masculino

 1. executor da pena de morte; carrasco; verdugo
2. figurado pessoa cruel
(Do turco gozz, pelo árabe al-gozz, nome de uma tribo onde se iam geralmente buscar os carrascos)

«O eco nada devolve, saímos da Sociedade. O medo não diz sim nem não. Ele, o medo, retém tudo quanto se diz, tudo quanto se pensa, tudo.»
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 314

''Estarmos apaixonados não é nada, mantermo-nos os dois juntos é que é difícil.''

Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 312

''velhos hábitos''

Não falávamos muito, não tínhamos grande coisa a dizer.

«Não falávamos muito, não tínhamos grande coisa a dizer. De resto, para que servem as palavras quando temos ideias fixas? Para nos insultarmos e nada mais.»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 277

amor-próprio

''supuração das pálpebras''

vindicta


nome feminino

1. vingança; represália
2. perseguição
3. castigo; punição


(Do latim vindicta-, «castigo»)

segunda-feira, 8 de abril de 2013

 
 
«Tudo tem um fim. Nem sempre é a morte, muitas vezes é qualquer coisa diferente e bastante pior, sobretudo quando se trata de crianças.»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 252

«Nestes momentos eu não sou eu.»


Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 93

«A superfície do meu espírito desliza como um pálido ribeiro reflectindo os objectos que passam.»


Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 91

«Devo estender-lhe a mão; responder. Mas que resposta dar? Retrocedo com violência, sentindo escaldar o corpo desajeitado e exposto à indiferença e ao desdém dos homens, eu que imagino colunas de mármore e lagos onde as andorinhas molham as asas de ouro do outro lado do mundo.»


Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 86

«Sou sucessivamente travessa, alegre, lânguida e melancólica. Tenho raízes mas flutuo.»


Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 83

«É cruel o que tenho oferecer. Não posso flutuar suavemente misturando-me com as outras pessoas. Prefiro o olhar fixo dos pastores que encontro na estrada; ou o olhar das ciganas sentadas na berma da estrada, ao lado da carroça, amamentando os filhos como eu hei-de amamentar os meus. Pois em breve, no ardente meio-dia em que as abelhas zumbem à volta das malvas, o meu amor chegará. Estará parado sob o cedro. Dirá apenas uma palavra a que responderei com uma só palavra. Ofertar-lhe-ei o que cresceu dentro de mim. Terei filhos, criadas de avental, caseiros com forquilhas. Terei uma cozinha para onde vão trazer os cordeiros doentes para serem aquecidos em cestos e haverá presuntos pendurados e cebolas brilhando. Serei silenciosa como a minha mãe e de avental azul andarei pela casa fechando à chave os armários.» p. 80/1

Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 80/1

pó-de-arroz

incêndio nocturno


 
«Não estou sempre a entregar-me a emoções duvidosas? Sim, quando me debruço à janela e deixo cair o meu cigarro de modo a que rodopie ligeiramente até ao chão, sinto os olhos de Louis que vigiam até a queda do meu cigarro. E Louis diz: «Tudo isto tem um significado. Mas qual?» 




Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 75/6

«(servimo-nos dos nossos amigos para nos avaliarmos a nós próprios).»



Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 74

«Não somos simples, como os nossos amigos gostariam que fôssemos para irmos de encontro da necessidade que têm de nós. E, no entanto, o amor é simples.» 


Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 73



«Graças a eles sou Bernard, mas também Byron, sou isto, aquilo e outra coisa.» 



Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 73


«Peço-te (no momento em que estou de costas voltado para ti) que tomes a minha vida nas tuas mãos e me digas se estou para sempre condenado a ser repelido por aqueles a quem amo.»



Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 72



«Mas quem despejou a areia dos vossos sapatos
Quando tivestes de erguer-vos pra morrer?
A areia, que Israel trouxe para casa,
A areia de peregrinar?
Areia ardente do Sinai,
Misturada co'as gargantas dos rouxinóis,
Misturadas co'as asas de borboleta,
Misturada c'o pó da saudade das serpentes,
Misturada com tudo o que caiu da Sabedoria de Salomão,
Misturada c'o amargor do mistério do vermute -


Ó vós dedos
Que despejastes a areia dos sapatos de mortos.
Amanhã já sereis pó
Nos sapatos vindouros!



Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 48


«Há pedras como almas.»


RABI NACHMAN

bichanar


«Isto ofende-te  e eu sou sensível ao teu descontentamento.»


Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 69

sábado, 30 de março de 2013


«Se não sou amado, tanto pior - amarei outra!»


Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 163
 
 
SEREBRIAKOV
 
«Nestes últimos dias sofri tanto, Miguel Lvovitch, reflecti tanto que me parece que podia escrever um tratado completo sobre a melhor forma de viver, para edificação da posteridade. Enquanto se vive, aprende-se - e o melhor mestre é a infelicidade.»



Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 149

Se pareço mais corajoso que vocês é porque eu sou o mais infeliz.


 
SEREBRIAKOV

«(...) Não nos calemos, meus amigos, falemos, falemos. É o melhor que há a fazer na nossa presente situação. Devemos encarar a  desgraça de frente, sem temor. Se pareço mais corajoso que vocês é porque eu sou o mais infeliz.»

Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 148

«E quando esta minha pele estiver desfeita,
eu verei Deus sem a minha carne,
                           
                                                      JOB

«Amava-a bastante, é certo, mas ainda amava mais o meu vício, esse desejo de fugir de todos os lados à procura sei lá de quê, por estúpido orgulho, sem dúvida, por estar convencido de uma espécie de superioridade.»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 220
 
«Tornamo-nos rapidamente velhos, e de forma irremediável. Apercebemos-nos disso pelo jeito que apanhamos de amar a nossa própria desgraça, mesmo sem querer. É que a natureza tem mais força que nós, aí está. Treina-nos um género, e depois já não vamos poder sair dele. Eu, por exemplo, tinha tomado o rumo da intranquilidade. A pouco e pouco vamos tomando o nosso papel e o nosso destino a sério, sem repararmos nisso, e depois, quando caímos em nós é demasiado tarde para mudar.
Fizemo-nos pessoas muito inquietas e, claro está. para sempre.»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 220

verde-mar

assim-assim


Molly


«Por Molly, uma das lindas raparigas dessa casa, não tardou que eu sentisse o excepcional sentimento de confiança que entre  os seres amedrontados substitui o amor.» 
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 219

«Só existíamos por uma espécie de hesitação entre o idiotismo e o delírio.»

 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 217
 
«A coragem não consiste em perdoar, acho que se perdoa sempre de mais! E não serve de nada, está mais que provado.»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 205
 
«Todos os dias temos de nos resignar a conhecer um pouco mais de nós, desde que nos falte coragem para acabar de uma vez para sempre com as nossas próprias choraminguices.»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 198

«Por natureza somos tão fúteis, que só as distracções conseguem impedir-nos realmente de morrer.»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 197

''incurável melancolia''

Eu sempre receara ficar mais ou menos vazio

 

«Eu sempre receara ficar mais ou menos vazio; não ter, em suma, qualquer razão séria para existir. Naquele momento, perante factos estava bastante ciente do meu zero individual. Num meio tão diferente daquele onde tinha hábitos mesquinhos, foi como se me dissolvesse instantaneamente. Sentia-me perto de já não existir, muito simplesmente. Por isso, mal me tinham deixado de falar das coisas familiares, eu descobria que nada me impediria de afundar numa espécie de irresistível tédio, numa espécie de adocicada, de assustadora catástrofe de alma. Uma aversão.»
 
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 197
 
«Não se julgue que é fácil adormecer quando nos pomos a duvidar de tudo; por causa daqueles tantos medos que nos meteram, principalmente.»
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 195

déspota


adjetivo e nome de 2 géneros
 que ou pessoa que exerce a autoridade de modo absoluto e arbitrário; tirano; opressor; autocrata

(Do grego despótes, «senhor da casa»)


A verdade deste mundo é a morte.

 
«E o pior é pensar como vamos arranjar forças bastantes para continuar a fazer no dia seguinte o que fizemos na véspera e em tantos outros dias já passados, onde encontraremos forças para as diligências imbecis, para mil e um projectos que não conduzem a nada, essas tentativas de vencer a  pesada necessidade, tentativas que abortam sempre e todas destinadas a convencer-nos, uma vez mais, de que o destino é insuperável, que todas as noites temos de cair da muralha com a angústia de ser sempre mais precário, mais sórdido, esse dia seguinte.
   Talvez seja a idade que surge, traidora,  e nos ameaça com o pior. Em nós já não temos música suficiente para fazer dançar a vida, ora aí está. Toda a juventude foi morrer no fim do mundo, num silêncio de verdade. Para onde havemos de sair, pergunto eu, se em nós já não há uma suficiente soma de delírio? A verdade é uma agonia sem fim. A verdade deste mundo é a morte. Temos de escolher: mentir ou morrer. Eu  cá nunca pude matar-me.»
 
 
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 194/5
«Só terias como certo morrer muito estupidamente, disse a mim mesmo, como toda a gente, quero eu dizer.E ter confiança nos homens já é meia morte.»
 
 
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 174

''trovoada de folhas''

Au Coucher Du Soleil


terça-feira, 26 de março de 2013

cleptocracia

cleptocracia
nome feminino
POLÍTICA sistema em que se permitem ou aprovam atos corruptos, sobretudo no que se refere à utilização de dinheiro público

cleptocracia In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-03-26].
Disponível na www: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/cleptocracia
>.
nome feminino

POLÍTICA sistema em que se permitem ou aprovam atos corruptos, sobretudo no que se refere à utilização de dinheiro público

O destino do canário


«O destino do canário é ficar na gaiola e assistir à felicidade dos outros, - pois bem, só lhe resta ficar lá toda a vida.»



Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 132

morrão-dos-fogueteiros

escolástica


nome feminino
 
1. FILOSOFIA o sistema filosófico da «Escola», isto é, ensinado nas escolas da Idade Média, sobretudo a partir de S. Tomás de Aquino (1225-1274), que, confiante na possibilidade de harmonizar a razão e a fé, a filosofia e a teologia, procurou integrar num sistema coerente a filosofia aristotélica e o dogma cristão

2. pejorativo atitude intelectual caracterizada pelo verbalismo, pelas subtilezas puramente formais, pelo conformismo e pelo culto da autoridade intelectual
 
(Do grego skholastiké, «da escola», pelo latim scholastĭca, «declamações») escolástica


HELENA
Que quer dizer com isso?

FEDOR
Quero dizer que quando eu lanço as minhas vistas sobre uma mulher, é-lhe impossível escapar-me.


HELENA
Não, não quer dizer isso. Quer dizer que o senhor é estúpido e insolente.



Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 108

VOINITZKI

«Acho que ainda acabarei por desprezar esta mulher!É tímida como uma garota e gosta de filosofar como um velho diácono paramentado com todas as virtudes! Azeda como uvas verdes! Ou leite coalhado.»


Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968.,

(com esse olhar cheio de desconfiança e manha nunca amará ninguém)


«Você não tem ainda vinte anos mas é já uma velha, uma argumentadora como o seu pai ou o seu tio Jorge, e não ficaria nada espantado se me mandassem chamar para lhe tratar da gota. Mas não vê que não se pode viver assim! Que importa o homem que eu sou? O que é preciso é olhar-me nos olhos, sem pensamentos reservados, sem programa. É preciso primeiro que tudo procurar em mim o ser humano - se não, nunca chegará a ter relações de amizade com os outros. Adeus! E acredite no que lhe digo: com esse olhar cheio de desconfiança e manha nunca amará ninguém.»


Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 81/2

segunda-feira, 25 de março de 2013



«(...), luto contra aqueles que não me compreendem, acontece-me sofrer de modo intolerável...»


Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 79

«Porque terei eu este desgraçado feitio?»



Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 71

Que filosofia maldita é essa que a retém?


«(...) Que espera? Que filosofia maldita é essa que a retém? Quando conseguirá compreender
que ter aprisionado a sua juventude, amordaçado a sua vontade de viver, não é moral nenhuma?»


Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 69

«Não tenho passado. Dissipei-o estupidamente em coisas fúteis. E o presente é de um absurdo horrível. Eis a minha vida e o meu amor. Para que servem? Que hei-de fazer deles? O meu amor inútil morre como um raio de sol dentro de um fosso e eu morro com ele.»


Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 69


SEREBRIAKOV

  Dizem que a gota de Turgueniev se acabou
por transformar em angina do peito. Tenho
muito medo que me aconteça a mesma coisa.
Maldita velhice! É uma coisa odiosa, diabos
a levem! Desde que envelheci que me aborreço
a mim próprio e dá-me a impressão de que vocês
estão fartos de mim.

HELENA

 Quando te ouvimos falar da tua velhice dá
a impressão que nós é que somos responsáveis
por ela.


SEREBRIAKOV

 E tu estás ainda mais farta que todos os
outros.

HELENA

Que aborrecimento! (Levanta-se e vai sentar-se
longe dele)




Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 59

O selvagem


«O selvagem, como é simpático! Vem muitas vezes a nossa casa, mas sou tímida e nunca soube falar-lhe nem acolhê-lo amavelmente. Deve pensar que sou má ou demasiadamente orgulhosa.»



Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 53

por artes de berliques e berloques

por artes diabólicas, como por magia

Hurrah!

''Quem sabe demais envelhece depressa.''

Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 39

''não sei usar as flores da retórica''


Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 21
Powered By Blogger